A união das esquerdas no Brasil, por Leonardo Avritzer

A união das esquerdas no Brasil

por Leonardo Avritzer

A entrevista de Marcelo Freixo à Folha de São Paulo, nos últimos dias do ano, gerou um enorme debate nas redes socais. Este debate acabou centrado em questões conjunturais especialmente em relação a uma frase de Freixo na qual ele afirmou este não é o momento para a união das esquerdas, posição esta por ele justificada de forma conjuntural ao apontar lideranças com as quais o ex-presidente Lula teria relações. O objetivo deste artigo é retirar estas considerações do campo conjuntural e apontar qual é o pano de fundo da discussão sobre a união das esquerdas no país.

Estamos fechando um período que vai da queda do muro de Berlim ao Brexit e à eleição do Donald Trump para presidente dos Estados Unidos. Este período redefiniu a ideia de esquerda no Brasil e no resto do mundo. A alternativa de ruptura institucional radical com administração estatal da economia que inspirou a esquerda, ao longo do século XX, deixou de existir. Ao mesmo tempo, outras alternativas surgiram. 

Nancy Fraser, em um excelente artigo, tentou apontar o que seria a esquerda no Hemisfério Norte no período pós “Muro de Berlim” que abre a era da globalização liberal. A aliança hegemônica da globalização incorporou diversos segmentos, desde o mercado financeiro, às políticas para a mulher e os homossexuais, às políticas anti-pobreza no mundo em desenvolvimento, uma marca que remete ao governo de esquerda na América Latina. Podemos pensar os principais elementos desta aliança e seus desdobramentos políticos. Uma forte preocupação com as chamadas agendas da quarta onda de direitos, ligados ao gênero e à raça. Uma nova visão da relação entre o Norte o Sul incorporando novos países à ordem política global, via o G-20. Mas podemos também ver quem foram os perdedores deste período no campo de esquerda e aqui temos que apontar a classe trabalhadora do Hemisfério Norte. A migração de empregos dos Estados Unidos para o México e a China, o fechamento de fábricas no coração industrial do país nos Grandes Lagos foi um dos fenômenos principais deste período. Processo semelhante ocorreu na Inglaterra com o fechamento das minas de carvão e a desindustrialização do interior do país e o crescimento da influência do mercado financeiro londrino, a chamada City.

O fim desta época é marcado por uma mudança de posição da classe trabalhadora do mundo anglo-saxão que passa a aderir àquilo que genericamente se denomina propostas populistas¹. Nestas propostas há uma clara negação da quarta onda de direitos, um ataque frontal à igualdade de gênero e uma tentativa de cooptação da classe trabalhadora através da promessa de novas barreiras comerciais. Esta aliança é frágil e no caso de Donald Trump, não parece que a classe trabalhadora estará nesta coalizão por muito tempo. Ainda assim, ela inspirou formas de regressão de direitos em todo o mundo.

Indo além de Nancy Fraser podemos também falar de uma esquerda contra-hegemônica.  No caso da América Latina, houve uma coalizão diferente da forma hegemônica na globalização. Nesta coalizão que foi bastante parecida no Brasil, no Chile e no Uruguai e teve algumas variações na região Andina, estiveram juntos classe trabalhadora, atores reivindicando direitos de terceira geração e uma política social difusa contra a pobreza que alcançou excluídos sem inserção no mercado de trabalho. O interessante é que, tanto a coalizão hegemônica liderada pelos Estados Unidos quanto a contra-hegemônica onde Brasil, China e Índia tiveram forte influência, tinham um pano de fundo comum, a aceitação de uma política anti-pobreza de esquerda no mundo em desenvolvimento que tinha um certo impacto fiscal. Foi este o pano de fundo das diferentes políticas de esquerda pelo menos até 2010 ou, no caso do Brasil, até 2013.

