BRICS, um banco do tamanho das necessidades do desenvolvimento, por J. Carlos de Assis

O leitor Motta Araújo questiona elegantemente minha “noção de grandeza” pelo fato de eu, a seu ver, superestimar o Banco dos BRICS. É que ele terá “apenas” US$ 100 bilhões de capital no meio de 36 bancos de desenvolvimento que, ainda segundo ele, existem no mundo. Certamente, raciocina, não seria um banco desse tamanho, quase insignificante, que incomodaria os gestores da geopolítica e da geoeconomia dos Estados Unidos. Por comparação, cita o Banco do Brasil, de um país só, com R$ 536 bilhões de ativos, portanto aproximadamente o dobro do capital do Banco dos BRICS.

É claro que qualquer pessoa com informação elementar sobre banco distingue capital de ativo. Mas vou aproveitar o comentário para chamar a atenção sobre a verdadeira escala do Banco dos BRICS. Um capital de US$ 100 bilhões, pelo acordo de Basileia III, possibilita ao banco emprestar nada menos do que US$ 2 trilhões. É a maior carteira de crédito bancário jamais posta à disposição de países em desenvolvimento na história. E uma quebra profunda na arquitetura do sistema financeiro internacional montada desde a Segunda Guerra para atender sobretudo os interesses dos EUA (Banco Mundial e FMI), o país hegemônico do Ocidente.

Pensar que os EUA estão indiferentes a essa iniciativa é pura ingenuidade. Já escrevi aqui, e é bom repetir, que a prioridade da grande estratégia norte-americana é isolar política e militarmente a Rússia e manter a China dentro de seu espaço nacional. Por certo que o Brasil não tem nenhum interesse específico em perturbar a estratégia americana, mas temos obrigação de buscar nosso desenvolvimento. Neste momento, estamos estagnados. Não há a mais remota possibilidade de sairmos da estagnação via acordos de livre comércio com União Europeia, EUA e mesmo a Ásia. Mas podemos buscar uma articulação industrial com a China, no âmbito dos BRICS, algo que abordarei oportunamente. O banco é a ponte para isso. E constitui a maior jogada estratégica da Presidenta Dilma, que por isso enfrenta uma feroz oposição da direita “burra” que continua na Guerra Fria, pensando com parâmetros ideológicos e não com interesses materiais.

J. Carlos de Assis – Economista, doutor pela Coppe-UFRJ, professor de Economia Internacional na UEPB.

Redação

7 Comentários

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  1. Meu caro Assis, agradeço a

    Meu caro Assis, agradeço a gentileza de citar meu nome, é uma honra, tenho todos seus livros antigos.

    Os bancos de fomentos GARANTIDOS elo Estado não necessitam atender os requisitos do Basileia III, que alias só vai entrar em vigor em 31 de março de 2019. Me intrigava quando o Ministro Mantega, no segundo mandato Lula dizia que o Tesouro precisava capitalizar o BNDES para atender aos Acordos de Basileia III. Enviei uma aarta ao Secretario Geral

    do Comité de Basileia que me respondeu o que eu ja sabia, os bancos de fomento garantidos pelo Estado NÃO estão cobertos pelos Acordos de Basileia, tenho a carta comigo, o Ministro devia saber mas usava uma desculpa para mandar dinheiro do Tesouro par o BNDES, foram R$405 bilhões.

    Qual seria a estrutura juridico-institucional do Banco Brics?  Sem garantias dos Estados ele pode ALAVANCAR o capital proprio, que segundo os press releases pode ser integralizado em até 7 anos. Mas para alavancar é preciso CAPTAR, emitir bonus e esses bonus terem compradores.

    Ora, onde vai ser feita a captação? Não adiante dizer que o Banco pode alavancar US$2 trilhões, é preciso que esse valor seja emprestado ao Banco por alguem, quem serão? Os proprios Estados fundadores? Até para a China  2  trilhões é muito. Obviamente pode injetar um pouco disso, não mais.  O Banco de Desenvolvimento da China está ele mesmo CAPTANDO com bonds nos EUA e os compradores são os BIG TEN, dez fundos globais americanos que tem US$19 trilhões de ativos. Da ultima emissão do Banco de Desenvolvimento da China, 40% foram comprados pela PIMCO, fundo que temUS$1,8 trilhões sob administração. Dos 21% da divida publica brasileira que estão no exterior, 15% estão com esses fundos, que são os maiores investidores globais em titulos soberanos.

    Se não tiver garantias dos EStados, os bonds do Banco Brics serão como de qualquer banco e terão que disputar o mercado com 300 bancos globais. Se tiverem garantia dos Estados quão boa ela é? Da China é boa em termos, da India é fraca, da Russia é NEGATIVA por causa das sanções, do Brasil é média, tem a nota do Brasil.

    Mais ainda, os bonfs do Banco Brics COMPETIRÃO com os bonfs de seus paises socios, porque o risco de credito vai ser somando. Assim, por exemplo, se o fundo PIMCO tem um limite de US$80 bilhões para papeis do Brasil, um papel do Banco Brics vai ser alocado no limite do Brasil, se tiver a gantia do Brasil mesmo proporcionalmente.

