Celso Furtado e o Ocidente em ‘State of Denial’, por Oswaldo Conti-Bosso

Caros geonautas,
O que penso sobre o ocidente em “state of Denial”, apontei em um texto de 03/10/2013, que a novidade no Ocidente era um Papa Latino “del fim del mundo”, como ele próprio se definiu. O Ocidente não pensa duas vezes para invadir e bombardear o mundo Árabe oriental, uma rotina dos últimos séculos, o ocidente continua em “State of Denial”.

Publicado em 

outubro 3, 2013

Celso Furtado e o Ocidente em ‘State of Denial’

(…) O Ocidente pode se tornar (novamente), uma sociedade covarde?

William Shakespeare, poderia dizer através da voz de seu personagem trágico, Othello Euro-Americano: “yes we can“.

Minha pequena contribuição e reflexão, um contraponto a revista The Economist dessa semana (como sempre, bom artigo), do mundo emergente para o mundo anglo saxão (Has Brazil blown it?):

Version in English: Celso Furtado and the Western Society on ‘State of Denial’

Celso Furtado ficou conhecido como o grande economista brasileiro, como muitos outros, eu tenho um entendimento diferente, Celso Furtado foi um grande pensador e filósofo social, da forma que ele mesmo se definiu em 1973 [*]. Celso Furtado formou-se na Escola de direito no começo dos anos 40, colocou a farda da Forças Armadas do Brasil, e foi lutar na segunda guerra na europa. E voltou da guerra querendo entender o mundo.

Para a geração do pós segunda guerra, ele é um economista no mesmo sentido que outros grandes pensadores em Economia Política, da mesma forma que Joseph Schumpeter, formado em Ciência Sociais no início do século XX e sendo professor em cadeira de antropologia na universidade, se tornou um pensador de Economia Política, da mesma forma que John Kenneth Galbraith, formado na Faculdade de Agricultura (1931) no Canadá, se tornou um pensador em Economia Política, assim como o já então famoso homem de negócios e famoso escritor após o tratado de Versalhes (1919), John Maynard Keynes se tornou um pensador em Economia Política após a grande depressão dos anos 1930. A geração conhecida como os economistas do século XX, como sabemos hoje, não era “Homo Economicus”, como Larry Summers e muitos outros que vagueiam por aí, mas grandes pensadores e filósofos sociais.

Celso Furtado, olhando para frente no horizonte de duas a três décadas no final do século XX, já vislumbrava e alertava-nos. sobre o futuro, entre Ocidente e o Oriente:

(…) “O interesse crescente pelos trabalhos científicos e suas aplicações tecnológicas é traço marcante da civilização ocidental. As grandes civilizações orientais haviam amealhado uma massa enorme de conhecimentos, mas não chegaram a captar as complexas relações entre conhecimento ordenado (ciência), a riqueza ordenada (bens e serviços), e a faculdade normativa de exercer o poder. Hoje, esse quadro já não é mais o mesmo: as posições de vanguarda do Ocidente na ciência e em suas aplicações, que o singularizaram até o fins do século XIX, esvaneceram-se nos últimos decênios do século XX. Com efeito, as projeções mais recentes a respeito da distribuição espacial dos frutos do desenvolvimento, tanto econômico como científico, indicam que nos próximos dois a três decênios o mundo Oriental terá alcançado, ou mesmo superado, o Ocidente.” (“A responsabilidade dos cientistas” – Discurso de Posse na ABL, 04 de julho de 2003 –  Celso Furtado Essencial, 2013 p: 489).

Qual a novidade no Ocidente hoje, desde o livro de Bob Woodward, The State of Denial (2006) – o pico do julgamento moral e ausência (vácuo) de poder do Governo Bush Jr. – derivando na grave crise de valores e na grande surpresa de um negro americano ser eleito para presidente dos EUA?

A novidade no Ocidente é um Papa Latino “del fim del mundo”, como ele próprio se definiu. É o primeiro Papa vindo da Companhia de Jesus, quase 500 anos depois de ser criada por Inácio de Loyola em 1534 e a bula papal em 1540. Chegou ao cume do poder numa instituição que tem quase 2000 anos. Instituição que tem história e cultura para dialogar com as culturas milenares da Ásia.

