Do que os governos menos precisam é de maridos, por Laura Carvalho

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Foto: Beto Barata/PR
 
Jornal GGN – “Os governos precisam passar a ter marido”, afirmou o presidente Michel Temer ao apresentador Ratinho, comparando as finanças do governo federal com as contas de uma família.
 
Em sua coluna de hoje na Folha, a economista Laura Carvalho afirma que a comparação não é possível, já que as diferenças são muitos, principalmente em relação aos efeitos dos gastos públicos e em relação ao acesso a crédito. 
 
“Ao contrário das famílias, os governos têm a capacidade de elevar seus impostos e aumentar sua própria base de arrecadação”, ressalta a professora da USP. Ela também salienta que 40,5% dos domicílios brasileiros são chefiados por mulheres, segundo o IBGE, e que a “estúpida metáfora de Temer não deve ajudá-lo a diminuir a alta rejeição ao seu governo”.

 
Leia a coluna abaixo: 
 
Da Folha
 
Do que os governos menos precisam é de maridos
 
por Laura Carvalho
 
Em entrevista ao apresentador Ratinho veiculada pelo SBT na sexta-feira (28), o presidente Michel Temer declarou que, tal como as donas de casa, “os governos precisam passar a ter marido” para evitar a quebra fiscal. “Por exemplo, reitero, o teto de gastos públicos. Você não pode gastar mais do que arrecada. É fazer como se faz na sua casa”, completou.
 
As diferenças entre as finanças de uma família e do governo federal são muitas.
 
Primeiro, os gastos públicos geradores de emprego e renda afetam toda a dinâmica do sistema econômico, contribuindo para aumentar a arrecadação de impostos.
 
Os resultados das políticas de austeridade em diversos países da periferia europeia podem servir de exemplo: ao agravar a recessão e a frustração de receitas do governo, os cortes no Orçamento acabaram ampliando o deficit fiscal inicial.
 
As condições em que famílias e governo federal financiam uma eventual diferença entre gastos e arrecadação tampouco são as mesmas. A maior parte das famílias brasileiras tem pouco acesso a crédito.
 
Já o governo federal, apesar dos juros altos para padrões internacionais —mesmo se levados em conta o patamar de nossa dívida e nossa taxa de inflação—, não encontrou nenhuma dificuldade em vender seus títulos públicos no mercado desde o início da crise.
 
Além disso, ao contrário das famílias, os governos têm a capacidade de elevar seus impostos e aumentar sua própria base de arrecadação.
 
Se taxar sobretudo aqueles que consomem uma parcela relativamente pequena de sua renda (os mais ricos) e ampliar a renda dos que consomem relativamente mais (os mais pobres), o governo pode dar um estímulo à economia sem desequilibrar o Orçamento.
 
Soma-se a isso o fato de que, no Brasil, os que estão no topo da distribuição de renda pagam impostos baixíssimos para padrões internacionais e os que estão na base consomem essencialmente tudo aquilo que ganham.
 
Por fim, assim como a família que tem a opção de endividar-se para comprar uma casa ou educar seus filhos, os investimentos públicos também podem trazer retorno no longo prazo.
 
Gastos com a melhoria da infraestrutura do país, por exemplo, não apenas geram empregos agora mas também elevam a produtividade e a competitividade das empresas no futuro.
 
Assim, a comparação do Orçamento da União com o orçamento doméstico para convencer a população de que é necessário cortar gastos e investimentos públicos em meio à crise econômica —um artifício recorrente no discurso de políticos mundo afora— já é ruim. Mas parece não ser ruim o suficiente para Michel Temer, que achou por bem acrescentar à metáfora a sua dose habitual de machismo. E do pior tipo: o elitista.
 
Os dados de 2015 da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra Domicílios) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que 40,5% dos domicílios brasileiros são chefiados por mulheres. No Nordeste, esse percentual é ainda mais alto -de 42,9%.
 
Considerando que as mulheres têm, em média, um rendimento menor —diferença esta que certamente afeta a resposta dada à pergunta da Pnad sobre quem chefia os domicílios com cônjuge—, é
seguro dizer que a estúpida metáfora de Temer não deve ajudá-lo a diminuir a alta rejeição ao seu governo revelada na mais recente pesquisa do Datafolha.
 
Se de maridos não precisamos, de trastes ainda menos. 
 
