Argentina: a máfia no poder, por Léa Maria Aarão Reis

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Por Léa Maria Aarão Reis
 
Na Carta Maior
 
É de estarrecer a semelhança cada vez mais escancarada, de todos os lances, apenas com pinceladas de cores locais diferentes, entre o golpe político/jurídico aplicado na Argentina pelo governo Macri e o desmonte impressionante de país,  conduzido pelas mãos do golpista daqui e da sua quadrilha, ao qual assistimos como episódios de uma trágica telenovela que diariamente se aprofunda no Brasil. Desmontando, retalhando e transformando o nosso país num debochado bordel risível lá fora.

A leitura do livro eletrônico de 55 páginas (Ediciones Virtuales WaiWen), intitulado Macri, orígenes de una dictadura mafiosa, lançado na internet neste mês de dezembro pelo autor, o professor argentino Jorge Beinstein, da Universidade Nacional de la Plata e atual titular do Seminário de Doutorado Crise Sistêmica Global, da Universidade Nacional de Buenos Aires, é uma análise de leitura obrigatória para professores, acadêmicos, pesquisadores, intelectuais, cientistas, historiadores e público de modo geral. Num texto absorvente e ágil, ele percorre, em inteligente ordem cronológica decrescente de tempo, desde novembro último, no seu prólogo – na verdade um mini ensaio – até o ano de 1981.

Pesquisador de movimentos econômicos e geopolíticos, Beinstein traça as origens do poder político argentino atual, o qual chama, sem cerimônia e com documentação, de mafioso no estrito sentido do vocábulo. Ele esmiúça o conceito de ditadura mafiosa e ressalta o papel inglório da lumpen burguesia latino-americano e das elites econômicas predadoras do continente, que hoje ‘’navegam à deriva’’, na sucessão de golpes perpretados com o objetivo de defender interesses imediatos, sempre com uma visão de mundo de curto prazo e sem qualquer preocupação em assumir compromissos com as populações submetidas às estruturas de governo que detêm sobre elas um controle ‘’tóxico’’midiático.

‘’Um país’’, diz ele, ‘’governado pelo primogênito de um clã mafioso sobre o qual paira a sombra da ndrangheta não é um fato habitual, comum. Soa estranho e se assemelha a um filme inspirado em El padrino* embora a realidade seja muito mais complexa. (…) Macri é uma espécie de primus inter pares ( não sabemos durante quanto tempo), o número um de uma articulação mafiosa que reúne os reais donos do poder.”

Beinstein fala da tragédia argentina. Dos tempos obscuros de agora, das ilusões progressistas – a serem analisadas de peito aberto -; da ilusão de democracia, da penúria e das revoltas populares (em seu país) e se detém na análise da estrutura governamental que controla a mídia através de pressões fiscais e judiciais. “Um poder autolegitimado na sua brutalidade através de um jornalismo mercenário.”

Poderia estar falando sobre o Brasil. Aqui como lá, os shows/linchamentos dos inimigos de oposição; as reformas cruéis e atabalhoadas, os meios de comunicação plural que vão sendo devorados, e as pressões fiscais e judiciais sobre canais de TV, sobre rádios de grande alcance popular, o fechamento, porque passam a ser inviáveis financeiramente, de portais jornalísticos independentes e de produtoras, e a capacitação da polícia em técnicas de prevenção, dissuasão, planificação e execução de ataques em manifestações populares.

À medida que a intoxicação midiática dos cidadãos decresce aumenta a força bruta como instrumento de convencimento, lembra Beinstein. ‘’Hábitos mafiosos vão se instalando e renasce o terrorismo de estado. ‘’

“Recentemente, correu a informação da viagem do Grupo Falcão da Polícia de Buenos Aires aos territórios ocupados por Israel na Palestina onde receberam treinamento da polícia israelense em técnicas repressivas contra população civil. ’’

Para o ‘’império’’, ele escreve, ‘’a queda da Argentina foi uma vitória de grande importância trabalhada durante muito tempo e à qual foi necessário agregar três manobras decisivas no jogo regional: a submissão do Brasil, o fim do governo chavista na Venezuela e a rendição negociada da insurgência colombiana. ’’

Ele ressalta a situação vigente de retrocesso do nível de liderança global dos Estados Unidos, em termos geopolíticos e econômicos, paradoxalmente aos atuais esforços vigorosos para reconquistar passo a passo o seu quintal latino-americano.

