As suspeitas sobre a Argentina de Macri apoiar com armas o golpe na Bolívia

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
[email protected]

O ex-presidente da Argentina, Mauricio Macri, foi denunciado pelo envio de armadas nos protestos para a derrubada de Evo Morales

Foto: EFE

Jornal GGN – O governo argentino denunciou o ex-presidente Mauricio Macri à Justiça para investigar o apoio do país ao golpe de Estado contra Evo Morales, com envio ilegal de armas à Bolívia, em 2019, para reprimir os protestos populares contra a derrubada de Morales.

A denúncia foi protocolada nesta segunda (12) contra Macri e outros funcionários do governo do antecessor, após o atual presidente argentino, Alberto Fernández, considerar que há indícios “muito graves” contra Macri.

Entre eles, a suposta adulteração nas quantidades e destinos de armamentos enviados em novembro de 2019, incluindo as informações prestadas pelo então governo de Macri ao serviço aduaneiro, colocando “material repressivo” à disposição da opositora Jeanine Áñez, que assumiu o controle do país naquele período e determinou uma reação violenta das forças de segurança contra os manifestantes.

“A gravidade institucional do fato se consolida ao constatar que o material enviado teve como destino final as Forças Armadas, que dias antes haviam derrocado o governo constitucional do então presidente Evo Morales, e que dias depois do envio [do armamento] cometeram múltiplas violações aos Direitos Humanos, entre elas, os ‘massacres’ (segundo qualificou a própria Comissão Interamericana de Direitos Humanos) de Sacaba e Senkata [regiões da Bolívia onde foram mortas mais de 30 pessoas nos atos]”, traz a denúncia desta segunda.

A opositora que liderou a violenta repressão, Áñez está presa há quatro meses, acusada de sedição, terrorismo e conspiração.

Suspeitas partiram de uma “carta”

A primeira informação sobre a participação da Argentina na crise política boliviana foi levantada na semana passada pelo chanceler boliviano Rogelio Mayta, revelando uma suposta carta de agradecimento do ex-comandante da Força Aérea, o general Gonzalo Terceros, ao embaixador argentino em La Paz, Normando Álvarez García, informando o recebimento de 40 mil cartuchos AT 12/70 e de gás lacrimogêneo. O general também está preso, acusado de aprticipar do golpe.

Quando assumiu a Presidência de forma interina, em novembro daquele ano, Áñez solicitou munições antidistúrbios, como balas de borracha e gás lacrimogêneo, aos governos da Argentina e do Equador – à época presidido por Lenín Moreno.

Sob o comando da opositora, o governo boliviano chegou a comprar os armamentos também de uma empresa intermediária em Miami, nos Estados Unidos, posteriomente acusada de superfaturamento estimado em mais de US$ 2 milhões, com lavagem de dinheiro e propina em benefício do então ministro de Governo de Áñez, Arturo Murillo. Ele também está preso em Miami, onde fixou residência após deixar o cargo.

Para Maita, a atuação dos países vizinhos foi comparável ao Plano Condor, quando as ditaduras de países latino-americanos colaboraram entre si para a perseguição política e a manutenção dos regimes militares.

Enquanto Macri nega as acusações, afirmando que inclusive ofereceu asilo na embaixada argentina a funcionários de Evo Morales e familiares dos políticos perseguidos, ainda que a oposição tenha levantado suspeitas sobre a autenticidade dessa carta, o atual ministro da Defesa da Argentina, Agustín Rossi, garante que o presidente sabia do envio das armas, uma vez que todas as saídas de materiais bélicos do país devem obter “autorizações especiais” do governo do país.

“Tenho certeza absoluta que Macri estava ciente da situação”, disse Rossi.

Fernández pede desculpas

Neste sábado (10), o atual presidente voltou a pedir desculpas à Bolívia: “Quero pedir desculpas ao povo da Bolívia, por um governo argentino que enviou armas com o objetivo de paralisar os protestos do povo que se levantava contra o golpe militar.”

Na ocasião, o líder argentino participava de um ato de comemoração do 205º aniversário da Declaração de Independência do país. “Meu modelo não está naqueles que enviam balas de borracha à Bolívia, meus modelos seguem sendo [José de] San Martín, [Martín Miguel de] Güemes [líderes que lutaram pela independência da Argentina] e [Manuel] Belgrano [criador da bandeira argentina]. Nunca esperem de mim que eu assine algo que arruine a vida do povo argentino”, completou.

Fernández lembrou que no dia 12 de julho é celebrado o dia da irmandade entre Bolívia e Argentina e “é quase irônico que tenhamos que enfrentar o dia da irmandade com semelhante loucura”.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador