A divulgação seletiva de escândalos, por Jeferson Miola

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
[email protected]

Por Jeferson Miola

Na Carta Maior

Nos últimos tempos, a sociedade brasileira se defronta com grandes escândalos de corrupção. Para citar alguns: os casos de propinas na Petrobrás [Lava Jato], no Carf [Conselho Administrativo de Recursos Fiscais] do Ministério da Fazenda [Zelotes] e no metrô de SP; os depósitos secretos em contas do Banco HSBC na Suíça etc.

Pelo noticiário, todavia, fica-se com a impressão de que existe somente a Operação Lava Jato. Não bastasse esta seletividade, a notícia é ainda recortada para vincular Dilma, Lula e o PT à gênese da corrupção no Brasil.

É uma cobertura evidentemente anômala, por muitas razões. A começar pelo fato óbvio de que é sabido que o escândalo da Petrobrás é apenas um, dentre outros conhecidos, e que se assemelham no modus operandi: alguns políticos de vários partidos, empresários e funcionários públicos inescrupulosos formam quadrilhas para a prática criminosa.

Sabe-se também que a roubalheira da Petrobrás, que surrupiou cerca de 6 bilhões de reais da empresa, é pelo menos três vezes menor que a sonegação fiscal praticada por empresas num esquema de corrupção que atua sobre o Carf. O prejuízo do erário, segundo se estima provisoriamente na Operação Zelotes, é de 19 bilhões de reais – quase um terço dos cortes orçamentários anunciados pelo governo.

É compreensível o silêncio no noticiário. Afinal, se diz que entre os envolvidos estão o império daquele mega-empresário siderúrgico que ironicamente “ensina” a governos a magia da “eficiência e da produtividade privada” [sic]; estão também empresas de comunicação, bancos, banqueiros, conglomerados econômicos, grandes anunciantes, etc.

Seria difícil ao noticiário deixar de sonegar que alguns donos de jornais, algumas celebridades e um punhado de empresários e banqueiros sejam titulares das 7 mil contas no HSBC da Suíça que receberam depósitos milionários – em muitos casos, sem comprovação da origem legal da dinheirama.

No caso do metrô de SP, embora seja um esquema montado a mais de década e que atinge a casa de bilhões em prejuízos, um noticiário acanhado dá conta de uma apuração apartidária, despolitizada e que não criminaliza agentes políticos, porque joga a culpa em funcionários públicos que “agiam por conta própria”. Fosse o PT o partido no governo em SP durante duas décadas, estaria assegurado o carnaval midiático massacrante.

Embora os implicados na Petrobrás sejam majoritariamente identificados com os demais partidos [só o PP tem mais de 30 envolvidos], o noticiário trata como “petrolão do PT” [sic]. No circo da investigação da Operação Lava Jato, bandidos viram celebridades e ganham fé pública no noticiário das 8 da noite. Nos casos da Zelotes, das contas-fantasmas no HSBC, do metrô de SP, entretanto, não existe circo; porque existe silêncio, quando não a ocultação.

Uma prova prática disso: quem pesquisar no Google notícias sobre estes escândalos perceberá a abundância de registros diários sobre a Petrobrás, porém registros esparsos e em quantidades infinitamente menores dos demais escândalos.

Ante tal anomalia do noticiário, é fundamental que haja pressão pública para que a mídia repercuta com isonomia, imparcialidade e isenção a realidade brasileira – sem recortes e seletividade. A mídia tem exercido este papel danoso à democracia porque lamentavelmente encontra em setores da Polícia Federal, do Ministério Público e do Judiciário atores políticos que instrumentalizam as investigações para, dependendo do caso, criminalizar adversários ou proteger amigos.

Esta “midiatização justiceira” que perigosamente toma conta da arena pública infundindo ódio, se não for revertida a tempo poderá legitimar uma trajetória de regressão jurídica e democrática do país.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

7 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Sem rodeios, o que está por trás de tudo isso

    Sem rodeios, o que está por trás de tudo isso que vemos e ouvimos. O Brasil está sob ataque de interesses estrangeiros, literalmente. E os bucaneiros ou inimigos nas nossas trincheiras fazem o trabalho sujo. (que Deus tenha piedade de suas almas, pois um dia estarão frente a frente com seus atos).

