É assim que os seriados acabam?, por Edgard Murano

 

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This is the way the world ends
Not with a bang but a whimper
(T.S. Eliot, The Hollow Men)

Por Edgard Murano, do blog Achados & Escritos

Muito tem se especulado — e lamentado — sobre o final iminente de Mad Men, série epítome da chamada era de ouro da televisão. O que será de Don Draper, o publicitário mulherengo de olhos tristes mais bem vestido da TV?

O fato é que o luto pelo fim da série mais cultuada desde Sopranos já está sendo vivido intensamente, a julgar pela profusão de críticas e recapitulações publicadas após cada um dos sete episódios que compõem os últimos suspiros de Draper e sua trupe. Entre essas pessoas, muitas reclamam que a série vem gastado um tempo precioso com personagens novos e secundários e tempo de menos dedicado a resolver as pendências dos personagens principais.

Ocioso dizer que, em se tratando de uma obra de Matthew Weiner — egresso do magnífico Sopranos, cujo final abrupto ainda hoje nos maravilha e assombra —, tudo leva a crer que Mad Men poderá frustrar aqueles que desejam um final novelesco e autorreferente, capaz de juntar todas as pontas soltas.

Essa é uma discussão, aliás, que sempre retorna quando séries de sucesso se aproximam de seu inevitável final, após serem seguidas fielmente pelo público ao longo de vários anos. Muitas dessas estórias mantêm-se em suspenso enquanto desenrolam, a cada episódio, tramas de curto alcance, sem que seus grandes arcos narrativos se resolvam. Um bom exemplo dessa síndrome do final arrastado foiHouse (2004-2012), cuja dinâmica de um caso a ser resolvido por episódio acabou degenerando, nas temporadas finais, numa novelinha romântica entre os membros de sua equipe; ou ainda True Blood (2008-2014), cujo vale-tudo sarcástico envolvendo fadas, vampiros e lobisomens acabou privilegiando, no final, um quem-fica-com-quem meio rastaquera; sem falar em Lost (2004-2010), com um final inconcluso que decepcionou muitos fãs e deu margem a inúmeras teorias.

Sobre o tempo supostamente desperdiçado em Mad Men, as críticas não procedem: é verdade que talvez nunca mais vejamos Diana, a garçonete misteriosa que obcecou Don Draper, nem Pima, a fotógrafa sedutora protótipo de Annie Leibovitz que desconcertou Peggy. Mas é fato que personagens como esses, de presença efêmera e fulgurante nessa reta final, funcionaram como uma espécie de espelho onde se refletiram os dramas e as misérias que sempre cercaram os personagens principais. Outros poderão surgir e desaparecer antes que nos demos conta. Basta lembrar que em Sopranos o coma de Tony se alongou por alguns episódios e causou exasperação semelhante nos espectadores ansiosos pelo desfecho.

Mad Men cultiva com maestria essa qualidade de não se afobar perto do fim, sabendo que para dizer mais sobre seus personagens terá de se afastar deles em certa medida. E que esse luto antecipado poderá ser redimido por um final tão libertador quanto foi o de Sopranos.

De mais a mais, tamanha é a quantidade de ótimos programas sendo produzidos ultimamente que talvez as pessoas nem tenham tempo para lamentar a saída de cena de Mad Men — e o assento do sofá ainda estará morno quando nos sentarmos novamente para assistir a outros programas e nos apaixonarmos por outros personagens. É o que torna essa época única para a TV: a certeza de que o show tem de continuar

Redação

17 Comentários

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    1.  
      Oi Cafezá, eu gostei muito

       

      Oi Cafezá, eu gostei muito de House of Cards, Justified ambas americanas. Tem uma inglesa muito boa Broadchurch. Abraços.

    2. Sim

      Cafezá, tenho assistido algumas. Pra mim as duas melhores são Mad Men e Breaking Bad. Nessa ordem. Depois vem House of Cards. As demais (que assisti) são bem mais ou menos… Algumas mais pra menos que pra mais.

      Não deixe de assistir Mad Men. MELHOR DE TODAS FOREVER.

      1. Várias

        Cafezá, há várias outras que valem a pena. Orange Is The New Black, Tyrant, True Detective, Murder in the first, Longmire, The Newsroom e Vikings. Apesar de serem americanas, fogem do padrão.

        Tem também várias séries britanicas, que tem ritmo mais lento e personagens mais elaborados, mais densos. Entre elas destaca-se Downtown Abbey. Outra excelente é Copper, que terminou em 2013. Sem falar do divertidíssimo Doctor Who, que já dura oito temporadas.

        Há vários blogs que disponibilizam links de torrent, com os episódios e respectivas legendas. Porque nada melhor que assistir com som original.

        Afinal, quem merece ser massacrado com centenas de comerciais?

        1. Das que você citou

          Eu gostei de True Detective. Vale a pena, mas só tem uma temporada ainda e não sabemos como serão as próximas, já que mudarão os atores protagonistas, os roteiristas e diretores.

          Downtown Abbey achei uma porcaria…parece novela das 18h da Grobo.

          1. A diferença é o sofá

            Popcorntime é muito bom. No mundo Linux também tem o PeerFlix. Pena que tem que ver em monitor.

            Eu prefiro baixar, gravar em um pendrive e assistir numa TV grande, no sofá.

          2. é o que eu faço.

            Assisto numa TV “grande”, no sofá. No meu caso uso hdmi. Pra quem tem smartv nem precisa de cabo.

            Pra quê perder tempo baixando e gastar memória gravando um monte de coisas?

          3. É sobre seriados…

            Mudamos o assunto, de séries para tecnologia.

            A idéia é indicar ao companheiro Cafezá séries interessantes de ver.

            Ví recentemente uma australiana, chamada Secrets and lies, maravilhosa. Tem uma britanica chamada DCI Banks também muito boa, já está na quinta temporada. Tem ainda a Broadchurch, de tirar o fôlego.

            Minhas preferidas neste momento são: uma série sueca chamada Jordskot e uma americana chamada Backstrom.

            Enfim, assistir séries é uma das melhores formas de evitar ficar estúpido vendo a TV aberta brasileira.

          4. ops…

            Fui responder o comentário e apaguei…

            era mais ou menos o seguinte:

            https://popcorntime.io/

            Pra quem não sabe do que se trata. Funciona como a netflix, só que sem custo nenhum e com um catálogo maior e mais atual.

            Zero de propaganda. Som original e legendas disponíveis.

            Acrescentando. É perfeitamente possível assistir no sofá. Basta ter um cabo HDMI ou um smartv.

      2. Mad Men

        “Não deixe de assistir Mad Men.”

        Apoio inteiramente a recomendação.

        Fui conferi-la após um breve comentário ouvido de Ignácio de Loyola Brandão, numa entrevista, há uns dois anos.

        (Não duvido que Draper venha a morrer de tanto fumar.)

  1. Tem uma série excelênte, mas

    Tem uma série excelênte, mas tão boa que não acredito que levei quase 5 anos para descobri-la. Trata-se de um drama bem humorado, digamos, sobre advocacia, ou seja Suits. Os episódios se passam sob o céu da Big Apple. Assistir a série por uma hdmi tv  é um deleite, as tomadas aéreas da city(certamente filmada com drones para este fim), a visão majestosa sob os mais variados ângulos do Central Park, enfim, todo o charme, todo o encanto da cidade estão lá, fora o principal, a trama que é impressionantemente boa, atores inspirados, diálogos afiadíssimos, mulheres belíssimas e roteiristas danados de bons, referencias constantes a filmes clássicos(ou não) as brincadeiras com outras séries concorrentes, as vezes(nem Mad Men escapou), colocam essa série(já na eminencia de estreiar a sua quinta temporada, entre as mais cultuadas dos últimos anos. Comecei a assistir pelo Netflix semana passada, não consegui parar e já estou vendo a terceira temporada.

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