Brasil-Argentina: especialistas discutem integração na gestão Macri

Dificuldades internas podem levar os dois a enfraquecer relações, preferindo União Europeia 
 
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Jornal GGN – Pela primeira vez, em mais de uma década, o governo argentino não é mais kirchnerista. Para discutir o impacto dessa mudança nas relações comerciais Brasil-Argentina, Luis Nassif recebeu no programa Brasilianas.org o ex-presidente do Conselho de Empresários da América Latina (CEAL) e fundador da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Roberto Teixeira da Costa, a correspondente do jornal Clarin no Brasil, Eleonora Gusmann, e o cientista social e professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP Wagner Iglecias. 
 
Para Eleonora Gusmann não assistiremos nenhuma mudança radical na relação entre Brasil e Argentina neste primeiro semestre, lembrando que a relação comercial entre os dois não está condicionada apenas a alteração de governo do país vizinho. Será preciso esperar o desenrolar da crise política no Brasil.   
 
A correspondente pontuou também que o novo Ministro da Economia portenho, Afonso Prat-Gay, já sinalizou que não irá fazer nenhuma mudança brusca no início do mandato. 
 
O economista Teixeira da Costa também concordou que a mudança da economia argentina não será abrupta, mas está confiante que será melhor do que os últimos anos kirchnerista. 
 
“Eu tenho a impressão que o Macri é mais maleável e vai ser menos protecionista. Agora é ilusório pensar que você pode ter uma relação bilateral, como muitos brasileiros gostariam que existisse, sem que, efetivamente, seu parceiro esteja bem”, avaliou. 
 
Sobre a relação comercial durante o governo de Cristina Kirchner, Teixeira da Costa destacou que não que “fosse ruim”, mas a visão “muito protecionista” com os subsídios aplicados pelo seu governo aos produtos internos, visando se proteger da entrada estrangeira, acabou distorcendo o preço real das produções argentinas, e o regime de câmbio oficial foram pontos negativos da sua gestão. 
 
Uma das primeiras medidas de Prat-Gay, em janeiro deste ano, foi a retomada do câmbio flutuante após quatro anos de regime oficial. 
 
Na gestão de Macri, Teixeira da Costa aposta em uma recuperação do país mais rápida do que a recuperação econômica do Brasil. Mas pondera que a confiança dos agentes econômicos dependerá da forma como o novo presidente sinalizará sua conduta macroeconômica. 
 
“Se os sinais do Macri forem positivos, como a gente imagina que vai ser, as coisas melhoram, não só na relação com o Brasil, mas com o resto do mundo”. 
 
O professor completa que a Argentina é um país que tem menos problemas estruturais do que o Brasil. Necessita sim de reformas e correções na política econômica, mas a massa da população é mais escolarizada do que a massa da população brasileira. 
 
O cientista social Wagner Iglecias lembrou que a gestão do governo não será fácil para Macri. Apesar de ter como aliados os governos das províncias mais populosas do país, incluindo a de Buenos Aires, a maioria dos governadores argentinos não está do seu lado. Além disso, ele assumiu o governo sem ter a maioria no Senado.  
 
“Macri terá que negociar bastante. [Tanto que] o discurso eleitoral foi um e o discurso após ganhar as eleições já é outro. Ele terá que buscar também legitimidade com parceiros externos pela dificuldade que terá internamente. Por isso a visita dele ao Brasil, a primeira visita que fez [realizada após ser eleito, é muito simbólica”.
 
A jornalista argentina Eleonora Gusmann reforçou os pontos do professor Iglecias, destacando que Macri assume o governo com uma estrutura muito frágil. “Ele montou um governo com empresários como, por exemplo, Susana Malcorra, a nova chanceler da Argentina”. 
 
E esse governo feito com empresários terá agora que testar a sua capacidade de negociar com o Congresso, onde não detém o apoio da maioria. Para completar, ele terá que ganhar apoio da metade da população, praticamente, pois a vitória de Macri nas eleições se deu de forma apertada, com 51,5% dos votos a seu favor. Porcentagem semelhante a que Dilma angariou para ser reeleita. 
 
Iglecias aposta, ainda, que a fragilidade política do governo brasileiro e a chegada de um governo mais a direita na Argentina, somados aos problemas econômicos internos de cada um, deverão enfraquecer os laços comerciais entre os dois países levando-os, por conta própria, a uma associação com a União Europeia.  
 
Redação

2 Comentários

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  1. Abutres à espreita

    As prioridades de Macri não serão com os que lhe deram voto, mas com os que o colocaram no poder.

    Acordos de comércio em bloco serão substituídos por negociações bilaterais (sem as “inoportunas” restrições de compromissos sociais/regionais), mais convenientes aos empresários e aos financistas; exceção, talvez pelo volume, com a China. Foco será o maior alinhamento com a Aliança do Pacífico (EUA) e Europa, em rota direta para a “mexicanização”.

    Resta aguardar a reação da população e da oposição, diante das inevitáveis perdas de direitos sociais.

     

    Argentina hoje (Venezuela, em breve) é o ponto vulnerável para os agentes do Grande Capital enfraquecerem o Mercosul/Unasul.

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