Fla-Flu político inibe o debate democrático

Sugerido por Vânia

Da Carta Capital

O Brasil precisa se livrar do Fla-Flu político

por Pedro Estevam Serrano

A tentativa de criminalizar o governo é rebatida com uma reação agressiva de seus defensores. E o código binário instalado suprime o debate democrático 

Não apenas a existência do debate público de posições e ideias é essencial à democracia, mas sua preservação carece de que tal debate se realize dentro de quadrantes mínimos de qualidade argumentativa

É a qualidade do debate democrático que propicia a necessária produção de consensos e dissensos. Não há democracia que sobreviva sem a criação de consensos pelo debate, nem tampouco é verdadeira democracia se não propicia constantes dissensos pelo mesmo debate. Consenso e divergência são ambos produtos do mesmo debate, que faz evoluir as instituições, a cidadania  e amplia a proteção a direitos.

Neste aspecto é preocupante o correr cotidiano do jogo democrático no Brasil. Um clima de Fla-Flu se instaurou no debate público.

Insistentes consensos midiáticos nos grandes temas, confluentes por interesses em comum dos donos dos veículos e não pelo embate de argumentos, suprimem da visibilidade os dissensos de visão, de argumentação e de interesses existentes no interior da sociedade.

A critica imponderada e criminalizadora do governo e do PT, geradora da editorialização do noticiário, gera reação também imponderada e agressiva de seus defensores. O ódio substitui o argumento como base das relações políticas democráticas

O argumento ad hominem, sintoma maior da irracionalidade do debate, de tão corrente se banaliza pelas colunas, artigos e entrevistas, bem como em posts e “memes” favoráveis a situação ou a oposição, indistintamente.

A existência de um constante código binário nas disputas e debates políticos – PT e PSDB, Corruptos e Honestos, Democratas e Fascistas etc – dividindo o debate sempre em duas posições, suprime terceiras, quartas, quintas e muitas posições possíveis e desejáveis em cada tema.

Defensores do governo argumentam, corretamente no pressuposto, que falta pluralidade ideológica em nossa mídia e nos espaços públicos de visibilidade, mas por outro lado sufocam qualquer forma alternativa de argumentação à esquerda do debate, em um utilitarismo eleitoral que ja vitimou o PT no passado. O pau que bateu em Chico hoje é usado por ele para bater em Francisco. Autocríticas necessárias, como no caso do caixa 2 reconhecido no chamado “mensalão”, são esquecidas sob o argumento falso e inconsistente de que auxiliaria o inimigo eleitoral, esquecendo que há na politica uma razão ética que deve ir além das razões da disputa.

O discurso oposicionista, por sua vez, não tem pejo em permanecer na extrema superficialidade argumentativa, num moralismo discursivo, seletivo e hipócrita, que procura substituir o embate de argumentos pela criminalização do oponente, obviamente sem atentar aos próprios desvios. A simbiose que tem com os veículos midiáticos entorpece qualquer critica aos ambientes da federação onde a oposição nacional se torna poder local.

As emoções de mais vulgar extração dominam o debate público, sendo raros os ainda existentes momentos e espaços de racionalidade e convencimento.

Não é por esse clima próprio de estádio de futebol que construiremos uma democracia sólida e de qualidade. Democratas de todos os partidos e de todo espectro ideológico devem se preocupar com a sustentação ética do debate democrático, que se dá pela busca de sua mínima qualidade argumentativa.

A mitigação do ódio propiciará, certamente, o florescimento de posições alternativas, terceiras, quartas etc, que enriquecerão o debate e ampliarão as condições de escolha da cidadania.

A desejada pluralidade ideológica e politica na visibilidade midiática deve ser alcançada não para refletir esse Fla-Flu mas sim todo o universo possível de ideias e posições, sempre presentes no principais temas de uma vida democrática hiper-complexa como a contemporânea.

Redação

14 Comentários

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  1. A Intolerância na Blogosfera

    Concordo e republico um comentário meu de 2 anos atrás sobre as primeiras passeatas contra corrupção (aquelas do Cansei). O comentário tornou-se ainda mas válido após as manifestações de junho.

     

     

    https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-intolerancia-na-blogosfera

     

    RSS do Blog Luis Nassif Online

    A intolerância na blogosfera

    Os veículos de comunicação, também incluídos os blogs independentes, tem feito críticas às passeatas contra a corrupção. Neste momento, não quero entrar no mérito das passeadas em si, mas gostaria de analisar alguns outros aspectos dessas críticas.

