Da Folha
A combinação de pessoas e ineficácias a que chamamos de governo Temer tem uma particularidade. Nos tortuosos 117 anos de República e ditaduras no Brasil, jamais houve um governo forçado a tantas quedas de integrantes seus em tão pouco tempo, por motivos éticos e morais, quanto nos oito meses de Presidência entregue a Michel Temer e seu grupo.
Entre Romero Jucá, que em 12 dias estava inviabilizado como ministro, e o brutamontes Bruno Julio, que, instalado na Presidência, propôs mais degolas de presos, a dúzia de ministros e secretários forçados a sair é mais numerosa do que os meses de Temer no Planalto.
Foi para isso que o PSDB, o PMDB, a Fiesp, o jurista Miguel Reale e o ex-promotor Hélio Bicudo, a direita marchadora e tantos meios de comunicação quiseram o impeachment de uma presidente de reconhecida honestidade?
Sim. À vista da ausência, nem se diga de reação, mas de qualquer preocupação entre os autores do impeachment, a resposta só pode ser afirmativa. Até antecipada pelo descaso, também ético e moral, dos aécios, da Fiesp, de reales e bicudos. Estes também são partes do governo Temer, como o PSDB, ou seus associados. Logo, tão responsáveis pela indignidade dominante quanto o próprio Temer.
O Geddel que começa a estrelar mais uma peça da ordinarice foi expelido do governo em tempo de evitar que as novas revelações explodissem em uma sala do Planalto. Mas é inesquecível que até poucas semanas Geddel disputava com Eliseu Padilha o comando de fato do governo. Instalado no centro da Presidência por desejo do próprio Temer, que fez o possível para inocentá-lo do favorecimento ilegal a um negócio imobiliário.
Não havendo petistas nem próximos de Lula envolvíveis, a Polícia Federal não se interessou. Se o novo escândalo chegar ao negócio que derrubou Geddel, porém, a PF verá que antes de uma frustração pode haver muitos lances bem sucedidos. Apesar de nada admiráveis.
Mais sugestiva do que a inclusão de Geddel no Planalto é sua nomeação para a diretoria da Caixa Econômica: foi escolha pessoal, o que vale como pedido, do então vice-presidente à presidente. E não qualquer diretoria, não. A de negócios com pessoas jurídicas. Empresas, empresários, projetos privados, sociedades de particulares com governos.
Michel Temer fez mesmo o serviço completo: como outra escolha pessoal, conectada ao PMDB, indicou também para a direção da Caixa ninguém menos do que Moreira Franco.
O que daí resultaria era tão óbvio que aqui mesmo, e logo, se pressentiu. Com a mesma obviedade, o que seria a entrega do governo a Michel Temer e seu grupo não ficou impressentido pela cúpula do PSDB, pelos reales e bicudos do impeachment. Tão responsáveis, hoje, quanto Michel Temer.
UM LIVRO
Dinheiro e interesses não políticos fizeram o lado (ainda) obscuro do impeachment. Os fatos, ideias e sentimentos que viveram o processo de dentro da Presidência e do governo eram o lado sombrio. Não são mais. “À Sombra do Poder – Bastidores da Crise que Derrubou Dilma Rousseff” os ilumina.
E o faz muito além do seu resultado presente. É um livro que ficará como referência. Jornalista e doutor em ciência política, o brilhante Rodrigo de Almeida se propôs a fazer um “livro de observação” –e conseguiu.
Secretário de imprensa da Fazenda com Joaquim Levy e, depois, da Presidência até a destituição de Dilma Rousseff, Rodrigo de Almeida faz uso tão objetivo do seu testemunho quanto seria possível. É jornalismo na melhor acepção da palavra.
Não teme falar do temperamento, das reações e dos erros de Dilma Rousseff, e o faz com elegante franqueza. Trata o decorrer dos acontecimentos, desde o início do segundo mandato, sem ceder a impulsos de militância.
Conduz a exposição do cerco intransponível a Dilma, e a original conduta por ela mantida, sem se perder em considerações dispensáveis e sem perder, jamais, a noção do que refletiria, de fato, a essência do testemunhado.
O texto excelente de Rodrigo de Almeida leva a uma leitura agradável, que a boa edição da LeYa mais honraria se não desprezasse o índice onomástico.
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EU TAMBÉM
Obrigada ao Jânio. Também me pergunto todos os dias : foi para isso ???
Segundo o Jucá. foi
Segundo o Jucá. foi exatamente para isso. Para parar a sangria. Só que na visão do Jucá, funcionaria melhor, isto é, ele e o Geddel, e talvez até o Bruno Júlio, continuariam confortavelmente instalados no governo, fazendo o que sempre fizeram, isto é, transformando em lucro privado a gestão (digestão? indigestão? congestão?) da coisa pública.
eu também
Eu tambem me pergunto: foi para isso?
Quando encontro um direitista tambem pergunto: foi para isso?
Mas eles não gostam que os lembre!
Ou seja, esses horrores agora
Ou seja, esses horrores agora acontecidos nos presídios – guerra entre facções – é o mesmo que o horror desse desgoverno GOLPISTA que está a decapitar todas as pessoas de bem deste país merreca. Bandidos todos, a começar pelo temerista, seguindo pelos janot(as) e os esseteefezinhos de porcaria-alguma. Haja paciência.
