Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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A terceirização da política econômica, por André Araújo

Por André Araújo

A TERCEIRIZAÇÃO DA POLÍTICA ECONÔMICA – O Governo Militar, ao criar o Banco Central em 1965, teve a prudência de impedir o seu controle pelo sistema financeiro privado, colocando ACIMA dele o Conselho Monetário Nacional, um órgão colegiado que tinha DEZ membros, três naturais, o Ministro da Fazenda, o Presidente do Banco do Brasil e o Presidente do BNDE e SETE membros indicados pelo Presidente da República. Os sete membros indicados pelo Presidente da República, desde o início do Conselho, incluíam grandes nomes da agricultura, da indústria, do comércio, economistas independentes e o objetivo era claro, ter um organismo de grande poder e com várias visões do processo econômico, de maneira a ter um balanceamento entre todos os setores da economia nacional. Era no Conselho Monetário Nacional que, por lei, se decidiam a política monetária, a cambial, a de crédito, a fiscal e o Conselho também tinha a tarefa de supervisionar o Banco Central, que tinha muito menos poder do que hoje, porque o poder estava no Conselho Monetário.

Quando foi implantado o Plano Real, o grupo de economistas que montou e operou o Plano deu  um “golpe de Estado” no Conselho Monetário Nacional e na própria lei que criou o Real (lei 9069/65)  ACABOU COM A REPRESENTAÇÃO DA ECONOMIA PRODUTIVA, em vez de DEZ membros, o CMN passou a ter apenas três, os Ministros da Fazenda e do Planejamento e o Presidente do Banco Central,  ficando a Secretaria Executiva do Conselho exatamente com o Banco Central, que era o órgão que o CMN deveria controlar. Transferiu-se assim todo o poder sobre a economia para dois dos três únicos membros do Conselho, o Ministro da Fazenda e o Presidente do Banco Central, na prática dois em um Conselho de três mandam sozinhos.

O Plano Real foi um plano de financistas para financistas e para fazer o espetáculo completo EXPULSARAM das decisões sobre a política econômica a economia da produção e do consumo, a economia que gera empregos. O total da economia ficou assim sob exclusivo controle do Ministro da Fazenda e do Banco Central.

Quando ambos, Fazenda e BC, são oriundos do MERCADO FINANCEIRO, o Governo do Brasil perde completamente o domínio sobre a política econômica para o sistema financeiro, que gere sozinho e sem contrapontos o total da economia.

É um CASO ÚNICO entre as dez maiores economias do planeta, não há nenhum outro País onde se cometeu semelhante desatino. O sistema financeiro tem seus próprios interesses que são por natureza ANTAGÔNICOS aos interesses da economia produtiva, terceirizar para esse sistema o total da política econômica é suicídio político.

No presente momento há uma agravante, Henrique Meirelles fez toda sua carreira no Banco de Boston, um banco regional americano que no Brasil se especializou em atender clientes de alta renda. Esse Banco foi vendido ao BANCO ITAÚ, todas as agências do Banco de Boston se transformaram em agências do Banco Itaú dedicadas a clientes Personalité, a faixa mais alta de renda.  Já o Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, era, até antes de ser indicado, o principal economista do Banco Itaú, do qual era diretor. Quer dizer, dos três membros do Conselho Monetário Nacional, DOIS tem vinculação com o Banco Itaú, o maior banco privado nacional.

O interesse de um grande Banco de depósitos que tem a maior parte dos seus ativos em valores líquidos no País é ter o Real o mais valorizado possível porque então seus ativos em DÓLAR serão mais altos quanto menor for a cotação do dólar. A rebaixa do dólar em 11% só neste mês pode ser péssima para o País mas será otima para o Banco Itaú.

Esse desenho de completa terceirização da política econômica é sem paralelo entre as grandes economias. O Governo está completamente VENDIDO na condução da política econômica, não tem contrapesos ao controle da economia pelo sistema financeiro. Para completar a mídia conservadora, toda ela, tem exclusivamente comentaristas a favor do sistema financeiro, não há nenhuma opinião divergente ou que aponte esses descaminhos, ao contrário do que acontece nos EUA, onde a Secretaria do Tesouro não tem nenhuma ligação doutrinária com o Federal Reserve System, um é contrapeso do outro e a Casa Branca conta com um fortíssimo centro de aconselhamento do Presidente, o CONSELHO DE ASSESSORES ECONÔMICOS da Casa Branca, onde estão economistas independentes que não pertencem nem ao Fed e nem ao Tesouro, para que o Governo, que é quem manda na política econômica, não fique na mão de um só grupo. Já os comentaristas econômicos da grande imprensa americana são EXTREMAMENTE CRÍTICOS da política econômica, disputam para ver quem é mais crítico, não há nenhum “alinhamento” vergonhoso como aqui há entre o Banco Central e o Sistema Globo, este operando como “porta voz” oficioso do Banco Central.