A reação à globalização mas também aos governos de esquerda está ligada a uma quebra desta aliança e a uma tentativa do sistema financeiro depois da crise de 2008 e, principalmente, depois da crise de 2011 na Europa,  de deslocar esta aliança para a direita. O ataque aos governos e às políticas de esquerda começaram com a reação às políticas de Barack Obama a partir do momento em que os republicanos assumiram o controle da Câmara dos Deputados nos EUA em 2010. Foi, neste momento, que teve início a oposição à políticas de ampliação do direito à saúde, no caso o Obamacare. Foi aí também que se colocou na agenda política, a questão dos cortes de impostos associados a uma diminuição do orçamento estatal iniciando-se a discussão sobre teto de gastos públicos, uma discussão que chegou ao Brasil em 2016 na rebarba do impeachment.

Mas a reação às políticas de esquerda no Brasil foi muito mais forte do que no Hemisfério Norte. As políticas distributivas do governo Lula criaram uma fortíssima base eleitoral de esquerda que impediu que a esquerda fosse derrotada em 2014, depois de três vitórias seguidas. Assim, no caso brasileiro, diferente do Norte Americano, mas também do francês não houve espaço para a implantação de uma política anti-esquerda pela via eleitoral. O ataque à esquerda no Brasil implicou em dois ingredientes locais, o primeiro deles uma fortíssima judicialização da política talvez sem precedente em qualquer outro país do planeta que permitiu uma intromissão diuturna do poder judiciário em todas as questões políticas e permitiu ao judiciário bloquear uma possível solução a crise de governabilidade quando impediu o ex-presidente Lula de assumir a Casa Civil. Esta intromissão continua em 2018 e tem como objetivo impedir a candidatura de Lula a presidente..

Mas, foi no campo da economia e da organização do estado que o ataque às políticas de esquerda foi mais agudo, na medida em que ele visou reverter fortemente os gastos sociais, na área da educação, ciência tecnologia, legislação trabalhista e, por fim, o sistema previdenciário.  É verdade que uma parte deste processo se iniciou ainda no governo Dilma Rousseff, mas ali houve uma tentativa de conciliar corte nos gastos estatais com manutenção dos gastos sociais, uma proposta que hoje está claro que o mercado financeiro não aceitou. A partir de Maio de 2016, começou a reversão dos gastos sociais, processo que ainda não chegou ao final e que será a principal marca do debate político em 2018.

É em relação a este histórico das conquistas da esquerda e do ataque aos direitos sociais que se estruturam as principais propostas de esquerda para 2018 que podemos dividir em dois campos ou em dois indivíduos, Lula e o PT e Guilherme Boulos e o PSOL. Luiz Inácio Lula da Silva pode ser considerado como o principal líder popular brasileiro do século passado e do início deste século. Diferentemente de Prestes, que também exerceu uma forte liderança na esquerda brasileira durante o século XX, Lula pode transformar a sua liderança em um projeto de governo devido às características do período que se abriu com queda do “Muro de Berlim”. O governo Lula teve um forte apelo popular em virtude de uma forte ampliação das políticas sociais, dos aumentos reais do salário mínimo e do bolsa família. Ao mesmo tempo, as universidade públicas ampliaram o acesso da população de origem negra e reverteram uma política centenária de exclusão da população negra do ensino superior. Todos estes elementos tornaram Lula extremamente popular e balizam a sua possível candidatura ou de um substituto no caso dele ser impedido legalmente de concorrer. Ainda assim, vale a pena entender Lula não apenas como líder popular mas também como governante onde surgem polêmicas normais no campo da esquerda em relação às alianças que ele realizou para governar. O governo Lula foi exitoso porque foi um governo de coalizão, mas esta coalizão foi frequentemente problemática do ponto de vista das propostas políticas: assim, o governo Lula tentou incorporar simultaneamente o MST e sua política de reforma agrária mas também o agronegócio; defendeu fortes interesses privados na educação e apoiou simultaneamente a expansão das universidades federais; o mesmo ocorrendo em áreas como a de políticas urbanas. Assim, Lula expressa um tipo particular de política de esquerda: aquela que se preocupa com a desigualdade e que compõe amplamente no espectro político para diminuí-la realizando neste processo concessões as forças de centro. No que diz respeito, o seu partido, o P.T. esta composição foi ainda mais ampla e levou a uma forte despolitização da bancada do partido na Câmara dos Deputados.

Certamente o Brasil terá muito a ganhar com a volta desta proposta ao centro político, mas não há nenhum motivo para esta ser a única estratégia de esquerda em 2018. A questão da unidade das esquerdas em torno de Lula deve envolver pelo menos dois elementos adicionais: o primeiro deles é a perda de peso e de qualidade na bancada do P.T. ligada à perda de centralidade de atores socais e de lideranças de movimentos na proposta política do partido. O segundo é a necessidade de radicalização de um discurso de esquerda que não pode ser feita por Lula e pelo PT., como ele mesmo reconheceu em entrevista recente ao jornal “Valor Econômico”.

É a partir deste balanço que vale a pena analisar a segunda grande liderança em emergência na esquerda, Guilherme Boulos. Guilherme Boulos é, como apontou recentemente Aldo Fornazieri, a única nova liderança de esquerda no país nos últimos 40 anos. Sua liderança despontou a partir de junho de 2013 e mostra que este movimento não foi unicamente uma rebelião da direita brasileira, Boulos exerce uma liderança importante em um campo fundamental: o das lutas urbanas, Não por acaso, este campo é fortemente contencioso e sensível aos debates da esquerda, já que no último período do governo de esquerda as intervenções urbanas para a Copa do Mundo foram fortemente anti-democráticas e romperam com a aliança entre o petismo e o movimento da reforma urbana. O MTST liderado por Boulos realizou importantes ocupações urbanas na região metropolitana de São Paulo e tem atraído atenção nacional em torno desta questão. Assim, Boulos coloca na agenda política de esquerda questões que Lula e o P.T. não conseguem colocar e atrai alguns tipos de atores como os movimentos sociais urbanos que se afastaram do P.T. Ele tem uma liderança capaz de se expressar em votos para presidente, mas principalmente ele tem potencial para reinserir movimentos sociais no parlamento e criar uma bancada ao estilo da bancada do P.T. do começo dos anos 90 ou da bancada constituída no Chile por Beatriz Sanches e sua Frente Ampla.

Assim, chegamos a uma resposta óbvia mas provavelmente a única possível: há espaço para mais de uma candidatura de esquerda e faz sentido a esquerda se pluralizar no Brasil da mesma forma que ela se pluralizou no Uruguai e no Chile. A candidatura de Guilherme Boulos é a candidatura mais evidente para se alcançar tal fim, mas recebeu o fogo amigo do presidente do partido que a patrocina, o PSOL. Em uma entrevista desastrada Freixo tentou situar a candidatura de Boulos em dois campos: o do seu personalismo político, valorizando não o candidato mas a conversa dele, Freixo, com a sua esposa que estaria na origem da candidatura. E em segundo lugar, tentou localizá-la em um sectarismo de classe média que tem caracterizado o PSOL e se expressou claramente na disputa para a prefeitura do Rio em 2016.  Acho que a candidatura de Boulos pode ter a virtude de tirar o PSOL do seu gueto na zona sul carioca e dar-lhe substância e apoio popular.

Na minha opinião, é melhor a esquerda seguir com duas ou com mais de duas candidaturas, pensando também na candidatura Manuela d’Avila do PC do B. O pluralismo não exclui ações conjuntas, tal como a oposição à interdição da candidatura Lula que tem sido parte de uma unificação parcial da esquerda brasileira. Mas é preciso que haja um melhor equilíbrio entre as forças de esquerda e, principalmente, que se construa uma bancada de esquerda de qualidade na câmara federal com representação dos movimentos socais. Assim, é preciso reconhecer que as diferentes forças de esquerda no Brasil hoje exercem papeis diferentes e complementares. O PT significa a continuação de um projeto de contra-hegemonia que surgiu no pós queda do “Muro de Berlim” e que implicou em fortes ganhos distributivos para a população de baixa renda. O PSOL, mas principalmente Boulos e a Frente Brasil sem Medo, significam uma inflexão à esquerda como reação à moderação do período anterior. As duas propostas tem um papel a preencher na conjuntura. Ao caminhar na mesma direção que o Uruguai e o Chile, a esquerda brasileira poderá se consolidar, tanto como alternativa de poder na qual o P.T. parece ser a melhor opção, quanto como força de resistência ao novo período anti-direitos e anti-democracia que se abriu no país e cuja resistência Boulos tão bem simboliza.

¹ Não tenho tempo de elaborar aqui o que é o populismo, mas a forma pejorativa do conceito está ligado aos debates entre liberais e anti-liberais.
 
Leonardo Avritzer

11 Comentários

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  1. Por fora, bela viola, por dentro só tucanagem…
    Nassif, seria um excelente artigo para outubro de 2014, caso o PT houvesse sido derrotado nas urnas. Como o PT venceu com quase 3,5 milhões de votos de vantagem mas em agosto de 2016 foi vítima de um golpe midiático-judicial, ou o artigo é um calhau publicado inadvertidamente mesmo com a vitória de Dilma, ou parte do pressuposto de que o impeachment da primeira mulher a vencer duas vezes consecutivas a eleição presidencial foi um ato de justiça e, nesse caso, cabe à esquerda legitimamente derrubada reorganizar-se, como propõe, até pelo fato de defender a candidatura de um partido favorável ao impeachment, como o PSOL. Em outras palavras, quer que o vencedor injustamente afastado colabore para que um dos simpatizantes do golpe possa tentar vencer novo pleito. Não se trata de mero divisionismo destinado a impedir que o PT vença outra vez, representando todos os que se opõem à aliança do judiciário partidarizado com a pior escória política nacional, mas, sim, de ajudar a condenar Lula à prisão e ostracismo político, dividindo quem deveria estar unido nesta antevéspera de seu julgamento em Porto Alegre.

  2. Levanto a suspeita de a Folha
    Levanto a suspeita de a Folha querer com esta entrevista (pois sabem o conteúdo antecipadamente) causar polêmica, manter o controle das pautas(dar comida aos esquerdistas) e desviar todos dos assuntos realmente relevantes ou q estejam já caindo na boca do povo e q prejudicam a direita e o PIG, eles são mestres nisso e caímos como patinho nessa quase sempre…ou sempre !
    Obs: A pauta são os blogs independentes,tanta coisa acontecendo e ficamos comendo na mão deles !

  3. Em cada votação polêmica,

    Em cada votação polêmica, descobrimos quem é esquerda e quem é apenas demagogo. 

     

    A partir do impeachment, comecei a acompanhar a ideologia de cada político e pude ter uma ideia de como funciona a manipulação midiática: Derrubar Dilma para depois derrubar Temer, quem acreditou nessa ideia idiota?

    Pouco tempo depois, A Globo demonstrou sua capacidade de manipulação, bastou fazer um acordo dom a JBS, acordo que não pode ser cumprido. Nem Aécio esperava por essa, muito menos Temer, Temer demonstrou o poder político, livrando não só a cara de Temer, como a cara do próprio Aécio que, por sinal, votou contra Temer. 

     

    Como eu disse antes e repito: O que é direita e o que é esquerda, só saberemos a partir das próximas eleições, quando teremos um novo mapa de nossa política. 

     

    Quem comanda o político é o seu eleitor que acompanha seus votos diante das reformas,  o resultado disso saberemos nas próximas eleições.

     

  4. Não é sério.

    ” Luiz Inácio Lula da Silva pode ser considerado como o principal líder popular brasileiro do século passado e do início deste século.”: quando o autor esquece Getúlio Vargas e Leonel Brizola, eu paro de ler e vou procurar artigos sérios. 

  5. Se a eleição fosse definida por votação no Largo da Batata…..

    …. realmente Boulos teria alguma chance.

