Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
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O que vai pior a economia brasileira ou a bancada ruralista?, por Rui Daher

Blairo e Temer

Foto Beto Barata

O que vai pior a economia brasileira ou a bancada ruralista?, por Rui Daher

(Para o GGN)

Quebrado estou há 20 anos, desde que eu e minha mulher avalizamos e assinamos cartas de fiança para uma empresa da qual não tínhamos uma só ação. Respondemos por outrem com nosso patrimônio pessoal. Velho sinto-me há dois anos, desde que virei para os 70 e ninguém mais me alertou “ô moço”! Burro desde ontem, após ler o editorial do jornal Valor, “Sinais de recuperação se disseminam pela economia”. O título me fez pensar de qual país o texto trataria. Num raro rasgo de lucidez me veio a Federação de Corporações. Depois de possuído pela demoníaca Organizações Globo, o impresso, até então o menos desequilibrado do País, se dedicou ao humor macabro com seus leitores.Lá, vivemos entre os mergulhos de Tio Patinhas em sua piscina de moedas, bebemos a água da Fonte da Juventude, e vencemos jovens matemáticos brasileiros em qualquer competição.

Gostaria de reproduzi-lo aqui, mas mesmo assinante por obrigação profissional, nem mesmo trechos eles me deixam republicar, o que me faz desejar bilhões de oxiúros invadindo seus dândis rabos. Sempre imaginei Vera Brandimarte (Diretora de Redação) e Cláudia Safatle (adjunta) jornalistas sérias. Mantenho, até que oxiúros me desmintam.

Complica-me um trecho do editorial. Transcrevo e peço ajuda aos especialistas do GGN. Segue:

“Nas últimas semanas, a economia colheu vários indicadores que apontaram para o início de um processo de recuperação, após quase três anos seguidos de retração. O indicador que consolidou os sinais positivos foi o IBC-Br, prévia do PIB do Banco Central, que subiu 0,5% em junho em comparação com maio, acumulando 0,25% no 2º trimestre, menos do que o 1,2% dos três primeiros meses do ano. O Monitor do PIB/FGV (…) mostrou um saldo maior ainda em junho, de 2,65%, mas fechou o 2º trimestre com recuo de 0,24% em comparação com o primeiro”.

Nassif, por favor, me explica. Sobe uma merreca, cai, mas melhora? O editorial é da Vera ou do Henricão?

Seguem, republicadas, as “amenidades” que escrevi para CartaCapital. Sigo para a beira do Velho Chico, onde recolherei calor, bode, música nordestina e cachaça. Inté!

https://www.youtube.com/watch?v=zGdA_D81c2Y]

(Para CartaCapital)  

Devo aos leitores do site duas notícias sobre a agricultura brasileira. Uma boa e outra ruim. Primeiro, a boa: estudo BNDES e Embrapa(título e autores já citados aqui) mostra a possibilidade de economizarmos mais de um bilhão de dólares anuais, caso se incentive o uso de resíduos orgânicos/organominerais na agricultura, reduzindo as maciças aplicações de agroquímicos, de que somos 80% dependentes de importação. A ruim: o avanço em número e força da ação deletéria da bancada ruralista no Congresso Nacional.

Há um potencial enorme de resíduos sólidos e líquidos provenientes dos setores sucroalcooleiro, bovinos de corte e leite, suínos e aves que, além de representarem passivos ambientais, incômodo para as sociedades rural e urbana, podem cobrir parte das necessidades de nutrientes das plantas.

Fora isso, outros materiais de constituição orgânica e origem natural hoje são fabricados de forma regionalizada, baixo custo, em processos de produção pouco complexos. Contra eles, apenas o jogo rasteiro da cadeia de produção de agroquímicos e o poder de massificação de suas tecnologias, o comodismo dos técnicos e agrônomos, o tradicionalismo do agricultor, e a pouca importância que têm com seus próprios bolsos.

Em 2017, o setor químico deverá entregar às lavouras perto de 35 milhões de toneladas de fertilizantes, o que representará faturamento de cerca de 50 bilhões de reais.

Até uns anos atrás, reconhecido como responsáveis pelo crescimento da produção sem necessidade de aumento proporcional de área, hoje em dia, sobretudo nas principais culturas, chega próximo ao seu teto, e a partir do qual, decresce em efetividade e cresce em custos por hectare plantado.

Daí ser natural a necessidade de redução em favor de materiais de origem orgânica e natural, como “resíduos de origem vegetal e animal, estercos, restos de cultura que permaneçam no campo, palhadas, folhas, cascas e galhos de árvores, raízes (…) insetos, fungos, bactérias e outros microrganismos benéficos já existentes no solo, ou adicionados como turfas e outros materiais de jazidas naturais superficiais ou subaquáticas como as algas marinhas ou os sedimentos calcários.

Lá embaixo a vida melhorará, enquanto aqui em cima teremos o pior dos Brasis de todas as épocas, com Temer e Meirelles vendendo o que nunca tivemos. Fui muito técnico? Sem problema. Vocês não dariam a mínima mesmo.

