Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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Estranho e desastrado país, este. Por Rui Daher

No plano interno, é intenção do governo elevar a tributação sobre o agronegócio para cobrir os déficits fiscais dos Estados. Já pensaram a ardência que trará o tamanho do rombo?

Estranho e desastrado país, este. Por Rui Daher

 E não é que é mesmo! Arrelia e Pimentinha, dois palhaços de minha época de criança, tinham um bordão que fazia nossa alegria. Minutos se cumprimentando e dizendo “como vai, como vai, como vai? E o outro: eu vou bem, muito bem, bem, bem”. E assim nos realizávamos, aplaudíamos, gargalhávamos.

Em alguma crônica, lembro ter escrito sobre a dupla, assim como de Piolim e Carequinha. Ando com escritas perdidas, desorganizadas, nem pérolas seriam, mas gostaria de tê-las recuperadas, como papéis manuscritos já amarelados, para que eu pudesse, junto a flores, depositar no túmulo de algum grande escritor brasileiro – que tantos são. Panteão, indebitamente apropriado.

– Mas, por que, Rui, lembrar-se dos palhaços, pergunta-me Harmônica, hoje na Venezuela, em busca de um certo Guaidó, guidom, guabiroba, Refazenda, sei lá.

– Porque é ofensivo a eles, artistas competentes que foram e os muitos que ainda o são Brasil afora, usar os termos palhaços, palhaçadas, para políticos e autoridades que fazem parte do atual governo. Peço respeito.

Por ironia, um dos setores que mais apoiou a candidatura de Jair Bolsonaro foi o da agropecuária, principalmente através da bancada ruralista no Congresso e dos grandes exportadores de commodities. Esfregavam as mãos agrotóxicas e genocidas de índios e populações quilombolas.

Pouco mais de dois meses, eleito o mito, percebo certa inquietação, embora política e cinicamente nunca reconhecerão o erro. Em essência seu pensamento não é diferente do mitológico capitão da reserva. Aliás, quem é reserva, fica no(s) banco(s). Ou não, Paulo “Keds”?

Segundo o índice de preços de alimentos, divulgado pela FAO, entre março de 2018 e fevereiro de 2019, o complexo carnes teve uma queda de 4,5% nas cotações, laticínios 2,5%, óleos vegetais 15%, enquanto o açúcar se manteve estável, e os cereais tiveram alta pífia de 2%. No geral, a “cesta” da FAO caiu 3,5%.

Em forma mais aberta, o Dow Jones indica, em um ano de médias mensais (mercado futuro), quedas de 4,67% (açúcar), 16,24% (café), 18,55% (suco de laranja), 7,56% (algodão), 9,52% (soja). Exceções de alta: 7,74% (cacau), 2,27% (milho) e 7,47% (trigo).

Bom lembrar que, de 2017 a 2018, o volume de nossas exportações de cacau teve queda de 8,5%, no trigo somos importadores líquidos, em aumento de 79%. Apenas o milho foi melhor (+14%), e seu etanol virá acabar com isso.

São dados que apregoam tempos de menor euforia ao celeiro mundial, ainda mais instalado um governo que não sabe que nossas exportações agropecuárias vêm caindo junto aos amiguinhos norte-americanos, enquanto, antes, cresciam para os países em desenvolvimento, especial China, Rússia, Oriente Médio, África e países asiáticos (não considerada a China).

Vale dizer, “em dia de estreia, palhaço não dá salto mortal”. Seria oportuno os coisos das Relações Exteriores, Meio Ambiente, e a agrotóxica da Agricultura, lerem sobre o que ocorre no planeta.

No plano interno, é intenção do governo elevar a tributação sobre o agronegócio para cobrir os déficits fiscais dos Estados. Já pensaram a ardência que trará o tamanho do rombo?

Me ponho aflito quando analistas conservadores, das inefáveis consultorias escolhidas a dedo, olham para os sojicultores e prospectam ter “acabado a euforia no mercado de soja”. Lembro de seus perrengues no passado, com água batendo também em meu pescoço, pela inadimplência deles.

A previsão para este ano é de queda na colheita (clima), cotações em queda, o que diminuirá receitas com exportações e o valor bruto da produção (o menor em 3 anos).

Ainda aqui, a ínclita ministra, na contramão de cientistas mundiais, para alegria geral de seus aliados, aceita estudo que nega os malefícios do glifosato. Ao mesmo tempo, não impede o constrangimento do crédito rural. Cairá a exigência dos bancos de financiarem 35% seus empréstimos a juros subsidiados. Tudo passará a ser negociação livre (?).

Sobraria fazermos crescer a demanda no mercado interno, mas para tanto precisaríamos de emprego e renda, o que parece “Keds” e o BC não quererem. Mais de dois milhões de brasileiros foram jogados de volta à pobreza no último ano (ver Síntese de Indicadores Sociais, do IBGE).

Repito aqui o professor José de Souza Martins: “O rentismo gera lucros fáceis, mas não gera participação social e democrática. Enriquece alguns, empobrece outros. É o pai do autoritarismo”.

Caberia num tuíte tão obsceno quanto o do presidente.

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

8 Comentários

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  1. E Torresmo e Pururuca? Faziam sucesso na TV e foram na minha escola que ficava na periferia da periferia da periferia de São Paulo. Outros tempos. Logo depois chegou as doações de Sitio do Picapau Amarelo do “racista’ Monteiro Lobato. O que asa Crianças tem hoje? Ideologização ? Mais um dos cérebros, da excepcionalidade brasileira jogada na latrina pelo Fascismo Esquerdopata que destruiu este país por longos 88 anos. Mas sua genialidade, entre tantos Projetos Espetaculares, nos permitiu a posse nacional e soberana do petróleo. Enquanto isto existem fanáticos crendo que Dom Sebastião será libertado da cadeia e poderá explicar o que foi feito dos bilhões de dólares desperdiçados e roubados em 40 anos redemocráticos. Talvez somente a CENSURA explique. abs.

    1. Bolsonaro é caricatura inventada por 40 anos aloprados esquerdopatas. Mourão é a genialidade da Escola Superior de Guerra das Agulhas Negras que imbecilmente desperdiçamos. Fazemos isto com Kátia Abreu, Delfim Netto, Gerdau, Alm. Othon,… e outros Notáveis que negamos por Ideologias Arcaicas. Enquanto isto aqueles que correram atrás do caixão do avô de Aécio Neves, o Chefe da Quadrilha, que disseram que FHC ou Serra eram Estadistas, que Aloísio Nunes era o combate que revolucionaria o Brasil. Motorista do Mariguela? Mas não é de Esquerda? Difícil discutir com estes argumentos. abs.

    2. Não canta junto que você não sabe a letra.
      Esse é o novo samba do criolo doido.
      Essa é a linguagem do nosso herói e a sua intrepretação da realidade.
      É particular e não pode ser contrariada.

  2. O único Zé Sérgio que prestava (pela habilidade com a bola) e que conheci foi o Zé Sérgio (primo do Rivelino) que jogou pelo São Paulo (e jogava pela… ponta ESQUERDA) entre as décadas de 1980 e 1990 e teve a carreira precocemente encerrada por contusões provocadas pelas botinadas dos defensores brucutus, que ao invés de talento com a bola distribuíam bordoadas nas pernas de jovens promessas como Zé Sérgio…
    Já com esse bolsonárico Zé Sérgio nem tempo se deve desperdiçar…

    1. Caro sr. Severino Guedes, sobre Zé Sérgio, o Original, seu comentário foi perfeito. Este realmente jogava pela ESQUERDA. E como jogava. Não era como alguns farsantes que descobrimos, depois de mais 40 anos de golpes e crimes. Só para citar um, um tal Aloísio Nunes, que dizia jogar pela ESQUERDA, mas descobrimos que joga em todas posições. E com todas as camisas. Com a da Suíça, por exemplo, se o pagamento for bom. Coisa de uns 100 milhões mais Cartões Corporativos. Dirá que sua HONESTIDADE sempre foi o seu maior valor. Outros dirão que não é ESQUERDA, mesmo Guerrilheiro de ALN. Mas o problema do Brasil deve ser dizer a verdade. (P.S. Quanto as botinadas sofridas pelo Jogador, foi no tempo que Ricardo Teixeira se firmava definitivamente na CBF e expurgava inimigos. Outro que sofreu nesta época foi Zico. Mas as botinadas eram direcionadas e financiadas. Ricardo Teixeira venceu. Encurtou a carreira de Zé Sérgio e quase fez o mesmo com Zico. Mas teve tempo, juntamente com Coxinhas, Mortadelas e RGT de produzir a mais limpa e honesta Copa do Mundo, aqui no Brasil. Mas dirão ‘Aloprados’: Não sabemos de nada. abs.

    2. Resposta a Severino Guedes

      Não canta junto que você não sabe a letra.
      Esse é o novo samba do criolo doido.
      Essa é a linguagem do “nosso herói” e a sua intrepretação da realidade.
      É particular e não pode ser contrariada.
      Zé Sérgio é assim mesmo.
      Sabe que o galo cantou, mas nunca sabe em que quintal foi.

  3. Zé de Abreu posa com a faixa presidencial com muito mais dignidade e presença do que o nosso presidento eleito de olhos azuis.
    Da mesma forma que a presença digna, seu caráter também parece combinar com a faixa presidencial.

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