Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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A Lava Jato e a expansão das empreiteiras no exterior, por André Araújo

Vamos perder mercados que representaram décadas de esforços conjuntos das empresas e de vários governos

Por André Araújo

BRASIL, VESTAL DOS EMERGENTES – A expansão das empreiteiras brasileiras para o exterior se deu a partir do Governo Militar, com a ida da Mendes Júnior ao Iraque em um jogo cruzado com a Petrobras e sua trading Interbras, o Iraque passou a ser o maior fornecedor de petróleo bruto ao Brasil e, em troca, comprava automóveis, material bélico e serviços de engenharia, estes inclusive incluindo equipamentos brasileiros como geradores, bombas de grande porte, compressores, máquinas de construção. O Iraque salvou o Brasil na primeira e segunda crises do petróleo, o Brasil não tinha divisas mas podia pagar o petróleo com bens industriais e serviços, o esquema salvou a economia brasileira por alguns anos.

A partir dessa base, que se deu na segunda metade da década de 70, outras empreiteiras brasileiras procuraram desbravar mercados na África e na América Latina. muito apoiadas pelo Governo através do Banco do Brasil, da Interbras e do Itamaraty. A CACEX tinha um vasto programa de financiamento à exportação, usando para isso a agência do Banco do Brasil em Cayman Islands, um paraiso fiscal.

A Odebrecht conseguiu contratos no Peru (grande projeto de irrigação), a Camargo Correa na Venezuela (hidréletrica do salto Guri), uma grande incursão foi  da Odebrecht em Angola, em todos os segmentos, chegando a representar 10% do PIB daquele Pais, incluindo diamantes, condomínios residenciais, supermercados, estradas. No rastro das empreiteiras foram outras empresas, as empreiteiras abriram caminho para empresas médias e pequenas, para serviços de consultoria e comércio.

Provavelmente os marqueteiros politicos foram um desses negócios que acompanharam essa expansão da engenharia.

Agora, a implosão da Lava Jato joga por terra quase 40 anos de difíceis esforços de exportação de serviços, vamos perder mercados que representaram décadas de esforços conjuntos das empresas e de vários governos brasileiros.

Só quem correu países primitivos para vender alguma coisa sabe como é dificil e trabalhoso conseguir algum resultado, é preciso muita paciência, perseverança e conhecimento dos costumes locais para ter algum êxito, depois precisa fazer o serviço e mais complicado ainda é receber. Relações políticas são obviamente fundamentais para todas as etapas.

Com o Brasil colocando na janela para o mundo inteiro ver os negócios de suas empreiteiras com países emergentes, é evidente que esses países nunca mais vão querer ver empreiteiras brasileiras e marqueteiros politicos do Brasil.

Para ocupar o lugar do Brasil, existem empresas da Turquia, Dubai, Índia, Paquistão, Singapura, Malásia, Tailândia, Coreia do Sul, Indonésia, Rússia e obviamente China, nenhum desses países sonha com uma Lava Jato, o sigilo está garantido, já o Brasil tornou-se a vestal dos emergentes, revelando ao mundo os negócios de suas empresas nacionais.

Há um outro país vestal, os Estados Unidos, mas eles tem um poder tecnológico e geopolítico de tal magnitude que suas empresas vendem por causa do poderio da Embaixada americana, algo que o Brasil não tem.

Vamos ser então a famosa virgem de bordel, aquela que é pura em um mundo de vicios e safadezas.

Porque o mundo competitivo REAL e não os dos cursos de compliance na FGV e no INSPER não é um mundo de santos.

O comércio global de petróleo, de armas, de construção civil, de fretes marítimos, de construção naval, de aviação, não é um território puro como a terra da Branca de Neve, é preciso saber jogar o jogo sem o que não se vende nada.

Entre os BRICS, o Brasil vai  ser o unico sacristão de novela, branco como farinha de Nazaré, enquanto nossos colegas de BRICS, a Rússia, a Índia, a China e África do Sul operam dentro das regras da arena de touros que é o mercado mundial.

Empresa brasileira no exterior? Nem por sonho, combinações sigilosas são delatadas para os jornais do mundo e pior ainda, agora os delatores vão ser ouvidos por oferta brasileira no Departamento de Justiça dos EUA para que esse possa processar países onde nossas empreiteiras operaram, seus Ministros e dirigentes, o Brasil entrega quem com ele contrata.

