Fracasso da direita mostra que acabou-se a ilusão com o golpe, diz Tereza Cruvinel

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – A jornalista Tereza Cruvinel apontou, em artigo publicado pelo Brasil 247, nesta segunda (27), que foi a desilusão com o golpe do impeachment que levou Michel Temer ao poder responsável pelo fracasso das manifestações convocadas para o domingo, por movimentos de direita.

Cruvinel avaliou que para além da pauta difusa – contra foro privilegiado, voto em lista fechada e estatuto do desarmamento -, os movimentos de direita colheram os maus frutos dos projetos impopulares e retiradas de direitos encampados por Temer. Nem a elite econômica tem dado sinais de satisfação com o presidente.

Para a jornalista, a saída para a crise virá “se os que não saíram às ruas hoje se juntarem com os que saíram no dia 15, produzindo um grande movimento pelas eleições diretas antecipadas. Quanto mais cedo, menor será o custo.”

Por Tereza Cruvinel

No Brasil 247

A desilusão mandou recado neste domingo

Há um sentido muito claro no fracasso das manifestações convocadas para este domingo, 25, por MBL, Vem Pra Rua e outros movimentos que fizeram grandes atos no ano passado a favor do impeachment: amplos setores da classe média desiludiram-se com o golpe que apoiaram e entenderam o sentido retrógrado do governo Temer.  Também da elite econômica vieram mensagens de decepção. Algumas foram expressas ao próprio Temer num encontro com representantes do PiB na noite de sexta-feira.

O comparecimento aos atos chamados pela direita variou de 200 a 300 pessoas nas principais capitais, inclusive no Rio e em São Paulo.  Embora isso não signifique que estes setores arrependidos estejam dispostos a  engrossar o “Fora Temer”,  a comparação do fracasso de hoje com o êxito dos protestos contra Temer e suas reformas, realizados no último dia 15,  por iniciativa das centrais sindicais e  movimentos sociais, aponta para um indiscutível mudança na conjuntura das ruas. Mais de um milhão de pessoas participaram dos atos em todo o país, indicando que a rejeição ao governo que resultou do golpe hoje predomina sobre a pauta difusa da direita: apoio às reformas, apoio Lava Jato, ao fim do foro especial,  contra o voto em lista e o financiamento público de campanhas e contra o estatuto do desarmamento.

A inflexão está em curso, no povo e na elite, embora isso não garanta uma saída política para a encalacrada brasileira. Acabou-se a ilusão com o golpe. Temer prometeu crescimento e veio mais recessão e desemprego. Prometeu o combate à corrupção e a cada dia mais um ministro de seu governo aparece nas delações.  A população já compreendeu que suas reformas são um esbulho dos direitos sociais e trabalhistas. O MBL e seus semelhantes não ousaram defender apoio ao governo, está claro, mas a defesa da Lava Jato também não se revelou mobilizadora. Os vazamentos, os abusos e mesmo a desastrosa Operação Carne Fraca (embora não integre a Lava Jato foi visto como parte do combate à corrupção) abalaram o antigo entusiasmo pela cruzada do juiz Sergio Moro, PF e MPF.  A população continua contra a corrupção mas parece cansada desta  crise política interminável. Kim Kataguiri amargou sua frustração culpando pelo fiasco um festival de música e um jogo de futebol na capital paulista. Mas o fracasso não foi só lá, foi em todo o Brasil.

Outras bandeiras propostas para os atos que fracassaram hoje também não despertaram interesse. Por exemplo, “contra o voto em lista fechada”. O grosso da população ainda não entendeu direito o que seria esta mudança na forma de votar. A esquerda, que sempre a defendeu, devia aproveitar o momento, explorar a contradição que leva os conservadores a aceitá-la e sair logo em sua defesa. Ainda que alguns corruptos estejam aceitando o voto em lista, que sempre combateram, apenas para tentar se reeleger, este sistema é mais construtivo para a democracia, num pais onde o dinheiro compra mandatos.

Também foi reveladora, neste domingo, a declaração do atual presidente da Andrade Gutierrez, Ricardo Sena. Depois de confessar que tinha uma “birra homérica” de Dilma, assim define sua relação com o governo  Temer “Sou da turma dos decepcionados”.  Hoje existem, portanto, os decepcionados da rua e os decepcionados da elite.  Em busca de socorro do grande empresariado, Temer reuniu-se com uma penca deles na sexta-feira à noite em São Paulo.  Ouviu críticas ao fato de não ter censurado a Polícia Federal e seu ministro da Justiça pelo desastre da Carne Fraca, ouviu reclamações quanto ao recuo na reforma previdenciária, da qual excluiu os funcionários estaduais e municipais,  ouviu cobranças sobre a conduta do BNDES e outros reclamos mais. O PIB também cansou e se decepcionou.