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Redação

7 Comentários

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  1. Pessoal, não se deixem

    Pessoal, não se deixem enganar heim! laura carvalho é uma golpista da pior espécie, pois ajuda a família frias, de golpistas assassinos, a dar golpes de estado, escrevendo nos panfletos da elite retrógrada ditadora golpista. Vejam por essa matéria, onde fica claro que se o temer peidar ela redige o peido do temer, com fotos! Ocupam o papel de encherem seus panfletos com fotos e matérias dos seus parças bancadores. Tanto a folha como seus colaboradores, bem como toda a grande imprensa encabeçada pela globo da família marinho, não passam de grandes golpistas ditadores. Na ditadura deles, de 1964 a 1985, participaram de milhares de assassinatos de brasileiros que lutavam contra a ditadura, crimes que eles podem repetir a qualquer momento, mesmo já tendo mudado o modus operandi para tortura psicológica e conduções coercitivas acachapantes contra cidadãos de bem, como fizeram com o Eduardo Guimarães e o Lula, por exemplo. Nosso querido e inesquecível Jornalista Vladimir Herzogo tornou-se símbolo da luta contra ditadores, já que foi friamente enforcado nos porões da ditadura pelas mãos da folha e seus parças carrascos militares, criminosos hediondos inclassificáveis. Milhares de famílias ainda procuram pelos corpos dos que foram assassinados por essa gente, na esperança de um dia colocarem fim a essa dor insuportável. Desejamos que esses assassinos paguem pelos crimes que cometeram com o máximo de severidade, no mínimo da forma como fizeram com o Vlad.

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    1. Não é assim

      Ela está na Folha, certo, mas vamos nos lembrar que o Sakamoto também. E ele não para de dar porrada no Temer e na curriola golpista.

      Leiam as colunas dela. Ela ataca muito o governo, e com propriedade, não é só opinião, ela fundamenta o que escreve com dados. Tem uma coluna dela atacando o discurso de que os gastos públicos são a causa da recessão e do desemprego, muito boa, que desmonta o discurso golpista que aprovou a PEC 55: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/laura-carvalho/2017/02/1854881-mito-da-gastanca-nao-explica-a-escalada-do-desemprego.shtml

  2. Pois é… e desde quando

    Pois é… e desde quando Temer precisa ter cuidado para não desagradar eleitores? A turma que o colocou na presidência e que o mantém por lá – a quem Temer deve acato – não são os eleitores. E a ver as providências que essa turma está usando Temer para tomar, essa turma não está nem aí para clamores populares ou algo da esfera pública. É a turma da iniciativa privada. Privatistas que, claro, querem privatizar.

  3. O que “os governos”

    O que “os governos” urgentemente precisam eh de um Michelzinho de 2 milhoes de reais inexplicados.

    Resolveria todos os problemas, nao eh mesmo?

  4. Não adianta, não adianta…

    Só para os intemeratos cultores da tmese (que o vulgo prefere chamar de “mesóclise”), como aquele sujeito vestido como Presidente do que um dia terá sido o Brasil,  a palavra “marido” é sinônimo eufemístico de “cafetão”. Os outros, esses que insistem em querer acreditar que possa existir vida após a aposentadoria (pensando bem, antes também) não entendem essas louçanias de linguagem.

  5. O PRIMEIRO DAMO

    LULIA, esse é o sobrenome do Temer, nunca engoliu o fato de ser vice. A inveja que ele sentia da Dilma era palpável.

    Deixou de ser “primeiro damo”, já que a Dilma era livre e ele seu aparente consorte, para ser presidente, agora desinterino.

    O que a nossa comentarista não deve saber, tampouco o Temer se lembra, é que as finanças da casa são INTEIRAMENTE administradas pelas mulheres, independentemente de elas trabalharem fora.O marido traz o dinheiro, ela administra. 

    Por outro lado,  o  que o Temer não se lembra, é de que as finanças públicas SÃO DINHEIRO DO POVO,  o provedor  que ele quer chamar de marido , e que ele,  Temer, como boa esposa, deveria ser responsável em bem administrar esse  DINHEIRO DO POVO.

    Assim, a nenhum dos dois assiste razão, portanto.

     

  6. é assim? diga-me com quem andas?

    Comento os comentários sobre o alinhamento da autoria do texto. Essa seleção das pessoas baseada no conceito de grupos pertinentes, os do bem e os do mal, eu já vi antes. Se estás em companhia e/ou pertences ao grupo do bem és do bem, na  hipótese oposta és do mal. Esse pensamento tacanho foi que levou à distorção e perversão das forças politicas no pós-ditadura quando os oportunistas de sempre, os ratos do navio, refugiaram-se no refundado MDB, acrescido de um P, cujo significado hoje podemos melhor depreender.

    Olhemos para as ideais, principios e valores que as pessoas defendem, mas acima de tudo,espectro como agem. Há inteligência e caráter em todos os espectros sociais e em todos os grupos, assim como, há ignorância e canalhice. Marquemos e reconheçamos as pessoas pelo seu eu, por quem são e não por com quem andam. Costumo dizer que o ser humano tem uma imensa deficência atávica para aprender com seus próprios erros e isso é confirmado amiúde e rotineiramente.

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