Governo e PT compreenderam que é preciso reagir, por Rogério Dultra

Do blog Democracia e Conjuntura

Reação ou cadeia

por Rogerio Dultra dos Santos
 
Este mês que termina começou com a calmaria que antecipa as tempestades. Ano eleitoral, sabe-se, não abre espaço para improvisações. A calmaria, portanto, é mesmo aparente e, diferentemente do ano que passou, este 2016 foi inaugurado taticamente por um movimento de reação – a entrevista aos blogueiros de esquerda – do próprio Lula, até então timidamente nas cordas. Posição, aliàs, inaceitável para o candidato presidencial mais evidente em 2018. Num ambiente polarizado, como o país hoje, tomar a iniciativa na batalha é fundamental.
 
Antes de continuar, uma lembrança: 2015 foi um ano turbulento, verdadeira montanha russa política. Sob este rio caudaloso de golpes e contra-golpes, de reviravoltas mirabolantes no Congresso, no STF e na vida social (vide o desastre ambiental da Vale do Rio Doce, gestado cuidadosamente por uma série de fraudes durante os governos do PSDB em Minas, a resistência das secundaristas de São Paulo contra o fechamento de suas escolas, ou mesmo a derrota da tese do impeachment de Eduardo Cunha, defendida fervorosamente pelo Ministro Fachin no STF) o poder judiciário  tornou-se o protagonista num processo político que, como já afirmei, captura os poderes da República.

 
Se 2015 pudesse ser resumido em um grande movimento político-institucional, não seria pelos ataques sistemáticos à estabilidade do governo Dilma, nem pelo processo de criminalização dos movimentos sociais, ou pela queda de braço entre o Presidente da Câmara dos Deputados, a Procuradoria Geral da República e o STF. 2015 foi o ano em que a grande imprensa sentiu-se livre para mentir despudoradamente, assumindo combater na arena política o projeto de país captaneado pelo PT.
 
O ano político que começou na semana passada com a citada entrevista de Lula, onde ele afirma, entre outras coisas, que compreende que os movimentos orquestrados da midia e da “Operação” “Lava-Jato” são orientados para a perseguição exclusiva e seletiva do PT. Nesta semana, a reação veio à cavalo: a 22ª Fase da “Lava-Jato”, pornograficamente denominada de “Triplo X”, o “iate” do Lula – uma canoa de alumínio de R$4 mil reais –  e a intimação para que o casal Lula Marisa deponha para um Promotor de Justiça do Estado de São Paulo que não achou provas para denunciar Lula – seu desejo exposto em semanário nacional.
 
Como afirmado pelo Luiz Carlos Azenha, a guerra de classes só dá trégua na cabeça dos que se esquecem da pobreza de onde vieram. Por um tempo, a cegueira dominou na compreensão acerca da gravidade criminosa da oposição da mídia ao governo e à democracia. A ficha caiu. O Lula finalmente compreendeu que a virulência das elites é mais profunda e só aceita acordos para “inglês ver”. Este quadro de disputa política via judicialização se anuncia desde 2004, com a criação da Ação Penal 470 no STF. A “Lava-Jato” é apenas a sua reprodução, amplificada pela incessante exposição.
 
Mas é importante olhar para o que 2015 tem a nos ensinar. É uma chave de compreensão histórica para o que irá acontecer entre 2016 e 2018. A síntese do ano veio afinal, e apontou para como devemos funcionar a partir de então. E, como sói há de ser, a síntese destes nossos tempos, a “síntese epocal”, veio pelas palavras do gênio.
 
O “vai trabalhar vagabundo!” de Chico Buarque aos seus achacadores do Leblon resume uma oposição sem projeto de país e cuja agenda golpista foi inflada artificialmente pelos meios de comunicação de massa, que passaram a orientar uma narrativa de criminalização das esquerdas. Os vagabundos que “xingaram” Chico de petista, à falta de outros adjetivos deletérios, e à falta de um imaginário capaz de ir além das manchetes proto-fascistas da mídia nativa, representam um ano que inaugura uma polarização severa.
 
