Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Gil Gomes e Datafolha fazem a tradução política do fascismo brasileiro, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

Nos dias que antecederam a eleição de segundo turno dois fatos relevantes: a morte do radialista e jornalista Gil Gomes e os resultados da pesquisa Datafolha sobre os atributos dos candidatos à presidência. O primeiro, evento sincrônico cheio de significados – a morte do representante de uma extirpe da crônica policial que por décadas cultivou o ódio, medo e vingança dos telespectadores e ouvintes. Cuja colheita vemos na atual polarização política. E o segundo, divulga números sobre os atributos aos candidatos à presidência que relembram os resultados da célebre pesquisa “Personalidade Autoritária” liderada por Theodor Adorno na década de 1940 nos EUA. Pesquisa representou as configurações psicodinâmicas relacionadas a atitudes e expressões antissemitas, etnocêntricas, conservadorismo político e econômico para chegar ao potencial fascista, a famosa “Escala F”. Provando que o pensamento autoritário não é uma simples “aberração cognitiva”. Mas uma formação reativa psíquica à espera de uma tradução política.

Nesses últimos quinze dias que antecederam as eleições do segundo turno, duas notícias repletas de sentido no contexto atual: a morte do jornalista e locutor Gil Gomes e o resultado da pesquisa Datafolha sobre qual a opinião sobre os atributos dos candidatos à presidência.

É muito sincrônico o falecimento de Gil Gomes às vésperas de uma possível vitória do candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro. Gil Gomes fez parte de toda uma geração midiática de nomes como Jacinto Figueira Jr. (“o homem do sapato branco”), Luis Carlos Alborgethi et caterva cuja retórica sensacionalista da crônica policial explorava os instintos mais baixos dos espectadores como o medo, o ódio e a vingança.

Todos eles, por décadas, cultivaram no rádio e na TV esse psiquismo que agora foi agenciado politicamente por um candidato como Bolsonaro. Morte sincrônica: é como se Gil Gomes deixasse esse mundo com a sensação da missão cumprida de ter contribuído com a gênese de um político medíocre, vindo do “baixo” clero da Câmara, que ganhou força ao se sintonizar à essa egrégora proto-fascista.

E por falar em “proto-fascista”, os dados levantados pela pesquisa Datafolha, levantados no dia 17 e 18 de outubro, sobre os atributos dos candidatos à presidência dá muito no que pensar. Principalmente porque a interpretação dos números nos remete diretamente à pesquisa empírica psicossocial chamado “A Personalidade Autoritária”, liderada por Theodor Adorno na década de 1940 nos EUA, junto com outros pesquisadores da Universidade da Califórnia como Nevitt Sanford, Daniel Livinson e Else Frenkel-Brunwisck.

Atributos dos candidatos

“A Personalidade Autoritária” foi uma pesquisa que durou vários anos, mobilizando questionários, escalas, entrevistas individuais e interpretação interdisciplinar dos resultados – representar as configurações psicodinâmicas relacionadas a atitudes e expressões antissemitas, etnocêntricas, conservadorismo político e econômico para chegar ao potencial fascista, a famosa “Escala F”.

Adorno exilou-se nos EUA, fugindo do nazismo, quando percebeu como indivíduos aparentemente normais, vivendo num ambiente liberal e democrático, apresentavam disposições e expressões fascistas, semelhantes às experimentadas por ele na Alemanha. 

 

 

A Escala F mediria algo análogo a uma estrutura latente de personalidade, que seria determinante para a recepção de ideologias racistas e etnocêntricas. Mediria um conjunto de facetas em um indivíduo cujo conjunto formaria uma síndrome, uma estrutura mais ou menos duradoura numa pessoa, tornando-a receptiva a propaganda antidemocrática.

Traços recorrentes que comporiam aquilo que Adorno denominou como “personalidade autoritária”: convencionalismo, submissão acrítica, agressividade autoritária, destruição e cinismo, poder e rudeza, superstição e estereotipia, exteriorização, projeção e a exagerada preocupação com relação a temas em torno da sexualidade.

Mas, em primeiro lugar, vamos aos dados levantados pelo Datafolha:

 

 
 
A Escala F

Agora vamos fazer um breve resumo dos traços recorrentes da Escala F:

(1) Convencionalismo– aderência rígida a valores convencionais de classe média. Resulta não de escolha espontânea, mas de pressões externas de tipo social;

(2) Submissão acrítica (autoritária)– atitude remissiva e acrítica nas relações com autoridade moral. Adesão acrítica que expressa a falta de consistência interior – ego fraco, sem autonomia, tendendo a seguir o que se entende por “maioria”;

(3) Agressividade autoritária– tendência de rejeitar, controlar e punir quem viola as normas convencionais. Orientação constituída de considerável carga de hostilidade. Sempre dirigida a grupos minoritários e ditado por “boas razões”: moralidade e patriotismo;

(4) Destrutividade e cinismo– hostilidade difusa e desprezo a tudo que é humano. Pessimismo universal que justifica a própria hostilidade e impulsos interiores não-aceitos;

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

6 Comentários

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  1. Wilson Ferreira:
     
    Vamos orar

    Wilson Ferreira:

     

    Vamos orar 1/3. Aquele doado ao Capo pelo Santo Papa Francisco:
    Amém? Irmão petista? Odeias a mídia? Odêêêêêio!!
    Mídia? Imprensa? Tudo é perfídia!