Ou alguém acha que nossas empreiteiras depois dessa e nossos marqueteiros políticos vão ter mercado no exterior?

E para essa destruição arrasa quarteirão de um enorme capital nacional não faltam aplausos dos Sardenbergs, Camarottis, Lo Pretes, Mervais, todos achando lindo o Brasil entregar dirigentes de vários paises e suas tratativas com o Brasil, que todos achavam que seriam sigilosas até o fim dos tempos. Eles que elogiam tanto a cultura anglo-americana esquecem que a riqueza da Inglaterra no Século XVII se fez com a pirataria no Caribe, sendo os piratas concessionários do Rei da Inglaterra que lhes fornecia cartas de corso para roubar os galeões espanhóis.

Os antigos piratas e assaltantes de diligências hoje dão cursos de ética e aulas de compliance, mas por baixo das capas, continuam sendo piratas e assaltantes reciclados como operadores de Wall Street enquanto os provincianos do Brasil se assumem com bom mocinhos que querem se mostrar ao mundo tal qual coroinhas maristas acreditando piamente que agora o Brasil virou moderno enquanto a recessão come solta porque sem empresas não há empregos.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

32 Comentários

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  1. Na minha opinião não se trata

    Na minha opinião não se trata de provincianismo dos nossos analistas, e menos ainda de ingenuidade dos mesmos.

    Eles sabem que estão tentando arrasar o quarteirão.

    Mas isso com objetivo de derrubar ou incapacitar o governo.

    Assim que o PT estiver fora do poder, eles imediatamente assumirão outra postura.

    Tudo passará a ser discreto.

    O problema deles não é o conjunto de empresas brasileiras e seus trabalhos no exterior.

    Mas acabar com a imagem do governo.

     

     

  2. Na minha opinião não se trata

    Na minha opinião não se trata de provincianismo dos nossos analistas, e menos ainda de ingenuidade dos mesmos.

    Eles sabem que estão tentando arrasar o quarteirão.

    Mas isso com objetivo de derrubar ou incapacitar o governo.

    Assim que o PT estiver fora do poder, eles imediatamente assumirão outra postura.

    Tudo passará a ser discreto.

    O problema deles não é o conjunto de empresas brasileiras e seus trabalhos no exterior.

    Mas acabar com a imagem do governo.

     

     

  3. Cada vez que leio que o MP

    Cada vez que leio que o MP vai oferecer subsídios para PUNIR empresas Brasileiras, consequentemente DESEMPREGAR AQUI NO BRASIL…

    Tudo que eles falam em valor e justiça, vão para o ralo…

    Vai aumentar a violência…

  4. O que fez dos Estados Unidos

    O que fez dos Estados Unidos a maior potência mundial não foi outra coisa senão o seu pragmatismo, aproveitando-se das guerras (e até as criando) para desenvolver tecnologias e usando do dinheiro farto para reconstruir países, cobrando seu preço em bases militares (alô, Plano Marshall, Coreia e Israel).

    Cada vez mais, confirmamos aquela piada da Praça é Nossa, que diz que “brasileiro é tão bonzinho” – só que, ao contrário da loira burra do programa, nós é que somos os indigentes feitos de bobo.

  5. Ou o Brasil acaba com a lava

    Ou o Brasil acaba com a lava jato ou a lava jato acaba com o Brasil, se já não acabou com ele. Ainda resta a cereja do bolo: prender Lula para que o Brasil branco e batedor de panelas de inox tenha orgulho de se comparar ao apharteid sul africano que prendeu Mandela.

  6. É impressionante como parte

    É impressionante como parte da elite brasileira tem a visão de entreguistas. Não enxergam um palmo além do nariz.

    Essa operação lava jato vai ser a par de cal na sepultura da dilma e do lula e do PT como um todo. E ninguem, nem mesmos os militantes, vai acreditar que a culpa é do mp ou do juciriario. Para isso a imprensa vai cuidar de fazer a cabeça do povão e dizer que a culpa foi inteiramente dela, a rainha tosca.