O desenho atual, que vem do Plano Real, é a principal causa da recessão brasileira e pelas decisões já tomadas por esse grupo, MANTER A SELIC ONDE ESTÁ e valorizar o Real, a recessão irá se aprofundar. Não há contrapesos para esse grupo, a representação do empresariado está neutralizada pela completa inutilidade das CONFEDERAÇÕES das quais não se ouve nenhum chiado a respeito da POLÍTICA ECONÔMICA PRÓ-RECESSÃO da dupla Meirelles-Goldfajn.

Esse modelo que vem desde o Plano Real funciona EXCLUSIVAMENTE a favor do sistema financeiro e não do País.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

10 Comentários

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  1. O Brasil domesticado

    Uma nação se constrói com empreendedorismo e muito trabalho. Economistas de gabinete não conjugam o verbo fazer, mas apenas equalizam os resultados financeiros do Brasil dentro da ordem global. Brasil parece então com uma franchising financeira que deve prestar contas a uma rede centralizada.

    Nos tempos de hoje (e concordo que os maiores problemas atuais derivam do plano Real – ou do consenso de Washington), até uma Presidenta democraticamente eleita é impichada por conta de alguma interpretação contável que incomode o fechamento normal das planilhas que controlam os “resultados” financeiros desta empresa chamada de Estado. Contabilistas reclamam que o patrão devia sair do seu cargo, por conta de não ter seguido o script neoliberal.

    Que é isso? O Patrão deve seguir as prioridades que o seu povo (acionistas) indicou!

    Já imagino o que direi ao meu contador quando queira me ensinar a tocar o meu negócio. No máximo, poderá me aconselhar sobre o que fazer com os meus eventuais perdas ou lucros, e a respeitar normas, mas nunca a conjugar o verbo fazer, dentro da minha própria empresa, muito menos pedindo a minha demissão.

    Brasil, como qualquer empresa produtiva, produz o seu PIB, possui balança comercial com outras “empresas” (nações) e constrói bem-estar, serviços e bens. Isso, assim como em qualquer empresa produtiva, é comandado por um Presidente democraticamente eleito. A turma de gravata segue as contas, orienta e preenche as planilhas, mas nunca usurpa o direito do presidente para governar.

    Dentro de toda esta discussão do impeachment, a melhor declaração desse assunto foi a do Patrus Ananias, exibindo a Constituição, mostrando que governar é optar, e Dilma optou pela população, pelo lado social (como a constituição manda) e não pela norma engessadora que impede a determinados países, como o Brasil, construir o seu próprio destino.

    O Brasil corre o risco de constituir-se num emaranhado de normas e regulamentos, metas bimestrais e outras ações engessadoras, que permitiriam que até um síndico qualquer tomasse conta de um país deste tamanho, mas apenas atendendo as regras estabelecidas. Um sujeito qualquer nunca poderá exercer o papel de idealizar uma nação que atenda aos interesses do seu povo e lidere esta caminhada para aquele objetivo. Brasil parece ser conduzido, como gado, para um destino preestabelecido por quem manda no mundo.

    O Banco Central faz parte daquela estrutura burocrática e globalizante, e se isso não bastasse, o Brasil conta com um exército de meritocráticos, hospedados em camarotes de luxo dentro da nação, ocupando diversos poderes paralelos que fiscalizam os poucos centímetros de cintura que o poder executivo conta para se movimentar, como o Juri de rodeio, que punem ao pião quando o boi sai levemente do seu rumo estabelecido.

  2. André,
    Como sempre , concordo

    André,

    Como sempre , concordo com tudo o que você diz nesse tocante.

    Não tem direita, esquerda, centro, heterodoxia ou até mesmo ortodoxia nesse conflito.

    Arrocho fiscal + aperto monetário numa depressão econômica?

    Milton Friedman reviraria na tumba se colocassem esse disparate na conta dele!

    De novo:

    Não tem direita, esquerda, centro, heterodoxia ou ortodoxia…

    É apenas:

    Rentismo vs. o resto do país… versus a economia produtiva.

    Mas, tenho que pegar no seu pé um pouco.

    No início vc tolerou o golpe, (acredito que) pensando que haveria o “prêmio temer”, de “reestabelecimento da confiança” (sic) que, dizia-se, permitira cortar 2 pontos da SELIC logo de cara.

    Já eu, assim como o Nassif, já antecipavamos todas as “parcelazinhas” que Temer ia ter que pagar ao consórcio do golpe, por sua situaçao juridico-político-criminal ser extretamente precária.

    Deficit inflado, aumentos para as corporações, entrega dos ativos do Estado subavaliados, nao recompor a arrecadaçao com a CPMF, despejar dinheiro na velha midia familiar, e…

    Entregar – mais ainda do que os governos do PT – o BC e o CNPM ao mercado financeiro.

    Pior: ao Itaú!

    Está aí a confirmação.

    Com Barbosa e Tombini, provavelmente estariamos menor pior hoje.

    Concordamos? 

    1. https://jornalggn.com.br/notic

      https://jornalggn.com.br/noticia/o-mito-da-restauracao-da-confianca-por-andre-araujo

      Meu caro, JAMAIS entrei nesse conto do vigario de “”RESTAURAÇÃO DA CONFIANÇA” e publiquei aqui no blog artigo especificamente sobre essa lorota. A saida da recessão tem que vir obrigatoriamente da expansão monetaria que gera poder de compra , a DEMANDA vem antes do investimento e não depois, restaurar a confiança para virem os investidores?