    É extremamente divertido ver o contorcionismo verbal dos nossos amigos cientistas sociais com termos do tipo “agendas da quarta onda de direitos”, “esquerda contra-hegemônica”, “direitos de terceira geração” ou mesmo a enigmática frase “O ataque aos governos e às políticas de esquerda começaram com a reação às políticas de Barack Obama…”, esgrimem todo este arsenal de definições procurando fazer o que todo o acadêmico faz em sua área, divide em partes todos os processos esquecendo que a natureza por si só é um meio contínuo e que o nem todo o leitor é aluno ou professor de sociologia.

    Me dei o trabalho de olhar alguns textos de Nancy Fraser, que talvez seja uma escritora de uma geração de agenda muito ultrapassada, pois ela escreve textos bem claros, que se tornam simples de entender. Nestes textos que pesquisei infelizmente ou não, não foi encontrado expressões como acima citadas, entretanto, vi nos seus textos um claro deboche da autora quando cita o “neoliberalismo progressista”, que por si desmonta os trabalhos do “revolucionário esquerdista” Barack Obama, junto talvez com a comunista Hillary Clinton, que conseguiram no momento em que o embuste do “neoliberalismo progressista” foi revelado pelo eleitor tradicionalmente democrata corresse primeiro na direção de Bernie Sanders e após as fraudes eleitorais no partido “democrata” norte-americano corressem atrás de uma duvidosa experiência que se chama Trump.

    Não sei porque se preocupar com terceira ou quarta geração de reivindicações de direitos, quando grande parte da população brasileira está ainda na geração ZERO, a de comer e ter serviços médicos para chegar até a próxima semana.

    Poderia continuar com uma ironia gratuita que me faz antipático para quem a recebe, mas somente quero registrar que com toda a penetração que Boulos tem no Brasil ele ficaria muito bem nas eleições para presidência da república se a eleição fosse no largo da Batata.

  6. Até a medula

    Ricardo Stuckert

    Aos que preveem que o golpe irá durar 20 anos, eu pediria prudência. O Brasil tem essa característica única. Tudo é tão bagunçado que o Imponderável de Almeida mora aqui e torce para o Flamengo. Quem faria a previsão de que o Brasil teria 13 anos de soberania e democracia plenas?

    Convém não jogar a toalha. Convém não subestimar a população. Convém não subestimar o PT. Convém não subestimar Lula.

    Eu não estou sendo otimista, estou sendo contra-pessimista (em lógica, dá no mesmo, mas em retórica, não). O golpe aqui é avacalhado. Ele se sustenta com a imprensa, que, por sua vez, sim, é mais organizada (Organizações Globo).

    O Tio Sam também dá uma força tremenda, tal é o nível de dinheiro fácil em dóceis acordos judiciais sem condenação que eles podem ter por aqui. Fora o resto.

    Com base nesses dois elementos, imprensa brasileira e quinto escalão do esperto governo americano, o prognóstico de 20 anos de golpe – admito – faz algum sentido.

    Mas o governo mesmo, os atores principais, MBL, PSDB, Temer e Cia são todos trapalhões. Eles mal sabem ler, quiçá fazer a manutenção de um golpe de estado. Há de se ter um mínimo de Q.I. para isso.

    Peço, portanto, respeito à história. Respeito a essa entidade que emana diretamente do povo chamada Lula. Reparem o que ele aguentou até aqui. Reparem o que ele já fez pelo país. Reparem a total divergência dos prognósticos que se fazem a ele para com o que, de fato, acontece.

    Por exemplo, muitos imaginavam que Lula iria pedir asilo político. Muitos imaginavam que Lula iria morrer (o cara tá jogando bola). Muitos imaginavam que Lula iria ficar deprimido. Muitos imaginavam que Lula iria fazer um acordo. Ficou só na imaginação.

    Quem imaginaria que Lula iria resistir a essa brutalidade judicial? Quem imaginaria que esse mesma brutalidade o deixaria mais forte ainda? Quem imaginaria que todos os seus perseguidores estariam encurralados pela história? Quem imaginaria que a narrativa do golpe se encaminharia para o Lula simbolicamente mais poderoso de todos os tempos?

