
O Congresso do Peru rejeitou na madrugada deste sábado (28) a proposta de antecipação das eleições gerais para 2023, apresentada pela presidente Dina Boluarte como uma tentativa de retirar o país da grave crise social e política das últimas sete semanas.
Com 45 votos a favor, 65 contrários e duas abstenções, os deputados peruanos rejeitaram a iniciativa de antecipação das eleições presidenciais para dezembro de 2023 – o pleito estava inicialmente previsto para abril 2024.
“Com esta votação está rejeitada a proposta de reforma constitucional para a antecipação das eleições”, anunciou o presidente do Congresso, José Williams.
Mas, no final da sessão, marcada por discussões entre parlamentares rivais, a ala fujimorista (conservadora) do Congresso apresentou uma proposta de “reconsideração” da votação, que será examinada na segunda-feira (30). A reversão do resultado, no entanto, é muito difícil.
Abalada por protestos, bloqueios nas estradas e problemas de escassez, a presidente Boluarte pediu na sexta-feira ao Congresso a antecipação das eleições gerais para dezembro de 2023, com o objetivo de que o país saia “do atoleiro” em que se encontra há sete semanas, que já deixou 47 mortos.
Protestos se tornaram mais intensos
“Colocamos este projeto de lei à consideração dos ministros para antecipar para dezembro de 2023 as eleições na data e hora que o Congresso determinar”, afirmou Dina Boluarte em uma cerimônia do governo. Boluarte admitiu que os protestos que exigem sua renúncia se tornaram mais intensos.
O Peru é, há sete semanas, cenário de manifestações que pedem a queda de Boluarte, que assumiu em sua qualidade de vice-presidente após a destituição e detenção do presidente Pedro Castillo em 7 de dezembro por tentativa de dissolver o Parlamento.
Os protestos e bloqueios de estradas, que exigem a renúncia de Dina Boluarte, a antecipação das eleições e, em menor medida, a convocação de uma Assembleia Constituinte não dão trégua e geram escassez de combustível, alimentos e insumos médicos.
A parlamentar Susel Paredes, de centro, lamentou a falta de vontade do Congresso para convocar a antecipação das eleições e criticou os partidos de direita, como Renovação Popular e Avança País, que votaram contra a medida, e de esquerda, que para ela tentam aproveitar o momento para exigir uma Assembleia Constituinte.
“Não podemos esperar”
Nas ruas das áreas mais furiosas com a destituição de Pedro Castillo e, agora, mais afetadas pela queda do turismo e escassez de produtos básicos, o desejo é de renúncia imediata da presidente.
“Não podemos esperar. Tem que ser logo”, disse a professora Sandra Zorela, 53 anos, moradora de Cusco, grande ponto de turismo internacional, que inclui a cidade inca de Machu Picchu, que está praticamente fechada.
O ministério do Comércio e Turismo informou que o setor perdeu US$ 6,2 milhões devido à crise política dos últimos meses. Quase 85% dos pacotes turísticos foram cancelados.
A Defensoria do Povo registra 46 civis mortos nos confrontos das últimas semanas e um policial queimado vivo, além de 10 civis – incluindo dos bebês – mortos em atos vinculados aos bloqueios.
Os bloqueios prolongados geraram escassez de combustível, gás liquefeito de uso doméstico e alimentos em regiões do sul andino e da região de florestas floresta, pobres e historicamente marginalizadas.
“Não há gás, nem gasolina. Nos armazéns só se consegue mantimentos não perecíveis e todas as coisas estão muito caras, até o triplo do normal”, disse Guillermo Sandino, um especialista em marketing radicado em Ica.
Os ministérios da Defesa e do Interior anunciaram na quinta-feira (26) que a polícia e as Forças Armadas desbloquearão as rodovias do país tomadas por manifestantes.
Ao mesmo tempo, novas manifestações são convocadas para o centro histórico da capital, Lima.
(Com informações da AFP)
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