De volta à ideia anacrônica dos superministérios

A ideia aventada por Michel Temer, de concentrar seu governo em três superministérios, tem a marca indelével e o pensamento anacrônico de José Serra. É a mesma visão disfuncional de Fernando Collor, quando criou um superministério da Infraestrutura e paralisou a administração.

Há décadas a gestão moderna tornou anacrônica a ideia de que concentração de ações leva à racionalidade administrativa. Pelo contrário, emperra a máquina, limita a inovação nas diversas áreas, tira a flexibilidade da administração, ainda mais na gestão pública, muito mais complexa que na gestão privada.

Cada vez mais a gestão moderna se faz de forma horizontal, flexível, permitindo a cada célula organizar a melhor maneira de desenvolver seu trabalho e de se relacionar com seu público, e de interagir com os demais departamentos e/ou ministérios.

No caso de governos, que necessitam se interagir com todos os segmentos sociais, e cuja atuação não pode ser padronizada – como no setor privado -, a flexibilização é mais necessária ainda.

Foi o que ocorreu na era Lula, com cada Ministério dotado de autonomia para criar, para estabelecer as relações com o meio social ou econômico representados. A articulação entre os Ministérios se dava nos conselhos ou câmaras setoriais, nos quais os Ministérios horizontais – em geral aqueles ligados à área social – conseguiam inserir suas prioridades nas ações do Ministério responsável por cada programa. Tudo sob a coordenação do presidente.

A cabeça de Serra não saiu dos anos 80, inclusive por razões políticas: centralizando, todos os setores têm que pedir a benção e passar pelo comando único. E o superministro fica imune a críticas à sua atuação e acaba criando feudos, nos quais a lealdade se deve a ele, não ao projeto ou ao presidente.

 

 

 

 
Luis Nassif

22 Comentários

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  1. O único conforto tirado
    O único conforto tirado daquele show de horrores no domingo:
    O governo Temer implodirá mais rápido do que imaginamos.

      1. O Partidão disse a mesma

        O Partidão disse a mesma coisa em 64. É melhor sermos realistas e pensarmos em estratégias e não em paralisia. O PT segue parece o modelo de Getulio, ficar aguardando até que os adversários errem. Às vezes eles não erram e aí quem erra somos nós.

  2. Será que o PT e Dilma não

    Será que o PT e Dilma não enxergam que a única possibilidade de ela não deixar o poder para Temer e vingar a traição dele é ela dizer que deve haver eleições para presidente esse ano e que para isso já há lei = renúncia do presidente e do vice. Ela anuncia que está com a carta de renuncia pronta e agora só restar temer fazer isso. No momento em que ela fizer isso, temer derrete que nem vampiro ao sol. E ainda, com eleições diretas, há uma chance de lula voltar. É difícil, mas há. Mas parece que o autismo político de Dilma contaminou parte do pt 

    1. Não concordo. Pode ser

      Não concordo. Pode ser autismo, mas não sou do PT. Nada garante que Temer iria renunciar. Aliás, tudo aparenta o contrário. Ele iria era rir muito. E deus nos livre de alguém ler uma carta de renúncia do Temer. Uma eleição direta só para presidente é ultrajante com meu voto, se não englobar eleições para o congresso. Não serve de nada. E se englobar, mas ainda sob o domínio do financiamento privado, só haverá política na lama (ou no fisiologismo da tal coalização coercitiva). Dilma resiste e não governa. Dilma registe e é golpeada. Dilma dexiste e deixa os urubus exaltando as ostras.  

  3. Outro exemplo de concentração no governo Collor

    Collor assume em 15 de março de 1990, com a inflação na casa dos 90% …ao mês!. Desde a eleição, no longínguo 17 de dezembro de 1989, comércio e índústria iniciam uma espiral de remarcação desenfreada dos preços, pois todos sabiam que haveria um pacotaço para conter a inflação. E quem estava no comando do poderoso SUPERMINISTÉRIO DA ECONOMIA, FAZENDA E PLANEJAMENTO (fusão da Fazenda e Planejamento)? Uma inexperiente acadêmica de 36 anos de idade – repetindo 36 anos de idade, A SUPERMINISTRA Zélia Cardoso de Mello. Sem esquecer de um presidente do Banco Central que não dominava o português. Desastre ferroviário foi pouco. 

