A arte de compor ministério e ir além

Jornal GGN – Em pauta a composição do ministério do próximo mandato é o que ganha importância no momento e abre caminho para a inovação política. Com 17 ministros confirmados e outros 22 a definir, a presidente procura dar a cada um o que cada um pode lhe oferecer em contrapartida, na partilha dos ministérios com os partidos.

Do Valor Econômico

Ministério para além do governo

Por Cláudio Gonçalves Couto

Após um ano politicamente alentado, com eleições quase que gerais (só os municípios ficaram de fora) e a mais acirrada disputa presidencial de nossa vida democrática, chegamos às vésperas da virada sem que nada de muito empolgante ocorra na frente política. Algum agito ainda é causado pela expectativa de novidades nas investigações sobre a Petrobras – que, novamente, tornam as editorias de política similares às policiais. Contudo, pelo estágio do processo e após alguns vazamentos sem maior comprovação, ficam para fevereiro novos momentos tormentosos dessa história – quando, enfim, os nomes dos políticos envolvidos devem surgir – salvo algum inesperado evento extraordinário.

(Aliás, vale notar que cada vez mais as páginas mais relevantes de nossa crônica política passam pelo judicial e pelo policial.)

Em meio ao marasmo, para o qual também contribui a constante penumbra em que se encontra imersa a nossa política estadual, a nomeação de novos ministros pela presidente Dilma Rousseff ganha algum relevo. Todavia, um relevo baixo, seguindo o figurino que lhe é ditado, por um lado, pelo perfil de liderança [sic] da presidente; por outro, pelas condicionantes institucionais que lhe são impostas por nosso presidencialismo de coalizão. Tais condicionantes lhe obrigam a partilhar o ministério com os partidos que poderão dar sustentação ao governo no Congresso. Por isto mesmo, Dilma põe em prática o mesmíssimo procedimento de seus antecessores, que não queriam correr riscos.

Algo passível de ser medido pelo tamanho das bancadas nas duas Casas do Legislativo, a presidente dá a cada um o que cada um pode lhe oferecer em contrapartida – ou quase. O PP foi desalojado do Ministério das Cidades em favor do PSD, embora siga sendo maior do que ele no balanço das duas casas – pouco menor na Câmara, tem quase o dobro da bancada no Senado. Uma nova legenda, o Pros, tirou do PT o Ministério da Educação, mesmo tendo saído das urnas menor do que nelas entrou. Mas o PT também saiu menor. Talvez nos dois casos Dilma esteja premiando a lealdade que os donos das novas legendas lhe tributaram na disputa recente, se bem que (excetuado um certo deputado boquirroto) o PP foi dos partidos mais fiéis nas votações congressuais e talvez merecesse maior consideração. O PT, como se sabe, é apoio garantido.

Ora, mas é preciso lembrar que apenas (sic) 17 ministros foram confirmados e há outros vinte e dois pela frente. Desses que restam há algumas pastas de orçamento pequeno e importância simbólica para certos setores sociais e políticos, como as secretarias de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres. Essas não entram na barganha com os partidos de adesão no Congresso (pois não são almejadas por eles) e costumam ser reservadas para o PT em razão de seus vínculos com os movimentos sociais atuantes em sua área de jurisdição.

Há outras pastas, contudo, política e/ou orçamentariamente atraentes, como os Ministérios da Integração Nacional, Transportes, Saúde e Trabalho. Este último virou posto cativo do PDT nos últimos anos, devendo seguir assim. Já os dois primeiros são disputados por partidos ávidos pelo controle das verbas destinadas a investimentos e obras públicas. O PMDB, maior partido de adesão, já tem confirmadas seis pastas (uma a mais do que seu quinhão anterior), mas sempre tende a querer algo mais. Contudo, PP e PR também precisam de espaço para seguirem fiéis ao governo e ministérios desse tipo são justamente o que tais partidos desejam.

Por fim, há ministérios politicamente estratégicos que são mantidos na órbita das escolhas pessoais da presidente ou de seu partido – as quais não necessariamente coincidem. É o caso evidente da Casa Civil, mas também da Justiça, Relações Institucionais e Relações Exteriores. As duas primeiras devem seguir com os atuais ocupantes e a terceira também deve ficar com o PT. Já a última ainda não teve qualquer definição por parte da presidente, que parece ter muito pouco apreço pela política externa, tendo delegado à burocracia do Itamaraty as incumbências dessa pasta. Decerto trata-se de um órgão de excelência na máquina pública brasileira, mas como política externa é, como o nome já diz, política, talvez o órgão merecesse alguém com perfil mais avantajado, capaz de formular ações que ultrapassem a mera manutenção da rotina e o cumprimento do protocolo.

