Delfim Netto: desenvolvimento econômico não foi fruto de nenhum milagre

Da Carta Capital

Renda e desigualdades
 
O desenvolvimento econômico do País não foi produto de nenhum milagre, e sim do trabalho duro dos brasileiros
 
por Delfim Netto 

Nunca houve “milagre brasileiro”. Essa é uma expressão inventada pela oposição, que não acreditava e continua não acreditando no Brasil. O que aconteceu nos períodos de maior crescimento do século XX foi que os brasileiros tinham confiança nos governos e trabalharam duramente para conseguir uma melhora importante no desenvolvimento econômico. A distribuição de renda não melhorou, mas todos aumentaram os rendimentos, uns mais do que outros.

Esses são exatamente aqueles que tinham sido privilegiados com educação superior e que foram beneficiados com uma demanda que cresceu enormemente no processo de desenvolvimento. No início da segunda metade do século passado, existia um “exército industrial de reserva” enchendo o primeiro decil (os 10% mais pobres), enquanto era muito restrito o número de pessoas no décimo decil (os 10% mais ricos). Nos sete anos (1967/1974) em que a taxa de crescimento do PIB, acima de 10% ao ano, estimulou a história do “milagre”, houve uma ampliação da distância entre o rendimento das pessoas com os melhores níveis de escolaridade e as mais pobres que não tinham tido os benefícios da educação universitária.

É preciso não esquecer que a economia brasileira teve um desenvolvimento importante, iniciando em 1950 e crescendo a 7,5% ao ano durante 32 anos seguidos, com períodos variáveis de pequenas melhorias dos índices de desigualdade entre as pessoas, mas principalmente entre as regiões. Tudo isso deve ser considerado fruto de um “milagre”, efeito sem causa, ou é mais razoável reconhecer que foi produto do trabalho duro, árduo, dos brasileiros?

Distribuição de renda não é sinônimo de felicidade. Distribuição de renda também não é sinônimo de bem-estar. Pode haver o crescimento de todos e, desde que os benefícios sejam proporcionais, já se teria a mesma distribuição de renda. Naquele período chamado de “milagre”, o exército de reserva que estava desempregado passou a ter oportunidade de trabalhar. Foram criados 15 milhões de novos empregos, parte deles ocupados inclusive pelos privilegiados que tinham feito a universidade e cuja demanda era muito mais alta. O crescimento dos salários era diferente e, portanto, a distância entre as pessoas aumentou. Isso não significa que a insatisfação no último decil tenha aumentado ou que os trabalhadores mais pobres tenham sido prejudicados.

Os que tinham bons salários melhoraram depressa. Exatamente a situação oposta que está sendo corrigida hoje, quando não se tem mais aquele exército de reserva e se fez uma política aumentando a correção do salário mínimo. O crescimento hoje da renda dos grupos mais pobres é maior do que a dos demais, o que dá o conforto de que está diminuindo a distância que separa o rendimento das pessoas. O índice de distribuição de renda é medida de distância entre as pessoas, não é medida de bem-estar. Acontecendo um aumento de distância, as pessoas sentem-se um pouco pior do que sentiriam se a distância estivesse diminuindo.

Quando se comparam as políticas atuais com as que se praticavam nas décadas de 60 e 70 do século XX no Brasil, vê-se que não há nenhuma relação entre o mundo atual e o mundo de 1969, por exemplo. Naquela época, a própria política econômica era totalmente diferente e não somente entre nós, mas na grande maioria dos países, incluindo os mais desenvolvidos. Era comum o recurso a políticas de renda que recomendavam o combate à inflação mediante o controle de preços e da renda dos salários.

Prevalecia um keynesianismo de “pé quebrado” que estava sendo usado nos Estados Unidos, na Europa inteira e em todos os países emergentes, em apoio a políticas que depois se provaram muito ruins. O que se pode comparar entre essas épocas, então, é o seguinte: no Brasil trabalhava-se muito mais e com melhor orientação do que atualmente, e é por isso que as taxas de crescimento são diferentes.

