Para economistas, 2014 será ano para acertos de rumo

Jornal GGN – Após períodos de crescimento consecutivo, o Brasil viu o esgotamento de seu modelo econômico estruturado nos estímulos ao consumo durante 2013, e a expectativa para este ano é que as estratégias de crescimento estejam mais concentradas no setor produtivo do que efetivamente na ponta do consumidor final.
 
Diante disso, economistas consultados pela Agência Dinheiro Vivo traçam alguns prognósticos para o comportamento da economia brasileira durante 2014, período que também será caracterizado pelas eleições presidenciais, programadas para o mês de outubro.
 
“Os estímulos não tem sido suficientes para expandir o crescimento, que, em última instância, depende de produção. O estímulo ao consumo gerou desequilíbrios do lado da inflação e da balança comercial”, explica Maurício Molan, economista-chefe do banco Santander no Brasil, ressaltando ainda o temor com relação ao comportamento das contas públicas brasileiras. “Todo estimulo ao consumo gerou um crescimento pequeno, e três efeitos colaterais importantes”. 
 
Para o economista, tudo indica que 2014 vai ser o ano em que o Brasil vai tentar se voltar para a produção em vez do consumo, acompanhando mais de perto o crescimento potencial e até mesmo a expansão da demanda doméstica. E isso, na visão de Molan, vai gerar um ritmo de crescimento mais fraco antes que a expansão seja retomada, em virtude da correção da capacidade produtiva e a correção da inflação e das contas públicas. “Na hora em que se corrigirem esses desequilíbrios, a economia estará mais presa, para depois voar em velocidade de cruzeiro ao fim de 2014, começo de 2015”.

Investimentos
 

O aumento dos investimentos pode ser um ponto de diferenciação no ano, vide as recentes operações envolvendo a concessão de rodovias pelo Brasil, o que deve gerar um volume considerável de aplicações em infraestrutura nos próximos anos. Para Molan, o cumprimento do cronograma de concessões é mais importante como informação do que em termos práticos. “O governo espera que as concessões gerem até R$ 50 bilhões em investimentos em cinco a dez anos, o que significa mais ou menos 1% dos investimentos totais anuais na economia, e isso é muito pouco”. Além do valor ser reduzido, existe a demora em colocar esses valores em circulação por conta da busca por licença, por exemplo. “O fato de que a percepção de que o governo caminha para atrair o setor privado é mais importante do que o investimento em si, mas ao longo do tempo a implantação acaba sendo mais importante”.
 
Contudo, um ponto que foi discutido em 2013 e que deve seguir em pauta no novo ano é um ajuste da nota de crédito do Brasil – diante da piora do perfil das contas públicas, algumas agências de classificação de risco chegaram a sinalizar uma mudança da nota, caso não sejam tomadas medidas mais efetivas. Na visão de Mauricio Molan, a nota não deve apresentar mudança. “Apesar da deterioração que tem sido mais marcante pelo lado do superávit primário, a capacidade de pagamento ainda é muito favorável. Tivemos piora de fluxo, mas os estoques ainda seguem benignos. Basta que o fluxo pare de piorar”.

O economista-chefe explica que o superávit primário oscilou em 4% durante a segunda parte da década passada, fazendo com que o chamado superávit estrutural caminhasse para perto de zero. “Basta que o governo traga para 1% a 2% para que a credibilidade seja recuperada. Não precisa fazer um grande esforço, mas não pode piorar muito”.
 

Entretanto, Marcelo Kfoury, economista-chefe do Citi Brasil, considera que existe chance de downgrade do país caso os números do PIB brasileiro sigam se deteriorando. “Se seguir como está ou melhorar, (um ajuste) não deve vir antes da eleição, e existe um esforço do governo em não deixar a coisa piorar tanto para ter um downgrade”, diz, ressaltando pontos como a desistência do empréstimo à Eletrobras via Caixa Econômica Federal, redução dos repasses ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e as tentativas de mudança do indexador da dívida dos estados no Congresso, além das medidas focadas na contenção da piora dos fundamentos fiscais.
 
