A metáfora orientacional de um governo desorientado
por Madrasta do Texto Ruim
Agora que todo mundo já falou da vírgula do Brasil que voltou 20 anos, vamos explicar linguisticamente por que e quanto o slogan de Michel Miguel “O Brasil voltou, 20 anos em 2” está errado. Para isso, vamos voltar a 1980, quando o livro Metaphors we live by (traduzido para o português em 2002 como Metáforas da Vida Cotidiana) foi lançado.
Há 38 anos, os linguistas George Lakoff e Mark Johnson escreveram esse marco da linguística cognitiva. Partindo dos estudos da professora Eleanor Rosch sobre categorizações, Lakoff e Johnson explicam que a essência da metáfora é a compreensão/concepção de uma coisa em termos de outra coisa.
Pense, então, que tempo é uma categoria com as seguintes características: é coisa escassa; quando você perde não recupera; é algo a que você deve dar valor. Agora pense em dinheiro, também como uma categoria. Você vai descobrir que algumas características de dinheiro são parecidas com tempo: é coisa escassa; quando você perde não recupera; é algo a que você deve dar valor. Logo, tempo é dinheiro. Então, duas categorias distintas com características similares são conectadas metaforicamente, ou seja, você explica uma coisa (tempo) nos termos de outra coisa (dinheiro).
Até aí morreu o Neves. O conceito de Lakoff e Johnson para metáfora nada mais é do que uma forma cognitivista de conceituar a metáfora. O grande pulo do gato de Metáforas da Vida Cotidiana é quando os autores explicam que, ao dizermos tempo é dinheiro, começamos a entender tempo como se fosse uma commodity, que deve ser economizada / investida – e a isso os autores chamaram de metáfora conceitual.
Se considerarmos a metáfora conceitual Tempo é dinheiro, entendemos a frase “Vai por esse caminho que você ganha tempo” de forma diferente de “Vai por esse caminho que você ganha um doce”.
Lakoff e Johnson não param nas metáforas conceituais. Eles explicam ainda os princípios do que chamaram de metáforas orientacionais (happiness is up; sadness is down – felicidade é positiva; tristeza é negativa).
E pronto, senhoras e senhores, chegamos ao Palácio do Planalto com o slogan “O Brasil voltou, 20 anos em 2”. Não é vírgula coisa nenhuma! O grande problema dessa frase é que o verbo voltar aciona a metáfora orientacional voltar é negativo – que contrasta com avançar é positivo. A metáfora voltar é negativo é a mesma acionada pelos verbos retornar, regredir, retroceder, recuar.
Em momento algum pensamos, ao ouvir “O Brasil voltou 20 anos em 2”, com ou sem vírgula, que alguém que estava ausente torna-se presente novamente, que é o que os marqueteiros do planalto queriam dizer com esse slogan. Todos acionamos, imediatamente, a metáfora orientacional
Só pra concluir: aviso aos marqueteiros do governo que quem começar a usar o slogan “O Brasil avançou 20 anos em 2” vai ter que me pagar royalties. Beijos, me liguem (mas eu não vou atender).
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“O Brasil avançou vinte anos
“O Brasil avançou vinte anos em dois.” Um exemplo perfeito de mentira talvez premiada. Os gringos têm uma medalha para “A Mentira do Ano”?
Tentaram resgatar …
Tentaram resgatar o grito de algumas torcidas de futebol.
O Campeão voltou , quando um time em fase ruim se recupera.
Com Temer nem Machado de Assis faria um bom texto , mas não acho que ele sequer tentasse …
Campos semânticos distintos…
Quando você fala “O campeão voltou”, a metáfora orientacional não é acionada, pois algo negativo para um time é perder ou ser rebaixado. a metáfora “a vida é um caminhar sempre adiante” não casa com times, mas casa com evolução de pessoas, coisas, partidos e países….
Senhora …
Senhora , não sou “adevogado” dos caras apenas foi a minha impressão de onde pode ter vindo a ideia de jerico dos marqueteitos.
Retroceder nunca , diria o filósofo belga Van Damme …
Oi, moço!
Eu entendi o que
Oi, moço!
Eu entendi o que você quis dizer! só te mostrei que é possívle explicar ainda mais a coisa…
E obrigada por me lembrar do nome do filme do van Damme. a esclerosada aqui num tava conseguindo!
O pessoal do Juscelino era muito melhor!
50 anos em 5! (apesar da UDN)
Muito interessante.
Muito interessante.
O Michel se escafedeu no
O Michel se escafedeu no Miguel!
Metáfora Temer.
Fora Temer!
O poeta da matáfora.
Sra. Madrasta, achei
Sra. Madrasta, achei brilhante o seu texto, entendi tudinho… quase tudinho, ficou só uma dúvida que está me atormentando. Não leio jornais, não vejo televisão e não escuto rádio para não ficar mal informado. Então vamos logo para minha dúvida: “Até aí morreu o Neves” aconteceu de verdade ou foi apenas uma metáfora ? É que, metaforicamente falando, conforme a resposta que a sra. me der, vou ficar triste ou alegre. Muito grato.
A metáfora da morte.
O Neves morreu e foi se encontrar com o “Capeta”, que no inferno é chamado de “Santo”.
HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUA
Migo, “morreu o Neves” é uma expressão brasileira que significa “isto não é nenhuma novidade”.
Espero (ou lamento) ter esclarecido sua dúvida a contento!