Bill Gates e Lula, vidas paralelas, por Fábio de Oliveira Ribeiro

Por Fábio de Oliveira Ribeiro

O hábito de ler jornais me fez acreditar que Lula de Bill Gates fossem pessoas muito diferentes. Ao comprar um livro descobri que estava enganado. Ambos são semelhantes e, paradoxalmente, mais diferentes do que aparentam ser na imprensa.

“Fico preocupado ao ouvir jovens dizendo que não querem ir para a faculdade porque eu não me formei. Em primeiro lugar, tive uma boa formação acadêmica, embora não tenha permanecido tempo suficiente para me formar. Por outro lado, a cada ano que passa, o mundo fica mais competitivo, especializado e complexo, tornando o ensino superior tão indispensável hoje quanto era o ensino médio tempos atrás.” (O mundo segundo Bill Gates, Lisa Rogak, editora Campus, 2013, p. 41)

“Os computadores são excelentes, quando você trabalha com eles, obtém resultados imediatos que permitem saber se seu programa funciona. É o tipo de feedbak que não se obtém de muitas outras coisas.” (O mundo segundo Bill Gates, Lisa Rogak, editora Campus, 2013, p. 19).

Como Lula, Bill Gates não tem diploma. Como Bill Gates, Lula fez sucesso na área a que dedicou sua vida. Ambos não incentivaram as pessoas a não concluir a Universidade só porque fizeram sucesso sem serem diplomados. A imprensa brasileira sempre elogiou Bill Gates e raramente o atacou porque ele não tem diploma. Vários jornalistas tentaram crucificar Lula porque ele não tem um.

Se Lula tivesse se dedicado a construir um império empresarial (como a Friboi, por exemplo) e não se preocupasse com a educação dos pobres ele provavelmente seria elogiado pela imprensa. O criador da Microsoft seria adorado pelos jornalistas se não fosse empresário? O que os jornalistas brasileiros diriam de Bill Gates se ele fosse apenas um obscuro socialista norte-americano sem diploma?

A duplicidade de tratamento dada a dois homens famosos e bem sucedidos que não têm diploma (Bill Gates e Lula) tem o mesmo fundamento: a predominância da economia sobre a política. No imaginário dos donos das empresas de comunicação, a política é ou deve ser uma categoria menos importante que a economia. Quando não se submete aos ditames da economia (tal como a mesma é concebida pelos jornalistas), a política deve ser rejeitada, marginalizada e eventualmente criminalizada.

Portanto, Bill Gates não ter diploma é um fato jornalisticamente irrelevante e perdoável. Lula não ter um é algo que não pode ser perdoado. A forma distinta como os jornalistas tratam pessoas semelhantes diz menos sobre elas do que sobre o jornalismo.

Lula foi presidente duas vezes. Ele não criou um órgão encarregado de vigiar de maneira opressiva brasileiros e estrangeiros. Bill Gates não é político, mas criou “back doors” no Windows para que a NSA pudesse vigiar quem quer que utilizasse seus programas. Durante o governo Lula, o Brasil comprava e usava produtos da Microsoft. Portanto, não podemos descartar a hipótese de Lula ter sido espionado com ajuda de Bill Gates quando utilizou os computadores à disposição da presidência da república.

A conduta de Lula foi perfeitamente ajustada à CF/88, que garante privacidade aos cidadãos e impede o Estado de violar a mesma sem autorização judicial. A atitude de Bill Gates é repugnante tanto política como empresarialmente. Ele vendeu aos seus clientes, sem que eles soubessem, instrumentos de espionagem colocados à disposição da NSA. Quem comprou o Windows com “back doors” deu lucro a Bill Gates de duas formas: pagando pelo “direito de ser espionado” e garantindo à Microsoft apoio político e econômico do governo Bush Jr.

O feedbak obtido por Lula ao trabalhar com computadores que utilizavam produtos da Microsoft não foi o mesmo feedbak que Bill Gates recebeu do governo dos EUA ao criar “back doors” no Windows. O perigo não está em quem usa a tecnologia, mas em quem faz mal uso dela. Se Bill Gates tivesse diploma ele teria sido mais ou menos ético do que o governo Lula? Nesta questão de alta indagação (espionagem sorrateira, vigilância massiva, desonestidade empresarial, etc…) os programadores diplomados que cuidam dos servidores das empresas de comunicação brasileiras apoiariam Lula ou Bill Gates?

Edward Snowden destruiu o pesadelo de controle total instrumentalizado por Bill Gates. No entanto, Lula segue sendo o inimigo número um da imprensa brasileira. O que controla os jornalistas? Os programas da Microsoft ou o dinheiro sujo da NSA?

