Apesar da cotação do dólar avançar no mercado paralelo da Argentina, a presidenta Cristina Kirchner descartou qualquer possibilidade de desvalorizar o peso. Em evento realizado na Casa Rosada (sede do governo argentino), ela prometeu que o mesmo modelo econômico, de estímulo à produção e ao consumo, será mantido até o fim do governo, em 2015.
Segundo informações da Agência Brasil, Cristina afirmou que os interessados em ganhar à custa das desvalorizações “vão ter que esperar outro governo”. Contudo, as últimas semanas na Argentina foram marcadas pelo aumento dos rumores de que o governo vai desvalorizar a moeda após as eleições legislativas de outubro. A desconfiança foi provocada pela disparada do dólar norte-americano, usado como um termômetro da crise no país vizinho – e que chegou a 9,98 pesos no mercado paralelo, praticamente o dobro do dólar oficial, que vale 5,19 pesos.
O mercado paralelo do dólar voltou a aparecer no cenário econômico do país em outubro do ano passado, quando o governo adotou medidas para controlar o câmbio após 52 meses consecutivos de saída de divisas do país. Com os novos controles, os argentinos precisam pedir autorização da Afip (Receita Federal) para comprar moeda estrangeira e justificar a operação de câmbio, por exemplo, para uma viagem ao exterior.
Há décadas os argentinos têm o hábito de poupar em dólar. Mas, depois de sucessivas crises, a última delas em 2001, eles passaram a trocar parte do salário por dólares, que guardam em casa ou em bancos no exterior, muitos deles no Uruguai. Desde 2007, a moeda norte-americana se transformou na melhor proteção contra a inflação, que oficialmente gira em torno de 10% ao ano, mas, segundo economistas independentes e sindicalistas, a taxa real é o dobro.
“O governo mudou o método de medir a inflação. Para calcular o aumento do custo de vida, passou a usar os preços máximos que fixou para determinados produtos. Mas na hora dos reajustes salariais, que na Argentina são negociados por empresários e trabalhadores, mas ratificados pelo Ministério do Trabalho, utiliza o chamado índice de supermercado, que reflete o verdadeiro aumento do custo de vida”, disse o economista Roberto Lavagna, que foi ministro da Economia do então presidente Nestor Kirchner, que morreu em 2010. “Os aumentos salariais, aceitos pelo governo, superam os 20%”, completou.
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