Eleições: Argentinos vão às urnas para renovar Congresso

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Arte: TeleSUR

Da Agência Brasil

Por Mônica Yanakiew

Os argentinos vão às urnas neste domingo (22) para renovar metade da Câmara dos Deputados e um terço do Senado. As eleições legislativas são consideradas um termômetro para medir a popularidade do presidente Mauricio Macri que, em dezembro, completa metade de seu mandato, e da ex-presidente Cristina Kirchner, sua antecessora e principal rival politica.

Segundo as pesquisas de opinião, a frente Cambiemos (Mudemos) de Macri – que desde 2015 governa o país com minoria no Congresso – não conseguirá maioria parlamentar. Ainda assim, se as previsões forem confirmadas, ele deve aumentar sua base de apoio e suas chances de disputar a reeleição em 2019.

Mas Macri também terá que enfrentar uma oposição forte. Tudo indica que, apesar de estar sendo processada pela Justiça por corrupção e “traição à pátria”, Cristina Kirchner será eleita senadora pela Unidad Ciudadana (Unidade Cidadã), uma dissidência do Partido Justicialista (Peronista) que ela transformou em partido para se candidatar.

Até quinta-feira (19) o palco de disputa eleitoral entre macristas e cristinistas era a província de Buenos Aires, que representa 37% do eleitorado. Mas a descoberta de um corpo, num rio da Patagônia argentina, antecipou o fim da campanha eleitoral.  Governistas e opositores suspenderam os comícios, enquanto o país aguardava para saber se o afogado era Santiago Maldonado, um artesão de 28 anos, desaparecido há oitenta dias. Segundo testemunhas, ele foi visto, pela ultima vez, sendo arrastado pela Polícia Militar, que reprimiu um protesto dos índios Mapuche.

Durante quase três meses, a família do artesão, movimentos sociais de esquerda e organizações de Direitos Humanos realizaram manifestações e campanhas pelas redes sociais, cobrando do governo a “aparição com vida” de Santiago Maldonado, que passaram a chamar de “desaparecido da democracia” argentina.

Na Argentina, onde a população até hoje exige Justiça pelos 30 mil desaparecidos da ditadura (1976-1983), o caso ganhou dimensão nacional e internacional, colocando o governo na defensiva. Até mesmo o líder da banda U-2, Bono, perguntou por Santiago Maldonado, em um encontro com o presidente Macri, após show da banda na Argentina. “Falamos de Santiago Maldonado e senti que o presidente esta levando o caso a sério. Como membro da [organização de Direitos Humanos] Anistia Internacional fiquei muito contente”, disse Bono.

No sábado (21), véspera da eleição, o corpo achado boiando no Rio Chubut foi identificado como sendo de Santiago Maldonado. Segundo os peritos, que realizaram a autopsia em Buenos Aires, não hé sinais de golpes ou ferimentos e ele pode ter morrido afogado. Mas a família divulgou um comunicado afirmando que considera a Gendarmeria (Polícia Militar de fronteira) “responsável por sua morte” e prometendo “continuar investigando”.

Desafios

Segundo o analista político Roberto Bacman, o caso Maldonado – apesar de ter provocado certo desgaste político e ter sido motivo de mais uma manifestação no sábado (21) – não deve impactar nos resultados de hoje. “Para Macri, uma boa eleição, mesmo sem conseguir maioria no Congresso, representa um voto de confiança dos argentinos na sua capacidade de cumprir as promessas de campanha”, disse Bacman à Agência Brasil. “Mas o maior desafio dele, nessa segunda metade do mandato, será a economia”.

Na campanha para presidente, Macri prometeu baixar a inflação de dois dígitos que herdou de Cristina Kirchner. “Mas o custo de vida aumentou 40% no governo dele e deve superar 25% este ano”, lembrou Bacman. “E a inflação pode voltar a subir, se houver um novo reajuste de tarifas publicas, como tudo indica”.

A seu favor Macri tem a retomada do crescimento econômico, após três anos de recessão e a rejeição de 40% do eleitorado à Cristina Kirchner, que ocupou a residência presidencial de Olivos durante doze anos. Ela morou lá durante quatro anos como primeira-dama e outros oito como sucessora de marido, o ex-presidente Nestor Kircher.

O desafio da ex-presidente, segundo Bacman, vai ser unir os peronistas, que hoje estão divididos em três facções, dando ao governo de Macri mais uma vantagem.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

2 Comentários

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  1. elelições argentinas…..

    E os argentinos irão votar em urnas plásticas ou de papelão a um custo irrisório como fazem qualquer país minimamente civilizado. O que não acontece na Pátria da Corrupção.” Mas é para o povo aprender com o voto, não é mesmo? Aprendemos muito, desde que isto foi implantado por um Ditador.  Único país entre as maiores economias do planeta e ter voto obrigatório, seguido apenas pela sua área de influência entre os mais miseráveis e corruptos do Mundo na América Latina ou África. Grande exemplo para a Humanidade. Não sei como não nos seguem em Fundo Partidário de 1, 7 bilhões de reais ou algo em torno de 550 milhões dólares.  Ou Justiça Eleitoral de 30 bilhões de reais ou 10 bilhões de dólares. Em país de Denguem chicungunya, microcefalia e febre amarela. É muito fácil ver o abismo mesmo entre o Brasil e a latino americana Argentina. E a latrina cheia até a tampa, de desculpas que damos para isto. Agora com a mediocridade e o cabresto de Biometria. Cidadania transformada em lixo, eis aqui seu país.    

  2. Retomada de crescimento

    Em todos os outros países, até nos governados pelos governos mais reaças, até nos piores governos, sejam de esquerda ou de direita, sejam ditatoriais ou emocráticos, se vê uma hora ou outra uma retomada do crescimento econômico, como é o caso da Argentina.

    Mas aqui no Brasil, diferentemente, este crescimento econômico não acontece nunca. Após três anos de queda livre do PIB, acumulando deficits sobre déficits, após dezenas de desculpas da equipe econômica, após record e record de desemprego, chegamos a um ponto de nem saber se haverá luz no fim do túnel, ou se caminhamos para um fim do túnel sem saída.

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