Fábio de Oliveira Ribeiro

7 Comentários

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  1. “O que controla os

    “O que controla os jornalistas? Os programas da Microsoft ou o dinheiro sujo da NSA?”

    Na minha opinião é a raiva que seus empregadores, empresários com diploma(suponho), têm de saber que um homem sem diploma fez um governo muito, mas muito melhor que todos os doutores que vieram antes dele.

    Ficou provado que para ser bom político não precisa ser doutor, basta ter sensibilidade.

    Também ficou provado que ricos ou metidos a rico(há exceções) não gostam de pobres.

  2. Artigo de uma estupidez sem

    Artigo de uma estupidez sem paralelo. O sujeito pega um fato, o de Gates não ter concluído o curso na universidade com o fato de Lula não ter feito faculdade, para então criticar a imprensa. Existem dezenas de selfmademan,  os barões da indústria do final do sec XIX,  o fundador da Walmart,  o fundador do Bradesco. Todos foram duramente criticados por motivos outros. Gates e considerado por r muitos o anti cristo,  e roubou as idéias de outro que também não terminou a faculdade, o fundador da Apple,  jobs.

    A questão que diferencia os personagens é  que Lula é o único que usou o status de não formando,  ora para se vangloriar,  ora para o vitimismo  já que quem mais fala sobre o assunto são pela ordem, ele mesmo e a militância em Blogs. 

  3. Atenuantes

    O autor bem que poderia ter citado a fundação Bill Gates que entre outos projetos sociais o prograna 2:1 do rotary club internacional que tem como objetivo a erracadicação da poliomelite na África( O custo estimado do  é $5,5 bilhões.).Bill Gates já doou 1,4 bilhões de dólares ao combate à pólio e o Rotary, 1,2 bilhões de dólares.

    Por que Bill Gates doa bilhões e bilhões? Ele e sua esposa explicam – InfoMoney 
    Veja mais em: http://www.infomoney.com.br/carreira/gestao-e-lideranca/noticia/3822268/por-que-bill-gates-doa-bilhoes-bilhoes-ele-sua-esposa

    1. Nahh… Bill Gates apenas
      Nahh… Bill Gates apenas doou parte do dinheiro sujo que ganhou da NSA para facilitar a espionagem massiva e criminosa. Seu herói é apenas um bandido generoso, igual a vários donos de “boca de fumo” no Rio de Janeiro. Bandido gringo bom é bandido gringo morto?

  4. O problema da classe média

    O problema da classe média antipetista (pois há uma classe média não-antipetista, à qual pertenço) é a falta de auto-estima. Ascenderam socialmente sem merecer (ou porque papai pagou o seu curso numa universidade pagou-passou, ou porque foram presenteados – tipo cargo público sem concurso, ou acesso antecipado ao gabarito – por algum político corrupto não-petista). Morrem de medo dos que estão “abaixo” deles e que podem, a qualquer momento, subir até eles e até ultrapassá-los. Tentam, então, garantir a proteção dos auto-proclamados “donos do mundo”, fazendo ou apoiando as maiores baixarias contra a nação (e a favor de organizações criminosas internacionais tidas – pela propaganda delas mesmas – como impolutas). Que nojo!

    Considero-me inteligente. Se aparece um cara – ou uma cara – que se proclama mais inteligente do que eu, ao invés de escorraçá-lo, vou para a conversa franca. Se ele for mesmo mais inteligente do que eu, terei acesso a uma nova fonte de aprendizagem. Se for igualmente inteligente, ótimo: num mundo cheio de burrice, um inteligente a mais é motivo de festa. Mesmo se não pensa igual a mim.

    Interessante é que os classe média que detestam pobres (e tem tanto medo deles), dependem desses pobres para se manterem nas suas posições privilegiadas. Sem os pobres com que se comparar, de onde eles extrairiam a sua pretensa superioridade? E não deveriam ter medo dos pobres, pois estes curtem muito a sua situação “degradante”, da qual extraem benefícios e privilégios não desprezíveis. No registro histórico, pequeníssima percentagem de “pobres” conseguiram ascender socialmente pelos próprios méritos. E esse percentual continua pequeníssimo. Portanto, deviam os paneleiros relaxar e gozar seus privilégios, entre os quais se incluem assistir a rede globo (e aqui, têm a companhia dos “pobres”), endeusar o estrangeiro (embora este o despreze) e bater panelas a mando de Tio Sam…

     

    1. Medo e mediocridade sempre
      Medo e mediocridade sempre foram irmãos gemeos. No mais suas palavras revelam uma percepção refinada da crise. A classe média tradicional está em crise e sofre. Se depender de mim continuará sofrendo.

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