De forma que não se pode atribuir o desenvolvimento brasileiro a nenhum “milagre”. O que houve foi muito mais trabalho do que hoje.

 

Redação

13 Comentários

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    1. A Gloriosa enten seu o seu


      A Gloriosa enten seu o seu papel, produizir o bolo. Já distribrui seria com esquerda, mas não podeiria ser uma qualquer, como a  mata elite de fome  e fica com tudo só para si.  Por isso, hoje se vive essa maravilhosa distribuição de renda, 10% de aumento da bolsa famíla e aumento do salário mínimo.

  1.  
      DElfim é o máximo dos

     

      DElfim é o máximo dos  máximos da economia brasileira.Hohe mesmo ele sugere o voto distrital na Folha.

                Que é o mais coerente.Mas o PT quer voto em lista. É de lascar ,não é?

                 Sem partidarismo,é público e notório que o PT convive com ”normas” de 40 anos passados.

                 Mas nem é disso que quero falar.

                  Vejamos o caso de Janio de Freitas: Ele escreve 3 colunas semanais pra Folha.TOTALMENTE fsvorável ao PT suas colunas são publicadas neste blog.Mas quando há uma mínima das mínimas divergências( raramente) sobre o partido, ele não é Post.

                   Interessante,não?

               Ou seja: Coloque todas as colunas de Janio ou nenhuma.

  2. É piada, não é?
     Milagre

    É piada, não é?

     Milagre econômico foi expressão usada correntemente por toda a imprensa. Se fosse obra da oposição o governo não teria deixado a imprensa adotá-la. Ademais a conotação era, sem margem para dúvidas, positiva, ufanista, nada que interessasse a oposição. É claro que a expressão foi cria da situação. Na mesma época, nas rádios ouvíamos a musiquinha que afirmava em sua letra: “Esse é um país que vai pra frente, etc,etc”, que vibrava no mesmo diapasão “brasil grande” do milagre econômico do Delfim.

  3. O capitalismo no século do débito-crédito sem capital verdadeiro

    O Bill Bonner têm uma visão única da fraude do dinheiro no sec. XXI e suas implicações na economia e na política.

    Infelizmente em Inglês, mas vale pela lógica impecável que prova por A + B que não é o capital oriundo do trabalho humano acumulado por gerações que cria as inequalidades atuais, é o falso capital que captura as riquezas de forma desonesta, mes leiam o que ele, de forma brilhante como sempre, escreve:

    Criminals, Chiselers and Con Artists

    Piketty’s gripe, as near as we can determine, is that the rich get richer – especially when economic growth rates are low. And that capitalism can lead to extreme wealth inequality.

    Economic growth rates have been trending downwards for the last 40 years or so. And the average annual wage, adjusted for inflation, has stagnated. But Piketty claims the average annual rate of return on capital (from profits, rents, dividends, interest, royalties, etc.) has remained robust. As a result, private capital has grown as a percentage of national income. And, the rich have gotten richer. Of course, there are many reasons for this – some innocent, others corrupt.

    We will not bother with the innocent ones. Criminals, chiselers and con artists are more revealing and entertaining. And just to make it more interesting, we will name names. In the 1970s – after President Nixon moved the world onto a purely fiat-based money system – the US economy was kissed by the magic of easy credit.

    Poof!

    It was transformed from a handsome prince… into a toad. It used to be an economy where people earned money by making things for people who could afford to buy them. It became an economy of people who lent money to people so they could buy things they didn’t need with money they didn’t have.

    Piketty thinks he is criticizing capitalism. But after the 1970s, real capital played a smaller and smaller role. It was replaced by credit and its sinister twin: debt.

    The r in Piketty’s now famous annotation r > g (where r stands for the average annual rate of return on capital and g stands for the rate of economic growth) is supposed to represent the return on capital investment.

    But where did the wad come from?

    Savings rates went down. Real earnings went down. Growth rates went down. So how could there be more capital available and how could it produce higher rates of return (compared to economic growth)?

    Distortions and Delusions

    The whole thing is a headache for a thoughtful man. Capital investments with no real capital behind them. Profits that outstrip the economic growth from which they must come.