      Eles virão porque se não há demanda em nenhum setor da economia?

      1. Arrependido ou não?

        Mas hoje vc acha que estamos melhor ou pior do que estávamos com Nelson Barbosa e Dilma – do ponto de vista da perspectiva macroeconômica para o futuro próximo?

        Sim, ela não aprovava mais nada no Congresso, eu sei…

        Mas Temer aprovou alguma coisa que preste?

        Consegue aprovar alguma coisa que contrarie os lobbies que entraram no consórcio do golpe?

        – NÃO!

        Com Dilma/Barbosa, pelo menos a parte que era de competência do Executivo ficava resguardada.

        A bomba era apenas o Congresso.

        Que continua sendo uma bomba.

        Nada ali mudou.

        Ex: ela barrou, com sua proposta orçamentária, esse obsceno aumento das corporações.

        Certamente contribuiu para o seu desgaste.

        Lembre do próprio Lewandowski – um interlocutor seu no STF – indo cobrar dela reajuste do Judiciário quando ela foi lhe falar sobre o golpe.

        (isso sabemos graças aos famosos grampos do Machado…)

        E, com a cabeça na guilhotina, a mulher não cedeu.

        Temer, o precário, já teve de se render e pagar a parcela já na primeira semana.

        (Já se encontrara com o tal Robalinho da ANPR clandestinamente no Jaburu antes da votação no Senado, como revelou aqui o Nassif, acertando os ponteiros…)

        Pior:

        Temer teve a cara de pau de pedir palmas para os deputados pelo “grande momento” do Congresso!

        Em resumo:

        – Quero saber em que grau está o seu arrependimento quanto à sua posição anterior sobre o golpe.

        Por favor, satisfaça a minha curiosidade.

  3. O pior dos mundos = na parte

    O pior dos mundos = na parte política, o quadro mais fisiológico que a política pode produzir [ Eliseu, Jucá, Moreira] ajudando a distribuir o butim do saque ao país e dar uma mão pra quem tem mais poder de pressão (vide o aumento do judiciário), e uma área econômica em que o sonho é fazer do Brasil um caso único =uma moeda forte num país quebrado. O que obviamente tem tudo pra gerar um caos social e aí pavimentar o salvador da pátria. O presente é terrível, mas o futuro pode ainda ser pior…

  4. a terceirização….

    Nada como um dia após o outro. Vamos enxergando que o governo militar acertou na maioria das ações, inclusive em evitar uma guerra civil, com a realidade de um mundo polarizado entre duas potências. Se a situação é esta hoje 2016, imagina como era em 1964. Em outras situações errou e deve ser responsabilizado, assim como outros que erraram e também não querem assumir suas responsabilidades. Mas não vamos recomeçar com saudosismos, nem assuntos que só servem como lição contra novos erros. Quanto à terceirização da econoimia, não é só da economia. É de um país inteiro, em todas as áreas. É a cobrança de impostos nórdicos por serviços inexistentes  ou cobradods em tarifas extorsivas em serviços públicos privatizados. É o Estado que só existe para a manutenção de uma elite estatal. É a defesa medíocre da segurança e soberania nacional. Mas uma pergunta deve ser respondida: ondeestá nossa elite cultural, midiática, intelectual, sindical que nos levou a crer que a solução para o país seriam estas pessoas e propostas que comandam o país nestes quase 40 anos? Passaram pelo poder, todas as figuras da redemocratização, todas as correntes ideológicas, todas as propostas de construção de uma nova sociedade democrática. Canalhas e hipócritas, além de criminosos, transformnaram o país nesta realidade que estamos vivendo. Um país se destruindo, destruindo suas empresas, sua economia e seu futuro. Não estou vendo ninguém admitir seus próprios erros?

  5. A única chance desta política

    A única chance desta política de juros altos e dólar em queda dar certo será com os preços das commodities continuar a escalada de alta ou, pelo menos, não voltar a cair. Se isso acontecer Temer sairá consagrado até 2018. E ganha de qualquer um que ouse enfrentá-lo.

    Se não, ai tudo pode acontecer…..

     

     

  6. Sabe André,vc tocou na

    Sabe André,vc tocou na questão chave de nossa economia,desmistificando claramente este assunto,

    acredito que este artigo é extremamente relevante para os EMPRESÁRIOS PRODUTIVOS ACORDAREM e

    verem que eles também são grandes vítimas da mídia e do setor financeiro,visto que na crise e na

    dificuldade de crédito,quem perde mais são aqueles q produzem,dão emprego e etc… e OBRIGADO

    pq eu tinha algumas dúvidas/reflexões sobre esse tema e MAIS UMA VEZ vc deu um ponto final,vaaleu!!

     

     

  7. O Temer ou o PSDB fazerem

    O Temer ou o PSDB fazerem isto eu não me espanto – é um desastre esperado. O problema mais grave foi quando a alternativa política a este sistema, que era o PT, aderiu de corpo e alma ao financismo (com o breve interregno de 2010-2012).

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