  7. O excesso da LJ é via de mão dupla. Erraram a mão..

    André, no bastidor dessa guerra a coisa está pegando fogo, aproximando do clímax e pode, por conta do suporte à custa da utilização do  mesmo modus operandi utilizado por um dos lados, ter consequencias além das fronteiras brasileiras forçando a conversa a subir o tom e com consequencias imprevisíveis para ambos os lados. Pagar prá ver escandanlo com repercussão intenacional é questão muito delicada, entao… Guerra é guerra. Por ironia, se é externa a força que quer nos destruir, também é externa a força que nos quer ajudar. Nesse ssentido, em terra também está ocorrendo o mesmo. 

  8. “Dos meus comunistas cuido

    “Dos meus comunistas cuido eu!”

    Sardenbergs, Camarottis, Lo Pretes, Mervais… NÃO SÃO NADA! Meros pistoleiros. Meu foco é quem está encomendando “o serviço”.

    De quem é “o brinquedo” que eles usam para disseminar absurdos?

    O(s) dono(s) do brinquedo é quem está acabando com o país!

  9. Uma questão que sempre me

    Uma questão que sempre me intrigou: No Oriente Medio a corrupção é tão profunda e entranhada nos usos e costumes que nem é considerada crime, o dinheiro do petroleo corre para as contas das Monarquias e seus agregados e grandes famiias,

    há uma confusão entre o dinheiro publico e o privado. O maior parceiro comercial e financeiro dos paises produtores de petroleo no Oriente Medio são os Estados Unidos. Como é que eles operam lá há 90 anos e não se contaminaram?

     

    Quando alguma autoridade no Oriente Medio pede comissão ele fala abertamente e diz que está autorizado a cobrar aquela comissão, não consideram nada de irregular, está no universo mental deles. Como é que os americanos operam?

    Eles usam firmas locais de representação que ficam com comissão e redistribuem, Adnam Kashogi era agente da Boeing

    e ganhou US$1 bilhão de comissões de empresas americanas, publicou suas memorias onde descreve minuciosamente

    as transações e quanto ganhou, em certa época tinha o maior iate do mundo e para seu uso pessoal tinha um Boeing 747.

    Depois os gringos do Departamento de Justiça fazem seimanrios para nossos procuradores mostrando a importancia da ética.

    1. .

      Correto, AA. 

      Os norte-americanos entendem bem que a sociedade no oriente-médio se baseia politicamente nos clãs e assim sabem usar muito bem qualquer contradição entre eles.

      Mas nem só os gringos arrumam sua maneira de corromper. A Alemanha permitia, até bem pouco tempo atrás, que suas empresas no exterior usassem somas de dinheiro sem necessidade de declarar o objetivo ou uso das verbas. Sequer uma nota fiscal para comprovar. Era o chamado “Schmiergeld”, o “dinheiro lubrificante”.  

      É incrivel como os próprios brasileiros sistematicamente estão destruindo as maiores empresas do país, apenas para perseguir um objetivo político duvidoso e reacionário.

      1. É mesmo, que mania essa de prender ladrão!

        O combate á corrupção pode até ser considerado nefasto para o país dentro de um contexto específico – por exemplo, se prejudica uma empresa brasileira que está concorrendo no exterior. Se você trabalha para um patrão que é ladrão, ele é preso e em consequência você perde o emprego, com certeza você preferiria que o seu patrão não fosse pego.

        Mas em um contexto mais amplo, o que eu vejo é que os países onde a corrupção é reprimida com mais severidade são os países mais ricos e desenvolvidos do mundo, com população mais educada, mais seguros para investimento e com empresas mais confiáveis. Os países onde a corrupção campeia estão sempre na m*.

        1. Não confunda a narrativa com

          Não confunda a narrativa com a realidade. A corrupção nos EUA sempre foi gigantesca e hoje existe LEGALIZADA,  as grandes corporações podem doar de forma ILIMITADA para campnhas politicas, o LOBBY legal emprega 110.000 pessoas em Washington, tampouco combatem a corrupção com a severidade narrada.

          Na crise de 2008 alguns grandes bancos foram claramente DESONESTOS com os clientes, o Lehman Brothers quebrou dando prejuizo de 44 bilhões de dolares mas tres dias antes seus executivos retiraram 66 milhões de dolares de BONUS, depois para evitar a quebra de outros bancos e companhias o Tesouro americano desembolsou US$ 700 BILHÕES.