    Palestras com a professora  Maria Lúcia Fattorelli e o professor Adriano Benayon em Seminários na UNB. No final do da palestra do prof. Benayon, um dos professores faz uma exposição que á um choque em quem ouve sobre o que estamos, todos  nós brasileiros, fazendo sobre tudo o que está ocorrendo sobre o achaque contra as empresas e instituições brasileiras. Acredito que depois desses vídeos a visão será de quem vê o acidade do alto de um edifício e não com a cabeça só saindo do chão, o que dá uma visão bem limitada para querermos discutir o Brasil e seu futuro. Quem não puder assistir agora, vale baixar e assistir mais tarde, quem sabe até nas tvs 40 ou 50 polegadas que já acessam a internet. É uma aula e tanto.

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=yUpVQu9WHyQ align:center]

    [video:https://www.youtube.com/watch?v=wmL_-N0_sbk align:center]

  2. Velha mídia, velhas práticas e velhos vícios.

    A velha mídia é ordinária.

    Devido a isto, ela não entra mais em casa, muito embora eu tenha que conviver com várias de suas caixas de ressonância em meu ambiente profissional.

  3.  É extensa a lista de

     É extensa a lista de impunidades de governos do PSDB e aliados. A começar por cada estatal privatizada, passando pela reeleição de FH, desvalorização cambial/Cacciola, Pasta cor de rosa, Banestado, Furnas, Mensalão do PSDB, Petrobras, Metrolão, Trensalão, Sabespão, Pedágios, Rodoanel/Paulo Preto, Despoluição Tietê, Máfia do ISS e IPTU, Robson Marinho ex presidente do TCE e por aí segue carregando um caminhão de provas para o galpão da impunidade.

  4. Não há partidarismo jurídico,
    Não há partidarismo jurídico, não há vazamentos seletivos de depoimentos, não há divulgação seletiva de escândalos e em consequência disso indignação seletiva. Não pode haver indignação seletiva por eu ser ignorante e, se não for o caso, não me indigno seletivamente pq sou mau caráter.
    Não preciso dar alternativas ao PT. Basta atacá-lo e posar de defensor do Brasil mesmo sabendo que o ataque e minha indignação seletiva irá ajudar a bandidos entreguistas do patrimônio nacional.
    Eu aplaudo o Moro pq sou tão canalha quanto a imprensa que o enaltece. Como o fiz com o JB.
    Esqueço do histórico de Aécio Neves e do Psdb. Basta malhar o pt e fazer de conta que não sei o que fizeram no país (na verdade não me importo). Está na moda bater panela, bater em lula, bater em petistas na rua.
    Não existe má administração pública em estados não governados pelo Pt. Até que saia no jornal nacional um dia.
    Não há greve de professores. Se houver, é política.
    Não há racionamento de água. Se houver, é um problema mundial.
    Não houve massacre em manifestação de professores no Paraná. Houve confronto com manifestantes violentos.
    Há corruptos e corruptores em denúncias contra o Pt. Nas licitações fraudulentas na cptm, há no máximo corruptores depois de anos onde o pedido de ajuda feito pelos suiços foi colocado em uma gaveta errada.
    Ignoro tudo de ilícito que não envolva o Pt pois minha moral assim o permite.
    Prazer, sou canalha. Sou patriota. Sou coxinha.

  5. A coisa chega ser

    A coisa chega ser caricatural. No caso do metro de SP, por tratar-se de governo tucano, a corrupção só tem corruptores, os corrompidos se resumem a meia-dúzia de funcionários que sabe-sa lá porque além de ficarem com a culpa toda, contentam-se com merreca, já que o grosso vai para as campanhas tucanas. 

    Essa narrativa nonsense é uma obra a quatro mãos do aparelhado judiciário da tucanolândia com os escribas do pig. Um espanto. Coisas da nossa “grande” imprensa, a pior do mundo, entre as grandes democracias  

  6. E tem gente que defende esta grande mídia bandida.

    E de graça. Eu defendo um país e pago para isso. Eu sou a favor deste país. A grande mídia é contra.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador