Por que Trump ‘não é importante’ nas eleições no México? Todos os candidatos são contra ele, por Kirk Semple

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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no OPEU – Observatório Político dos Estados Unidos

Por que Trump ‘não é importante’ nas eleições no México? Todos os candidatos são contra ele

por Kirk Semple

Traduzido do The New York Times*

Cidade do México – Durante vários comícios de campanha, num dia recente na Cidade do México, o favorito da esquerda na corrida presidencial mexicana disse várias vezes a seus apoiadores o que eles queriam ouvir.

Andrés Manuel López Obrador, ex-prefeito da Cidade do México, criticou a corrupção e o que chamou de “máfia do poder”. Prometeu combater a violência e a impunidade. Condenou a desigualdade e prometeu aumentos salariais para a classe trabalhadora. Prometeu aumentar o investimento em serviços sociais para jovens e idosos.

Mas uma questão ficou claramente ausente de sua oratória populista: relações internacionais, especificamente, as com o vizinho ao norte.

A única menção de López Obrador ao presidente Trump – que passou os últimos dois anos intimidando o México, acabando com a boa fé arduamente construída nas relações bilaterais – foi uma piada sobre lhe vender o avião presidencial mexicano para custear os luxos do Executivo.

“Ele quer que o México ouça primeiro sobre o México, disse em um dos comícios Martín García Quintero (56), trabalhador da construção civil, explicando o apelo do candidato. “Ele quer que coisas boas aconteçam para o México.”

Os ataques de Trump ao México foram um foco desde o início de sua campanha presidencial, durante a qual ele vilanizou imigrantes mexicanos, os acusou de roubar empregos americanos e prometeu fazer o México pagar pela construção de um muro de fronteira.

Desde que ganhou o cargo, não recuou, continuando a martelar o México, especialmente nos assuntos de segurança, migração e comércio. Prometeu reduzir a imigração, aumentar as deportações e reescrever drasticamente o Acordo de Livre Comércio da América do Norte, ou simplesmente descartá-lo.

As relações entre os dois governos se tornaram tão frias que, com 16 meses de presidência de Trump, sua contraparte mexicana, o presidente Enrique Peña Nieto, ainda não visitou a Casa Branca.

Intencionalmente, os assuntos de comércio, migração e fronteira foram foco do mais recente debate presidencial entre os quatro candidatos, em 20 de maio, e Trump e o tratamento dele para o México foram temas recorrentes durante a noite. Na semana passada, Trump impôs tarifas sobre importação de metais do México, Canadá e Europa, recebendo as críticas dos candidatos à presidência.

Mas a atenção com as relações bilaterais foi uma anomalia na campanha. Com a aproximação das eleições de 1º de julho, a relação entre os Estados Unidos e o México tem sido só um tema menor e, muitas vezes, ausente.

“Não afeta como os mexicanos vão votar”, disse Arturo Sarukhán, ex-embaixador mexicano em Washington. “A única maneira de Trump e o relacionamento mexicano com os Estados Unidos ter peso seria se, antes de 1º de julho, Trump fizesse alguma coisa realmente idiota, como se retirar do Nafta, ou algo muito agressivo na fronteira.”

Em meio aos problemas  profundos que o México enfrenta, as questões de relações internacionais podem parecer abstratas e remotas para muitos eleitores, e os ataques periódicos de Trump podem parecer irrelevantes.

Em vez disso, os assuntos que parecem estar empolgando o eleitorado são os problemas imediatos que afetam diretamente a qualidade de vida dos mexicanos, incluindo taxas historicamente altas de violência; pobreza e desigualdade; corrupção intransponível e impunidade.

“Nenhum eleitor mexicano espera que qualquer candidato fale sobre Trump”, disse José Merino, analista político que vem aconselhando o candidato a prefeito da cidade do México pelo Morena, acrônimo em espanhol para o Movimento Nacional de Regeneração, partido de López Obrador,

Depois de uma manifestação de López Obrador no mês passado, na parte ocidental da Cidade do México, Mónica Gutiérrez Díaz (48), funcionária pública, começou a enumerar os desafios que ela e seus parentes enfrentam diariamente, de baixos salários a crimes desenfreados.

“Na minha família inteira, somos todos profissionais, mas estamos todos muito mal”, disse.

Em meio a essas lutas constantes, os eleitores não têm muito espaço para Trump e a política externa.

“Ele não é importante para nós”, disse Gutiérrez.

Nem sempre assim.  Durante a campanha presidencial americana e nos primeiros meses da presidência de Trump, houve um tempo em que as declarações anti-mexicanas de Trump poderiam levar a nação a uma onda de indignação patriótica.

Mas o México aprendeu rapidamente a ignorar, principalmente, as explosões de Trump, como se fossem o estrondo leve de um trovão distante. Autoridades e mexicanos comuns chegaram a ver a maioria das ameaças e a retórica hostil de Trump como pouco mais do que arrogância e jogada política voltadas tanto quanto para a sua base, ou até mais, do que para o México.

Enquanto os candidatos à presidência tentam se diferenciar em questões domésticas importantes, em grande parte, ecoam uns aos outros no posicionamento quanto ao relacionamento do México com os Estados Unidos.

No debate de 20 de maio, eles tentaram mostrar que seriam capazes de resistir ao assédio de Trump, defender a soberania e a honra do México, e apoiar tanto imigrantes mexicanos nos Estados Unidos como aqueles que retornam ao país.

“Curiosamente, a chegada de Trump transformou os Estados Unidos em não tema na campanha”, disse Vidal Fernando Romero León, chefe do departamento de Ciência Política do Instituto Tecnológico Autônomo de Cuba, universidade na Cidade do México. “Não é fácil para eles se diferenciarem em termos do que farão com Trump – são todos contra Trump. “É uma coisa sobre a qual é preciso se pronunciar contra”.

Embora as políticas de Trump e sua abordagem agressiva em relação ao México não tenham sido destacadas na campanha, o vencedor, dizem os analistas, estará lutando em breve com os seus efeitos sobre uma gama de questões bilaterais, do Nafta à migração, até a segurança.

Sarukhán prevê que, quando o próximo presidente mexicano ocupar o cargo, ele se verá sob tremenda pressão interna para não dar margem a Trump, deixando muito pouco “espaço político de manobra” para administrar o relacionamento México-Estados Unidos.

A unanimidade entre os candidatos em relação a Trump, disse ele, “mostra que construir o relacionamento daqui para frente será um desafio.”

Washington poderá vir a enfrentar um México muito diferente, acrescentou. Nos Estados Unidos, “as pessoas vão se perguntar: Quem perdeu o México?”, disse.

Tradução por Solange Reis

*Artigo originalmente publicado em 03/06/2018, em https://www.nytimes.com/2018/06/03/world/americas/mexico-election-trump.html

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

2 Comentários

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  1. Assim como aqui,o presidente 

    Assim como aqui,o presidente  dos falcôes do norte,não goza de muita popularidade. Assim como aqui,está dando de ombros.

    A diferença é que o golpista daqui atinge somente os brasileiros enquanto que o do Norte,embora tenha sido eleito,age como um golpista do mundo.

  2. Sugestão:

    Artigo sobre os candidatos a presidente do México para podermos ter uma ideia do ambiente político dos latinos do Norte.

    Obrigado.

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