          Nessa mega crise com mega prejuizos NENHUM EXECUTIVO DE WALL STREET FOI PRESO ou sequer processado.

          Esse é o pais que vc diz modelo do combate a corrupção.

        2. Londres, a Meca dos corruptos

          “Mas em um contexto mais amplo, o que eu vejo é que os países onde a corrupção é reprimida com mais severidade são os países mais ricos e desenvolvidos do mundo”

          No mundo dos negócios não há santidade, nem no Vaticano! Cardeal Marcinkus que o confirme à época.

          Londres, a Meca dos corruptos

           

          Por George Monbiot   – on 27/03/2015Categorias: Capa, Crise Financeira, Desigualdades, Geopolítica, Mundo    À frente, a conhecida Torre de Londres. Ao fundo, a reluzente porém obscura À frente, a famosa Torre de Londres. Ao fundo, a reluzente porém obscura “City”, núcléo da rede internacional de “centros financeiros offshore”  Como o sistema financeiro internacional converteu capital britânica no centro global de reciclagem para riqueza de políticos inescrupulosos, ditadores e crime organizado  Por George Monbiot | Tradução: Vila Vudu  A conta não fecha. Quase todos os dias, jornais e televisões inglesas estão repletos de histórias que cheiram a corrupção. Contudo, no ranking de corrupção da ONG “Transparência Internacional”, a Grã-Bretanha ocupa o 14º lugar entre 177 nações (1) – significando que estaria entre as nações mais bem geridas da Terra. Ou os 13 países que vêm antes da Grã-Bretanha são espetacularmente corruptos, ou há algo errado com esse ranking da “Transparência Internacional”.Sim, o problema é o índice. As definições de “corrupção” de que se serve são as mais estreitas e seletivas. Nos países ricos, práticas comuns que sem dúvida poderiam ser consideradas corruptas são simplesmente excluídas; já práticas comuns em países pobres são enfatizadas. Esta semana foi publicado um livro bastante inovador, editado por David Whyte: How Corrupt Is Britain? [Quão Corrupta é a Grã-Bretanha?] (2). Deveria ser lida por todos aqueles que acham que Grã-Bretanha merece a posição em que aparece no ranking da “Transparência Internacional”. Existiria ainda um setor bancário comercial na Grã-Bretanha, não fosse a corrupção? Pense na lista dos escândalos: pensões subfaturadas, fraudes hipotecárias, o embuste do seguro de proteção de pagamentos, a manipulação da taxa interbancária Libor, as operações com informações privilegiadas e tantos outros. Depois, pergunte-se se espoliar as pessoas é uma aberração – ou o próprio modelo de negócio. Nenhum dirigente de banco foi indiciado, sequer desqualificado ou demitido por práticas que contribuíram para desencadear a crise financeira: a legislação que os teria coibido ou enquadrado em crimes já havia sido paulatinamente esvaziada, antes, por sucessivos governos. Um ex-ministro do atual governo britânico dirigia o banco HSBC (2) quando este praticava sistematicamente crimes de evasão fiscal (3) e lavagem de dinheiro do narcotráfico, além de garantir serviços a bancos da Arábia Saudita e Bangladesh ligados ao financiamento do terrorismo (4). Ao invés de processar o banco, o diretor da Controladoria Fiscal do Reino Unido passou a trabalhar para ele, ao se aposentar (5). A City de Londres, que opera com o apoio dos territórios britânicos de além-mar e postos avançados da Coroa, é líder mundial dos paraísos fiscais, controlando 24% de todos os serviços financeiros (6) oferecidos offshore. A cidade oferece ao capital global um sofisticado regime de sigilo, dando assistência não apenas a sonegadores de impostos, mas também a contrabandistas, fugitivos de sanções e lavadores de dinheiro. Como disse a juíza de instrução francesa Eva Joly, ao queixar-se que a City “nunca forneceu sequer uma ínfima evidência útil a qualquer magistrado estrangeiro” (7).Reino Unido, Suíça, Cingapura, Luxemburgo e Alemanha estão todos entre os países menos corruptos na lista da Transparência Internacional. Mas figuram também na lista da Rede de Justiça Fiscal (Tax Justice Network) como administradores dos piores regimes sigilosos de investimento e paraísos fiscais (8). Por alguma estranha razão, nada disso é levado em conta para definir o ranking da ONG Transparência Internacional. A Iniciativa de Financiamento Privado (Private Finance Initiative) tem sido usada por sucessivos governos britânicos para iludir os cidadãos quanto à extensão dos seus empréstimos, enquanto canalizam dinheiro público para corporações privadas. Envolta em segredo, recheada de propinas ocultas (9), a IFP tem fisgado hospitais e escolas sempre com dívidas impagáveis, enquanto impede que a população controle os serviços públicos. Espiões do Estado lançam-se à vigilância (10) em massa, ao mesmo tempo em que a polícia trabalha servindo-se de