Análise IEDI: Em meio ao crescimento, as fragilidades da indústria

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do IEDI – Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial

Em meio ao crescimento, as fragilidades da indústria

A indústria teve um ano diferente em 2017. Depois de um longo período de quedas expressivas e reincidentes, o setor se levantou e recompôs modesta parte da produção que havia perdido. Transcorridos onze meses, os dados divulgados hoje pelo IBGE dão o tom para 2017 como um todo: o crescimento chegou a 2,3% no acumulado até novembro.

Este é um resultado claramente favorável, ainda mais porque veio acompanhado de alta em todos os macrossetores da indústria e na maioria de seus ramos (19 dos 26 pesquisados). Há, contudo, dois fatos que indicam o grau de fragilidade ao qual ainda está sujeito este início de recuperação.

O primeiro fato a ser considerado diz respeito à elevada concentração do crescimento industrial em 2017, a despeito de as variações positivas terem se espalhado pelos diferentes ramos do setor. A produção de veículos, reboques e carrocerias, sozinha, respondeu por mais da metade (1,2 pontos percentuais) do crescimento de 2,3% da indústria geral entre janeiro e novembro. 

A outra metade coube a apenas dois ramos: indústria extrativa (0,7 p.p.) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e outros (0,4 p.p.). Os resultados dos demais segmentos, por sua vez, se compensaram mutuamente. Ou seja, o dinamismo industrial de 2017 foi acompanhado de uma forte desproporcionalidade entre seus componentes.

O segundo fato relevante é que ocorreu uma perda de tração ao longo do ano. As variações com ajuste sazonal frente ao período imediatamente anterior ilustram bem esse ponto. Nessa comparação, a indústria, que cresceu 1,5% no primeiro trimestre, desacelerou para apenas 0,6% no último bimestre de que temos notícia. Em novembro, o resultado foi de mero 0,2% ante outubro.

Movimento semelhante é verificado em todos os macrossetores industriais, como mostram abaixo as variações com ajuste. Para alguns, pelo menos, a perda de ímpeto não vem se reproduzindo na mesma intensidade, como em bens intermediários, que conseguiram manter seu crescimento relativamente no mesmo patamar desde o segundo trimestre de 2017. Em novembro frente a outubro, conseguiram crescer 1,4%, já descontados os efeitos sazonais, trazendo bons sinais para a indústria total, já que produzem insumos para os demais setores.

     •  Indústria Geral: +1,5% no 1ºT/17; +1,1% no 2ºT/17; +1,0% no 3ºT/17 e +0,6% em out-nov/17;

     •  Bens de Capital: -1,3%; +5,7%; +4,5% e +1,1%, respectivamente.

     •  Bens Intermediários: +1,4%; +0,8%; +0,8% e +0,6%;

     •  Bens de Consumo Duráveis: +2,4%; +2,9%; +5,6% e +0,6%;

     •  Bens de Consumo Semi e Não Duráveis: +3,9%; -0,9%; +1,1% e -0,8%, respectivamente.

O macrossetor de bens de consumo semi e não duráveis foi o único a apresentar um resultado negativo em outubro-novembro frente ao bimestre imediatamente anterior, em função da queda acentuada em novembro (-1,6%). Entretanto, neste caso não há uma tendência clara de deterioração, oscilando entre resultados positivos e negativos.

São bens de capital e bens de consumo duráveis que desaceleraram mais fortemente no último bimestre. No caso de bens de capital, já havia uma tendência de esmorecimento, chegando a +1,1% em outubro-novembro, sendo que em novembro ficou estável na série com ajuste sazonal.

Bens de consumo duráveis, a seu turno, vinha se destacando ao não dar sinais de perda de ritmo, pelo menos até recentemente. No último bimestre para o qual temos dados, a desaceleração foi expressiva, para +0,6% frente a ago-set/17, embora tenha crescido 2,5% em novembro ante outubro.

A perda de tração em 2017, que atingiu todos os macrossetores, também ocorreu na metade dos ramos industriais: em 12 dos 24 acompanhados pelo IBGE. Em alguns casos, isso se deu já a partir do segundo trimestre do ano, como em produtos têxteis, em sabões, detergentes produtos de limpeza, cosméticos e perfumaria e em borracha e plástico, por exemplo. Em outros casos, como em alimentos e equipamentos de informática e eletrônicos, restringe-se ao bimestre outubro-novembro, o que pode ser revertido pelo resultado de dezembro

A produção industrial brasileira registrou alta de 0,2% em novembro frente a outubro na série livre de efeitos sazonais. Com relação ao mesmo mês de 2016, o setor registrou variação positiva de 4,7%, sétimo resultado positivo consecutivo nesse tipo de confronto. No acumulado entre janeiro e novembro, a indústria obteve acréscimo de 2,3%, enquanto a variação dos últimos 12 meses foi de +2,2%. 

