Consolidando falta de pacto da esquerda, eleições no Chile erguem Piñera

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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De Santiago, Chile
 
Pleito para decidir o novo presidente do país deve fechar a criticada dobradinha do poder nos últimos 16 anos: centro-esquerda (Bachelet) e direita (Piñera)
 

Atual presidente do Chile, Michelle Bachellet, e Sebastián Piñera, seu antecessor e candidato a La Moneda. Foto: Divulgação
 
Jornal GGN – O Chile se prepara para as eleições presidenciais, com a realização das primárias, no próximo 2 de julho, para decidir os candidatos de cada aliança que irão disputar em novembro a sucessão ao governo de Michelle Bachelet. 
 
Até agora, o ex-presidente de direita Sebastián Piñera (2010-2014) lidera as já baixas intenções de votos, com 25% dos votos. Piñera já é dado como vitorioso pela própria centro-esquerda e conta com apoio de seu bloco, ainda que com outros nomes nas prévias da disputa, que será definida em duas semanas.
 
Do bloco Chile Vamos, Piñera traz a maioria das intenções até mesmo frente a postulantes dos outros partidos. Ainda assim, precisará enfrentar os aliados no que é quase considerado o primeiro turno, no domingo 2 de julho, e um dos primeiros sinais mais claros do que está por vir no pleito eleitoral deste ano.
 
Na aliança, o ex-presidente que tenta o segundo mandato disputa as primárias com o deputado e economista Felipe Kast e o senador Manuel José Ossandón. O tom da disputa se viu acirrado nos últimos dias, quando as chances de Kast e de Ossandón tentaram ser esvaziadas com embates de acusações entre os pró Piñera e os dois candidatos.
 
Por outro lado, Felipe Kast já ocupou ministério do próprio governo Piñera, o de Planejamento, participando ativamente de seu governo. E Ossandón integrou o partido de centro-direita Renovação Nacional (RN) até julho de 2016, que juntamente com a União Democrática Independente (UDI) formaram os blocos de direita para os comícios eleitorais, desde o período de transição pós ditadura de Pinochet (1973-1990).
 
Assim, ainda que dentro de uma disputa interna que parece acirrar rompimentos de aliados, os quatro partidos que integram o bloco Chile Vamos apostam as confianças no nome de um deles, o de Piñera, para garantir a vitória na disputa decisiva de novembro deste ano. Não à toa, Sebastián Piñera aparece com 25% das intenções de votos das últimas pesquisas eleitorais.
 
Caso se confirme o resultado esperado, tanto pela direita, como também admitido nos bastidores pela esquerda, o Chile verá 16 anos de sua história governados pela mesma disputa centro “esquerda e direita”: a dobradinha Bachelet e Piñera.
 
Do outro lado, concorrem com o nome de centro-direita os candidatos Alejandro Gullier, com 13% das intenções, segundo o último levantamento divulgado nesta segunda (19), e a pré-candidata da Frente Ampla, Beatriz Sánchez, com 9%.
 
Beatriz Sánchez desponta como a jornalista presidenciável da esquerda Frente Ampla e o senador independente Alejandro Guillier ganhou o apoio do Partido Radical e do Partido Socialista, que alentou o governo de Salvador Allende (1969-1973). 
 
Os resultados de “centro” nas alianças, tanto esquerda, quanto de direita, são resquícios claros do que deixou a ditadura Pinochet no país. Nos últimos anos do governo do general, a Democracia Cristã (DC), que foi oposição de Allende e contribuiu com o golpe de Estado, promoveu acordos com os socialistas, formando o que se chamou de Concertación, uma aliança que permitiu o diálogo entre a coalizão.
 
Mas uma nova ruptura fez com que a DC levantasse nome próprio de candidatura para este 2017, apostando na senadora Carolina Goic, que detém 2% nas pesquisas. O objetivo dos democratas-cristãos era se aproximar do eleitorado centro e moderado, setores médios da população. Mas as dúvidas de não fechar uma aliança pairaram inclusive dentro do partido, que não levará Goic às primárias, afetando a candidatura da senadora ao Palácio de La Moneda.
 
A decisão ocorreu pela sobrevivência de um fortalecimento político do DC, se competir com o independente Guillier, em novembro. As negociações ainda irão consumir tempo para os partidos se posicionarem, frente a possibilidades de segundo turno ao mais provável candidato de centro-esquerda. 
 
Por outro lado, a ausência tanto de Guillier, quanto de Goic, nas primárias enfraquecem as campanhas de ambos, o que deverá ser acompanhado nas pesquisas pós 2 de julho, podendo modificar o cenário de 13% para o candidato da esquerda contra 25% da direita do ex-presidente.
 
 
Chilenos desacreditados
 
Se longínquos 12 pontos percentuais separam Guillier de Piñera nas pesquisas, por outro lado, a quantidade de indecisos, a menos de duas semanas para as primárias, ainda é alarmante: 34% da população chilena ouvida não sabe em quem votar. 
 
Á isso, a imprevisibilidade do 19 de novembro, quando a população chilena vai às urnas decidir o próximo mandatário do país, conta também com outros fatores. Entre eles, a falta da obrigatoriedade de votar soma-se à um eleitorado desacreditado com a crise política que afetou o país nos últimos anos
 
A última pesquisa tornada pública nesta segunda-feira (19), 42% dos entrevistados disseram ter “pouco” ou “nenhum” interesse em participar das primárias, que serão realizadas em duas semanas. Outros 17% afirmam ter “um pouco” de vontade de votar. Assim, são 59% dos chilenos que se mostram desinteressados pelo futuro presidente do país, contra outros significativos 40% que ainda revelam entusiasmo e responderam ter “muito” ou “bastante” interesse em comparecer no próximo 2 de julho.
 
 
Enquanto isso, outros dados podem trazer mais informações sobre a participação da população nos candidatos. Trata-se da faixa eleitoral, período que antecede as eleições e as televisões abertas e fechadas são obrigadas a dedicar tempo de imagem aos candidatos. Parte dos canais televisivos aproveitam a restrição para preparar programas completos de perguntas e respostas e debates, de forma a atrair os telespectadores para conhecer as propostas de cada postulante.
 
Mas, ainda assim, apenas 40% dos entrevistados pela pesquisa CADEM (acesse aqui) afirmam terem visto os programas. Outros 59% não assistiram. Daqueles que acompanharam, outro dado interessante sobre a participação: 46% são mulheres, outros 45% são habitantes da capital do país, Santiago, e 48% dos que assistiram a faixa eleitoral se identificam como de centro direita.
 
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Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

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