    Um dos aspectos é a intolerância que também está tomando força nos blogs de esquerda. Isto seria de se esperar nos blogs do Azenha, PH Amorim, Edu Guimarães que se proclamam de esquerda e, mesmo que involuntariamente, incentivam os comentaristas a se sentirem participantes de um time que vê quem não pensa igual como adversário.

    O blog do Nassif, desde o início, se mostrou um espaço alternativo por dar voz para opiniões destoantes da grande mídia não por ideologia política pessoal, mas pelo puro e simples desejo de praticar bom jornalismo. Isso criou um ambiente propício para o debate de idéias e um conjunto de comentaristas equilibrados.

    Quando perguntei a uma pessoa mais jovem a quem eu recomendara o blog se ela havia gostado, a resposta foi que o mais lhe chamou a atenção foi o nível pouco habitual dos comentários.

    Isso parece estar mudando quando o assunto é o processo político. Talvez influenciado pelo baixo nível da campanha presidencial ditado por Serra e seus apoiadores na imprensa, a quem Marina Silva também vendeu a alma ou talvez pela rejeição explícita do Nassif à candidatura Serra, tenho sentido uma agressividade cada vez maior dos comentaristas do blog em relação a quem critica o governo ou elogia a oposição.

    Experimente alguém dizer aqui que Jamil Haddad não foi o pai dos genéricos. Será , como já fui e serei novamente, apedrejado ao afirmar categoricamente que a contribuição de Haddad para os genéricos foi mínima. Ele simplesmente tomou o texto do projeto de lei de Eduardo Jorge, fez com que Itamar emitisse um decreto sem força de lei, não conseguiu que farmácias obedecessem, colecionou uma série de disputas jurídicas e saiu do governo sem que se avançasse um passo sequer.

    Qual é o problema deste clima de Fla-Flu? Primeiro torna-se impossível discutir em torno de idéias quando os argumentos governistas e a visão de esquerda tornam-se dogmas que não devem ser questionados, mas simplesmente apoiados. Não há troca de conhecimento, mas simplesmente discussões estéreis que não alteram o pensar de quem participa. Para que discutir se eu não estou disposto a mudar meu pensamento? Qual o sentido de discutir se martelarei minhas idéias sem abrir espaço para, quem sabe, uma troca de paradigma?

    Segundo, cai-se no erro que a oposição tem cometido desde 2002 e pode render ao PT mais alguns mandatos no governo federal. Passa-se a ignorar o ponto de vista do outro lado e, principalmente, desconsidera-se o contexto que leva determinados grupos sociais a apoiarem uma causa ou corrente de pensamento. Cega-se aos méritos das propostas e realizações concretas do outro lado.

    A classe A, baseada na penetração de Lula nas camadas de menor renda e menor instrução, considera ignorante quem apóia o lulopetismo (não é assim que nos chamam?).  Esta postura elitista ignora, em primeiro lugar, que o apoio ao governos nas camadas médias nunca foi pequeno. Embora sem os números astronômicos das classes C,D e E, o apoio nas classes A e, principalmente, B é significativo,  bastando consultar as pesquisas de intenção de voto para presidente em 2010 para identificar esta realidade. Esta rotulação de ignorante para os governistas pode ter causado uma rejeição enorme à oposição que levará um tempo significativo para ser superada.

    Outra conseqüência desta postura elitista-dogmática é não desenvolver canais de diálogo com os extratos da sociedade considerados não-informados e permanecer com o mesmo discurso (neste caso, udenista), esperando que o povo de repente se esclareça e passe a pensar em consonância com o iluminismo político da oposição. Não se desenvolvem políticas para esses extratos, o que é lamentável, e nem sequer discursos eleitorais, demagógicos ou não, mas palatáveis aos segmentos governistas.

