Bruno Lima Rocha
Bruno Lima Rocha Beaklini é jornalista formado pela UFRJ, doutor e mestre em ciência política pela UFRGS, professor de relações internacionais. Editor do portal Estratégia & Análise (no ar desde setembro 2005), comentarista de portais nacionais e internacionais, produtor de canal estrangeiro e editor do Radiojornal dos Trabalhadores.
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Brasil em transe e o desmonte generalizado, duas constatações, por Bruno Lima Rocha

O desmonte do Brasil e o avanço neoliberal

Brasil em transe e o desmonte generalizado, duas constatações

por Bruno Lima Rocha

Às vésperas do sete de setembro de 2018 houve um atentado contra Jair Messias Bolsonaro, candidato do PSL, deputado federal no sétimo mandato e aquele que encarna a “grande esperança branca” da Casa Grande do país governado por um baronato rentista e seus aliados dentro e fora de nossas fronteiras. Desde então abundam teorias especulativas e uma evidência: tal fato tem relação total com o contexto vivido pelo Brasil desde o início do terceiro turno de 2014.

Lado a lado com a violência simbólica dos discursos de ódio, galvanizados pelo atingido em Juiz de Fora (MG), temos a negação do direito ao reconhecimento e, concomitantemente, a perda progressiva dos direitos coletivos que vinham num crescendo desde 1932 e se consolidaram como política pública permanente na Constituição de 1988. Trata-se de restauração burguesa e liquidação da soberania popular e, por tabela, a soberania nacional.

O fim da proteção ao mundo do trabalho é o velório da Nova República?

Vale alguma reflexão. O STF autorizara a terceirização para atividades fim em todas as empresas. Ou seja, entendo que eu na maioria das Pessoas Jurídicas, a classe trabalhadora do Brasil está diante de uma “Pejotização” galopante. Óbvio que a direita afirma que isso é “da nova economia”, ou que “a terceirização já existe, logo é preciso autorizar ou regular”. Me recorda o debate sobre transgênicos, que acabou sendo liberada a circulação de sementes assim no primeiro governo Lula utilizando um pouco da política do fato consumado. “As sementes vêm de contrabando da Argentina e assim fica impossível ilegalizar todo um setor e blablabla e cumpra-se”. Não custa lembrar. Sementes não são animados com mobilidade própria, logo, foram trazidas e o contrabando – a prática centenária de chibeiros – seria bastante controlável nas barrancas do rio Uruguai. Enfim, tal como o fato consumado das sementes, o mesmo se dá com a desagregação social que avança no país.

Em parte, essa é a dimensão substantiva do golpe em andamento e agora, especificamente, rastejando pelas sarjetas da pior política possível. Era esperado e os discursos literalmente se repetem em toda América Latina. Durante o auge dos escândalos do governo Priista de Enrique Peña Nieto, no México, “colonistas de economia” repetiam a ladainha de que o salário mínimo (ou seja, o salário social) é uma “ilusão econômica”, pois “primeiro é preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo”. A ladainha perfeitamente falsificável era a mesma. Não exagero, as analogias eram idênticas do guru da modernização conservadora da ditadura, agora travestido de parlamentarista, Antônio Delfim Netto.

Uma observação vinda do nosso campo, pode afirmar que sempre houve desagregação social no período republicano, “desde que o povo bestializado assistiu a tal proclamação”. Não há contestação possível desta afirmação. A “tal da república” nunca foi inclusiva e incorporou um governo nacional com reconhecimento para os trabalhadores urbanos somente no varguismo, isso após completarem o trabalho sujo de Arthur Bernardes e Washington Luís, dizimando a liderança sindical de orientação anarquista no Brasil. Em termos de maioria afro-brasileira, a repressão sempre se fez presente, e se faz, na distribuição espacial da mesma, cortando na ausência de direitos civis e sociais da maior parte de nossa população.

Logo, se nada disso é “novidade” (infelizmente), quais as características prevalentes de nosso momento histórico? Ou, falando em termos mais diretos, como liquidaram com a Nova República e quais suas consequências?!  

Que tipo de crise é essa? Quando os setores não se protegem do entreguismo visceral

Sabemos a dificuldade de qualquer tipo de tabelamento de preços ter algum fôlego; o próprio Plano Cruzado e o congelamento de preços básicos levou a um aumento da sonegação e do crime contra a economia popular. Mas, isso é diferente de afirmar em termos de “modelo” que as “regras da economia” – ou seja, da balela neoclássica – vai ajeitar o excesso de oferta pelo crédito do BNDES durante o período lulista diretamente implicado no consequente aumento da frota de caminhões. Resumindo: ou o setor de transporte de carga tem alguma forma de proteção para os caminhoneiros autônomos, ou cerca de 500 mil caminhoneiros – e pelas contas, dois milhões de pessoas – serão atingidos. As empresas de agroindústria que têm crédito agrícola vão se defender do jeito que dá, incluindo o protelamento da execução de suas dívidas e quem vive no trecho vai engrossar o desemprego nas cidades.