A bancada

Nos dicionários, pode significar “renque de bancos” ou “ato de banqueiros ganharem todas as paradas”.

Em dúvida, optei pelo primeiro significado depois de lembrar-me de um jogo disputadíssimo na várzea, ano 1972, entre os Leões da Mooca e o Prazeres de Perdizes, em que o massagista Paulo “Tronco Grosso” Galvão arrebentou 13 cabeças de leões com uma bancada.

Agora, temos a dos ruralistas (meus amores), da bola, dos evangélicos e da bala, com quem não ouso brincar. Eles perdem balas em nossas cabeças e não as encontram mais.

Eis que Michel Temer iniciou o mês de agosto se encontrando com membros da Frente Parlamentar Agropecuária, na Fiesp. Seu presidente, o deputado federal Nilson Leitão (PSDB-MT) declarou: “O setor econômico percebe um outro ar”. Para mim, peido.

Então vejamos, como se diz quando queremos explicar aos funcionários do chão-de-fábrica aquilo que eles sempre souberam, desta vez vindo de ruralistas no cerne da Avenida Paulista: “Inflação controlada, juros em queda, nada radical, mas avançamos”.

No mesmo dia, Michel Temer recebia ações que comprovavam ser um ladrão. Não houve PowerPoint, Paulista e Fiesp quietas. Os ruralistas: “Manter Temer, pelo histórico do que vem no último ano”.

São 200 deputados e 24 senadores que pensam coonestar a agropecuária brasileira e fazer-nos acreditar neles. São apoiados pelo ministro da Agricultura, Blairo Maggi, e Antônio Imbassahy, secretário do “governo” Temer.

Conseguiram com o golpe: suspensão de 19 processos de demarcação de terras indígenas; contrariar decisão do STF sobre a Raposa Serra do Sol; desmontar Funai e Incra em suas posições constitucionais; aprovar 2,5 mil hectares como Medida da Grilagem, usando casas em favelas como exemplo para a validação (10 metros quadrados?).

Greenpeace e outras ONGs contestaram, mas, como sabemos, elas defendem interesses norte-americanos. Então tá.

Vêm aí o marco regulatório para licenciamento ambiental. Destrói biomas, mas o ministério do Meio Ambiente aprova. A Febraban também. Gargalho.

Segundo a especialista de finanças para a sustentabilidade da FGV Annelise Vendramini estamos jogando fora recursos naturais formuladores de nossa competitividade no futuro.

Assassinos de Pau D’Arco no Pará, a música abaixo é a minha espera, com facão ou AK-47, bancada ruralista.

[video:https://www.youtube.com/watch?v=oRxPYxFNh9k

 

 

 

Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

5 Comentários

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  1. o que….

    GreenPeace, WWF….o que quer dizer? Não sei, muito mal sei portugiuês. Se falarmos destas marcas fora do país, as pessoas lembraram de onde? Suécia, Inglaterra, EUA ou Brasil? Onde estão seus Diretores e Sede? Não representam Interesses Estrangeiros. Representam os nossos? Então tá. Assuntos e Território Nacional, nossa Soberania, devem ser assuntos do Povo Brasileiro. Quanto às Empresas e Interesses Estrangeiros, quem quer Respeito, se dá respeito. Plantio Direto, Milhões de Toneladas de esterco e resíduos da maior pecuária do Mundo, Maior potencial em fabricação de Fertilizantes Industrializados com Petrobrás e Vale do Ro Doce, Informações e Assistência técnicas aos agriculktores através de Embrapa, Emater, centenas de Universidades de Agronomia ou Correspondentes… O que fizemos? Continuaremos eternamente a Terra da Vitimização e Fatalismo?  Quanto ao retorno de bons ventos na Economia, nem os próprios acreditam. A mídia comprada vende estas fantasias entre notícias de como cuidar do seu “pet”. O Basil continua lamentável. Os 50.000 empregos, apenas da Indústria Naval do RJ, foram para a Suécia e Singapura (matéria de ontem neste veículo).Juntamente com outros 500.000 empregos da Indústrai Petroleira em todo o país. Privatização da Petrobrás e do Pré-Sal seria a solução? Mandar seu excelente emprego para a Europa, Ásia ou EUA  resolveria o problema do desemprego brasileiro? Somos apenas lunáticos ou é doença genética?  Agora com a Eletrobrás, para termos até técnicos de rua chineses, trocando as luzes dos postes, diminuirá nosso desemprego? Andanças Capitais. Um resquício da realidade brasileira na Imprensa, não é extremamente relevante? Quando nos falta tudo, principalmente informação, começamos a acreditar em qualquer coisa. O Brasil se explica. abs.     