No âmbito externo, o mercado acompanhou de perto (em especial no segundo semestre) as notícias envolvendo a redução dos estímulos econômicos nos Estados Unidos. Na visão de Molan, é importante perceber que o processo a ser iniciado em janeiro é importante e confirma a normalização das condições norte-americanas, fazendo com que os mercados passem a ver os emergentes de uma forma mais seletiva.
 
Outros indicadores a se acompanhar
 
Quanto ao comportamento da macroeconomia brasileira, Mauricio Molan acredita que as eleições devem influenciar uma parte das decisões de política econômica, uma vez que o comportamento da economia e o esgotamento de algumas políticas, como a sustentação da economia com base no consumo, vai ser mais relevante para a correção do curso econômico do que o calendário eleitoral. Em termos de prognósticos, a instituição estima um IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 6% para 2014, um PIB (Produto Interno Bruto) de 1,7%, taxa básica de juros em 11%, crescimento da produção industrial em 2% em um cenário com superávit comercial de US$ 14 bilhões e déficit em conta corrente de 2,9% do PIB.
 
Já no caso do Itaú Unibanco, a instituição mantém a projeção de um aumento dos juros em 0,25 ponto já na reunião de janeiro, levando a taxa para 10,25% ao ano, o que deve seguir estável até o fim do ano. No caso do superávit primário, o cenário para 2014 aponta uma “provável queda” do superávit primário para 1,3% do PIB, com resultados menores tanto do Governo Central quanto dos governos regionais (-0,2 p.p. de esforço fiscal para cada esfera governamental). “Para o Governo Central, esperamos um superávit de 1,1% do PIB, refletindo uma alta de gastos de 4% em termos reais (2013: 6%) e um crescimento de 2% na receita real líquida”, diz a instituição. 
 
A projeção do Itaú Unibanco para o IPCA em 2014 foi ampliada de 5,9% para 6,0%. “O ajuste foi motivado pela reavaliação da nossa hipótese de IPI reduzido no setor de automóveis: passamos a incorporar uma volta parcial, com o IPI de carro com mil cilindradas subindo de 2% para 5% (antes, trabalhávamos com manutenção da alíquota em 2%)”, diz o banco, ressaltando que a inflação de 2014 deve contar com alta menor dos preços livres e maior dos preços administrados. A expectativa para o PIB em 2014 foi mantida em 1,9%.
 
A projeção para o fechamento do câmbio ao fim de 2014 ficou em R$ 2,45. Para a instituição, o ano deve continuar sendo de elevada volatilidade, mas a resolução das principais fontes de incerteza (política monetária norte-americana e eleições) podem levar a moeda a fechar em patamar pouco mais depreciado.
 
Já Marcelo Kfoury, do Citi Brasil, estima uma inflação de 5,9% ao fim do ano, com destaque para um ajuste dos preços administrados em cerca de 4%. “Espero que os alimentos passem de 9% para 6,6% e os serviços sigam altos porque o mercado de trabalho não vai mudar muito, ficando em torno de 8%”. Quanto aos juros, Kfoury espera mais dados e evidências por parte do Banco Central devido à existência de várias oportunidades e a dependência da conjuntura do país. 
 
Para a cotação do dólar, o banco espera uma cotação ainda mais depreciada, chegando a R$ 2,46 – muito em função da queda da entrada de capitais no país por conta da recuperação econômica norte-americana e o início do processo de normalização da política monetária do país. “O que causa mais impacto é o que acontece com a curva de juros, pois os dados se alteram e atingem a curva de juros de longo prazo. Se a curva de curto prazo também subir, fica mais caro fazer a operação de pegar dinheiro lá fora e aplicar em ativos dos emergentes. A forma de financiamento vai encarecer um pouco”. Para o PIB, os dados foram revisados para 1,8% em 2014, enquanto o superávit da balança comercial chegou a US$ 10 bilhões, uma vez que o câmbio mais fraco pode levar a uma melhora das exportações – o que também pode melhorar o déficit das contas externas, chegando a 3,2% do PIB ao fim deste ano.
 
