A luta dos mexicanos pelo petróleo

Enviado por Jota A. Botelho

Da Carta Maior


Lázaro Cárdenas del Río – Presidente do México, 1934-1940

‘Los Nuestros’: Cárdenas e o México dos nossos amigos

O filme não tem um fim feliz. Mostra a desnacionalização do projeto cardenista e a perda do controle dos recursos naturais do México.

Por Léa Maria Aarão Reis

Há três meses o canal de televisão Telesur estreou, com grande sucesso, uma série de excelentes documentários realizados pelo conhecido historiador, jornalista e escritor mexicano, Francisco “Paco” Ignácio Taibo, com o sugestivo título Los Nuestros. Vale assisti-los nesta semana em que o país amigo, cuja história política é pouco conhecida dos brasileiros – exceto suas belezas turísticas e naturais –, está sendo visitado pela presidente Dilma Rousseff em viagem de estado, na qual é acompanhada de uma comitiva de empresários para reforçar e estreitar laços comerciais.

Os temas de Taibo são frutos de pesquisas preciosas da vida e da militância revolucionária da esquerda no México. John Reed, mitológico jornalista americano que se envolveu na grande revolução do país de 1910. O escritor Rodolfo Walsh. Antonio Holmes, defensor apaixonado de Cuba. O poeta salvadorenho Roque Dalton quando esteve exilado no país.

Mas os dois primeiros capítulos da série de “Paco” Taibo esmiúçam um importante momento do governo de um legendário presidente do México (1934-1940), o estadista Lázaro Cárdenas, ao expropriar, em março de 1938, as companhias petrolíferas estrangeiras sediadas no país. Trata-se de um doc especialmente instrutivo para todos. Mas, em especial para quem vai ao México fazer negócios.

O filme relembra os dias históricos do então altivo país. Na época ele reafirmava sua soberania ao desafiar poderosos grupos do norte – Califórnia Standard Oil, Pemex, o Canadá e o governo americano entre dezenas de outros. Então, a liderança de Cárdenas se destacou criando a estrutura do Partido Revolucionário Institucional, o PRI; realizou uma reforma agrária efetiva, planejada por Zapata, e nacionalizou os recursos do subsolo – em especial do petróleo. Cárdenas criou o primeiro sindicato de petroleiros do Golfo.

“Vamos ter que resolver a questão do petróleo”, costumava dizer aos seus auxiliares e ministros, antes de 38, quando resistia à chantagem das petroleiras de fora que, não respeitando decisões desfavoráveis a elas, da Suprema Corte do país, retiraram todos os fundos dos bancos mexicanos como forma de pressionar o governo. Em seguida, Cárdenas se comprometeu com Washington a pagar os ‘prejuízos’ pela nacionalização do petróleo e convocou a população a uma gigantesca operação nacional de coleta para saldar a ‘dívida’ do governo.

Cárdenas, como é registrado no doc, ampliou a educação popular de massa e o crédito agrícola às cooperativas de aldeãos; apoiou a indústria nacional e o comércio. Tornou o México conhecido como refúgio oficial de perseguidos políticos daqueles anos e criou confederações para representar camponeses e trabalhadores.

“Ele procurou criar um ambiente nacional de consciência da nossa identidade”, diz um personagem entrevistado nesse capítulo de Los Nuestros.

O filme não tem um fim feliz. Mostra a desnacionalização do projeto cardenista e, na raiz das políticas neoliberais, a perda do controle dos recursos naturais do México, hoje um país acuado pelo narcotráfico e no qual 40 mil pessoas morreram, de forma violenta, nos últimos dois anos e meio.

Mas há dois recados desse documentário.

O primeiro, de alerta: “Governos fortes não remam contra as mobilizações populares; são sempre a favor delas”, é o que diz um dos entrevistados a propósito de como o presidente-estadista mexicano costumava se posicionar.

O segundo, de esperança: informa Taibo que, depois de entrevistar vários cidadãos comuns caminhando pelas ruas, percebe que talvez esteja surgindo uma tendência inesperada entre os jovens mexicanos. A de resgatar a força, a firmeza e a magia do governo de Cárdenas. Oxalá.

*A série Los Nuestros pode ser vista no portal da Telesur:

https://www.youtube.com/watch?v=ioz80NgTU5M align:center]

[video:https://www.youtube.com/watch?v=aU-HT8WCoKM align:center

Créditos da foto: reprodução
___

Jota Botelho

2 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Tem um terceiro recado, bem mais sutil…

    Do que não se deve fazer com as “heranças” recebidas, especialmente as da Natureza. A produção total da Pemex vem caindo ano após ano, e a dos campos de Cantarell e KMZ mais ainda…

    Pemex registrou, no ano passado, uma produção media de 2.429 milhões de barris/dia. Em 2013 havia registrado uma media de 2.522 milhões de barris/dia. Para este ano supõe conseguir manter a produção no entorno de 2.400 milhões de barris/dia, mas é uma esperança, e para o ano que vem cairá mais ainda.

    Por quê? Porque chegaram ao “pico” de produção das suas jazidas; aumentar essa produção custaria mais, em dinheiro e energia, do que o aumento da produção compensaria.

    O petróleo é um recurso finito. Viver “dele”, só beneficia a geração que dele se beneficia. O que pode beneficiar as gerações futuras com os recursos da sua extração, é o INVESTIMENTO desses recursos em coisas mais perenes e produtivas (educação?). “Comê-lo”, dá o que deu e está dando no México: uma população enorme e despreparada, economicamente doente, onde o que cresce é o crime e a anomia.

    Espero que não cometamos os mesmos erros com o pre-sal.

    Abs

  2. Analise enviesada, nada a

    Analise enviesada, nada a estranhar, se passou na TELESUR, tv à esquerda da teleivsão estatal da Coreia do Norte só podia ser uma fabulação da esquerda arcaica.

    1.O petroleo mexicano era 80% da Mexican Eagle, de controle birtanico, Lord Pierson (Viconde Crowday) era o dono, é a mesma familia que hoje controla a revista The Economist e o jornal Financial Times.

    2.A Standard Oil Company of California , que controlava o restante é a mesma CHEVRON de hoje, principal concessionaria

    do petroleo da Franja do Orinoco na Venezuela, ironicamente hoje muito amiga do poder chavista . A mesmissima Chevron foi escolhida por Cristina Kirchner como gestora da YPF, a maior petroleira argentina que Madame Kirchner tomou da REPSOL espanhola, que a tinha comprado na privatização do governo Menem por 20 bilhões de dolares, a Chevron foi cara de pau em aceitar e a REPSOL entrou com processo de arbitragem em cima da Chevron.

    3.O processo nacionalista-esquerdizante do PRI cadenista foi superado pela virada neoliberal de Carlos Salinas de Gortari e de Ernesto Zedillo por causa do excesso de corrupção das administrações nacionalistas de Miguel Aleman, Luis Echeverria e sucessores, pelo fracasso de suas politicas que levaram à mega crise de 1992 com nacionalização de todos os bancos para salva-los da quebra e recurso ao FMI para levantar 50 bilhões de dolares.

    4.A partir dai o Mexico tem apresentado bom crescimento , com um PIB quase igual ao do Brasil apesar de ter uma população 35% menor, hoje o Mexico tem investimentos no Brasil de 27 bilhões de dolares.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador