Dilma deu dois passos para sair da crise, e tem condições de ir até o final

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – A presidente Dilma Rousseff deu ao menos dois passos importantes para fazer um segundo mandato menos tempestivo. O cientista político da FGV, Cláudio Couto, em entrevista publicada pela CartaCapital na segunda-feira (17), apontou que a primeira mudança ocorreu quando a petista admitiu o fracasso da política econômica do primeiro governo e colocou Joaquim Levy na Fazenda, numa tentativa de recurar credibilidade e aumentar os investimentos privados. O segundo passo foi a convocação de Michel Temer (PMDB) para assumir a articulação política que, até então, era delegada a agentes do PT que sempre fracassavam na missão.

Na visão de Couto, se Dilma não cometer novos erros na coordenação política, é possível tocar o barco até 2018. Ele observou que a oposição está dividida e isso dificulta as conversas sobre impeachment. Mas ressalvou que os protestos de rua contra o governo e a própria baixa na popularidade da presidente não podem ser ignorados.

O GGN reproduz a entrevista cedida a Rodrigo Martins, da Carta, abaixo.
 

“Mesmo fragilizado, o governo ainda tem condições de tocar o barco”

Por Rodrigo Martins

Na CartaCapital

CartaCapital: Desta vez, o PSDB, principal partido da oposição, ajudou a convocar os protestos. Aécio Neves e José Serra participaram dos atos em Belo Horizonte e São Paulo, respectivamente. Mas a mobilização, embora muito expressiva, parece menor do que a de março.

Cláudio Gonçalves Couto: É um paradoxo criado pelo sucesso do primeiro protesto. A manifestação de março foi tão grande que qualquer coisa que viesse depois muito provavelmente seria menor. Mas não podemos cair na ilusão de que o ímpeto para protestar está menor. É só uma questão de contraste. Se me permite uma analogia com o futebol, é como se um time vencesse o primeiro jogo do campeonato com uma goleada de 5 a 0, e depois continuasse a vencer as demais partidas, mas por um placar menor, 2 a 0 ou 1 a 0. Muita gente poderia dizer que o rendimento caiu, mas a equipe pode sair campeã invicta. Percebe? Não dá para menosprezar o número de pessoas que saiu às ruas.

CC: De fato, a situação do governo Dilma Rousseff não é nada confortável. Diferentes pesquisas indicam uma reprovação superior a 70%, e cerca de dois terços seriam simpáticos à proposta de impeachment. Como é possível reagir diante desse cenário de insatisfação tão evidenciado?

CGC: A saída para o governo é continuar trabalhando, ter paciência e descentralizar as decisões, delegar funções a quem realmente pode manejar melhor a situação. Refiro-me, aqui, a duas questões centrais. A política econômica da gestão anterior é uma política fracassada. Quando a presidente delega ao ministro Joaquim Levy a tarefa de formular uma nova política econômica, capaz de ter maior respaldo do mercado, de levar os empresários a retomar os investimentos, que evite o colapso das contas públicas, ela abre mão do que acredita, mas não deu certo, para tentar salvar a economia.

A segunda abdicação se deu na articulação política. Foram tantas trapalhadas nas relações com o Congresso que a governabilidade ruiu. Antes de confiar essa tarefa ao ministro Aloizio Mercadante, que foi muito inábil, Dilma apostou em Ideli Salvatti, em Gleisi Hoffmann, no Luiz Sérgio, mas a nenhum deles ela deu autoridade de fato para selar acordos, sem antes conferir tudo o que foi negociado. Aí fica complicado travar qualquer tipo de negociação.

CC: Diante desse fracasso, ela confiou a articulação política ao vice Michel Temer, presidente nacional do PMDB.

CGC: Sim, ela teve abdicar de todo esse controle que tinha para tentar obter algum sucesso com o Temer. O vice-presidente hoje pilota a articulação política porque o grupo mais próximo a Dilma era incapaz de fazê-lo. Acredito que, também nisso, a presidente está correta, pois era a única alternativa que lhe restava. A articulação com senador Renan Calheiros, para brecar a pauta do homem-bomba da Câmara, o deputado Eduardo Cunha (risos), é indispensável para uma lenta recuperação. Tínhamos um governo nocauteado, que começa a esboçar uma reação. Evidentemente, ainda corre o risco de passar mais três anos fragilizado. Mesmo assim, tem condições de tocar o barco para frente.

CC: As manifestações voltaram a dar muito destaque à bandeira anticorrupção, mas com um foco específico: a corrupção do governo petista. Eduardo Cunha e outros caciques do PMDB investigados pela Lava Jato quase não foram lembrados. Em alguns casos, chegaram até a receber mensagens de apoio. O que explica essa indignação seletiva?

CGC: No fim das contas, a maior parte das pessoas faz julgamentos morais sobre os outros de acordo com as suas preferências. Então, a corrupção dos meus desafetos políticos é grave. A corrupção dos meus preferidos é aceitável. Isso, de alguma maneira, os diferentes grupos políticos fazem. Essa intolerância contra a corrupção do PT tem, como contraparte, a tolerância que esses mesmos grupos tinham em relação ao Maluf ou a certos governos tucanos. Ao abraçar Cunha como aliado, esses grupos partem daquela velha premissa: “O inimigo do meu inimigo é meu amigo”. A bandeira anticorrupção, portanto, passa a ter importância secundária.

CC: Após a sinalização de um acordo com o presidente do Senado, Renan Calheiros, em torno da chamada “Agenda Brasil”, e dos protestos de hoje, o movimento pró-impeachment ganha ou perde força?

CGC: Eu acho que o movimento perde força. O impeachment depende de uma série de fatores combinados. Um deles é a existência de uma razão jurídica forte. Parece-me não haver ainda uma razão jurídica suficiente para colocar a presidente contra a parede. Não há nada que a vincule diretamente aos problemas encontrados na Petrobras, não há nenhuma arma fumegante em relação às contas de campanha, nenhum indício de benefício pessoal da presidente de algum esquema ilícito.

E a questão das “pedaladas fiscais”, que me parece o aspecto mais forte do ponto de vista jurídico, carece de um novo entendimento do Tribunal de Contas da União. Aparentemente, o TCU aprovou em governos anteriores as mesmas práticas que hoje estão sendo questionadas. Então, se as pedaladas fiscais já eram praticadas antes, com a anuência do TCU, os ministros da corte não podem julgá-las irregulares retroativamente. Esse é um argumento levantado pelo governo que me parece bastante plausível.

CC: E do ponto de vista político?

CGC: Se a presidente reconstruir a ponte com ao menos uma das Casas Legislativas, por meio dessa articulação com o senador Renan Calheiros, ela fica mais protegida. Quem realmente vem colocando Dilma contra a parede é o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Se, nos desdobramentos da Operação Lava Jato, surgir coisas mais robustas contra ele, Cunha é neutralizado. Portanto, as condições políticas para o impeachment são mais frágeis do que as existentes algumas semanas atrás. Mas nada impede, evidentemente, uma mudança no cenário.

CC: Basta o TCU jogar lenha na fogueira em relação às pedaladas fiscais ou a Lava Jato trazer novidades capazes de dinamitar essas articulações…

CGC: Ou mesmo se o governo voltar a fazer alguma trapalhada na articulação política. Dilma não precisava, por exemplo, de um aliado como aquele dirigente da CUT, que declarou estar disposto a “pegar em armas” para defender a presidente, durante um ato público, em prédio oficial. Parece até um infiltrado disposto a sacanear, pois é inconcebível um aliado, diante do atual cenário, dar uma declaração tão infeliz. Idiotices como essa só contribuem para avinagrar o caldo. Por outro lado, no PSDB ninguém se entende. Há setores que apoiam o impeachment, outros falam em exigir a renúncia de Dilma, tem até essa conversa maluca de antecipação de eleições. Como a própria oposição está dividida, fica cada vez mais complicado falar em impeachment.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Ai sim
    Chamou levy para aumentar a credibilidade e investimento!
    Este texto eh para quem se infirma no PIG!
    Cara o pessoal ta louco com este plano ou desastre do Levy com a Dilma, estao jogando a economia brasileira no espaco e economia nao voa e nem flutua meu caro., a economia quanto mais alto for mais vai fazer um estrago nos brasileiros e tempo perdido!
    O Temer, com os artigos daqui, LN, ha vc nao le nao eh? So Dilma confia e ele tem partido.
    Caras que nivel de conversa, tag certo vamos jogar a conversa fora!
    Qua! Qua! Qua!

  2. “… política econômica

    “… política econômica [anterior] fracassada….”

    Terminar o ano com emprego recorde e inflação dentro do combinado não significa nada…

    Um ajuste de 1,2% do PIB, em vez de 3% ou 4,5%, que bem poderia ter sido feito no primeiro trimestre se não fosse a chacrinha política de uma oposição que recusa rresultado de eleições, de uma imprensa golpista odiosa e de um blocão de achacadores do Eduardo Cunha, também blindado pela imprensa, também não significa nada…

    “… coordenação política…”

    Uma uma republica do Paraná alienista também não significa nada…

    “… coordenação política…”

    Renam extorquindo uma pauta conservadora; ano que vem mais um ano eleitoral…

    “… cordenação política…”

    … É muita dificualdade de chamar as coisas pelo nome. de chamar as coisas pelo nome…

    Querem é orçamento e ministério de porteira fechada. Esse é o pacto da nova república: metade do orçamento pro estamento financeiro e o resto, que saiam no tapa pra ver com quem fica.

  3. Condições tem, sabemos disso, mas…

    A grande pergunta permanece: será mesmo que vai se utilizar dos recursos à mão, ou vai tentar centralizar e fazer o que não sabe, ou seja, política ?

  4. “para fazer um segundo

    “para fazer um segundo mandato menos tempestivo”

    As pessoas sensatas gostariam que ela fizesse um governo tempestivo, e não intempestivo.

  5. Politica econômica

    O povo brasileiro não entende essa linguagem codificada da presidente. Tem que ser colocada na palavra e nas ruas. Trocar o Mantega pelo Levy (nós sabemos que são de escolas econômicas diferentes), não significa nada para quem não os conhece. O bom político tem a capacidade de apresentar a dura realidade com doçura, o que não é o caso dela. Agora tem que dizer a verdade que negou na campanha eleitoral.

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