identidades de crianças mortas, mente em tribunais para fornecer provas falsas e incita crianças ao ativismo extremista, além de infiltrar-se em grupos pacíficos, tentando destruí-los (11). As forças policiais já mentiram sobre o desastre de Hillsborough (12); já protegeram pedófilos ativos (13) –inclusive Jimmy Savile e, como hoje se afirma, toda uma gama de dirigentes políticos suspeitos também do assassinato de crianças. Savile foi protegido também pelo Serviço Nacional de Saúde (National Health Service) e pela BBC – que demitiu a maioria dos que tentaram expô-lo (14) e promoveu os que tentaram perpetuar o ocultamento dos fatos. Há o problema de intocado sistema de financiamento político, que permite a compra dos partidos (15) pelos mais ricos. Há o escândalo das escutas telefônicas e dos jornais que subornam policiais; da privatização dos Correios britânicos, o Royal Mail (16), vendido a preços insignificantes; o esquema da “porta giratória”, que permite a empresários e empregados de grandes empresas, depois de eleitos, ficar em posição de redigir leis que defendem seus próprios interesses ou dos respectivos patrões; o assalto à seguridade social e aos serviços prisionais, por empresas privadas terceirizadas; a fixação, por empresas, do preço da energia; o roubo diário perpetrado pela indústria farmacêutica, e outras tantas dúzias de casos semelhantes. Nada disso é corrupção? Ou são operações ‘sofisticadas’ demais para serem expostas sob o seu verdadeiro nome, “corrupção”? Entre as fontes usadas pela Transparência Internacional para produzir seu ranking estão o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial. Confiar no Banco Mundial para aferir corrupção é como confiar em Vlad, o Empalador, para aferir direitos humanos. Orientado pelo princípio um dólar-um voto, controlado pelas nações ricas e atuando nas nações pobres, o Banco Mundial financiou centenas de elefantes brancos que enriqueceram enormemente as elites mais corruptas e beneficiaram capitais estrangeiros (17), ao mesmo tempo em que expulsava pessoas das próprias terras e deixava países afogados em dívidas impagáveis. Para espanto geral, a definição do Banco Mundial para a corrupção é tão limitada que não considera esse tipo de prática. E o Fórum Econômico Mundial estabelece sua escala de corrupção a partir de uma pesquisa que consulta executivos mundiais (18) — precisamente eles, cujas empresas são beneficiárias diretas do tipo de práticas que estou listando nesse artigo. As perguntas se limitam ao pagamento de propinas e à aquisição corrupta de fundos públicos por interesses privados (19), excluindo o tipo de corrupção que prevalece nas nações ricas. Quando entrevista cidadãos comuns, a Transparência Internacional segue a mesma linha: a maior parte das perguntas específicas concerne ao pagamento de propinas (20).Quão corrupta é a Grã Bretanha? Tão estreitas concepções de corrupção são parte de uma longa tradição de retratá-la como algo confinado a países fracos, que precisam ser salvos por “reformas” impostas pelos poderes coloniais e, mais recentemente, organismos tais como Banco Mundial e FMI. Essas “reformas” significam austeridade, privatização, terceirização e desregulamentação. Elas tendem a sugar dinheiro das mãos dos pobres para as mãos das oligarquias nacionais e globais. Para organizações como o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial, há pouca diferença entre o interesse público e os interesses das corporações globais. O que pode parecer corrupção de qualquer outra perspectiva é visto por eles como fundamentos econômicos. O poder das finanças globais e a imensa riqueza da elite global estão fundadas em corrupção, e os beneficiários têm interesse em enquadrar a questão para desculpar-se. Sim, muitos países pobres sofrem o flagelo do tipo de corrupção que é o pagamento de propinas a servidores públicos. Mas o problemas que atormentam a Inglaterra são mais profundos. Quando o sistema já pertence à elite, propinas são supérfluas.   NOTAS 1. https://www.transparency.2. http://www.plutobooks.com/3. http://www.theguardian.com/4. http://www.hsgac.senate.5. http://www.theguardian.com/6. John Christensen, 2015, in David Whyte (ed). How Corrupt is Britain? Pluto Press, London.7. Nicholas Shaxson, 2011. Treasure Islands: Tax Havens and the Men Who Stole the World. Random House, London. http://8. http://www.9. http://www.theguardian.com/10. http://www.theguardian.11. http://www.theguardian.12. Sheila Coleman, 2015, in David Whyte (ed). How Corrupt is Britain? Pluto Press, London.13. http://www.theguardian.14. http://www.theguardian.15. http://www.theguardian.16. http://www.theguardian.17. http://www.18. http://www3.weforum.org/19. http://www.ticambodia.org/20. http://www.transparency.