Tanto o desinteresse da presidente pela política externa como sua reiterada recusa a nomear um ministro de perfil alto para o ministério têm a ver com o perfil político da mandatária maior da Nação. Durante o primeiro mandato ele se refletiu noutras nomeações de ministros de perfil político mais baixo. A exceção notável era Antonio Palocci, mas quando este caiu em desgraça a presidente optou por substitui-lo por uma senadora que ainda não havia obtido de seus pares o reconhecimento político que fizesse dela uma liderança capaz de formular uma política própria no governo. O problema é que talvez fosse justamente isto o que Dilma quisesse na Casa Civil, assim como também pareceu desejá-lo na Fazenda.

Aos poucos, porém, Mercadante ocupou espaço, galgou degraus e ganhou a confiança da presidente, até mesmo se tornando incômodo para os que dela desejam se aproximar. Sua continuidade na Casa Civil poderá lhe credenciar como o nome mais forte no governo para suceder à própria Dilma em quatro anos – mesmo porque, o PT não parece ter hoje uma alternativa – a não ser que Lula se apresente. A indicação de Joaquim Levy para a Fazenda foi um ato de maior arrojo da presidente, que pareceu disposta a corrigir rumos, mesmo que para isto tivesse que comprar brigas com o PT. A fabricação de um sucessor pode ser mais um lance desse tipo, tornando Dilma-2 cada vez mais distinta da Dilma-1.

A composição de um ministério passa inescapavelmente pela composição com aliados no presidencialismo de coalizão. Contudo, não se encerra aí. É o primeiro e importante passo para qualquer presidente que deseje superar o óbvio não só em seu mandato, mas para além dele.

Redação

11 Comentários

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  1. Um ponto me chamou mais a

    Um ponto me chamou mais a atenção: a nomeação de Cid Gomes, com uma pauta que tem a ver com questões institucionais complexas, a ação do governo federal no 1º e 2º graus, de jurisdição estadual e municipal. É claro que melhorar esses dois níveis é essencial para a educação do país e que o problema ultrapassa de longe o que pode ser feito em nível local. Mas me parece que ela bate de frente com a enorme massa dos professores universitários federais, um dos apoios mais massivos e influentes do seu eleitorado. Vamos ver que será nomeado para o SESU (secretaria de ensino superior) e qual será a sua autonomia. Mas dada a inabilidade demonstrada por Dilma no 1º mandato, quando as universidades federais foram arrastadas a uma greve longa e inútil, o alarme tem de ficar ligado!!!

    1. Bate de frente tb c/ os professores do Fundamental e Médio

      Cid foi um dos governadores que foi ao STF para nao pagar o já pífio piso do magistério. É um inimigo de professores. Sua nomeaçao para o MEC, como “prêmio” ao aliado político, é um desrespeito a todos os educadores e professores do Brasil. 

      1. Kátia Abreu na Agricultura;

        Kátia Abreu na Agricultura; George Hilton para o esporte (que não deve saber diferenciar uma bola de rugby de uma de volei ) , responsável pelo maior evento esportivo do mundo, que são as Olimpiadas; Levy mãos de tesoura pra fazenda; Kassab, o destruidor da cidade de SP, para ministério das cidades; a manutenção do Zé Cardoso pra justiça ( o anti-Marcio Thomaz Bastos)… é, a Dilma vai cumprindo bem o manual para se tornar o Pita do Lula -rs. 

         

         

  2. Análise ministerial é esporte

    Análise ministerial é esporte ideal para extremistas de centro, os piores que há.

    Nada de útil sai daí, expreme-se o texto e depois se percebe que nada foi aproveitado.

    Política em terra de eleitores desinformados é chata como o cão.

    Saravá que eu vou em frente, fora do mundo. Rá! 

  3. Aristóteles

    Numa destas irretocáveis definições que só filósofos Gregos conseguiram, Aristóteles nos diz que ” Compor é a arte de achar e representar a diversidade dentro da unidade.”   

    O poder administrativo, que têm nos ministros de Estado, seus mais altos representantes depende da estrutura que forma e informa esta unidade, assim, se a unidade é fraca, têm-se um ministério Geléia, como o atual, onde as pressões são absorvidas  e os comandos são ineficazes, já um que tenha rigidez, irá transferir as ordens da Presidenta por toda sua cadeia de subordinados, o que trará eficácia ao comando.