  4. Mas em compensação a

    Mas em compensação a centralização do poder em mãos de poucos vai dar uma propina! Já começou: pelo jeito o Temer não quer dividir com muita gente o butim Brasil.  

  5. Molhados sonhos de Serra:

    “E o superministro fica imune a críticas à sua atuação e acaba criando feudos, nos quais a lealdade se deve a ele, não ao projeto ou ao presidente”

  6. De volta à idéia anacrônica dos superministérios

    Meu caro Nassif,

    Concordo em número e grau com a sua afirmação. Na administração moderna, seja na empresa privada ou na administração pública, o modelo horizontal é o mais adotado e aconselhado pelos consultores e especialistas em gestão. 

    No caso da gestão pública, ela deve ser enxuta, mas não a ponto de concentrar tudo em poucos ministérios, secretarias ou módulos gerenciais, tipos gerências. Creio que, em caso de novo estudo ou proposta de organograma da Administração Pública Federal, deva-se considerar não no número atual dos ministérios, mas sim nas principais atividades que a sociedade brasileira demanda.

    Isso é difícil, pois qualquer governo no sistema presidencialista, o gestor nacional vai priorizar os acordos políticos em primeiro lugar. E haja ministérios para a fome desses parceiros!      

  7. Mas como assim?

    Naquilo que se refere à administração pública, temos de partir do princípio de que políticos, indicados, nomeados, apoiadores e compradores de cargos não conhecem absolutamente nada à respeito dos cargos que se propõe ocupar.

    São politicamente fortes mas técnicamente raquíticos. Cercar gente assim de técnicos gabaritados é a receita para que aconteçam frequentes embates que nunca podem ser resolvidos, pois aquele a quem cabe julgar e decidir não é suficientemente versado na matéria sequer para ser convencido.

    Nos governos Lula e Dilma muito disso se fez. Foram nomeados os ‘camaradas’, os ‘companheiros’. E o resultado é esse país medíocre e endividado que temos hoje em dia.

    Não é porque uma ideia foi amplamente utilizada nos anos 80 que ela é necessariamente ruim ou obsoleta.

    Ronald Reagan, um mero ator de cinema, fez um ótimo governo cercando-se de técnicos competentes. Dilma faz um péssimo governo cercando-se de idiotas, idiotas horizontais, que não tem sequer o respeito de seus comandados.

    E é por isso que o PT não pode ser governo. Não se governa um país cercando-o de ministros venais, ignorantes e corruptos. Há que recorrer aos técnicos, altamente qualificados, daqueles que quando falam sobre seus assuntos fazem todo o resto do país calar a boca.

    Aliás, nestes nossos tempos, há gestão participativa demais, há horizontalidade em excesso. Seria bom que revivessemos a boa e velha hierarquia, fundamentada no respeito ao conhecimento.

    Fora com os ‘boca de cachaça’. Por gente competente no governo!

     

    1. Técnicos?
      Amigo desculpe a discordância, mas os senhores Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveja eram excelentes técnicos, funcionários de carreiras e deu no que deu. Nem 8 e nem 80.

    2. Cheiro de propaganda

      É você, Serra?

      Seu comentário cheira demais a propaganda da suposta “competência tucana” e sua capacidade técnica assombrosa.

      Mas fora da blindagem midiática não funcionou tão bem assim, não?

       

       

       

       

  8. Modelos x Pessoas

    No fundo, o sucesso de um modelo de gestão tem muito a ver com as pessoas que o executam. Então eu não descartaria a ideia dos superministérios assim tão automaticamente. O fato é que há setores em que uma sinergia entre as ações seria muito bem-vinda – por exemplo, unindo-se os ministérios de transportes, portos, aviação civil e comunicações. Estou totalmente de acordo com a gestão horizontal mas, olhando dentro dos ministérios, isso não podia estar mais longe da realidade, dado que muitos ainda possuem hierarquias altamente burocráticas dentro deles.

    Além disso, não custa olhar ao nosso redor e perceber que a maioria dos países desenvolvidos possui de 15 a 20 ministérios. Temas como cultura, turismo e esportes não costumam ser assunto de pastas ministeriais. Por que só o Brasil tem que ser diferente?