           

    2. Não entendi…

      Não entendi se você está criticando os EUA ou elogiando o Oriente Médio. Tive a impressão de que você lamentou que aqui a corrupção não seja vista com tanta naturalidade como na terra dos sheiks. É isso?

    3. ” Barkish “

          Carissimo,

           Lá nas “areias & pedras “, para negócios relevantes, não se comenta esta palavra “ocidental”, não é corrupção, é conhecida como ” barkish” , que significa, por aproximação, algo como “presente”, um regalo/gift , que não é “pago”, é oferecido, nunca diretamente ao “governo” ( culturalmente o rei/principe/ditador , não precisa de “presentes” ), mas aos intermediarios, que são e sempre foram, o “meio de campo ” nas negociações, tipo assim: Não se suborna um Rei diretamente, existe um intermediario para isto, no Oriente, Japão por exemplo, sem “presentes” a Kodama, nos anos 60/70/80, ou o recurso a Marubeni; na Coréia do Sul, China, estas escadas são comuns, e aceitas – faz parte.

           Os americanos aprenderam com os ingleses, que possuir um “agente” ligado ao poder local, é fundamental, Adnan não operou apenas para a Boeing, trabalhou para a LMartin, Raytheon ( UTecnologies ), para os ingleses da R&R e BAe, até para certo País “periférico”.

            Até Sadam Al Tikrit ( o Hussein ), possuia seus intermediarios, que no caso dele, eram diretos, de seu clã/tribo, um de seus genros ele executou, não por motivos politicos, como se pensa no ocidente, mas porque ele desviou “barkish” da “caixinha”, e nem foi relativo a armas, mas em um acordo com uma empreiteira italiana.

             Vc. pode ter certeza, que hj., neste momento, o DoD + Boeing, estão movendo mundos, principalmente fundos, para fazer que certo País do OM/Golfo, desista da oferta francesa/européia – muito boa para o comprador – referente ao Rafale, para conseguir o contrato para os F-15SE, mesmo enfrentando a oposição do lobby israelense *, pois se alguma encomenda não for confirmada, a linha de produção Boeing de S.Louis ( F-15 ) se encerrará, nenhum “procurador americano” contestará qualquer atitude que leve a este contrato, nem o GAO, as razões de Estado, geopoliticas e economicas, são superiores.

             * Israel propos, esta semana, a aquisição de mais F-15 SE ( F-15 I AESA ) para a DSCA/DoD, desde que sua ajuda militar seja acrescida de mais US$ 10 Bilhões, bloqueando a aquisição arabe e mantendo a linha de produção aberta, o que tb. interessa ao DoD/USAF.

  10. Caro André, (lintimidade que

    Caro André, (lintimidade que me permite, a admiração de seus escritos, sempre precisos no alvo); este primoroso texto me remete a um questionamento do escritor Graham Greene sobre o moralismo hipócrina que não leva a lugar nenhum:   .”A Italia durante 30 anos sob os Borgias conheceu a guerra, o terror o assassinato, o derramamento de sangue, mas produziu Michelangelo, Leonartdo da Vinci e o Renascimento. Na Suiça eles tem o amor fraternal e quinhentos anos de democracia e paz – e o que produziram? O relógio cuco.”   Pergunto eu; e nós aqui, depois que tudo isso acabar, o que seremos?  