Assim, a compreensão do governo, do partido e de suas principais lideranças de que é preciso reagir aos ataques virulentos e desenvolver uma narrativa própria, que combata o esquema golpista e proto-fascista que se instala no país é uma boa notícia. É a notícia do ano. Se não houvesse esta compreensão, assistiríamos sentados no sofá a prisão de Lula, a desagregação de toda a esquerda e a destruição da democracia em eleições municipais monoliticamente à direita. O lema agora, irradiado para as esquerdas, para o governo e para o próprio PT deve ser este mesmo: reação ou cadeia!
Rogerio Dultra

10 Comentários

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  1. Lula é mesmo um gênio

    Lula é mesmo um gênio político sem dúvidas. Ao abrir o ano de 2016 com sua entrevista aos jornalistas progressistas ele diz em outras palavras: ‘estou aqui! Estou vivo! Pronto pro combate. Se não quiserem que eu seja presidente de novo, me prendam’!!!

    Foi só utilizar uma frase de efeito, dizendo que não há ninguém mais honesto que ele neste país para o jogo modificar-se ferrenhamente. A mídia agora, e também procuradores e delegados federais, querem apenas o troféu Lula. E foi dada a largada! Não se sabe ainda qual deles, utilizando qual estratégia conseguirá primeiro.

    A tática de Lula é perfeita. Tira Dilma do centro das questões dando a ela mais uma oportunidade de governar, de tomar as decisões sem açodamentos. Coloca o próprio ex-presidente na linha de fogo. Ele sabe dos seus limites e o povão também! Acredito que 2016 será o ano de Lula! Muitos estão aí na espreita tentando destruí-lo. É esta mesma a palavra: estão procurando a DESTRUIÇÃO do candidato para que ele sequer chegue a 2018.

    A batalha de Lula não será fácil. O jogo é muito complicado quando o outro time é muito bem treinado, tem craques em quase todas as posições e o juiz da partida é tendencioso (pra não chamar de ladrão). MAs não dá pra jogar até 2018 na retranca. É preciso atacar e Lula entendeu bem esta situação. Já deu uma bolada na trave e assustou o adversário. Vamos aguardar os próximos lances pra ver quem entra em campo. De repente algum reserva de São Paulo entra em campo e detona a partida!!

  2. Governo e PT compreenderam que é preciso reagir

    Tudo se resume num fato central:

    – os governos de esquerda no Brasil não assumem suas bandeiras.

    Entra Lula/sai Lula – entra Dilma e tudo segue no mesmo tranco. A tentativa sempre frustrada de um acordo com o que chamamos “elite”. Na realidade o já anotado grupo de 1% e seus súcubos e outros mal informados.

    Com Dilma tal política de um acordão chegou ao climax com o “republicanismo caolho”. As instituições governamentais são deixadas ao sabor de seus integrantes sem um comando coerente com as políticas vencedoras nas eleições.

    MPF, PF e BC, entre outros, agem como polvos descontrolados.

    O JANOT esquece todos os malfeitos dos tucanos et caterva e dá ao Cunha o tempo necessário para pressionar o governo federal.

    A PF carece de comentários tal a quantidade de aparente desvios funcionais.

    O BC atua na contramão da política do governo com juros criminosos e incoerentes com os ajustes pretendidos, trava a economia e transfere bilhões para os sempre favorecidos 1%.

    De outro lado apenas dois ou tres políticos alinhados com o governo exercem críticas mais duras ao “golpismo branco” praticado  por instituições sem comando e setores do judiciário.

    Republicanismo não é sinônimo de inação e leniência. Isso é inapetência pelo comando e capitulação, gerando a esbórnia.

    O que se pretende com um verdadeiro republicanismo é o comando das instituições com ações dentro do marco legal e sem dar trégua a desvios funcionais. Processos mal arquivados, esquecimento de processar os Franciscos da vida, escandalos escondidos sob o tapete, etc, etc, etc.

