Chile reage contra Bolsonaro por ataques a Bachelet e defesa da ditadura

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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O presidente do Senado chileno disse que falas de Bolsonaro "feriram a memória dos chilenos" e devem "provocar uma rejeição transversal e contundente"

Jornal GGN – Os jornais chilenos estamparam o presidente brasileiro Jair Bolsonaro, nesta quarta-feira (04), em nova polêmica bilateral, desta vez com o vizinho latino-americano, pelos ataques diretos do mandatário contra a ex-presidente do Chile e atual Alta Comissária de Direitos Humanos da ONU, Michelle Bachelet, e em defesa da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990).

“O presidente brasileiro Jair Bolsonaro lançou nesta quarta-feira uma duríssima crítica à alta comissária de direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, a quem acusou de defender ‘vagabundos’ e atacou, inclusive, de forma pessoal”, foi a manchete de diversos jornais chilenos, entre eles El Mostrador, a Emol, a Cooperativa.

A reconhecida rádio Biobio também mostrou perplexidade ao noticiar: “Bolsonaro ataca a Bachelet com morte de seu pai: ‘Se não fosse por Pinochet, Chile seria uma Cuba’”. Mas foram os ataques diretos e gratuitos de Bolsonaro contra o pai da ex-presidente do país, opositor da ditadura militar que foi torturado e faleceu em decorrência dos maus tratos sofridos, que geraram as maiores repercussões no país.

“Um novo episódio de desencontros e frases mal intencionadas protagonizou, nesta quarta, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro”, introduziu a Radio Universidad de Chile. “Cabe lembrar que o pai da Alta Comissária, o general da Força Aérea Chilena Alberto Bachelet Martinez morreu em 1973 depois de sofrer um infarto na prisão publica de Santiago, logo após ser torturado pelos seus próprios companheiros”, continuou.

“Bolsonaro atacou a Bachelet com o homicídio de seu pai nas mãos da ditadura de Pinochet”, escreveu a radio ADN, pontuando que o mandatário brasileiro “lembrou a Michelle Bachelet o assassinato de seu pai”.

E não foram apenas os jornais que deram espaço para as criticas e perplexidade frente às palavras sem cautela do mandatário brasileiro. As reações do mundo político também não tardaram em chegar, principalmente em repúdio, entre elas do deputado Macelo Díaz, do Partido Socialista.

“Hoje corresponde, por coerência, por convicção e para erradicar toda possível interpretação de intencionalidade política, que o Governo [do Chile] dê respaldo público ao informe da Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, ex-presidente do Chile, Michelle Bachelet, a respeito da situação de direitos humanos a que vive o Brasil”, escreveu o parlamentar.

Díaz pediu, ainda, que o atual presidente Sebastián Piñera “expresse também, por meio de uma nota diplomática, a preocupação do Governo do Chile diante da situação de direitos humanos no Brasil, a partir deste relatório”, continuou o deputado.

O jornal La Tercera ressaltou que o presidente do Senado, Jaime Quintana, pediu do presidente chileno uma “reação imediata” frente às declarações acusatórias do presidente brasileiro. Para ele, as falas de Bolsonaro deveriam “provocar uma rejeição transversal e contundente de todos os setores políticos do Chile”, afirmando que o mandatário do Brasil “feriu a memória dos chilenos e as vítimas das violações de direitos humanos”.

“Lamento muito pelo povo brasileiro, por ter um presidente que faz apologia à ditadura, que reivindica a ditadura, o derramamento de sangue”, afirmou outra parlamentar, a deputada do Partido Comunista, Camila Vallejo, e pediu que Piñera responda diante das graves declarações “vergonhosas e inaceitáveis” de Bolsonaro”.

“Muitos dos nossos pais, dos nossos avós, irmãos foram assassinados, torturados e desapareceram pela ditadura que ele [Bolsonaro] reivindica. Isso para mim é aberrante. O Presidente da Republica, independentemente de sua posição política, deveria sair a responder a essas declarações, porque aqui esta em jogo também a democracia chilena”, acrescentou a deputada.

 

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

9 Comentários

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  1. Esta aberração presidencial eleita por manipulação eleitoral emocional, racional e informacional é cada vez mais uma “merdalhadora” giratória sem controle e tende a levar este país à um desastre econômico e uma ruptura social e institucional com riscos até à integridade de nossa soberania.
    É perplexante!

  2. Bolsonaro está apostando alto em sua fama de mau. Talvez creia que se os EUA são o mais nefasto país da atualidade e são ricos e impõem temor, ele possa fazer igual. Acho que o Maquiavel falou algo sobre isso, falou não? Digo, comparou respeito e medo na imposição de poder…

    Mas se nem os EUA o pessoal nem teme e menos ainda respeita, imagina Bolsonaro…

    De toda forma, nenhuma novidade, tá na estratégia (ainda que sincera): tornar-se escroto, rejeitado e malvado para tentar fazerem acreditar que ele é poderoso. E quanto mais ele fizer a moçada se escandalizar com a palhaçada do Bolsonaro, melhor para ele.

  3. Esse ser humano energúmeno é um sociopata desequilibrado total . Para esse anecefalo a sociedade civil é toda vagabunda só quem merece todo respeito são os militares . Em que país nós estamos Indonésia , Nigéria , Paquistão ??????? . Esse homem é o cúmulo do absurdo . Um sociopata reprimido literalmente .

  4. Os militares entreguistas devem ter vibrado mais uma vez com Bolsonaro. Os generais Mourão, Villas Boas e Augusto Heleno devem ter ficado extasiados com a reverência ao general Pinochet.
    O presidente que presta continência à bandeira dos EUA é um capitão, o vice-presidente é general, tem mais uns 9 generais em cargos de direção e mais de uma centena de oficiais espalhados pelo governo.
    Para quem queria um Governo Militar, taí ! São esses a quem pagamos, alimentamos, damos escola, roupa e moradia para defender a nossa soberania…

  5. Deus do céu! Quem é responsável pelos remédios noturnos e diários de Bolsonaro? Não pode deixar de dar o remédio a ele! Sem o remedinho de tarja preta ele acaba fazendo uma desgraça!

  6. O BRASIL CADA VEZ MAIS ISOLADO DO MUNDO CIVILIZADO – Até mesmo os governos países cujos governos são de direita e neoliberais como o Chile, criticam o Brasil por causa da mentalidade dessa figura tosca e sem limites : a imprensa mundial nos coloca na lata do lixo da história : um caso de governo paranóico e demente mental governando um país de dimensões continentais : aonde vamos parar ninguém sabe mas dá pra imaginar, não é….

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