  11. Quem diria, eu crescentemente estrelando Rebolla e Araújo!

    Já troquei tantos sopapos com ambos por aqui e agora fico gratificado de ler muitos de seus comentários já há algum tempo. 

    Por isso, apesar deste mar de merda no qual a vaza-jato está transformando o país, mantenho otimismo…

    Que dirijam suas cabeças e experiências em seus comentários para o melhor deste pedação de mundo em que vivemos.

    Afinal, não deve ser diferente disso, a menos que queiramos ser a merda deste mar…

    Quem sabe um dia cheguemos a pelo menos uns 40% da pluralidade midiática deste país?

    Que venha mais.

  12. André, a insegurança juridica

    André, a insegurança juridica pela qual passamos está beirando o absurdo.

    Um executivo argentino do Facebook foi preso hoje no Brasil sem a mínima necessidade.

    O Santana prestou diversos serviços fora do País e recebeu pagamentos. Ora, se a lava jato acha que é dinheiro de campanha da Dilma ela não teria jurisdição para fazer essa investigação, simples assim.

    Se é uma simples investigação tributária não cabe ao juiz do Paraná intervir, não é da vara dele.  Ninguem da investigação mora no Paraná.

    E o curioso é que ninguem estranha isso. O Governo ve tudo acontecer de maos atadas, ninguem rebate informações simples e óbvias, não se recorre á justiça.

    O País, infelizmente está totalmente sem comando.

     

     

    1. Segurança jurídica são regras conhecidas

      A segurança jurídica existe quando as regras são conhecidas; se elas são excessivamente severas ou lenientes é outra história. Mas normalmente os países mais seguros para investimentos são aqueles onde a lei é cumprida ao pé da letra.

      1. Sei, deve ser por isso que os

        Sei, deve ser por isso que os investimentos no Brasil estão subindo e o PIB está crescendo não é mesmo ?

        Que jenio hein…

          1. Segurança juridica não são

            Segurança juridica não são apenas regras conhecimas, mas sim as interpretações dessas mesmas regras por parte das autoridades competentes. Dai a insegurança jurídica pela qual passa o Brasil e faz nosso PIB cair 4% em dois anos consecutivos.

  13. Moralismo burgues de lado,

    Moralismo burgues de lado, acho que não tem nada demais o Lula ou FHC ganharem um presentinho por um lobby que eventualmente tenham feito no exterior, talvez usando o conhecimento acumulado em 8 anos no cargo. Então as empreiteiras ganham milhões de dolares e fica por isso mesmo ? 

  14. É de chorar mesmo

    André, a maioria vê esses dados abstratamente. Pela maneira que descreve imagino que a vida tenha te levado a ver a atuação dessas empresas brasileiras in loco na AL, Africa…

    Estive em Angola ha 4 anos para uma estada breve num programa de capacitação da nata do serviço público local patrocinado pela UNCTAD. Vi de perto a presença da Odebrecht. No meu city tour com os anfitriões eles falavam “ah, essa ponte aqui foi a Odebrecht, aquela via ali tb…”. Vezes e mais vezes. Dava a impressão que a Odebrecht construiu Luanda. Falavam eles com gosto, como quem tem respeito pela qualidade técnica do serviço prestado.

    Em contrapartida me mostraram as ruas em volta do ministério onde eu dava o treinamento com zombaria, falando “ah, já essa ai foram os Chineses”. Segundo eles construídas havia menos de 2 anos e já estava completamente despedaçada. Ainda bem que andávamos num 4×4 pra cima e pra baixo.

    Simplesmente destruímos essa “good will” em relação as empresas brasileiras e o “soft power” do Brasil junto a esses países em apenas 2 anos! Incrível! Ate o Presidente foi exposto agora com esse açoite publico dos cruzados para a expiação dos pecados do casal Santana. Outro dia foi Umala no Peru… a oposição venezuelana dando expediente em Brasília no TCU.