    Acho que este é o erro em que os governistas do executivo, dos partidos da base ou simplesmente simpatizantes não podem incorrer. Esses agentes devem entender que sim, a corrupção no Brasil é um problema sério, lutar para entender suas causas e propor ações concretas para sua diminuição. Não podem menosprezar as manifestações contra a corrupção por que elas significam um extravasar de sentimentos de segmentos da sociedade. Neste momento, este sentimento pode estar sendo ofuscado pelo progresso econômico e deixado de lado pelo eleitorado, mas quando houver uma retração econômica, esta bandeira pode tornar-se diferencial eleitoral e os governistas podem a ter deixado bem plantada no campo da oposição

    1. Tá mais prá Flá x Monte Cristo

      Adjutor, não discordo da sua análise, exceto quanto a rotular parte da blogosfera progressista como intolerante. Imagina só se não tivessemos blogs como o do Eduardo Guimarães, PHA e Azenha para se contrapor ao poderoso pig e sua dinheirama. Como sabemos, uma das vitórias do pig e da Casa Grande foi o julgamento do “mensalão”, para o que foi necessário a instalação de um tribunal de exceção, pois num julgamento normal, sem o Barbosa escondendo as provas(da inocência dos réus), deixando de apresentá-las aos demais juizes, não teriam chegado ao resultado a que se chegou, com pessoas inocentes tendo que puxar anos e anos de cadeia sem que de fato tenham cometido os crimes que lhe são atribuidos.

      Com a mídia de um dos lados lados a disputa desigual.   A disputa é sempre entre o partido que está no poder x oposição. Nos EUA o fla x flu responde pelo nome democratas x republicanos, na Argentina tmbm há essa polaridade, na Venezuela, idem, esse fla x flu entre regressistas x progressistas existe desde quando o mundo é mundo, na década de 70 a polarização era entre ARENA X PMDB.

      Nem creio que, diante de dois times tão desiguais, se possa falar em FLA X FLU, pois está mais para FLU x algum time de várzea, com alguma vitória deste em algum instante, isso por causa das redes sociais, sem o que seeria jogo de um time só.

      1. Intolerantes são alguns comentaristas

        Avatar, no meu texto não disse que os blogueiros são intolerantes, mas muitos de seus comentaristas e que alguma dessa intolerância estava sendo transportada para alguns comentaristas do blog do Nassif.

        1. Como conter a revoada de trolls aos blogs abertos

          Mas eu nem chamaria isso de intolerância mas de burrice mesmo, trollagem, etc, o que não é raro no mundo dos comentaristas em especial em blogs como do Augusto Nunes, Tio Rei, para onde corre o esgoto. Eu acompanho o Eduardo Guimarães desde o início e o que noto é que ele come o pão que o diabo amassou para impedir a revoada de trolls ao seu blog. Essa revoada se fez presente no blog de Celso Melo, que publique aqui, a conferir

          https://jornalggn.com.br/noticia/os-ataques-contra-celso-de-mello-nas-redes-sociais

        2. Concordo

          Eu me senti virtualmente expulso dos três blogs citados por você, mas pelos participantes, que atuavam como jogralzinho.

          Azenha e EduGuim eu acompanho agora só os textos quando aparecem na minha TL do facebook, mas não entro lá pra comentar.

      2. Complemento perfeito ao

        Complemento perfeito ao comentário do adjutor. Tem somente Fla x time de várzea mesmo. Algumas vezes sonho em habitar em um país com uma imprensa plural, em que as diversas correntes tivessem voz, e aí, com certeza esse fla x flu acabaria de vez.  Mas no mundo real……. Outra coisa: Nassif mude este CAPTCHA, pela conta de mais ou de menos, haja vista para ler essas coisas…

      3. Complemento perfeito ao

        Complemento perfeito ao comentário do adjutor. Tem somente Fla x time de várzea mesmo. Algumas vezes sonho em habitar em um país com uma imprensa plural, em que as diversas correntes tivessem voz, e aí, com certeza esse fla x flu acabaria de vez.  Mas no mundo real……. Outra coisa: Nassif mude este CAPTCHA, pela conta de mais ou de menos, haja vista para ler essas coisas…

  2. A vida como ela é…o debate como ele é…

    Mais problemático que a polarização binária do debate, é a tentativa (não menos violenta, artificial e arbitrária) de colocar o debate fora destes limites quando a conjuntura mostra que (ainda) não é possível…

    Arf, titia só lamenta que o articulista não tenha se revelado de todo, e colocado p’rá fora sua campanha pró-marina, ou pró-eduardo campo, que no fim, dá no mesmo, na medida que os dois tentam surfar a onda da tal “terceira via” discursiva…

    No que é possível haver consenso, na ação pragmática, no dia-a-dia, estes consensos acontecem…

    Só que o articulista esquece que no campo simbólico, é normal (e desejável) que os limites sejam demarcados até de forma rude e brusca…