Mas nada disso nos garante, ainda, uma saída política. Se ela não aparecer, Temer vai até 2018, com um custo muito mais elevado para o país.  O assanhamento político do ministro Gilmar Mendes ascende em algumas imaginações a suspeita de que o TSE poderá acolher o parecer do relator Hermann Benjamin pela cassação da chapa Dilma/Temer. Vale dizer, pelo afastamento de Temer. Mas isso nos levaria à eleição indireta, quem sabe com Gilmar candidato, o que não seria uma saída, mas um procrastinação da crise.

A saída virá se os que não saíram às ruas hoje se juntarem com os que saíram no dia 15, produzindo um grande movimento pelas eleições diretas antecipadas. Quanto mais cedo, menor será o custo.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

12 Comentários

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  1. Muitos que apoiaram o golpe,

    Muitos que apoiaram o golpe, que são próximos da gente (alguns de grupos radicais de direita), recomeçaram a gritar uns 60 dias após a posse golpista do temer, para disfarçar a mérda que compraram e que tanto defenderam com unhas e dentes. Para derrubar Dilma, foram extremamente intolerantes e radicais com exteriorização de ódio, mas, não os considero como “warriors” como aqui no blog, da mesma forma que os que assim o foram para defender Dilma. A grande maioria é apenas fruto de um comando ditatorial golpista tocado por bandidos e orquestrado desde 2012. A grande maioria desses “warriors” são apenas cidadãos comuns enganados, e que passaram a demonstrar suas insatisfações e indignações na base da paranóia / indignação potencializada.

  2. antecipar eleiçoes pra q? a

    antecipar eleiçoes pra q? a presidente segue eleita e sem cirme nenhum na ficha…

    sem crime, sem impeachment!

     

    VOLTA DILMA!

     

    não vai levar 21 anos de novo.

  3. Nada é tão ruim, que não possa piorar?

    Gilmar Mendes presidente da Republica… Acho que sera mais ou menos uma continuidade de Temer, so que governando com o PSDB.

    Os que sairam para manifestar pela Lava Jato e prol do governo Temer, so podem ser fascistas ou com grandes problemas cognitivos.

  4. O governo Temer

    e seus ministros estão provando a cada dia, que além de corruptos, não tem capacidade nenhuma p/ governar um país chamado Brasil. Ainda mais c/ a colaboração explícita dos Harwardianos do PSDB, que só conhecem Rio, SP e Brasília. O que conhecem muito bem são os EUA e mt mal a Europa e México, já que ainda não perceberam, ou fingem não perceber, o estrago que o Neoliberalismo fez e está ainda fazendo por lá.

    Pobre do México, onde levaram a mais pobreza com o NAFTA e agora irão fazer um muro, separando-os. E a entrada das drogas? como é que fica, ou como ficam os maiores usuários de grogas do mundo ?

  5. A direita não tá iludida, não…

    Tá sentada no golpe, tá no poder. Não vem com esse papo. Cuidado com isso.A direita tá botando pra quebrar.

    Agora, o povaréu que se identifica com a direita, ah, essa sim, tá pensando às escondidas “fiz c*gada”, mas tá tão miúda… Bom, teria que se unir às Centrais Sindicais, o pessoal da esquerda (ou nem tanto de esquerda), democratas em geral e todos aqueles que falaram pra tomar cuidado com o andor e que tomaram agressões de todo tipo.

    Mas o quê? Identificar-se com chão de fábrica? Que nada. Pra isso acontecer, tem que sair do salto. É mais fácil bajular essa gente do que convencer que é muito ego pra pouco conteúdo.

    Cadê o pessoal do selfie em frente à polícia? Cadê, inclusive, o pessoal dos vinte centavos (o Dória é outro da direita que tá botando pra quebrar)?

    O camaleônico Delfim Netto, no Canal Livre, da Band, até citou o Friedman, o papi dos Chicago Boys (“somente uma crise – real ou pressentida – produz mudança verdadeira. Esta, eu acredito, é a nossa função primordial: desenvolver alternativas às políticas existentes, mantê-las em evidência e acessíveis até que o politicamente impossível se torne politicamente inevitável”). Nada de análise comparativa da terceirização dos diversos países (o México, então, tá uma “maravilha”, que mesmo com Nafta, melhor cruzar o deserto pagando um coiote – http://reporterbrasil.org.br/2013/09/no-mexico-sindicatos-denunciam-impactos-da-regulamentacao-da-terceirizacao/) nem de falar que o empresariado vai é ferrar de fato os trabalhadores. Simplesmente discutem na caruda o que vão fazer e vão te prejudicar.