    Quero é minha recompensa!
    Não sou peixe-lobo,
    Sou sim 1 apedeuta.
    Odeio Rede-Globo.

    Sem opinião de jornalista traíra, são PiG golpistas.
    Do PCdoB amo Jandira,
    Na cultura Ipojuca
    Amo e divulgo,
    Tudo que é porralouca

    Depois da meia-noite urubu vira frango,
    semeio tudo que é barango.
    Vem na minha companheiro!
    Só não faz pergunta difícil.
    Não sou artilheiro,
    sou como mulher fácil.

    Mas adoro é dinheiro.
    Senhor, fazei de mim
    1 instrumento da corrupção
    e do golpe a Constituição.
    Onde tiver gorjeta,
    que eu encha maleta.
    Que seja minha sina receber propina.

    E se houver mutreta que eu mame na teta.
    Amém? Améééééééééééééééééééééééém!
     

  2. Fiquemos atentos!

    Da continuação do artigo: “Quando o discurso “propositivo” de Bolsonaro é “vou jogar duro contra o déficit público”. Haddad fala em macroeconomia e máquina do Estado. Somente agora, na reta final, Haddad vem com o discurso direto em baixar o preço do bujão de gás e aumento do salário mínimo… “. Não é possível que Haddad seja um idiota, então, ele escolheu agir como um idiota. Cavalo paraguaio por opção. Por que? Parte de algum acordão? Fiquemos atentos!

  3. Gil Gomes lhes diz…..Bom dia!

    Dizer que Gil Gomes traduz a política do fascismo brasileiro é, no mínimo, injusto..

    Gil Gomes esteve fora da mídia por  mais de 15 anos – de 2005 a 2016.

    Seu falecimento foi conseqüência de longo período de enfermidade degenerativa.

    Enquanto ele se manteve recolhido, uma plêiade dos ditos narradores ferozes da crônica policial floresceram sem qualquer crítica.

    Afanásio Jazadji em 1980 em programa próprio

    Wilton Franco

    Ivo Morganti

    Wagner Montes , os três maiores expoentes do “Aqui Agora” da TVS-SBT

    Luiz Roberto Datena

    Joel Datena (substituto e continuador)

    Marcelo Rezende – falecido

    Luiz Bacchi  ( herdeiro profissional de Marcelo Rezende)

    Paralelamente aos narradores ferozes tivemos e ainda temos os exploradores do “mundo cão”

    sendo seus maiores expoentes:

    Jacinto Figueira Jr. – o homem do sapato branco, que iniciou sua carreira no gênero em 1966, sendo interrompido pela ditadura e retornando, já na TV, em 1980, com o Programa do Jacinto – o homem do sapato branco.

    Dos remanescentes desse gênero tivemos o João Kleber, com os segredos de suas vítimas e os “testes de fidelidade”

    Também com grande sucesso muitas mulheres exploram esse ramo:

    Marcia Goldschimidt teve seus dias de fama com o seu programa “disgusting” na Bandeirantes

    Regina Volpato com a sua expressão risonha e impassível deixou exibir as mais repulsivas contendas nos seus

    “Casos de família”

    Christina Rocha, com desmedida indignação continua fazendo o mesmo programa no SBT

    E o campeão da indignidade, Ratinho, ainda faz com grande sucesso programas dessa natureza, sem que isso possa indicar uma política de fascismo.

    Acusar o Gil Gomes de  tradução política do fascismo brasileiro, repito, não guarda qualquer nexo com a realidade dos seus iguais, se não, vejamos:

    Afanásio Jazadji, narrador policial ferrenho, boçal, machista, preconceituoso, grosseiro, elegeu-se deputado em 1987 e até 2007 exerceu mandato, passando pelo PDS, PST E PFL

    Ratinho elegeu seu filho Governador do Paraná e também já exerceu cargo eletivo.

    Wagner Montes é  deputado no Rio de Janeiro pelo PRB e presidente da assembléia legislativa.

    Datena quase se candidata à prefeitura, depois a  a senador e de quebra, fez campanha para o coiso, que se elege presidente agora.

    Marcelo Resende não foi para a política – morreu

    Jacinto Figueira Jr. – não foi para a política – também já morreu

    Gil Gomes, nunca foi político, nunca procurou eleger ninguém, tampouco fez campanha ou deu apoio a algum político.

    Gil Gomes sequer fazia apologia ao crime.

    Gil Gomes, acompanhava e narrava com maestria e originalidade ocorrências policiais.

    Sobre a personalidade “autoritária” do recém eleito mandatário, creio que sua análise foi de

    “insustentável leveza”.