    What to make of it?

    We don’t dispute the basic fact: that the rich are getting richer. And that they are doing so by getting their hands on capital (something we believe is a damn good idea, especially for anyone hoping to build serious wealth).

    For years, we’ve been complaining about the distortions caused by central banks. Rewarding the asset-owning classes (the rich) is just one of them. You could add: creating market bubbles, depressing middle-class incomes, increasing debt levels, misallocating resources to worthless, wealth-destroying activities, allowing government to avoid serious budget control, financing monster houses coast to coast… and our own personal favorite – putting dorky economists in positions of immense power and status.

    And now we even have dorky economists with No. 1 bestselling books. What next?

    Revolution! At least, that is what you might think if you listen to Piketty. He thinks r will continue to outpace g. And the natives will get restless.

    The “market economy, if left to itself, contains powerful forces of convergence in the distribution of wealth,” he explains. But “it also contains powerful forces of divergence, which are potentially threatening to democratic societies and to the values of social justice on which they are based.”

    A State Based on Fraud

    Once again, Piketty misunderstands the modern, democratic state. It is not based on real social justice. It is based on fraud.

    The masses are told they control the government. And although the masses busy themselves with reading the newspapers, arguing about Obamacare and voting, the elites profit from bailouts, zero-interest-rate policies, subsidies, tariffs, sweetheart loans – you name it.

    That is how the rich really got so rich… with the eager connivance of the authorities.

    And now Piketty concludes that the forces of “divergence” (of wealth) are likely to be much more powerful in the 21st century and that someone needs to do something about it.

    Who? The same authorities who distracted the public while the elites picked their pockets!

    Until 1968, the Fed was required to maintain 25 cents worth of gold for every dollar in circulation. Then in 1968, under President Johnson, that requirement was scrapped. Thenceforth, there was no limit to the amount of cash and credit in the system.

    In 1971, under President Nixon, the US reneged on its commitment to pay off foreign-held debt in gold. Now, there was no limit to the amount of debt Americans could run up abroad. Instead of paying their bills in gold, they could just pay in dollars, which are essentially more debt instruments (although with zero maturity).

    In 1987… and again in 2000… Alan Greenspan showed that the Fed would not permit a serious correction. When a credit contraction threatened, the Fed came up with more credit on easier terms.

    By 2007, under the leadership of Ben Bernanke, the Fed was fully committed to credit expansion forever. Milton Friedman had convinced Bernanke that the Great Depression was caused by a shrinking supply of money and credit. Bernanke saluted Friedman with: “We won’t do it again.” Thanks to these numbskulls – and many others – real capital disappeared from the capitalist system. It was replaced by what Sisson called “a fictitious money” causing a “monstrous aberration.”

    That is what we live with today. It was caused by the feds. They will continue making it worse… until the whole dreadful system blows up.
     

  4. Esperar o bolo aumentar para dividir

    Este não foi o gênio que quis convencer o povo (e não conseguiu) de que para o Brasil ter sucesso deveriamos esperar o bolo crescer para depois dividí-lo?

     

    A unica coisa que aconteceu foi o povão pagou a conta do bôlo e os mais ricos comeram-no todo!

    E ainda dão espaço a este canalha da época da redentora? Ele foi o que de pior existiu naquela época e para mim até hoje!

    1. Se o sistema aqui não dmente

      Se o sistema aqui não dmente para isso, eu iria anexa parte da entrevista do Sarney, FUI ELEITO PARA SER DEPOSTO, FOLHA,  da alegria com que Golbey sentiu com o florescer da nova esqueda no ABC, pois essa, como se cumpriu seria a responsável pela divisão do bolo, dado que, as demais esquerda sempre quiseram era roubar tudo da elite e ficar para si.  Por isso, Golbey sempre disse que Lula seria o maior presidente do Brasil e quando delfiniano ria disto por achar que Lula não saberia administrar e fazer as contas de  uma quitanda, esse dizia que o milagres de Delfim não demoraria uma década, enquanto Lula, mas do que salvar o Brail da maior crise econômica da história, seira a única referência para salvação do  mundo nesse tema.

