Quem ainda se lembra do Efeito Orloff?

Por Sergio Saraiva

Por que as recentes eleições presidenciais na Argentina pouco valem para se antever o cenário político do Brasil para 2018.

Parece-me inadequado tentar enxergar na eleição de Mauricio Macri para presidente da Argentina um sinal da reedição do Efeito Orloff da década de 90 do século passado e, a partir daí, antecipar algo sobre a alternância do poder federal no Brasil. E não só pelo considerável hiato temporal entre a recente eleição presidencial argentina e a próxima no Brasil.

No Chile, em 2010 e 2014, assistimos duas alternâncias de poder no comando do governo central. Michelle Bachelet – Sebastián Piñera- Michelle Bachelet, sem que isso refletisse em nada nas eleições brasileiras correspondentes.

A situação política atual de Brasil e Argentina guarda diferenças que a primeira vista não se mostram tão evidentes.

Na Argentina, parece-me ter ocorrido um caso clássico de alternância. Um partido sofre desgastes naturais após 12 anos no poder e é substituído por outro mais afinado com o momento da economia e do eleitorado. Uma reprodução do modelo típico que ocorre nos EEUU. Não lembro-me de, em minha vida, ter visto Democratas ou Republicanos terem obtido mais do que três mandatos consecutivos.

No caso do Brasil, sem dúvida, após quatro mandatos consecutivos, o PT está desgastado. Ocorre que, a partir da insubmissão e insubordinação de Aécio Neves à vontade das urnas, seguiu-se um ano do mais desbragado golpismo. Golpismo impuro e bruto, incapaz de qualquer proposta alternativa de governo, e isso desgastou também o PSDB junto à opinião pública. O PMDB está associado ao poder desde a redemocratização, isso há três décadas, e, além disso, carrega os efeitos do desastre Eduardo Cunha.

E mesmo lideranças aparentemente novas, como Marina Silva, já estão precocemente desgastadas. São mais do mesmo.

Acrescente-se a isso a Operação Lava Jato e seus promotores na mídia mainstream que cuidaram com denodo de satanizar a política e temos como resultado que não há na política brasileira alternância viável, no momento atual, com as figuras já conhecidas do eleitorado.

Cenário propício para o “novo” ou para o aventureiro. E o “novo”, necessariamente, não precisa ser significado de desconhecido.

O grande palco para testarmos hipóteses sobre 2018 não me parecem as eleições nos países vizinhos. Nem mesmo na Venezuela, com sua classe média à direita, tão “bolivariana” e reacionária quanto sua congênere no Brasil. Mas com uma esquerda que não guarda relação com a brasileira – uma diz-se socialista e miliciana, a outra quer-se por social-democrata e republicana.

O palco parece-me ser as eleições municipais de 2016, aqui mesmo, no Brasil. E nelas é interessante prestarmos especial atenção à eleição paulistana, pois lá estarão presentes o “novo” e o aventureiro.

Deste ponto da plateia de onde as enxergo, as eleições municipais de 2016 parecem-me o camarim onde os personagens de 2018 estarão provando o figurino.

 

PS.: partituras de Cambalache para pandeiro e tamborim estão à disposição para consultas na Oficina de Concertos Gerais e Poesia.

Redação

5 Comentários

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  1. O Brasil passou a beber vodka

    O Brasil passou a beber vodka russa, sueca, finlandesa, polonesa, quem quer se lembrar dessa merda chamada Orloff? E o tal do efeito, não passou de jogada de marketing, correlação entre Brasil e Argentina? Nem no futebol!

  2. Bom de ler

    Os palpites políticos do Saraiva são oportunos e certeiros. E a marquetagem do blog dele, que vem no PS, é sempre brilhante. “Partituras de Cambalache para pandeiro e tamborim” foi ótimo! 

  3.  Extrair alguma correlação

     Extrair alguma correlação entre a atual situação política de Brasil e Argentina e a partir daí projetar qualquer coisa é mero chute. Se até mesmo a análise da conjuntura está difícil dada a diversidade e complexidade das variáveis envolvidas, como, então,  antecipar cenários? 

    A palavra chave para bem delinear o contexto tanto nacional como internacional é incerteza. No cenário internacional, a crise no Oriente Médio com razoável tendência para se transformar em algo bem pior após esse entrevero entre a Turquia e a Rússia. Na economia ninguém sabe,  ou quem sabe está calado,  o que virá da China e se a reação ainda tímida dos EUA não sofrerá solução de continuidade. 

    No Brasil temos um governo tentando se levantar puxando pelos próprios cabelos tanto na economia como na política. O equilíbrio nesta última é frágil. Mal comparando, a presidente lembra muito bem aqueles artistas de circo do passado que tentavam equilibrar ao mesmo tempo dez discos girando num suporte. 

    E por falar em circo, o Levy nada de levitar. Mais preso ao chão que minhoca. 

  4. como diria o filósofo, a


    como diria o filósofo, a única certeza é a morte….

    e a moça do tempo diria que muita água passará por

    debaixo da ponte,se ela não ofr bombardeada – a ponte.

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