Redação

7 Comentários

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  1. Câmbio

    Se as previsões estiverem corretas e o câmbio fechar o ano em R$ 2,45, na prática isso significará desvalorização real zero no ano, uma vez que a diferença com o câmbio de fim de 2013 corresponderia basicamente ao diferencial de taxa de inflação entre os dois países.

    Não é desse jeito que a indústria vai conseguir recuperar sua competitividade…

  2. Previsões furadas para 2014

    Quanta merda! Esses caras nunca acertam, são um bando de babacas a serviço do capital financeiro internacional querendo se locupletar com juros altos. Medíocres como economistas e como cidadãos. Eu desafio o sítio a guardar o que escreveu essas aves de mal agouro e comparar no final do ano. Pura perda de temp.

  3. Os economistas estão atrasados no tempo

    O governo já baixou o preço da energia e garantiu o seu fornecimento com a inauguração de várias hidrelétricas e outras fontes, desonerou impostos, abriu e ampliou a linha de crédito dos bancos públicos, aumentou e está modernizando os portos, abriu concessão para várias rodovias, simplificou os documentos portuários, está concluindo a ferrovias leste-oeste e a norte-sul, colocou o juros em patamares historicamente baixos, manteve a inflação, mais uma vez, dentro da meta…

    1. Se for verdade os suíços emigrarão p/Brasil

      Baixou as tarifas de energia com emissão de moeda, ou seja, estruturalmente não mudou nada. Aliás, mudou sim, o tesouro subsidiou o setor elétrico em detrimento do resto da sociedade, para bancar a reeleição da dona Dilma.

      A desoneração de impostos mais uma vez foi em setores específicos, como as montadoras estrangeiras. No final do ano o inacreditável ainda tentou ressuscitar a Kombi, e viajou p/SP para cobrar as demissões da GM em SJC, voltando com cara de idiota (o que p/ele é perfeitamente normal) quando a empresa afirmou que isso já estava combinado com o Sindicato desde setembro.

      A inflação está batendo no topo da meta, e apenas porque os preços públicos estão represados. Nossa inflação de equilíbrio é tranquilamente acima de 7 ao ano.

      Podem reeleger a Dilma por qualquer motivo, mas não será pela economia.

       

      Aliás, Assis, sugestivo você afirmar que os “economistas” estão fora do tempo e não poupar o Delfim e o Beluzzo (da turma do governo), pois mesmo estes dois já sabem que o bicho vai pegar… 

       

  4. A simetría no gráfico do

    A simetría no gráfico do dólar sugere uma repetição inversa do movimento de 2009, ou seja, ao invés de desvalorização ou queda, valorização ou alta do dólar de 25% em 2014, fechando o ano a R$3,00. Tomara. É isso que o Brasil e a indústria precisa para deslanchar e sair do marasmo. Pode pressionar a inflação momentaneamente, mas sentará as bases para uma forte recuperação da economia e do crescimento em 2015.

  5. Vamos ter de decidir

    Esses iluminados ‘especialistas financeiros’ deverão decidir por qual sistema econômico o país deve seguir seu caminho, se o comunismo ou o capitalismo: SISTEMA CAPITALISTA SEM CONSUMO É O QUÊ

    Santo Deus, camisa de força ou cadeia para esses golpistas dos infernos.

    Eu não compro do comércio, que se retrai e demite funcionários e não compra da industria, que sem pedidos não produz, demite funcionários (gerando desemprego), como aumenta o desemprego eu me lasco no fornecimento de meus serviços, não obtendo cliente que o comprem!

    A economia capitalista é complicada? Sua administração claro que é, mas sua base é simples pra caramba, não adianta inventar ou, então, mudemos, como querem todos os de fora do governo, para o comunismo!!!

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