    Dilma, acorda!

     

    1. Alexandre, a ordem tem que

      Alexandre, a ordem tem que ser oposta = Durma, Dilma! Assim o Lula terá voz forte e torná-la o seu ventríloquo. É a única esperança pro país não chegar aos frangalhos em 2018 e, assim, tornando-se o maior obstáculo para a volta de Lula em 2018. 

  4. http://www.taquiprati.com.br/

    http://www.taquiprati.com.br/cronica.php?ident=1121

     

    EM DEFESA DO MINISTÉRIO DE DILMA José Ribamar Bessa Freire28/12/2014 – Diário do Amazonas  Dizem que no dia 14 de março de 1883 Marx escreveu suas últimas palavras: “Classes Sociais”. Era o título do capítulo que ia redigir. Tossiu. Com dores no peito, deixou a escrivaninha, sentou na cadeira de balanço e dormitou. Nunca mais acordou. Morreu ali mesmo vítima de uma pleurisia. Desnorteados, os marxistas passaram a garimpar o conceito em outros textos. A leitura de um deles – Crítica ao Programa de Gotha (1875) – permite agora entender a luta de classes na composição do novo ministério da presidente Dilma e o que ela pretende com os nomes escolhidos.”Diante da classe operária, todas as demais não constituem senão uma massa reacionária” – escreveu Lassalle. Marx contesta que não é bem assim, que depende do momento político, que o novo não surge milagrosamente do nada, que sem o velho e sem as forças políticas existentes não é possível mudar a sociedade, que para a transição do capitalismo ao socialismo,”qualquer passo em frente, qualquer progresso real, vale mais do que uma dúzia de programas”. Este texto foi interpretado para dar sentido à escolha de Dilma que foi buscar seus ministros na “velha direita” para com eles parir a “nova esquerda” que está nascendo. É com esse cimento que construiremos o novo edifício social. Não sei se me faço entender. Basta olhar a imagem da “direita” refletida no espelho que ela se transforma em “esquerda”, da mesma forma que a esquerda que critica o poder se transforma, no espelho do sociólogo Emir Sader, na “nova direita”. Só as antas, por serem antidialéticas, não olham espelhos quando avaliam a correlação de forças.Os nomes até agora anunciados indicam claramente que a presidente Dilma criou uma espécie de FEBEM – Fundação Nacional do Bem Estar do Ministro, destinada a recuperar, reabilitar e reintegrar elementos que no passado tiveram comportamento antissocial, mas que poderão mudar graças ao PIA – Plano Individual de Atendimento. Confira as imagens dos novos ministros.  Helder Barbalho na Pesca – Existe alguém mais apropriado para a pesca do que um filho de peixe? E que tubarão! O pai Jader Barbalho é investigado por peculato, lavagem de dinheiro e desvios de R$16,7 milhões da Sudam. O filho responde por improbidade administrativa na 5ª Vara Federal do Pará, acusado de irregularidades na aplicação de recursos destinados à saúde. Quando prefeito de Ananindeua, deixou de comprovar gastos de 2,7 milhões, com acusações de fraudes em licitações. Vai revolucionar a pesca fazendo bolinhos com farinha de mandioca e timbó para atordoar os peixes.  Eduardo Braga em Minas e Energia – Dilma trocou o Lobão pelo Lobbynho. Dudu, derrotado nas últimas eleições para o governo do Amazonas, está sendo investigado no STF por crime eleitoral. Em 2008 foi denunciado por sua comadre Renata Barros como participante de uma quadrilha que fraudava licitações e superfaturava o preço do combustível fornecido aos órgãos públicos. Com tal currículo, este empresário de revenda de automóveis é o nome mais indicado para um ministério que tem a Petrobrás e a Eletrobrás como empresas vinculadas. No processo de reabilitação é tratado como companheiro pelo PT do Amazonas.  Kátia Abreu na Agricultura, Pecuária e Abastecimento – Representante do agronegócio e do ruralismo arcaico, a senadora do Tocantins é considerada como a grande inimiga dos índios, dos sem-terra, das árvores, dos rios, dos pássaros, da poesia, da vida. Ela responde a um inquérito no STF por falsificação de selo público. Nomeá-la ministra foi uma jogada de mestre de Dilma. É melhor ver Kátia no Ministério, subordinada a um governo de esquerda, do que tê-la galopando nas hostes inimigas. Ela é mais um nome que Dilma retira da direita para compor a nova esquerda.  