As “pessoas de bem” desse
As “pessoas de bem” desse país é que nos tacaram nesse buraco.
Decapitá-las seria a salvação do país…
Até pq Traição a páatria nessa terra não dá morte. Vc vira nome de rua e avenida. Corta verba da educação, vira nome de escola. Corta verba da saúde, vira nome de hospital.
Se traição À pátria no Brasil fosse crime, não ia sobrar uma “pessoa de bem” viva no país… A revolução cultural ia parecer brincadeira de criança.
Parabéns, Jânio. Teremos que
Parabéns, Jânio. Teremos que cobrar sempre daqueles irresponsáveis que promoveram e apoiaram o golpe, sem se preocuparem o mínimo com o país. Muitos mancharam a biografia por um instante de glória e mídia. Não bastará esconder-se agora no silêncio, irão para a lata de lixo da história, graças também a um livro honesto como esse do Rodrigo de Almeida.
Luiz Roncari
Uma pergunta
Estou enganado ou quem fez este comentário é o autor de “Assim não brinco mais”?
Uma pergunta
Estou enganado ou quem fez este comentário é o autor de “Assim não brinco mais”?
Coqueiral
Collor ja tem um governo mais feio que o dele para aliviar sua vergonha. Acho dificil alguém conseguir fazer pior que esse horroroso governo de herança escravocrata. Muito pior que Collor ainda porque oriundo de articulação pra o golpe que deu inicio à Republica do Coqueiral.
O PSDB vai sugar mais um
O PSDB vai sugar mais um pouquinho e quando acabar o que sugar vão desembarcar, terminar de demolir o governo do Temer e PMDB e ainda vão dizer que nunca foram parte do governo, seguindo a estratégia do quanto pior melhor com a midia para 2018.
escolha e imposição…
como ser bandido sempre foi uma escolha pessoal, Temer não fez nada para evitar a junção desastrosa
e ainda há quem acredita e defenda que ele governa sem a imposição do meio em que foi criado
Falta a esquerda mostrar os erros deles
Janio, Aragão, o livro e cia finalmente constróem o discurso e a auto-crítica da esquerda e desfazem as falas do MBL e cia.
A direita discursou 1 tempão sem mostrarmos as falhas dos seus discursos:
– Kim e MBL querem ter voz na politica? Mostrem que são parciais e só atacam realmente a esquerda. Perguntar quantos bonecos gigantes e passeatas fizeram contra Cunha e Dilma, os R$20 mil vindos do PMDB pro material do impeachment da Dilma e relacionar c/ as poucas manifestações contra gnt desse partido; convite VIP do Cunha pro Kim…
– Este é o maior escândalo de corrupção? E a crise das Hipotecas USA, das multas de Bilhões de Dólares dos bancos. Eu não sei citar nome e cargo de quem recebeu propina, alguém sabe?
heróis brasilieiros
Abnegação e coragem destes personagens da resistência como Eugenio Aragão, Janio de Freitas, Luis Nassif…O Brasil passa por um acontecimento trsite, um verdadeiro infortúnio,mas temos a sorte da existência desses verdadeiros herois brasileiros. Espero que sirvam como inspiração para um verdadeiro processo de resistencia e luta.
Golpista analisando a
Golpista analisando a ditadura que, juntamente com o seu patrão, fez parte do golpe de estado reimplantador. Em 1964 janio comunga que foi uma ditadura branda. Hoje, vem com essa conversinha móle de indignações… Coisa de máfia poderosa!
E os impressionantes e
E os impressionantes e impressionáveis artigos diários sobre a cotação do dolar e da bolsa que graçavam na mídia e até em blogs, estão no livro?
Se o mestre recomenda, vou comprar logo meu exemplar.
Prezados,
Jânio de Freitas é, sem dúvida, o maior jornalista e analista político deste País. Com quase 8 décadas e meia de vida e mais de 6 delas dedicadas ao jornalismo, Jânio de Freitas tem a experiência, a autoridade moral e ética, a coragem e o destemor daqueles que sabem estar fazendo História e fazem questão de escrever os derradeiros capítulos de sua reconhecida e prestigiosa carreira com muita coerência, lucidez e perspicácia.
Conciso e elegante, Jânio se vê obrigado a fazer no restrito espaço que lhe concede o jornal FSP, ainda mais encurtado quando há cerca de dois anos lhe tiraram a coluna das terças-feiras, a análise dos fatos políticos que ocorrem aos borbotões, nesse cenário de gravíssimas e múltiplas crises em que vive o Brasil desde a primeira tentativa de golpe de Estado – com a farsa do “mensalão do PT”, em 2005 – até os dias de hoje, em que as instituições estão apodrecidas e o golpe de Estado jogou o País na mais absoluta barbárie.
Neste análise Jânio coloca o PSDB e os líderes tucanos no devido lugar: como protagonistas do golpe de Estado e das crises por ele causadas. Não me surpreenderei se a Otávio Frias Filho decidir demitir Jânio depois da publicação deste artigo.