Nas últimas décadas, a igreja mostrou que tem um padrão (sinais aparente de não ser um mero acaso). Nos anos 70 a “fumaça branca” que saiu do chaminé na praça de São Pedro no Vaticano, elevou um Bispo do mundo comunista para ser Papa. Após o total fracasso da doutrina ( e da administração) do teólogo anglo saxão alemão, o consenso da igreja milenar é a aparente volta ao Concilio Vaticano II de João XXIII, com a chegada de um Papa latino “del fim del mundo”.

Um estudo quantitativo sobre demografia global, revista The Economist em 2010, quase uma década depois da análise qualitativa de Celso Furtado, mostra-nos que, em 2030, 85% da população global estará concentrado na Ásia, Àfrica e América Latina.

A revista The Economist estima que, por volta de três bilhões de pessoas acenderão a classe consumidora, um fato inusitado na história do mundo, quase 50% da população mundial se tornará classe consumidora.

Nesse sentido, o acordo comercial “rápido” (claro viés política, escondendo os fatos) entre América do Norte e União Europeia, que será apenas 15% da população mundial em 2030, aparenta ser um tiro no próprio pé, pior ainda, estão brincando com fogo, claramente estão sem visão de futuro, ou não sabem como encarar a realidade, jogando um perigoso jogo, tentando isolar a China. A secular questão geopolítica: Quem vai controlar o mundo e em quais termos?

Os jovens ir as ruas na Espanha, ou nos EUA (Occupy Wall Street), com total apoio da mídia global, não é a mesma situação dos jovens irem as ruas do Brasil e no mundo emergente.

No mundo dos países da OCDE, os jovens voltam para casa (eles têm onde morar), eles têm o que comer, se for inverno, eles tem aquecedor, se for verão, eles tem ar condicionado. Eles estão defendendo as suas conquistas maravilhosas da sociedade Ocidental, após segunda guerra.

No Brasil e nos países emergentes é o contrário, é conquistar uma qualidade mínima e digna de vida que nunca tivemos em nossa história.

O Brasil tem um divisor de água em sua história, a Constituinte de 1988, nesse sentido, nos últimos dez a vinte anos, mais de 40 milhões de pessoas acenderam a nova classe consumidora – “Classe média”: (indicadores gráficos do Brasil nos últimos 25 anos)

Eu pergunto, o que será o mundo Ocidental (EUA e EU), com uma nova classe consumidora mundial com três bilhões de pessoas vindo da Ásia, África e América Latina?

Duas décadas atrás, a soma do PIB nominal entre EUA e U.E era de quase 70%, hoje está por volta de 50%, a tendência é claramente de declínio: Em 2030 será quanto: 30%, ou 20%? E em 2050?

A forte impressão que paira no ar da sociedade ocidental, que ainda não entendeu , ainda não assimilou a maneira e o tempo de pensar da cultura milenar do povo chinês, como a famosa resposta de Zhou Enlai, a pergunta de Henry Kissinger, no início dos anos 70´s:

Henry Kissinger perguntou ao primeiro ministro da China, Zhou En Lai:
– Qual a sua opinião sobre a revolução francesa (1789)?
A resposta de Zhou EnLai:
– “Ainda é muito cedo para dizer”.

A Sociedade Ocidental, o stablishment da sociedade ocidental, em completo ‘State of Denial’. E isso não é um sinal bom, muito pela contrário, a história mostra-nos, que é um jogo muito perigoso.

Herodotus, considerado o pai  da história, disse-nos, à XXV séculos atrás (calendário Ocidental):

A história é marcada por movimentos alternados através de uma linha imaginária que separa o Ocidente (West) do Oriente (East) na Eurásia.”

A linha imaginária no terceiro milênio, não é mais somente entre Ocidente e Oriente na Euraria, mas um linha planetária e global, que engloba a África e a América Latina “del fim del mundo“.

O Ocidente pode ser tornar (novamente), uma sociedade covarde?
William Shakespeare, poderia dizer atraves da voz de seu personagem trágico, Othello Euro-Americano: “yes we can“.

Parafraseando a questão conservadora americana, “acorda América”, para a nova linha imaginária planetária: acorda cidadãos do mundo!