    Sem essa de escolher comandantes baseados em listas dos mais votados. Isso é capitulação.

  3. É tarde de mais

    Essa reação não vai surtir efeito, pois demorou muito. É impressionante como o PT não reage, principalmente na época de eleições em que a boataria corre solta. Nisso os tucanalhas são gênios e os mesmos tem o apoio do PIG, judiciário, MP. é por isso que eu falo: está tudo dominado.

     

     

    1. Maquiavel

      É isso mesmo. Mas está dominado porque se deixou dominar. Só para não ir muito longe, os blogs “sujos” cansaram de implorar ao governo reações, e … nada! Repare que as manifestações se transformaram de pró governo em pró democracia (antigolpismo). E com essa SECOM, ABIN e ministério da justiça (PF) que temos… Você quer apostar para quem Lula daria a primeira entrevista numa sua hipotética (dificílima) vitoria em 2018?

  4. Talvez…

    Tarde demais.

     

    A soberba de Lula em achar que mesmo ganhando, a plutocracia nacional o saudaria, foi de uma avaliação política muito pueril.

     

    Agora, segura as pontas.

     

     Dilma é outra. Foi avisada até a exaustão pela militância. “Se defenda”, ataque seus detratores.  Agora tem um prjuízo que põe em risco o projeto das esquerdas, em provar a melhor capacidade de idéias e políticas.

     

    Vai remar a correnteza toda, de volta.

     

    “Quem avisa, amigo é”.

     

     

  5. ótima sacada.
    é isso mesmo

    ótima sacada.

    é isso mesmo que senti também….

    reagir e mostrar quem são os verdadeiros inimigos do país,

    os verdadeiros corruptos  que se refestelam no poder

    economico há quinhentos anos no brasil….

    cair, mas cair de pé, como diria o esportista…

    cair mas mostrar quem é o carrasco, como fez dirceu ao infame moro,

    aquele juiz  que aassessorou a ministra rosa webner no mensalão e teria ensinado a ela:

    não tenho provass, mas condeno porquee a literatura me permite”

    genial.o dirceu repetiu a frase ao carrasco, na frente dele, desmascarando-0.

  6. como será tal reação?

    a dilma não usou de seus poderes até agora, como o lula antes dela.

    os sinais de politização da pgr são quase tão antigos quanto o fim da indicação política pelo presidente. a aceitação da eleição significou jogar a pgr ao gosto político do pg da vez, invariavelmente de oposição, como é praxe em nosso judiciário conservador.

    o mesmo vale para a polícia federal, onde delegado vem a público para dar pito na presidente. e nada.

     

    agora, com o cerco fechado, tem como botar para correr procurador e delegado geral? há clima político para isso?

    a dilma tem como pedir pronunciamento à nação agora? vai ser vaiada de norte a sul. para piorar, tirou da cartola a tal reforma da previdência. será que ainda não sentiu o vento político?

     

    depois de anos de ódio semeado por empresas de mídia financiada com dinheiro público – haja paciência com esses governos que não secaram a fonte de globo, veja, estadão etc – quem vai ouvir a reação? a oab, que já foi reduto de legalidade, acaba de se pronunciar…pró lava jato!!!! e que se dane o garantismo que sempre garantiu grandes rendas às bancas de advogados. (o garantismo voltará no momento oportuno, bem sabemos). a cnbb? a associação de criminalistas? o governo tem como reagir ao contra golpe  que viria do afastamento de delegados e procurador geral? afastamento mais que necessário, dada a quantidade de crimes de vazamento, praticamente diários.

     

    agora, companheiros, complicou demais a equação.

  7. Excelente texto. Lula tirando

    Excelente texto. Lula tirando a atenção sobre a Dilma e a colocando sobre ele foi genial. Já havia pensado nisso. Em tempos de guerra são importantes estratagemas  bem bolados.

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