Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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O País anda esquisitão, por Rui Daher

Marcos Montes

na CartaCapital

por Rui Daher

Tutti pazzi, eh? País está meio esquisitão. Samurais dão ordens de prisão a samurais. O jornal Valor, no último dia 9, publica na primeira página: “Meirelles vê pior crise da história e sinais de retomada”. Mas já? Qual o tamanho das medidas interinas? São documento ou só cara feia?

Vem-me à mente certo Marcos Montes, deputado federal. Consta termos 513 deles, a depender do dia da semana. Como sabemos, quórum é fator variável; já salários, gabinetes, verbas de representação, não o são.

Sua Excelência Montes está no Congresso desde 2010, em terceiro mandato consecutivo. Representa Minas Gerais, atualmente pelo Partido Social Democrático (PSD) depois de seguir aquela velha trilha: Arena, Partido da Frente Liberal (PFL) e Democratas (DEM). Entre 1997 e 2004, foi prefeito de Uberaba.

Talvez por achar a frase lapidar, ele pergunta na página inicial de seu site: “Que representante do povo seria eu, se não fizesse coro à indignação que tomou conta do Brasil”? Gostei.

Afinal, como “representante do povo”, intermináveis os assuntos com que se indignar, o nobre deputado deveria estar se referindo à má distribuição de renda, à liderança mundial em número de assassinatos, às lideranças mundiais em número de assassinatos, frequência de estupros de mulheres, e violência policial. Ou, pouco profundo, à derrota na Copa por 7 a 1 contra a Alemanha.

Como pertencente à bancada ruralista no Congresso, sua indignação não alcançaria atentados à democracia, Constituição e votação majoritária em eleições presidenciais. Imaginem, então, se entre suas afeições estão os direitos de povos indígenas e quilombolas, a preservação ambiental e o valor de nossa diversidade, motivos para preocupar-se com soberania territorial.

Como “Ronaldo e seus Berrantes Caiados”, ele também é médico. Aliás, são muitos os políticos da bancada ruralista médicos. Aquela de “acho que vou votar no doutor, sabe”? Sim, sabemos.

Como médico, o Doutor deve entender a fisiologia humana. Como produtor rural, a vegetal, e como político, todas as possíveis. As fisiologias englobam sistemas vitais de entra, processa e sai.

Irrequieto, não se contenta o estimado senhor em cantar no coro da indignação nacional, como afirma em seu site, curar seus pacientes, produzir alimentos, presidir a Frente Parlamentar da Agropecuária e, como fez na última edição da revista Globo Rural, afirmar: “É inegável que Kátia Abreu é uma boa ministra, mas não teve respaldo para dar tranquilidade ao agronegócio”.

Às folhas e telas cotidianas, nas redes sociais, votado o golpe, Kátia Abreu declarou justamente o contrário. Marcos Montes usou seu maior conhecimento de fisiologia.

Poderia ter parado aí, mas como o sabemos irrequieto, o estimado doutor é colunista do Jornal de Uberaba.

Pois bem, no último dia 3, assinou: “Credibilidade da nova equipe econômica já impacta nos números do mercado brasileiro”. Ele acha e vai mais longe. Se diz feliz por anunciar que “o resultado da economia, divulgado esta semana, trouxe informações otimistas. Os números indicam que o Produto Interno Bruto (PIB) caiu menos do que o que era esperado pelo mercado”.

Na comparação com o 1º trimestre de 2015, o PIB teve queda de 5,4%, quando o mercado esperava 5,8%. Este o dado que deixou feliz o colunista Montes.

Além de não ser motivo para felicidade alguma, o colunista Montes não ligou para o fato de que no 1º trimestre de 2016, Dilma Rousseff comandava a economia e ainda não tinha sido deposta.

Não disse estar o País esquisitão?

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

8 Comentários

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  1. Não acordaram para o óbvio,

    Não acordaram para o óbvio, esqueceram do povo, vão tentar todas as saidas nas quais os corruptos e canalhas de sempre se safem; eleições antecipadas? Só para o executivo e mantendo o legislativo nas mãos do cunha para derrubar e chantagear o novo presidente? Plebiscito? Teriamos o absurdo de um presidente governar cada metade de seu mandato com um congresso diferente? A saida é uma nova constituinte reformando o Estado brasileiro de cima abaixo, mas isso está na mesa há tanto tempo e ninguem quer. A saida não será pela ordem constitucional vigente que já se evaporou, a saida é a retomada do poder pelo povo, ou teremos que aguentar um golpe atras do outro que essa escumalhada terá que dar para se manter no poder.

