É desserviço dizer que Rio de Janeiro precisa de um salvador, aponta André Singer

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Agência Brasil
 
 
Jornal GGN – Ao afirmar que apenas a eleição de 2018, com a escolha de novos mandatários para o Panalto e para o Rio de Janeiro, pode dar uma esperança para a segurança do Estado, Torquato Jardim fes um “desserviço” à sociedade, pois alimentou a ideia de que gestão eficiente depende de um salvador da pátria. É o que avalia o cientista político André Singer.
 
“Ao despejar as esperanças numa espécie de solução mágica que saia das urnas, Jardim alimenta um perigoso salvacionismo, cujo desaguadouro costumam ser as falsas soluções de autoridade. No momento em que crescem candidaturas cujo lema é mão firme para restabelecer a ordem, trata-se de um rematado desserviço. Impensado, talvez.” 
 
Por André Singer
 
Na Folha
 
Jardim joga lenha na fogueira
 
Na terça (31), o ministro da Justiça, Torquato Jardim, deu declarações ao jornalista Josias de Souza, do UOL. Em suma, o responsável pela área de segurança da gestão Temer disse o seguinte: 1) que o comando da Polícia Militar (PM) do Rio de Janeiro é fruto de acerto com “deputado estadual e o crime organizado”, sem controle do governo local, e 2) que “comandantes de batalhão são sócios do crime organizado”.
 
Em decorrência da gravidade das afirmações, criou-se considerável celeuma. Nesta sexta foi sorteado o relator da interpelação que o governador daquele Estado, Luiz Fernando Pezão, impetrou junto ao Supremo Tribunal Federal (STF). O escolhido, nada menos que o relator da Lava Jato, Edson Fachin, terá que avaliar se Jardim deve ser obrigado a apresentar os nomes dos agentes públicos que estariam ligados ao crime, conforme exige o Rio de Janeiro. Enquanto Fachin decide, pensemos.
 
Ninguém parece entender muito bem o que motivou o titular da Justiça a falar contra uma administração que é do PMDB, assim como o ocupante do Planalto. Também não fica clara a posição do presidente da República. Informações de bastidores dão conta de que 48 horas depois da entrevista, Temer recebeu o auxiliar e teria lhe pedido silêncio até baixar a poeira. Nenhuma explicação ou atitude com vistas a orientar uma compreensivelmente aturdida opinião pública. Mas o descaso com a opinião pública faz parte do “style” planaltino atual.
 
Diante do desconhecido, então, tomemos, apenas por hipótese, as intenções de Jardim pelo seu valor de face. O desenrolar das frases enunciadas parece traduzir o simples desejo de desabafar. A impotência gerada por quadro insolúvel teria levado o ministro a pôr a boca no trombone: “Nós já tivemos (…) conversas duríssimas com o Secretário de Segurança do Estado e com [o] governador. Não tem comando”.
 
No entanto, ainda que aceitando-se a trivial possibilidade de exaustão, é revelador o seguinte trecho da diatribe: “A virada da curva ficará para 2019, com outro presidente e outro governador”. Mesmo que a situação atual seja desesperadora –e devemos admitir que o seja, em função do congelamento dos gastos públicos– o horizonte prático apontado pelo declarante é o da eleição do próximo ano, com reflexos longínquos.
 
Ao despejar as esperanças numa espécie de solução mágica que saia das urnas, Jardim alimenta um perigoso salvacionismo, cujo desaguadouro costumam ser as falsas soluções de autoridade. No momento em que crescem candidaturas cujo lema é mão firme para restabelecer a ordem, trata-se de um rematado desserviço. Impensado, talvez. 
 
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

5 Comentários

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  1. Quase concordando com o mINISTRO …

    a situação do país, incluindo os Estados, e o estado, da Federação surpassa a “solução mágica” pois a AIM (Associação Internacional dos Mágicos) repelem a possibilidae de que haja mágica que, pelo menos, amenize as situações.

    Se convocarem uma AGE para que Jeová, Olodum, Jesus, Oxóssi, Maomé, Javé, Alá, Ogum, Jacó, apontem, ao menos, uma amenizada tenho a ligeira impressão de que se omitirão para não se comprometerem e depois não serem acusados de “venderem falsas esperenças”.

    A visão de uma luz num túnel de 800mil km é que haja alguma porque quando os gringos assumirem, uma vez que estão arrematando as ofertas a preço de banana, alguma coisa possa vir a melhorar um pouquinh. Nem que seja para sermos inundados com editoriais adesistas.

    Outros do porte intelectual do articulista deveriam fazer um levantamento ideológico-financeiro dos membros das Câmaras Municipais e Assembléias Legislativas do país. Fica a impressão de que não encontrarão esperanças …

     

  2. é ….

    A Bipolaridade Esquizofrência da nossa Esquerdopatia é surreal !!! Não é exatamente um Salvador da Pátria que a tal esquerdopatia propõe ao país? Desserviço é tentar diminui a aberração em que estamos vivendo. Deseserviço é não informar que esta situação é resultado de uma farsa chamada Redemocratização e de Constituição Ditatorial que nada mais foi que ConstituiçãoEscárnioCaricaturaCidadã. 40 anos governados pelos tais que transformariam a Nação Brasileira. “Nada como um dia após o outro. A Verdade Vos Libertará”. Canalhas, Corruptos e Incompetentes, produziram um abismo entre o Poder, o Estado e a Sociedade Brasileira. Guerra Civil sem controle, nem resposta. A População Brasileira subjulgada por Criminosos. O Ministro apenas apontou e mostrou quem são os verdadeiros criminosos. As forças armadas nas figuras das Policias, comandada por estes criminosos, atiram no alvo errado. Como irá acertar o certo? Os instestinos estão expostos. Apenas falou o que todos sabemos. Desserviço é ainda tentar esconder o óbvio.  

  3. rj confuso prá xuxu

    Nassif,

    Qualquer um poderá emitir opinião a respeito do que ocorre na questão da segurança no RJ, principalmente na cidade do RJ.

    José Beltrame foi o Secretário de Segurança durante oito anos, e nada de extraordinário ocorreu naquele período, o período das UPPs. No primeiro governo de Garotinho, diziam que o então Secretário Luiz Eduardo Soares precisou abandonar a cadeira e passar um tempo em NY.

    A turma do “eu acho” deveria conversar com os dois ex, e a partir dali poderiam começar as providências possíveis para restabelecer um certo sossego na cidade, enquanto as providências necessárias viriam mais à frente.

    Quantos deputados milicianos existem na Alerj? Como terminar com as milícias quando a turma sabe que está representada no Legislativo ?

    Quanto ao discurso do ministro, me parece que tudo o que eu é verdadeiro, tanto que não houve grande mobilização por parte de ninguém para enfrentá-lo.

    1. Falha nossa: Luiz Roberto

      Falha nossa: Luiz Roberto Soares leia-se Luiz Eduardo Soares.

      E, permita-me repetir, deveriam fazer um levantamento ideológico-financeiro dos membros das Câmaras Municipais e Assembléias Legislativas do país. Fica a impressão de que não encontrarão esperanças …

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