Cid Gomes na Educação – O ex-governador do Ceará fez por merecer a nomeação. Esteve em evidência não por suas realizações como engenheiro civil, mas pela forma como usou os recursos públicos, desde o passeio em jatinho com a sogra e familiares por países da Europa até a contratação de um bufê para abastecer a cozinha do Palácio por R$ 3,4 milhões no episódio conhecido como “farra do caviar”. Seu exemplo pode contribuir para reeducar os genros no tratamento dispensado às sogras e estimular professores a trabalharem “por amor e não por salário”.  Gilberto Kassab no Ministério das Cidades – Este corretor de imóveis, ex-prefeito de São Paulo que deixou a cidade submersa com enchentes, teve o patrimônio aumentado em 316% acima da inflação no período em que foi secretário de planejamento do prefeito Celso Pitta. Em 2004, a juíza Maria Gabriella Sacchi da 11ª Vara da Fazenda Pública determinou a quebra do seu sigilo bancário sob acusação de enriquecimento ilícito. Agora, ele não tem alternativa: vai ser obrigado a trabalhar pela mudança social. É mais um quadro de peso subtraído das fileiras adversárias.  Eliseu Padilha na Aviação Civil – O ex-ministro de Transportes do Governo FHC foi acusado pela Polícia Federal por envolvimento em crimes nas licitações para construir as barragens de Jaguari e Taquarembó, e investigado em ação para apurar desvios de recursos da merenda escolar em Canoas (RS). Sua reabilitação começou recentemente quando a Primeira Turma do STF negou seguimento ao inquérito no qual é acusado de fazer parte de uma quadrilha, porque parlamentar não pode ser julgado em primeira instância. Desviado do mau caminho, está sendo reciclado para atuar na “nova esquerda”.  George Hilton no Esporte – Este “radialista, animador e pastor” como ele próprio se define, foi surpreendido no Aeroporto de Pampulha, em 2005, pela Polícia Federal com uma bagagem composta por 11 caixotes cheios de dinheiro e cheques num total de R$ 600 mil. Por causa disso, foi expulso do então PFL, sendo recebido pelo PRB, que é uma espécie de braço direito da Igreja Universal. Não manja porra nenhuma do assunto, mas assim mesmo vai organizar as Olimpíadas de 2016. A prática do esporte – está comprovado – ajuda no processo de reabilitação.  Aldo Rebelo em Ciência e Tecnologia – ha! ha!ha!ha! Ministro da Ciência e Tecnologia? Ha!ha!ha!ha! Essa Dilma é mesmo engraçada. Tinha de colocar uma pitada de humor. No seu ministério, quem não é ruim da cabeça, é doente do pé. Aldo, o bandeirante vermelho, tem oposição da comunidade científica. Folclórico, elaborou vários projetos: que proíbe tecnologias “poupadoras de mão-de-obra”, que institui o Dia Nacional do Saci-Pererê, que cria o Pro-Tapioca obrigando misturar farinha de mandioca no pão, que criminaliza brasileiros usuários de palavras estrangeiras. Xenófobo, anti-indígena, anti-ambientalista, tem cadeira cativa na – com o perdão da palavra – New Left. Com ele, Dilma pretende conquistar o primeiro Prêmio Nobel do Brasil, que é uma dívida contraída com o povo brasileiro.  Joaquim Levy na Fazenda – O Joaquim Mão-de-Tesoura era o diretor-superintendente doBradesco Asset Management, responsável pela gestão de recursos do Bradesco. É a interlocução com o mercado financeiro. É a Neca Setúbal da Dilma. Seria ministro de quem ganhasse: Aécio ou Dilma. Menos da Marina Silva que prometeu governar com os melhores.  

    Os ministros que tomam posse em 1° de janeiro formam parte de um ministério arretado da gotha. É a “nova esquerda” que emerge. Se gritar: “Pega, Janot!”, a maioria corre. Dilma, com quem andas? E eu te direi quem és.

     

     

     

  5. num regime presidencialista,

    num regime presidencialista, é a coalisão que sustenta o governo.

    compor ministério é da arte da política.

    a ver.

    boa sorte a dilma.

     

  6. Cuma?

    “Tanto o desinteresse da presidente pela política externa como sua reiterada recusa a nomear um ministro de perfil alto para o ministério têm a ver com o perfil político da mandatária maior da Nação.”

    Eu entendi direito? A President (e/a) que compõe o BRICS, que atua fortemente no Mercosul e Unasul, que contra tudo e todos financiou porto em Cuba, tem desinteresse pela política externa? O autor é maluco?

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