Categorias de Uso. No mês de novembro frente a outubro na série com ajuste sazonal, a produção de bens de consumo duráveis (2,5%) registrou o avanço mais acentuado, após queda de 1,7% em outubro. Os bens intermediários (1,4%) também reverteram o retrocesso do mês anterior (-0,5%). A produção de bens de capital manteve-se estável (0,0%), após consecutivos resultados positivos desde abril de 2017. Os bens de consumo semi e não-duráveis (-1,6%), por outro lado, foi a única categoria a assinalar resultado negativo.

No confronto com igual mês do ano anterior, os bens de consumo duráveis (15,2%) e bens de capital (8,1%) registraram as variações positivas mais significativas. O setor produtor de os bens de consumo duráveis foi particularmente impulsionado pelo crescimento na fabricação de automóveis (20,1%). Por sua vez, o segmento de bens de capital foi impulsionado pelo avanço de bens de capital para equipamentos de transporte (13,3%), com maior fabricação de caminhões e caminhão-trator para reboques e semirreboques. Os segmentos de bens intermediários (4,2%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (3,0%) também mostraram taxas positivas nesse mês, porém abaixo da média geral (4,7%). 

No período de janeiro-novembro de 2017 frente ao mesmo período de 2016, os maiores avanços foram registrados por bens de consumo duráveis (12,7%) e bens de capital (5,8%), impulsionadas, em grande parte, pela ampliação na fabricação de automóveis (19,7%) e eletrodomésticos (10,8%), na primeira; e de bens de capital para equipamentos de transporte (7,0%), para uso misto (17,8%) e para construção (39,2%), na segunda. Os setores produtores de bens intermediários (1,4%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (1,1%) também assinalaram taxas positivas no índice acumulado no ano.

Setores. Entre os meses de outubro e novembro, na série com ajustamento sazonal, das 24 atividades pesquisadas pelo IBGE, 12 apresentaram alta. O principal impacto positivo foi registrado pelo setor produtor de farmoquímicos e farmacêuticos (6,5%). O setor de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal também foi destaque, com crescimento de 1,9%, após recuo de 10,3% em outubro. Outros destaques foram: metalurgia (2,2%), produtos alimentícios (0,7%) e celulose, papel e produtos de papel (2,3%). Entre os ramos que reduziram a produção nesse mês, destacaram-se: bebidas (-5,7), vestuário e acessórios (-5,8%), produtos diversos (-9,0%), máquinas e equipamentos (-1,4%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (-0,7%).

Na comparação entre novembro de 2017 e novembro de 2016, dentre os 20 segmentos que obtiveram acréscimo, podemos destacar: veículos automotores, reboques e carrocerias (18,8%), metalurgia (10,3%), outros produtos químicos (7,1%), produtos alimentícios (2,4%), produtos de borracha e de material plástico (8,0%), equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (12,8%), celulose, papel e produtos de papel (5,2%), indústrias extrativas (1,4%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (8,0%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (7,9%), móveis (13,6%), bebidas (3,4%), máquinas e equipamentos (2,6%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,0%). Por outro lado, entre as seis atividades que apontaram redução na produção, a principal influência no total da indústria foi registrada por produtos diversos (-9,0%).

No acumulado entre janeiro e novembro do presente ano contra os mesmos onze meses de 2016, foi verificado crescimento da produção industrial em 19 das 26 atividades. As maiores contribuições foram registradas pelos setores: veículos automotores, reboques e carrocerias (16,6%), indústrias extrativas (5,3%) equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (19,6%), metalurgia (3,7%), produtos alimentícios (1,0%), produtos de borracha e de material plástico (4,2%), máquinas e equipamentos (2,9%) e confecção de artigos do vestuário e acessórios (4,8%).

 

 

 

 

 

 

 

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

1 Comentário

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  1. A vida em %

    A diferença entre merda de 2016 e merda de 2017 é mais ou menos um pouco de merda mesmo. As % nada dizem se não é observado o contexto. Este ano de 2017 faturei com a minha empresa um 89% do que faturei em 2016. Em 2017 foi demitido o meu último funcionário (dos 16 que eu tive). Estou vivendo em forma vegetativa desde 2014, chutando dívidas. Em compensação, considerando o meu faturamento de 2017, este equivale a 30,2% do que faturei em 2012 e a um 32,8% do que faturei em 2013. Em porcentagem, nos períodos Lula e Dilma eu faturava três vezes mais do que hoje, dava emprego a gente e tinha expectativas e sonhos. O meu sonho agora é que Lula volte a governar o Brasil. O resto, é apenas brincar de %.

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