Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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O politicamente incorreto dos anos 80 e 90 moldam séc. XXI, por Wilson Ferreira

Dez evidências de que o politicamente incorreto dos anos 80 e 90 moldou o século XXI

Nos anos 80 e 90 parecia que tudo era permitido: de apresentadoras de programas infantis da TV em trajes sumários a matinês com centenas de meninas rebolando tentando imitar os passos da banda “É o Tchan”. Tudo isso interrompido por intervalos publicitários onde marcas de chocolate eram associadas a meninos vencedores que conquistavam muitas namoradas. Essas décadas “politicamente incorretas” marcaram a infância e adolescência da chamada Geração Y, cujos membros são os líderes de opinião na atualidade. Qual a parcela de contribuição dada por essa cultura supostamente permissiva para a atual visão de mundo dessa geração? Foram décadas que, vistas pelo olhar politicamente correto atual, brindaram-nos com produtos culturais que sugeriam erotização precoce, pedofilia e exploração sexual em plena mídia de massas.  A partir de uma lista de dez evidências de uma época onde “tudo era permitido”, vamos tentar encontrar influências da infância politicamente incorreta na mentalidade atual da Geração Y.

Apresentadoras de programas infantis em trajes sumários apresentando bandas de hits com refrões de gosto duvidoso; nos intervalos publicitários, comerciais mostrando crianças ostentando orgulhosamente produtos e ridicularizando o telespectador-mirim que ainda não os compraram;  anúncios publicitários que comparavam uma boa apólice de seguro com um uísque de qualidade que lhe dá um ótimo dia seguinte; matinês em casas de shows onde meninas levadas pelos pais rebolavam sensualmente ao som da banda É o Tchan; comerciais infantis associando um chocolate com as conquistas amorosas em série em um acampamento cheio de meninas, etc.

Estamos falando das décadas de 80 e 90 que, para o nosso olhar atual globalizado e sensível a questões éticas e morais, foram épocas decididamente politicamente incorretas. São décadas que marcaram a infância e adolescência da chamada Geração Y – conhecida também como “geração do milênio” ou “geração da Internet”, nascidos após 1980 e, segundo outros, em meados dos anos 1970.

Uma geração que se desenvolveu no Brasil numa época de grandes avanços tecnológicos em ambientes altamente urbanizados. Mas também cresceu assistindo a uma indústria de entretenimento que irradiou uma cultura que hoje é celebrada em festas retro temáticas com os “trashs dos anos 80 e 90” – um mix de criações publicitárias politicamente incorretas com programas infantis de TV precocemente erotizados. 

Geração Y: uma geração tecnológica moldada
pelo politicamente incorreto?

E também uma geração que chegou à idade adulta e se tornou líder de opinião através de redes sociais, blogs, sites da Internet, assim como editores, artistas e apresentadores de TV.

Em que medida essa cultura politicamente incorreta dos anos 80 e 90 participou da formação da visão de mundo da Geração Y? 

Flávio Lico, educador e fundador da Avenca Consultoria Educacional, levantou uma instigante questionamento através de uma postagem em sua página no Facebook: “Será que o estágio bizarro de civilidade e desrespeito mútuo que vivemos hoje no Brasil não tem a ver com o ambiente doente em que crescemos?”. E finaliza perguntando “até que ponto os anos 80 e 90 contribuíram para os anos 2000 e 2010?”.

Dez evidências

O questionamento de Flávio Lico baseou-se em uma lista do site Catraca Livre intitulada “7 provas de que o Brasil aceitava tudo nos anos 80 e 90” – uma relação baseada numa lista elaborada pelo Buzzfeed de onde o Catraca Livre selecionou as “7 mais bizarras” evidências – clique aqui e veja a lista do Buzzfeed. 

Um desfile de peças publicitárias como o do menino com cigarrinhos de chocolate da Pan, Xuxa com figurino sumário no Clube da Criança da Rede Manchete e inacreditáveis capas de disco – uma do “Carnaval dos Baixinhos” da Xuxa com um bebê de fio dental e outra do Gilberto Barros com uma criança enfiando a mão por dentro da sua camisa numa incômoda sugestão de pedofilia sob o título “Me faz um carinho!”. 