  5. 0 meu Brasil está bem…
    Observamos que somente uma minoria reclama de tudo e de todos, acredito que seja apenas 1 % da pop brasileira. O restante dos 200 milhões estão satisfeitos com seus Brasis, pois reelegem prefeito, governadores e presidentes…e não estão nem aí, não tem tempo, são produtivos, prósperos e felizes.
    O meu Brasil está cada vez melhor…Ando no contrafluxo do transito, formei-me em universidades públicas, tenho pouquíssimos impostos,só vivo estudando, trabalhando, casei três vêzes,tenho 6 filhos com casa próprias sem aporriaçao… deixa bater na madeira….Os que elogiam o Brasil no exterior possuem 4 letras no nome…Pô eu sou americano há 20 anos nesse paraíso. Não se quiserem o EUA compra esse pais.

  6. 0 meu Brasil está bem…
    Observamos que somente uma minoria reclama de tudo e de todos, acredito que seja apenas 1 % da pop brasileira. O restante dos 200 milhões estão satisfeitos com seus Brasis, pois reelegem prefeito, governadores e presidentes…e não estão nem aí, não tem tempo, são produtivos, prósperos e felizes.
    O meu Brasil está cada vez melhor…Ando no contrafluxo do transito, formei-me em universidades públicas, tenho pouquíssimos impostos,só vivo estudando, trabalhando, casei três vêzes,tenho 6 filhos com casa próprias sem aporriaçao… deixa bater na madeira….Os que elogiam o Brasil no exterior possuem 4 letras no nome…Pô eu sou americano há 20 anos nesse paraíso. Não se quiserem o EUA compra esse pais.

  7. 0 meu Brasil está bem…
    Observamos que somente uma minoria reclama de tudo e de todos, acredito que seja apenas 1 % da pop brasileira. O restante dos 200 milhões estão satisfeitos com seus Brasis, pois reelegem prefeito, governadores e presidentes…e não estão nem aí, não tem tempo, são produtivos, prósperos e felizes.
    O meu Brasil está cada vez melhor…Ando no contrafluxo do transito, formei-me em universidades públicas, tenho pouquíssimos impostos,só vivo estudando, trabalhando, casei três vêzes,tenho 6 filhos com casa próprias sem aporriaçao… deixa bater na madeira….Os que elogiam o Brasil no exterior possuem 4 letras no nome…Pô eu sou americano há 20 anos nesse paraíso. Não se quiserem o EUA compra esse pais.

  8. Que desenvolvimento? Os

    Que desenvolvimento? Os indices os numeros que constam dos graficos economicos, apenas indicam que foram realocados, não existiu desenvolvimento algum que possa ser efetivamente identificado na realidade da sociedade brasileira, e isto desde sempre, os ultimos governos depois da ditadura, repetiram a mesma politica que favorece as elites em detrimento dos interesses da nação.

    Governos populistas e os sindicatos criaram leis que em sintese seriam boas se não fossem utilizadas pela politica de froma demagogicas para permanecerem no poder.

    A  CLT de Getúlio, consolidou as leis trabalhistas e unificou a legislação, os sindicatos pressionaram pela melhoria das condições da relação patronal com os empregados. Porem, as manipulações dos avanços em proveito proprio, tanto politico qto pessoal, fizeram que o Brasil perdesse a maior parte dos beneficios que pudesse ter vindo destes avanços.

    A informalidade do trabalho continua prevalecendo, independente dos programas assistencialistas a exclusão social e cultural é extremamente alta.

    O Brasil é a sétima economia no mundo e a octogésima em distribuição da riqueza.

    Que desenvolvimento é este?

    A última edição da revista The Economist traz uma reportagem bastante crítica ao mercado de trabalho no Brasil e em especial à produtividade dos trabalhadores. Com o título Soneca de 50 anos, a reportagem diz que os brasileiros “são gloriosamente improdutivos” e que “eles devem sair de seu estado de estupor” para ajudar a acelerar a economia.

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