  2. Samba canção!

    No filme La Grande Belezza o personagem Jep Gambardella ao completar 65 anos se pergunta sobra a vacuidade da [sua] existência e se lembra, então, que ele não tem mais tempo a perder com coisas que não lhe falem à alma. Mas tal qual Jeanne Moreau (imortal Eva! de Joseph Losey), seremos, como quisermos, sempre moço ou moça, né, mesmo, Rui. Jeanne sempre foi tratada por madeloiselle, como queria… Como sentia-se, talvez.

    Quanto ao editorial do Valor, sempre foi mais ou menos assim. Quando se quer dizer que nada mudou, mas que vai mudar, tasca-se uma sobe e desce nas valores econômicos que o cidadão fica com a impressão de que vai… indo. Sobre economia, sempre consulto meu pai, que em autêntico casmurro, por esses tempos responde sem mais: “samba canção”. 

  3. ó nóis aqui traveiz

    Bem vindo. Depois daquela carta de despedida achei que só o leria na Carta Capital. Lá não tem a mesma graça. Não interagimos como aqui e não posso pegar no seu pé.

    Então vamos começar por aí. Dando uma de Romário, vai se despedir quantas vezes? Se eu dou um tchau pra galera nunca mais me veem. Mas eu sou antigo ou, como diriam meus colegas de profissão, an old fashioned person. Em português ou em inglês é sinônimo de turrão, cara aferrado e cabeça-dura.  Tá, bom, agora vem aquela desculpa, “voltei nos braços da torcida”. No seu caso deve até ser verdade, ao menos no que a mim se fere. Welcome, bro.

    Agora, vamos ao seu texto, à moda Jack The Ripper, ou seja, por partes.

    Quebrados estamos todos ou, ao menos, quase todos. Executivo é como jogador de futebol, tem vida curta, perde valor de mercado feito meu velho Volvo. Alguns, como nós, conseguem sobreviver fazendo consultoria. Consultoria é o aconselhamento técnico do óbvio para quem nem o óbvio percebe.

    Entre os que o óbvio não percebem estão os “jornalistas” de Economia. O entre aspas se justifica pelo fato de que reproduzir press releases não é jornalismo. Ontem,  eu fiz um comentário por aqui, nem me lembro bem onde, que concluia estarmos sendo conduzidos por asnos. Nem eu nem nem você, portanto, somos burros. Apenas nos recusamos a ignorar os fatos. Vamos na contra-corrente. Esta, está vindo com tanta força que, por vezes, léva-nos a questionarmos o óbvio e nossa a própria intelectualidade. Mas, se aquiete índio velho, pelo menos na análise da politica econômica estamos certos.

    Quanto aos destinos da agricultura nacional, apesar de não ter sua experiência, trabalhei, no início de carreira, 11 anos como técnico em desenvolvimento econômico e boa parte desse tempo em projetos agrícolas e agroindustriais. O que posso afirmar é que o desenvolvimento do negócio não foi acompanhado pelo desenvolvimento das mentes. Pelo contrário, os grandes empreendedores, tanto no setor público quanto no privado, os pensadores do agronegócio se foram e não foram substituídos. Nós, aqueles que acompanham essa história sabemos disso. O mais inquietante é que os líderes das décadas de 70 e 80, apesar de conservadores e de, na maioria, estarem alinhados polticamente com ” A Gloriosa”, tinham uma visão do papel social do agronegócio que os põe a anos-luz dos que ora vemos, os Caiados, Blairos e similares. Disputando um falta de visão estratégica assustadora sequer notam o óbvio que você tão bem aponta. O comportamento das curvas de preço e de custo aponta para perdas crecentes nas margens de lucratividade. Eles nunca ouviram falar da análise da relação de preço, volume, lucro e, muito menos, dos ganhos de escala decrescentes. Então, pedir para que olhem à preservação ambiental e para técnicas sustentáveis como pré-requisitos para a sua própria sobrevivência é como dar bom dia a cavalo.

    A bancada? Sério? Você se deu ao trabalho? Tenha dó, é uma piada de mau gosto. Indo dos mais próximos ao Postiço, os parasitas-mor, é o cúmulo do ridículo. Brucutus da polí,tica, usam do poder de forma brutal, despudorada e pior, inconsequente e irresponsável. Tratam-nos como os energúmenos que são. E, do meu Rio Grande ex-Amado vêm espécimes que são o suprassumo da ignomínia: Elieser Martins e Ana Amélia (a dupla RBS), Alceu Moreira, Mauro Pereira e o hors concours da sabujice Darcísio Perondi. A lista é imensa, tanto em número, como em diferentes, mas acentuados, graus de mediocridade e canalhice. Então, os apontados sequer a resumem. 

    Quanto à velhice nada posso fazer para ajudar, a não ser um pequeno conselho, o qual eu sigo: fica na sua, não se assanhe e watch your six porque La Huesuda está más y más cercana.

    1. Ô Boeotorum Brasiliensis,

      só você para acreditar que aquela despedida era à vera.Você sim volta aqui nos braços meus, do Nestor e do Pestana. Bem-vindo. Abraços

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