Antes de aprofundamos no tema, vamos ver a lista abaixo com algumas contribuições das pesquisas do “Cinegnose”:

1. Xuxa no Clube das Crianças da Rede Manchete (1983-86)

2. Cigarrinhos de Chocolate da Pan

3. Capa do disco “Carnaval dos Baixinhos” 

4. Gilberto Barros: “Me faz um carinho!”

5. Comercial da tesoura do Mickey (1992)

https://www.youtube.com/watch?v=zMFqTzH_dn0]

 

6. Comercial do “Baton” da Garoto (2005)

[video:https://www.youtube.com/watch?v=q4xFPPl5Vrs

Comercial de 2005 com conceito de criação iniciado nos anos 1990 com o “Compre Baton” onde um menino repetia o slogan como se tentasse hipnotizar o telespectador

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

7 Comentários

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  1. Esqueceram Tiazinha…

    Esqueceram a Tiazinha, personagem sadomasoquista que depilava machos na TV e tinha  sua linha de produtos infantis.

  2. Chacrinha

    No Viva, da Globo, costuma passar os programas do Chacrinha. Assisti dois, pra me divertir… (os anos 80 são terríveis). Em um deles, por volta de 1985, onde havia um cartaz com o slogan “Governo Sarney – Tudo pelo social”, o velho guerreiro anuncia um concurso que elegeria o “preto” e a “preta” mais bonitos do Brasil. Mas não sonsidero essa geração como a geração Y. Eu tinha 15 anos nessa época, e sou da geração X, que ainda tem (ao menos eu) respeito aos mais velhos e responsabilidade na vida e no trabalho. A geração Y não aguenta o tranco, além de achar que sabe tudo e que pode tudo.

  3. Excelente artigo

    Só uma pequena correção: Não é o Brasil que gosta de politicamente incorreto, mas sim algumas das emissoras de TV ( não vou citar quais).

    Aliás, até hoje estas mesmas colocam no ar novelas indecentes, e que são uma ofensa para a sociedade, além de uma escola de imoralidade.

    O que mudou, foi que hoje a maioria da audiência das emissoras migrou para a internet, e a legislação junto com o MP  proibiram a exbição de programas deste teor em determinados horários. Mas os programas continuam lá no horário noturno.

  4. Entendo a sua visão… e

    Entendo a sua visão… e concordo.

    Mas tem outro lado, se vc analisar a questão bem a fundo verá que hoje é MUITO PIOR;

    Hoje qualquer criança tem acesso a sites XXX com muito conteúdo explícito MUITO MAIS QUE NAQUELA ÉPOCA.

    Hoje em dia estamos na época do POLITICAMENTE CORRETO, mas com MUITO MAIS ACESSO AOS CONTEÚDOS IMPOLITICAMENTE INCORRETOS.

     

    Infelizmente, no fundo, acredito que o ser humano é um ser IMPOLITICAMENTE INCORRETO.

     

  5. Wilson

    Sua analise é bem pertinente. Era criança nos anos 80 e tudo isso muito me marcou. Acho que me chocava sem me dar conta, ja que vivia num mundo bem mais infantil no meu entorno do que aquilo que se podeia ver na TV.  Essa imagem da Xuxa praticamente nua apresentando um programa infantil é paradigmatica, sem duvida. Eu nunca vi o tal Clube da Criança, mas ja li algumas vezes que a Xuxa estava mais para apresentadora do Chacrinha do que apresentadora para o publico infantil. Ja o Cassino do Chacrinha foi  um programa que se propunha a anarquia conscientemente e que derrubou tabus. Acho que hj Chacrinha, por ex, não existiria com tal liberdade na Globo . O Xou da Xuxa não mudou muito, so desvulgarizaram (um pouco) a personagem em sua forma, mas a linguaguem…. 

    As propagandas sempre foram o que foram. Estimulam o consumo, a competividade, a vaidade etc. Acho que nesse caso, mudaram a forma (que era até mais engraçada naquela época), no entanto o conteudo ainda é o mesmo, o fim é estimular uma sociedade de robôs.  

    Agora, sinceramente, as vezes prefiro os anos 80 – esse ainda bem melhor que os anos dos yuppies, a década de 90, quando o conservadorismo começa pouco a pouco a aumentar e tudo, absolutamente tudo, era muito kitsch, como as danças do Tchan e os novos sertanejos  – do que o neoconservadorismo atual. A TV ficou chatissima (eu não moro no Brasil, mas não vejo mais TV. Tudo muito pasteurizado e sem profundidade), as pessoas passaram de novas possibilidades de vida – tudo aquilo que os hippies haviam deixando como herança de seus experimentos –   para apenas o improvavel mundo burgês de consumo. Como ficamos quadradões, hein ?! 😉

     

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