[*] (..) “Quando finalmente comecei a estudar economia de modo sistemático, aos 26 anos, minha visão do mundo, no fundamental, estava definida. Desta forma, a economia não chegaria a ser para mim mais que um instrumental, que me permitiria, com maior eficácia, tratar problemas que me vinham da observação da história ou da vida dos homens em sociedade. Pouca influência teve na conformação do meu espírito. I nunca pude compreender um problema estritamente econômico. Por exemplo: a inflação nunca foi em meu espírito outra coisa que a manifestação de conflitos de certo tipo entre grupos sociais; uma empresa nunca foi outra coisa que a manifestação do desejo do poder de um ou vários agentes sociais, em uma de suas múltiplas formas etc.” (Aventures dúm économiste brésilien”, Revue Internationale de Sciences Sociales, Paris, Unesco, v XXV, n. 1/2, 1973. Celso Furtado Essencial, 2013, p:45).

Blog Engenho Network: https://engenhonetwork.wordpress.com/2013/10/03/celso-furtado-e-o-ocidente-em-state-of-denial/

 

 

Redação

3 Comentários

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  1. CELSO FURTADO: ECONOMISTA BRASILEIRO

    No começo da minha época universitária, 1967, a economia era ainda uma ciência social. De fato ela ficava na faculdade de ciências sociais e não na faculdade de engenharia, como hoje. A economia seguia padrões sociais em apoio a instituições como CEPAL, FAO, ONU e outras. Os indicadores econômicos de cada país eram avaliados e melhorados gradativamente, em função do bom uso da atividade profissional do “economista”. A economia era planejada em beneficio de cada nação. Celso Furtado era dessa velha escola.

    No final dos anos 60 houve uma mudança nos programas, ao ponto que a economia passou se a chamar Engenharia Comercial (Chile), com ênfase em Administração ou em Economia. Esta carreira entrou na faculdade de engenharia.

    Não faço juízo de valor sobre o assunto, mas apenas comento que a economia passou a desvincular-se da sociedade. Esse contingente de novos economistas foi inicialmente chamado de “Chicago boys” (pela influência da escola de Chicago) e tomaram conta da economia chilena, com ênfase em economia global. O VPL de projetos individuais começou a ser mais importante que os indicadores de desenvolvimento da sociedade como um todo. Num episódio de baixa do preço do leite, o ministro da época (Chicago boy) falou: “comam-se as vacas”.

    Em suma, acho que o mérito principal de um bom economista é a sua capacidade de planejar e encontrar caminhos e soluções para nossa sociedade, e que acabam gerando riqueza para a nação, distribuídas para todos os seus habitantes. Esses sucessos seriam aplaudidos pela sociedade como um todo.

    O antigo economista planejador é agora um avaliador de lucros individuais, assim como o médico sanitarista de ontem é hoje o emissor de receitas e de exames em laboratórios conveniados (conveniados com ele!). Esses exemplos representam apenas uma parcela das mudanças globais que afastaram ao Brasil do caminho de desenvolvimento autônomo como nação.

  2. ótimo   artigo para

    ótimo   artigo para compreender esse estado de negação

    permanente em especial da grande mídia catastrofista,

    grande mídia -pig -,que ancora irteresses escusos e golpistas, notadamente

    conservadores do patrimonialismo ancestral brasileiro,

    grande mídia que ancora interesses inomináveis dos atuais financeirizadores

    da economia, dos monopólios e oligopólios internacionais inclusive

    os midiáticos, todos pelo jeito mancomunados com os tucanos

    e partidos identificados com o mesmo esquema (criticado neste aritgo).

    grande mídia que ancora ainda interesses coronelísticos

    que pretendem paralisar o governo, isto é,

    paralisar os avanços progressisas dos últimos doze anos.

    grande mídia que dá sinais de exaustão, ao demitir

    profissionais nos últimos dias.

    por causa dessa política burra de tentar impedir a

    inclusão social, que, no fundo, a beneficiaria.

    a grande mídia, como esses interesses que representa,

    deu e dá o tiro no pé, ao tentar afogar os que poderiam ser a sua salvação.

    são uns idiotas  alçados à ondição de ventríloquos da sua própria destruição.

     

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