    Quem suspeitaria que no dia do julgamento mais importante da história de um país continental, o juiz chegaria escoltado e o réu nos braços do povo?

    Muitos se perguntam aonde está o povo que não se mobiliza. Eu respondo: o povo está em Lula. Eles habitam o território Lula que nada mais é que um ser humano de carne e osso. Eles se traduzem em Lula, respiram em Lula, enunciam em Lula.

    Essa é uma das coisas mais interessantes da qual podemos ser testemunhas históricas e em tempo real: a voz do povo está materializada em Lula. Não é o contrário. Não á Lula que “capta” os desejos da população e os entoa com talento pragmático. É a própria população que invade o coração de Lula e o faz dizer o que ela deseja e pensa.

    O pensamento desmobilizador é uma arte. Ele vem, se instala como um vírus, se espalha e entrega o serviço para o inimigo. Dizer que a eleição não será respeitada, que é preciso anular o impeachment antes de qualquer coisa, que não deixarão Lula governar, são todos pensamentos da mesma família: da família Desistência de Souza.

    Faz sentido ficarmos alertas, faz sentido ficarmos com o pé atrás. Mas faz mais sentido respeitarmos a nossa autoestima e avançarmos de maneira irresistível para cima do golpe. Não podemos deixar Lula sozinho enfrentar essa parada.

    https://www.brasil247.com/pt/colunistas/gustavoconde/335772/O-progn%C3%B3stico-Lula.htm

    [video:https://youtu.be/WV16H4L82rk%5D

    1. não poderia concordar mais

      Excelente comentário. Serve para nos lembrar que também precisamos deixar que o povo nos invada e nos use, já que temos privilégios que o povo em geral não tem. 

  7. Intelectuais!!!

    O artigculista deveria levar em consideração que no Brasil o pobre e grande parte da classe média não vê diferença entre esquerda e direita. Que também existe um midia hegemônica que determina os caminhos e as discussões da opinião pública.

    Sobretudo, que 2013, devido a essa deformidade de consciencia politica elegeu um Congresso conservador-fisiológico, pois para a mairia da população estava se fazendo um renovação. A esquerda, não petista, não se beneficiou com  essa mudança de pensamento, de punibilidade do PT e do governo. Pirncipios humnitários e de igualdade socioeconomica, tão caros aos patidos de esquerdas, foram desconsiderados pela população na renovação do Congresso “a direita”. A população puniu o PT, mas não beneficiou os autenticos progressitas-humanistas.

     

  8. A união das esquerdas no Brasil, por Leonardo Avritzer

    Nem lá nem cá.

    Claramente o texto expõe os cacuetes do intelectualismo.

    Mas , também, nota com propriedade os diversos movimentos dentro do campo popular e suas lideranças.

    Lula, gostem ou não, é um dos grandes líderes no Brasil moderno. 

    Apenas Getúlio Vargas pode ombreá-lo na influência nacional.

    Leonel Brizola foi outra grande liderança mas não teve espaço funcional para atuar nacionalmente. O que foi lamentável. Teria sido interessante ver sua combatividade esclarecida no governo federal. Penso que, tendo a memória do embate Lula/Collor, melhor teria sido a candidatura de Brizola e Lula vice. Mas isso são névoas do passado.

    Hoje temos alguns bons candidatos à esquerda: Lula, Boulos, Requião e outros.

    Mas, sem dúvida, apenas Lula tem condições de unir várias correntes de esquerda e centro . 

    Num primeiro turno várias candidaturas terão espaço nas duas extremidades do espectro ideológico. O mais importante será a preservação  de condições para uma união no segundo turno.

  9. Ocasião

    Nassif: nesse papo acadêmico há de se perguntar em qual Centro de Detentção Provisória vai ser o encontro das esquerdas para traçar a “união”. De Curitiba, do Rio ou de Brasilia? Porque (fato notório) a esquerda tupiniquim só se junta na cadeia.

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