    As empreiteiras dos emergentes estão rindo a toa. Quando a economia mundial sair da depressão e as obras publicas forem retomadas ai vamos ver o que perdemos! Mas aí só vai dar pra chorar mesmo.

  15. A “banda” toca assim

      Caro André,

      Aprendi, faz tempo, que os “paises centrais”, admitem que “paises periféricos” , mantenham seu comércio exterior, até que lucrativo, baseado em commodities ( que quem determina o preço é o mercado, não o fornecedor), no máximo em produtos semi-acabados, podendo até dominar, ser seu principal fornecedor, possuir saldo positivo nas negociações, mas caso algum destes paises resolva aumentar o escopo de sua pauta exportavel, ameaçar concorrer com os “centrais”, o jogo fica pesado, ou vc. alia-se a uma empresa deles, ou será jogado fora, e detalhe : os “centrais” sempre operam em conjunto quando desejam “limar” um concorrente.

       As areas mais concorridas são justamente as que vc. descreve, equipamentos bélicos/defesa e a exportação de serviços, referente ao 1o tópico posso futuramente descrever varias ocorrencias passadas, e a atual divisão deste mercado, e como o Brasil está inserido, ainda lucrativa, um grande exportador ( SIPRI informa ), desde que permaneça em sua “seara” (definida externamente pelos paises “majors” do mercado ).

        Já a “exportação de serviços”, caso empreiteiras, é item estratégico, geopolitico, pois não apenas exporta-se o serviço em si, mas toda uma gama de equipamentos produzidos localmente, tb. junto a estes aspectos economicos, o país exportador envia sua cultura, interfere, mesmo que não deseje, na politica local,  por exemplo: Quando uma empreiteira brasileira assume uma obra em um país africano, ela impede o protagonismo de outro Estado, não apenas no país determinado, mas em sua vizinhança, pois eles percebem que existe outra opção, que podem barganhar melhores contratos, pois “entrou outro time no campeonato”.

         Quanto a negociar com “paises primitivos”, abrir novas frentes de negócio, é claro que nossos caros vestais nem imaginam como é dificil, ainda mais para um país que tem uma chancelaria que raramente apóia, que quando auxilia é devido a ações individuais de algum diplomata, as vezes até ao arrepio das determinações dos “vestutos/vestais” que ainda mandam no Itamaraty , nem possuem a minma idéia do que é concorrer com potencias diplomáticas, como Estados Unidos, UE e Russia, com suas ofertas de “financiamentos negativos ” ( out OCDE/WTO ), ou com os outros “emergentes” asiáticos e europeus, como a China, que alem de fianciamentos a perder de vista, quase negativos, ainda enviam trabalhadores, e subornam externamente ( Angola por exemplo), muito mais que qualquer outro Estado. 

  16. Pouca gente entendeu

    Pouca gente entendeu isso:

    Seis coisas explicam a lava jato:

    1-Brics.

    2-Acabar com as empreeiteiras.

    3-Doar a Petrobrás e o Pré Sal.

    4-Invializar e sabotar o governo, sabotando, ou na melhor das hipóteses o impeachmeant.

    5-Inviabilizar politicamente o PT.

    6-Retrocedor nas conquistas sociais dos últimos 12 anos.

    Uma coisa não explica a lava jato.

    1-Acabar com a corrupção, pois não existe lógica em acabar com a corrupção apenas de um partido, se outros ainda mais corruptos não são sequer investigados.

     

  17. O nome da lava jato está desatualizado

    Pois é, nunca tive dúvida do real objetivo desta operação. Se querem acabar com a corrupção é simples, é so investigar e punir os culpados. Então temos que fazer isto com todas as empresas, não com meia dúzia. Para aqueles que querem derrubar o governo isto é uma maravilha o que estão fazendo. Porque estão fazendo? Para o bem do Brasil, claro que não, para o bem deles. Ter lado é admissível, oque não é admissível é destruir um país, apesar dos erros do governo. Caso assumam o próximo governo vão saber o grande erro que cometeram, não ouço ninguém falar nisso, mas isso é uma realidade. Para terminar temos que agir rápido, não há mais tempo, pois caso estes entreguistas asssumam o país, não haverá tempo de faze-los pagar a conta, vamos ser todos roubadsos e eles estarão em outros países gozando com que roubaram.

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