    1. não sei, não sei..

      Estou chegando com as mesmas conclusões, infelizmente!

      Quem vai permitir uma constituinte “ad hoc” sem a previa formação daquele centrão da CF88 a determinar rumos com o Jobim anexando itens no calar da noite?

      Como eliminar o coronelismo que de verdade manda nos cafundós e elege o que bem entende, é só olhar nomes e sobrenomes lá em todos os cantos do País, o sul e sudeste ditos e tidos modernos e civilizados estão nesta lista!

      Confiar nas FFAA é o pior retrocesso, continuam obtusas e tendo como alvo somente o inimigo PT esquecem o principal. Adolf aquele austríaco tinha os russos como inimigo a vencer esqueceu-se do general Inverno, aí deu m..

      Não sei, não sei…

      1. Caros Naldo e Ugo,

        saber disso é um grande passo. Penso que a amplitude que nos últimos anos se deu à educação será outro grande passo. Da mesma forma, valerão recomposições partidárias com ideologia expressa, nas formas com o PT um dia foi. E, finalmente, o golpe atual está sendo benéfico no sentido de explicitar o tripé que precisa ser derrubado: Congresso fisiológico; Judiciário corrupto; Mídia desonesta. Ferramentas temos. Abraços.

  2. o país anda …

    A esquerda errou novamente a mão, como já havia feito em décadas passadas. (mas o brasileiro estuda, ele conhece sua história, ele tenta evoluir ou apenas se repete?) “Cachorro atrás…quanta repetição!!!” Parlamentarismo agora? Não fomos já 1.o Ministro Tancredo Neves? Eu nem era vivo. O Congresso que é a nossa única salvação, agora queremos implodí-lo? Como o Congresso pode decidir sobre questões nacionais? Maiores que o Congresso? Pode!!! Eu estou lendo e ouvindo isto? Quem deve decidir então? A ONU, o WWF? Terras ainda temos as mlhares de hectares sem utilização alguma. Não precisa o MST invadir fazendas. Até porque depois de doado aos sem terra um estado do PR inteiro e mais de 25 bilhões de dólares, o Stédile vem e diz que reforma agrária não é para produzir alimentos. É para produzir revolução. Nem indios e quilombolas cobrarem pedágio nas rodovias, com armas na mão. Deve ser seu “novo” velho estilo de vida? Nem bloquear, impedir, engessar, criminalizar e burocratizar o acesso à água limpa necessária para a agropecuária, nas propriedades e áreas rurais, quando dentro das áreas urbanas o uso de rios e lagos é como privada. Depois é só limpar “direitinho” a privada e beber a água . Não é o que fazemos em SP? O que sei é que esta briga não levou o país a lugar algum, nem levará, mas mantém de forma nababesca a Casa Grande, seja ela de qualquer cor, com portas à direita ou à esquerda (por que ninguém é de ferro, não é mesmo?).Enquanto isto a VW e outras centenas de multinacionais se esbaldam. Quase 1 século de banquete nos trópicos. Deixem que se degladiem por cargos e salários públicos. Um carro popular, com subsídios e renuncia de IPI’s de toda ordem, na Terra da Crise Permanente, já custa quase 50 mil reais. Todos lançamentos deste ano na ordem de 75 mil a 130 mil reais. (quase 50 mil dólares por uma “Jabiraca”) E o cachorro? Começou seu novo ciclo de corrida. Em mais uns 30 anos? SURPRESA!!! Ele alcança. Abs.. 

    1. Zé Sérgio,

      hoje em dia, no Brasil, a casa-branca é apenas o nome de uma alameda da cidade de São Paulo. Famosa por ter sido citada por Freyre acumulou capital para comprar todos os erros de mãos esquerdas. Inclusive com  a nossa destruidora autocrítica. Abraço

      1. Zé Sérgio…

        Caro Sr. Rui, como o seu amigo Carlão, daqui a pouco (espero que não seja tão “pouco”) não estaremos mais aqui. A História se constrói. Não creio que seja destruidora nossa autocritica. Creio esta “criadora”, desde que se mostrem caminhos e a liberdade, que não é um favor mas um direito inalienável do povo,  e permitam que o brasileiro escolha seu rumo. Gostemos ou não . Lutemos e critiquemos para mudá-los, se assim entendermos, mas não abramos nunca mão desta liberdade. Abs.

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