Como pano de fundo, o que a laia quer fazer crer ao povo brasileiro? Que devemos quebrar o monopólio fático da Petrobrás, pois esta foi quebrada em função da “artificialidade” dos preços praticados anteriormente e também pelo modelo de partilha do Pré-Sal. Sobre a perda de causa e o seguido acordo com a Justiça dos EUA na defesa dos especuladores aglutinados como acionistas minoritários, óbvio que os “consultores” não dizem. Logo, a “solução” apresentada é liberar a importação de diesel, gasolina e demais derivados por todas as transnacionais do setor de óleo e gás. E, também para a obviedade, a cambada nunca diz que existem 16 traders mundiais forçando os contratos futuros e incidindo diretamente na cotação do barril Brent. Logo, desejam expor ainda mais a sociedade brasileira às oscilações forçosas dos especuladores. Como se chama isso em português? Em castelhano os países Hermanos denominam “vende pátria”. Concordo com o conceito.

08 de setembro de 2018

Bruno Lima Rocha é pós-doutorando em economia política, doutor e mestre em ciência política, professor de relações internacionais e de jornalismo.

(estrategiaeanaliseblog.com / [email protected])

Bruno Lima Rocha

Bruno Lima Rocha Beaklini é jornalista formado pela UFRJ, doutor e mestre em ciência política pela UFRGS, professor de relações internacionais. Editor do portal Estratégia & Análise (no ar desde setembro 2005), comentarista de portais nacionais e internacionais, produtor de canal estrangeiro e editor do Radiojornal dos Trabalhadores.

5 Comentários

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  1. O que mais impressiona no

    O que mais impressiona no golpe de 2016 é sua totalidade, abarcando sistema judiciário, mídia e forças armadas. O campo político configurou-se definitivamente em mercadoria, portanto, propriedade do mercado. É evidente tratar-se de um sistema totalitário, tendo a mídia hegemônica substituído o controle social no atacado, antes executado pelos militares. Tudo indica que esse totalitarismo do século XXI não permitirá um governo de esquerda, a não ser que este também se renda ao mercado, na forma de mercadoria. 

  2. Esqueceram as injustiças e ilegalidades contra o Lula/PT

    Quando o Museu Nacional foi incendidado, as injustiças e ilegalidades contra o Lula/PT saíram de foco. Quando o Bolsonaro foi esfaqueado, o incêndio do Museu Nacional saiu de foco. O que tirará a fakeada do Bolsonaro de foco?

  3. A cisão entre os interesses dos ricos e os do progresso econômic

    Em “Reforma ou Revolução?”, Rosa Luxemburgo escreveu:

    “O Estado atual é antes de mais uma organização da classe capitalista dominante. Sem dúvida que assume funções de interesse geral no desenvolvimento social; mas somente na medida em que o interesse geral e o desenvolvimento social coincidam com os interesses da classe dominante. A LEGISLAÇÃO DE PROTEÇÃO OPERÁRIA, por exemplo, SERVE IGUALMENTE O INTERESSE IMEDIATO DA CLASSE CAPITALISTA E OS DAS SOCIEDADES EM GERAL. Mas, esta harmonia cessa num certo estádio da evolução capitalista. Quando essa evolução atinge um determinado nível, os interesses de classe da burguesia e os do progresso económico começam a cindir-se mesmo no interior do sistema de economia capitalista. Pensamos que essa fase já começou; testemunham-no dois fenómenos extremamente importantes da vida social actual: a política alfandegária e o militarismo. Esses dois fenómenos representaram na história do capitalismo um papel indispensável, e nesse ponto de vista, progressivo, revolucionário. Sem a protecção alfandegária, o desenvolvimento da indústria pesada nos diferentes países teria sido quase impossível. Actualmente, a situação é diferente. A protecção alfandegária já não serve para desenvolver as indústrias jovens, mas somente para manter artificialmente as antigas formas de produção”.

     

    A supressão dos direitos trabalhistas e a elevação dos privilégios e ganhos dos capitalistas é um sinal de que a harmonia entre os interesses dos capitalistas e os interesses da sociedade cessaram. Ou os despossuídos reagem ou os capitalistas vão tornar o planeta um inferno, tanto do ponto de vista ecológico quanto do ponto de vista econômico, social e político.

  4. Até lamina de faca vira cabo eleitoral e facada é motivo de voto

    Este é o Brazil.

    Do poder ultra-minoritário herdeirocrático,meritoreditário de 518 anos.

  5. chocado mas não surpreso

    Bom post.

    E o Rui Ribeiro sempre atento!. Rosa, Lenin, Marx, Trostsky e outros são um perigo, pois são atuais. Por isso que a elite aposta numa Escola sem partido! 

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