    Por exemplo se  um bond e US$1000 do Banco Brics pode ter 25% dele garantido pelo Brasil, esse valor entre no limite do Brasil nas carteiras de cada fundo, eles operam sempre atribuindo um LIMITE PAIS.

    O Banco Brics será portanto um banco multilateral de fomento como tantos, como o Banco Asiatico de Desenvolvimento, como o Banco Europeu de Desenvolvimento, como a CAF-Corporacion Andina de Fomento, o rating nunca será igual ao do Banco Mundial, que está em solo americano e tem a governança anglo-americana.

    Russos, chineses, indus, brasileiros e sul africanos não conseguirão captar no mercado US$2 trilhões nem em cem anos, crédito é cheiro, é faro, é percepção de risco, qual a solidez das instituições da Russia, cujo regime atual tem menos de 30 anos e NÃO é uma democracia? A China está no limiar de uma mega crise politica intrna, a India acaba de trocar de partido no Governo que lá estava há 40 anos e agora entra seu inimigo, não é um Pais de instituições super solidas. O credito internacional é produto de um mix de conceitos, onde a solidez insttucional é uma grande parte, outra são os numeros de cada economia. Dos BRICS o Pais de instituições MAIS solidas é de longe o Brasil, uma democracia

    com valores OCIDENTAIS e cultura empresarial europeia-americana, enquanto que os outros paises tem regimes bem mais frageis e com estabilidade politica cinzenta.

    Atualmente o Banco BRICS tem uma contaminação ruim, que creio ser temporaria, a Russia é um Pais sob sanções,

    fundos americanos  e europeus não comprarão bonus de um banco onde a Russia é sócia.

    Acredito que o Banco BRICS terá o destino da CAF, um banco regional de fomento que opera bem, está emprestando bastante no Brasil, já existe há mais de 30 anos, JAMAIS será um fator geopolitico.

    Aliás, o Banco BRICS nunca pretendeu outra coisa, só sonhadores estão de fora lhe atribuindo um papel de contestação ao sistema Breton Woods que nunca foi articulado como sendo seu alvo, mesmo porque os cinco BRICS são grandes parceiros do sistema Breton Woods, se propondo inclusive AUMENTAR suas cotas de capital no FMI e no Banco Mundial. Tampouco o Banco Brics se propos a criar uma moeda desafiante ao dolar, o Banco não será EMISSOR de moeda e nem será emprestador de crises cambiais, como o FMI.

    Quem viu esse papel no Banco não são seus padrinhos mas sim ativistas da esquerda anti-americana que estão sonhando com enfrentamentos que não tem nenhuma base, India e China são sólidos parceiros dos EUA e nem por sonho irãoconfrontar os EUA por razões ideologicas que nem existem na sua visão geopolitica.

    1. Enquanto a China continuar

      Enquanto a China continuar sendo uma usina de produção de reservas internacionais, e quanto mais os EUA encharcarem o merdado monetário de dólares, o ambiente será favorável à captação de recursos pelo Banco dos Brics. E não é necessário chegar a 2 trilhões no primeiro ano; isso não existe. Basta um crescimento de uns 10% ao ano acima dos 100 bilhões durante os próximos anos para o banco tornar-se uma potência mundial de financiamento do desenvolvimento. Paralelamente, o banco será um mecanismo suave de transferência do dólar para uma moeda comun como moeda de reserva internacional. Entretanto, em uma coisa você tem razâo: o poder de fogo do banco dependerá essencialmente da performarce dos países que o capitalizaram. Em uma palavra, o Brasil terá de voltar a crescer a taxas significativas se quiser fortalecer o Banco dos BRICS.

  2. J.Carlos, não sou economista,

    J.Carlos, não sou economista, mas num post anterior  defendi a posição  que esse fundo dos BRICS é formado por   dolares  retirados das reservas internaiconais, e podem ser acrescidas de acordo com o volume de emprestimos realizados. Fiquei na duvida, pois se a ideia é substituir o dolar como moeda em  transações, porque usar o proprio dolar como lastro.

    1. Banco Brics

      Creio que a saída do padrão dólar será necessariamente uma operação lenta; nenhuma das moedas dos BRICS, iinclusive da China, tem condições atualmente de atuar como moeda internacional plena.

  3. ótimo texto, mais um, do

    ótimo texto, mais um, do assis.

    como leigo, não entro em detalhes.

    mas o essencial nisso tudo,na minha opinião, é que

    é uma política em construção.

    sua virtude maior está neste ponto.

    se dará certo ou não, depende todos nós.

    da nossa construção como sociedade.

    por isso, gostei do final do artigo, onde assis coloca a

    reação dos conservadores retrógrados de sempre,

    que não admitem outra construção a não ser aquela de breton woods.

     

     

  4. Discussão besta

    Um acha que a China não será o novo império e o outro acha que a China não quer ser o novo império.

    Os dois deveriam passar um dia na Galeria Pajé e adjacências, conhecer o Xi Nelo e  Xu Pin, para ver como as coisas acontecem no mundo real.

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