    Por último, não vejo como o Temer vai conseguir conciliar o desejo de um ministério “enxuto” e “técnico” com as já crescentes demandas dos apoiadores do impeachment. Então, apesar de ver com bons olhos a proposta de enxugamento, não acredito que ela realmente vá para a frente …

  9. Irônico que  a presidente que

    Irônico que  a presidente que está caindo por (entre outras razões), ser a única ministra-de-fato do país (superministra-superpresidente) tenha como modelo substituidor o de outros superministros.

    Serra e Dilma em 2010 acabaram sendo a escolha entre centralismo e mais centralismo.  Na época a gente sabia o que Serra seria, mas ignoravamos o que Dilma viria a ser, já que, naquele momento, ela não era nada.

     

     

     

  10. Como sempre digo…

    A nossa “elite” é de uma burrice gigante.

    O Nassif está de acordo com o que há de mais moderno em gestão e, principalmente, em inovação.

    O modelo de pequenos grupos independentes e comunicativos parece estranho, mas é como as sociedades “dominadoras”  evoluíram e passaram por cima das sociedades “dominadas”, funcionando quase como uma seleção natural.

    Parece estranho, brutal, mas o livro “Armas, Germes e Aço” está cheio de evidências sobre isso. É assim que se evolui.

    Mas os “intelectuais” brazucas jamais lerão e entenderão um livro como esse. Já o Bill Gates…

  11. É proposital

    A idéia é tornar o Estado completamento inoperante para corroborar o discurso da necessidade de privatizar e assim dar de mão beijada nacos dos serviços e riquezas aos cupinchas e ‘colaboradores’; mas os impostos aumentaram e serviram para sustentar as agências controladoras que serão criadas, como, por acaso, já fizeram em passado recente. 

  12. Nassif, vejo com profunda

    Nassif, vejo com profunda tristeza a inépcia de partidos (teoricamente) progressistas em relação a construção de uma consciência social mais prática. Eles seguem a lógica comum de aumentar filiações e candidaturas por conta da regra proporcional, meio que se satisfazendo com a natural simpatia rebelde/juvenil de estudantes, principalmente da área de humanas. Assim deixam de preencher uma imensa lacuna, gradativamente ocupada por uma ‘nova medieval cruzada religiosa’, nas periferias.

    Há muito já se poderia ter feito um trabalho de conscientização nas comunidades, no sentido de ensinar como exercer realmente a cidadania. Esclarecer coisas como; o que esperar de um vereador, quais suas principais funções, qual a melhor forma de cobrar e pressionar (principalmente aqueles pertencentes a comunidade), o que exigir do prefeito, quais demandas locais já tem projetos previstos e não entraram em execução. Esclarecer que a política não deve ser pensada como forma de solução de problemas individuais, mas como forma de melhorar o ambiente de convívio e de disponibilizar oportunidades mínimas de evolução individual e coletiva. Enfim, fazer política sem ter o voto como fim, mas como meio, preparando as comunidades para se libertarem do fisiologismo.

    Mas, infelizmente, o que se faz, talvez apenas com pouco mais de recato, é travar as mesmas disputas, de apoio e de voto, dentro das ‘regras’ de fisiologismo vigentes. Não entendem que, assim, quase nenhuma diferença de intenções aparecerá na percepção dos diversos grupos sociais envolvidos.

    O PT é exemplo maior, acredito, de que um falso pragmatismo dominou o pensamento de grande parte desta corrente, com a justificativa de que há premência na necessidade e que pra mudar tem que se chegar rápido ao poder, lá permanecendo o maior tempo possível, seja a que custo for (eis aí os Cunhas, Temers e Renans). Esta visão fracassou.

    As correntes progressistas precisam entender que, para conseguir um processo de transformação realmente libertadora, far-se-á necessária uma mudança de comportamento significativa, que anule de vez, no imaginário popular, a cultura do mito, da personificação. Que se crie, de forma ampla e permanente, a consciência de que a salvação jamais se dará pela voluntariedade de um São Jorge, mas pela participação coletiva de todos os candomblecistas. Que se crie uma nova cultura, a da ‘oxigenação’ representativa, onde a sociedade, de forma descentralizada, possa definir primeiro suas demandas, para depois eleger seus representantes, que jamais poderão ser permanentes, extirpando de vez a figura do político vitalício e hereditário.

    Mas, para que isto seja possível, todo sentimento egocêntrico, carreirista deverá ser enterrado, abrindo espaço para uma visão holística da sociedade e para uma postura realmente idealista, comprometida com a longa, longa, caminhada que se fará necessária, né não?

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