    Foi assim em toda e qualquer democracia que atingiu alguma maturidade…Olhem os EEUU, por exemplo: dava para coinciliar macartistas e democratas em 40/50/60…

    Ou pior, dá para amenizar o clima entre teaparty e…bem, titita não consegue definir bem quem seria o campo progressista por lá, hoje em dia…

    E isto (a polarização) se dá no campo da ação partidária (aliás, a palavra partido, de partição, de parte, não é um acidente), e não no campo do governo…Que são coisas parecidas, porém totalmente distintas como grandezas sujeitas à análise séria…

    Quando a “coisa aperta”, o consenso se obriga, e pronto…

    O pedro bó quer consenso conceitual entre fundamentalistas de mercado, entreguistas, privatistas e o campo progressista? Como?

    Quer bons modos???

    É possível ponderação entre a os auroristas da Grécia e a esquerda de lá? Ou os vampiros de Merkel e a “esquerda”(ainda tem isto por lá?) alemã…

    O que o articulista sugere, um governo mais amplo que o italiano?

    Mas se o PT, e o governo, acenam para mais e mais complacência, tentando unir  evangélicos e militantes tipo gunter, agrobusiness e agrofamílias, sindicatos e empresários, etc, e outros etc, é atacado por apresentar esquizofrenia ideológica ou pior, dubiedade de caráter, como resolver esta equação????

    Quem não tem “cojones” para a vida democrática, que vá militar da ABL…

    Arfff, Carta Capital vai acabar virando a revista Real, porque Cruzeiro ficaria demodê…

  3. Na verdade presenciamos um falseamento de Fla x Flu

     

    O que há agora é política, ou seja,  a preservação do poder sem alterações estruturais do sistema político-econômico.

    Aos dois principais partidos interessa esse simulacro, uma vez que um verdadeiro Fla X Flu implicaria na destruição de um ou de outro, com a consequente alteração do campo, ao menos até uma próxima partida.

    Os maniqueísmos, a agressividade, a tentativa de reducionismo do debate político justamente foge  de um confronto fundamental de idéias, de um Fla x Flu,  ficando mesmo no nível da cooperação antagônica, não de enfrentamento efetivo.

    Se não, vejamos: tanto PT quanto PSDB utilizaram-se dos mesmos “recursos não-contabilizados” , com os mesmíssimo operadores.

    A questão de não ter sido o PSDB,  primeiro utilizados do esquema, devidamente punido pela Justiça, e pela mídia,  deixa claro  seu campo hegemonico, enquanto o fato de Lula não ter sido impichado no auge do “mensalão” deixa claro o do PT.

    Ocorre que, o PT em função da prevalência dos objetivos eleitorais e de governabilidade, não pode ir à guerra, da qual o futebol é um similacro, mantendo então a política.

    Idem o PSDB, que, afinal, ainda detém grande fatia de poder.

    Os partidos tanto à direita quanto à esquerda desse consórcio disputam como podem seus espaços, o que foi – e ainda será, não tenhamos dúvidas – explicitado nas recentes manifestações, que, aliás, são a expressão da falência da atual simbologia política.

    A questão que está colocada hoje é a necessidade de mudanças estruturais no sistema político (finciamento de campanha, coligações, sistema partidário) e economico (reforma tributária, estrutura da dívida interna) que possibilitem a continuidade da Política… ou não…

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

  4. Nao há nada mais engraçado de ver do q roto rindo de esfarrapado

    Acho engraçado. Pessoas que se puseram como “donas da verdade”, olhando de cima com nariz empinado para os outros e proferindo sentenças, virem falar de flaXflu… Se olham tanto no espelho, mas nao se vêem. 

    1. CQD

      (…) O argumento ad hominem, sintoma maior da irracionalidade do debate, de tão corrente se banaliza pelas colunas, artigos e entrevistas, bem como em posts e “memes” favoráveis a situação ou a oposição, indistintamente.

       

  5. Há três níveis atualmente no

    Há três níveis atualmente no debate político(sem querer olhar ninguém de cima: é apenas uma mera opinião):

    1) O tosco, tacanho, baixo, vil, cretino e muitas vezes tangenciando ao delituoso.

    2) O sincero, moderado, mas radical. Faz que ouve o outro lado. Finca trincheiras e só sai de lá na últimas; quando não há mais condições. Não chega a incidir em desonestidade intelectual, mas chega perto.