    Aquela falas nojentas da CNI (https://www.cartacapital.com.br/revista/904/temer-prepara-uma-reforma-trabalhista-para-agradar-aos-empresarios) começam a se tornar uma realidade muito grave. Essa gente de parque industrial atrasado e sem interesse em formação/ educação de qualidade (senão, filho de pobre entra na Universidade e não se sujeita a qualquer salário, inclusive competindo com a classe média que tem horror de pobre no avião…), incompetente em competir com o mercado internacional, jogou a toalha e viu que o negócio é a exploração doméstica mesmo (https://jornalggn.com.br/noticia/cni-quer-jornada-de-trabalho-de-12-horas-para-aumentar-a-competitividade).

    A desilusão (difícil não chamar de estupidez, mas…) em torno das próprias pautas equivocadas parece um sinal de luto. Princípio de realidade, quem sabe.

    A direita disse “Valeu, otário!” e foi cuidar da grana, do poder de fato. O povaréu que o levou, tá esperando sentado.

    Análises feitas por “sociólogos midiáticos” esvaziam o povo nestas questões de um modo muito delicado. Essas “reformas”, segundo eles, não são de conhecimento pleno da população. Que seja um fato, mas isto é usado como artifício para outra coisa (“não precisamos discutir com a população, pois ela não vai entender mesmo”). No entanto, como estamos no meio de um golpe jurídico-parlamentar, não tem mesmo que discutir com a população. Este golpe só precisou de consenso no início; depois que o poder se cristaliza, esquece.

    Duas citações “célebres”. A advogada a soldo do partido multidelatado e impune declarou ontem que as delações precisam ser públicas e sem censura… “sem tarja”, disse ela. O multidelatado que começou sua carreira num empreguinho indicado na Caixa Federal é o citado? Teria sido um ato falho?

    E aquele advogado de passado integralista que disse que anistia ao caixa 2 é “traição”? Quaquaquá. Eu não contrataria um cara desses, pois é traidor falando de traidores; sentiu-se traído.

    Só gente ilibada.

     

     

     

  6. Não sei se é verdade que um

    Não sei se é verdade que um dos jornalões apresentou imagens de manifestantes do ano passado para impressionar, ou melhorar a situação dos coxinhas. Mas, com certeza, Regina Duarte deu seu show, dizendo-se apoiada pelos coxinhas para validar o medo de antigamente. Ela, por certo, tá querendo enveredar pela política; já andou pegando na vassoura de Dória pra demonstrar seu amor por ele. 

  7. Sempre fui favorável à escola

    Sempre fui favorável à escola da anti-psiquiatria, que defende o fim dos manicômios e a liberação das ruas aos paranoicos, esquizofrênicos, masoquistas, sádicos, oligofrênicos e loucos de todo gênero. Eles devem ter o direito de celebrar em público seu rei, o rei dos medíocres https://www.youtube.com/watch?v=LCQjrW0ofRE

    1. Sobre o direito de celebrar o rei dos b*b*c*s, outro link

      Vou tentar incorporar, mas, como é em francês, deixo primeiro um link para a letra: https://play.google.com/music/preview/Tpidentto222ui4pyr743zt4i64?lyrics=1&utm_source=google&utm_medium=search&utm_campaign=lyrics&pcampaignid=kp-songlyrics.

      Aqui o link para a música, caso eu nao consiga incorporar: https://www.youtube.com/watch?v=W1jV9kp5060

      Tentando incorporar: [video:https://www.youtube.com/watch?v=W1jV9kp5060%5D

       

  8. Agora é TARDE. O país já

    Agora é TARDE. O país já morreu, os direitos foram embora e não vão mais voltar…

    Pena que a gente vai ter que pagar pela estupidez e canalhismo dessa gente.

  9. A insatisfação é das elites

    A meu ver, a jornalista está totalmente equivocada. Primeiro, a manifestação do dia 15 não foi um sucesso, pois houve a presença somente da militância. A de domingo, por seu lado, foi a passeata da classe média alta, dos que ganham acima de 10 mil/mês. Em ambas não teve povão. Por quê?

    1. A Militância parou o Brasil contra a reforma da previdência

      Então as manifestações pró Lavajato foram tão esvaziadas quanto as manifestações contra as reformas da previdência?

      A reforma contra a previdência parou o País.

      Tem pai que é cego.

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