    Do que descreve o CID e renomados psiquiatras e psicólogos a personalidade  do dito político teria enquadramento no campo da patologia, mais precisamente na psicopatia.

    Declinando uma breve descrição do comportamento psicopata, convido-o a compara-lo à “personalidade autoritária” que, na verdade pode ser um dos componentes na personalidade psicopata.

     

    Psicopata: 7 Características Centrais

     

     

    Na categoria Conselhos PráticosPublicado a 2 de Julho de 2012 

    Psicopatia e psicopatas, são temas que muito abordados em noticiários quando surgem Serials Killers, surgindo também muito frequentemente em filmes. Mas afinal o que é um psicopata? Quais as suas características? Serão os psicopatas necessariamente Serials Killers?

    A Psicopatia é um transtorno da personalidade, descrito no DSM-IV como Transtorno de Personalidade Antissocial. O sintoma central deste transtorno é marcada pela total ausência de empatia, isto é, o psicopata é incapaz de perceber os sentimentos das pessoas à sua volta.

    Apresentam como principais características :

    1-      Encanto superficial – Os psicopatas, possuem lábia e sedução, capaz de manipular as pessoas que os rodeiam. Possuem um encanto inicial, que seduz a maioria das pessoas. Usam essas competências como meio de atingir os seus fins.

    2-      Mentiras sistemáticas –  Todas as pessoas mentem, porém os psicopatas utilizam a mentira como uma “ferramenta de trabalho”. O psicopata sabe mentir, frequentemente teatraliza situações vantajosas para si, como: sentir-se ofendido, magoado, arrependido. As mentiras vão de encontro com a parte narcísica da personalidade, este quer ser admirado, ser mais rico, vestir-se melhor, considerado o mais competente. (Ver Como Ser um Perito a Detetar Mentiras)

    3-      Ausência de sentimentos afetuosos – Os psicopatas negligenciam os sentimentos dos que os rodeiam. São insensíveis á dor dos outros, preocupando-se apenas com a sua. Possuem baixa inteligência emocional (Ver Emoções: Inúteis ou Fundamentais?),  visto que não compreendem o sofrimento das pessoas à sua volta

    4-      Ausência de consciência moral – Os psicopatas não possuem consciência moral nem ética. Não importa o que fazem, o que importa é atingir os seus objetivo. Os seus comportamentos visão apenas os seus fins, independentemente se irão prejudicar alguém ou não. As pessoas à sua volta são usadas como meios para atingir fins.

    5-      Comportamentos Impulsivos – A falta de moralidade e ética, fazem com que as suas ações não sejam ponderadas, impulsionando a cometer brutalidades. A maioria das vezes são mais subtis, existindo uma inadequação da reação ao estímulo, isto é, ou faz uma “tempestade num copo de água” ou então não tem reação nenhuma face a um estímulo importante.

    6-      Incorrigibilidade- O psicopata dificilmente se corrige, se carece de moralidade, carece de culpa. Se não possui sentimento de culpa e não compreende o sofrimento dos outros, não percebe o “porquê” de ser corrigido e corrigir o seu comportamento. Contudo os psicopatas são muito hábeis a manipular, chegando a convencer os “educadores” de que estão educados. Quando vão para a prisão, são presos exemplares, bem comportados, amáveis, prestáveis.

    7-      Falta de adaptação social – O psicopata é egocêntrico e egoísta, apenas o bem-estar e o sofrimento próprio importam. Dificuldades em socializar e fazer amigos, devido a se centrar excessivamente em si próprio.

    É importante referir que os psicopatas não são necessariamente Serials Killers, eles procuram o que lhe dá mais prazer, dinheiro, poder, status. Quem nunca teve, um colega ou chefe com uma personalidade manipuladora, com pouca ética e muita lábia. Que possui pouco conhecimento, mas fala como se tivesse todo o conhecimento do mundo. Que tudo e só o que ele diz é verdade. No sucesso, que fica com a glória alheia e no insucesso descarta-se das responsabilidades.

    Estudos indicam que dentro das empresas a probabilidade de encontrar um psicopata é 4 vezes maior que no total de população. Por outro lado, ao nível da gestão financeira, a curto prazo conseguem ter bons resultados, visto que as necessidades dos trabalhadores não são tidas em conta, olham apenas para os números. Contudo, é impossível manter a médio longo prazo, uma empresa com trabalhadores descontentes.

    E você, vendo estas características, conhece algum psicopata?

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    Autor: Jorge Elói

    Existe, claro, vasta bibliografia a respeito do assunto, e essa descrição da personalidade psicopata se presta apenas para iniciar o assunto.

    E que Gil Gomes descanse em paz!

     

     

     

     

     

      

  4. Realmente as respostas às

    Realmente as respostas às questões do Datafolha são interessantes porque se contradizem. O que me fez dar dois pulinhos aqui foram as questões sobre quem pode cuidar melhor da Educação e a maioria respondeu Bolsonaro e qual o mais inteligente… Tem-se então que muita gente votou sem saber em quem e qual projeto estava votando exatamente. Vamos ter que dialogar muito com o povo brasileiro.

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