Detalhes gritantes da política argentina atual são revelados em Macri, origens de uma ditadura mafiosa, tais como o das ‘’sugestões’’ solicitadas às embaixadas dos EUA e de Israel para apontar nomes para o novo ministério. A representação de Israel emplacou sua candidata, Patrícia Bullrich, para a Segurança. “A segurança argentina hoje se encontra nas mãos de Israel e do Mossad’’, ele denuncia.

Enfim, o livro eletrônico do professor Beinstein, excelente leitura para o feriado de fim de ano, reúne uma série de textos que são produto de uma reflexão sobre a prolongada degradação da sociedade argentina.

E ele conclui com a ideia – atenção: e isto não é retórica! –  que bem serve ao brasileiro, irmão siamês dos portenhos neste instante sombrio.

Livrar-se do niilismo fascista, diz, que identifica a vontade de viver com ‘subversão’.

‘’Viver ou submeter-se à barbárie, combater um regime injusto, cruel, ou se resignar a morrer cada dia um pouco mais… milhões de argentinos aprendem através de sua dura experiência que os milagres não são deste mundo e que somente uma luta consequente e tenaz poderá abrir o caminho para a liberdade. ’’

Vale para lá e para cá.

 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Angu e caroço

    O avanço geopolítico dos americanos é um fato, o avanço das políticas econômicas espelho são óbvias e óbvios serão os resultados. O problema é que lá foi por eleições aqui foi um golpe. O que me deixa perplexo é a fragilidade dos sistemas institucionais de vigilância, informação e defesa. Ou não funcionam, não estão preparados para as diferentes formas de interferência  invasivas, um cabide de emprego, ou participaram ativamente, o que eu  particularmente acho. Não é possível que com tantas revoluções coloridas da ucrania a libia, com resultados devastadores no último caso tanto para a europa quanto para a libia, ainda não tenham identificado o modo de operação.  Não adianta mostrar o sistema de capitães donatários, o problema é como são mobilizados  e indicados os capitães do mato da vez. 

  2. Angu e caroço

    O avanço geopolítico dos americanos é um fato, o avanço das políticas econômicas espelho são óbvias e óbvios serão os resultados. O problema é que lá foi por eleições aqui foi um golpe. O que me deixa perplexo é a fragilidade dos sistemas institucionais de vigilância, informação e defesa. Ou não funcionam, não estão preparados para as diferentes formas de interferência  invasivas, um cabide de emprego, ou participaram ativamente, o que eu  particularmente acho. Não é possível que com tantas revoluções coloridas da ucrania a libia, com resultados devastadores no último caso tanto para a europa quanto para a libia, ainda não tenham identificado o modo de operação.  Não adianta mostrar o sistema de capitães donatários, o problema é como são mobilizados  e indicados os capitães do mato da vez. 

  3. Os contextos politicos da

    Os contextos politicos da Argentina e do Brasil são muito diferentes na historia e na realidade atual e é muita forçação procurar semelhança nos processos. Por exemplo, quais canais de TV estão sendo no Brasil submetidos a perseguição judicial e political? Muito ao contrario, a midia eletronica brasileira é aliada do sistema policial-judiciario, se beneficia dele.

    Macri foi eleito em eleições normais não contestadas, qual foi o golpe que ele aplicou para chegar ao poder?

    È possivel fazer boas analises da complicada situação politica da Argentina mas não tem sentido esse tipo de artigo panfletario

    cheio de opiniões e de poucas analises realistas.

    E esse insistencia em ver intervenção dos EUA na politica interna HOJE é irreal. Em Washington simplesmente a America do Sul não está no radar, não há nem Subsecretario nomeado por Trum para a região, o Departamento de Estado está desmontado, destruido, sem capacidade operacional, os EUA não estão nem ai para a America do Sul, já tem mega preocupações nas regiões “quentes” da Asia, da Russia e do Oriente Medio.

     

  4. Ah os gringos…

    Ah os gringos… Sinceramente, os gringos não estão nem aí para a gente. O Trump já nomeou alguém pra cuidar dos interesses dos EUA na América Latina?

  5. Esse texto não tem sentido nenhum

    Eu nunca vi o nada ser expresso em tantas palavras. Esse texto não é baseado em absulutamente em nenhum fato, mas em especulações. Que golpe o Macri cometeu? Ele foi eleito democraticamente. Ele nunca foi citado em nenhum esquema de corrupção para ser chamado de mafioso.

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