    3) O civilizado, cordato e honesto. Cede quando reconhece que está errado. Reconhece os méritos dos adversários da mesma maneira que reconhece os erros dos aliados, sem com isso arrefecer seus pontos de vista. Deixar de pronunciar que tem e defende um lado. 

    Tanto de um lado como do outro há “espécies” que se enquadram nos três tipos. Só acho que o pessoal da direita radical e reacionária não tem rival. São imbatíveis nos seus ódios. Podem até serem segregados numa classe especial: a das bestas-feras.  

  6. Fla-Flu político

    Flá-Flu é antigo, hoje a turra maior é Coríntians e Palmeiras (apesar da segundona).

    Porque que a política está acirrada? Quem simplificou o campo argumentativo e vestiu a repetição enquanto norma de convencimento? Aonde deveria estar acontecendo o debate?

    Em qualquer canto onde se trabalhe o processo democrático de ocupação dos aparatos do Estado, é na imprensa.

    A quantas décadas a nossa imprensa deixou de fazer isso?

    Desde que o processo democrático possibilitou que representantes dos setpres populares ocupassem os governos das várias instâncias do Estado. Alguém já se esqueceu do Pro-Consult, na apuração da eleição do Brizola em 82? Alguém já se esqueceu da edição do debate Lula X Collor em 1989?

    Se esqueceram, é bom assistir o “Muito Além do Cidadão Kane”, pra refrescar a memória. O alinhamento das 11 famílias midiáticas só se tornou mais descarado, a ponto de repetirem manchetes no mesmo dia, e de replicarem conteúdos nos variados meios de comunicação.

    É uma unanimidade construída dentro de posturas políticas elaboradas racional e publicamente?

    Ninguém tem utilizado o conceito de Ideologia para explicar coisas desse tipo. Será que nós conseguimos liquidar o conceito desde o triunfo do Fukuiama (alguém ainda se lembra dele?), e o seu fim para a história.

    A estabilidade democrática que o país (e o continente viveram nestas últimas décadas, fez consolidar um campo de representações na esfera política, que não adianta martelar argumentos que não considerem aquilo que a população percebe. Isso faz parte das construções ideológicas, que vieram desmontar a idéia dos “formadores de opinião”, que, se pressupunha, intermediava o campo dos bem formados daquele da massa ignara. Os formadores de opinião dariam racionalidade ao processo de escolha política da massa; a pesquisas de opinião serviriam para aferir esse processo. No entanto as pesquisas de opinião sempre higienizaram das aferições políticas da massa, a relevância do ordenamento político-partidário, reduzindo a investigação às pessoas físicas que se punham na luta política eleitoral.

    O processo eleitoral se assentou no campo dos interesses de classe instituídos no país. Para um país com uma desigualdade abissal como o nosso, a diferença das práticas políticas e de governança se fez transparente; bastou provar de outro remédio.

    Por que será que o campo argumentativo da nossa burguesia se voltou para a moralidade, resgatando as tradições Udenistas? Por que o discurso ideológico da redução do Estado e da apropriação do aparato público pelos processos de privatização foram reduzidos a pó, por um governo que reestrutura o Estado e o habilita ao atendimento dos grupos sociais subalternos. O PSDB abandonou a perspectiva de uma crítica conservadora, mas ainda de caráter social democrata, para capitular à velha tradição cobrada pelos interesses do grande capital. O debate sai da lógica da governabilidade e passa para o campo argumentativo dos mocinhos e dos bandidos.

    O moralismo do assalto ao erário público, pelos “corruptos” e nunca pelos corruptores, oculta a apropriação do Estado por nossas elites desde sempre. Temos que naturalizar uma política de juros que assalta o Estado para acumulação de Capital e teremos manchete de capa para o motoboy que recebeu 600 reais sem registro em contas de campanha.

    A construção ideológica do Processo do Mensalão começa com a denúncia dos 40 (dá-lhe Ali Babá) e passa por todos os mecanismos de ocultamento de provas para caracterizar tudo como meliância e não como um proedimento praticado indiscriminadamente por todos os partidos. Esconder a Satiagraha e o Daniel Dantas para que o dinheiro virasse “dinheiro público”.

    É esse o nó que conforma as discussões políticas desses universos constritos. A trollagem é mais um mecanismo de supressão da expressão da diversidade, daí a intransigência com que alguns foros como os blogs sujos tratam certos campos argumentativos. Já não bastava todo o resto para eles se manifestarem?

    Os filhotes da Casa Grande e seus capatazes só se contentam com o silência na geral.

     

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