Governo Temer adota estratégia errada para retomar crescimento, por Laura Carvalho

 
Jornal GGN – Em sua coluna de hoje na Folha de S. Paulo, a economista e professora Laura Carvalho analisa a estratégia do governo federal para a retomada do crescimento econômico, que aposta nos incentivos ao setor privado e abandona o investimento público.
 
Ele pontua que esta aposta vem sendo realizada desde 2011 e não foi capaz de acelerar a economia, dizendo também que muitos países tem questionado a ideia do investimento privado como “motor de retomada em meio à recessão”.
 
A professora da USP afirma que são necessárias medidas com impacto na demanda, citando as contas inativas do FGTS, além de investimentos em infraestrutura, uma reforma tributária progressiva e uma política industrial estratégica. 

 
Leia mais abaixo:
 
Da Folha
 
Governo aposta em pilares errados para o crescimento
 
por Laura Carvalho
 
O governo anunciou na semana passada um pacote de medidas que atrairia um total de R$ 371,2 bilhões de investimentos privados nos próximos dez anos.
 
Segundo Marcos Ferrari, do Ministério do Planejamento, “a ideia é destravar investimentos sem que a União gaste um centavo”.
 
O pacote chegou a ser chamado por Ferrari de “o quarto pilar para a retomada” do crescimento -os três primeiros sendo a contenção da inflação, o controle de gastos e a reforma da Previdência. Na era da pós-verdade, a política de juros altos e cortes de investimentos públicos, que vem levando à escalada do desemprego, ao aprofundamento da recessão e à deterioração do quadro fiscal desde 2015, é encarada, veja você, como motor de retomada.
 
Soma-se a isso uma nova aposta em concessões e incentivos diversos ao capital privado. Essa vem sendo, de fato, a estratégia escolhida desde o início da desaceleração econômica, em 2011: o abandono do investimento público como pilar de crescimento e a insistência nos incentivos a um setor privado altamente endividado.
 
Essa estratégia, que conflita com uma capacidade ociosa cada vez maior da indústria, não foi capaz de dinamizar a economia.
 
A ideia de que o investimento das empresas pode funcionar como motor de retomada em meio à recessão e ao alto endividamento vem sendo questionada em diversos países.
 
Os vários estudos econométricos que examinam a relação de causalidade entre os diversos componentes do PIB parecem sugerir que os investimentos das empresas respondem aos componentes autônomos do gasto, quais sejam, os que dependem pouco do próprio nível de atividade econômica –exportações, investimentos residenciais e investimentos públicos, por exemplo.
 
Em outras palavras, firmas que operam com capacidade ociosa não encontram razões para ampliar sua capacidade além da existente. Uma retomada dos investimentos tem de ser antecedida por um aumento das vendas, que por sua vez depende de algum fator autônomo de injeção de demanda.
 
É sobretudo por essa razão que desonerações fiscais e subsídios diversos aos lucros dos empresários não foram capazes de elevar investimentos privados desde a implementação da Agenda Fiesp pela presidente Dilma. Ao contrário, serviram como políticas de transferência de renda para os mais ricos e contribuíram para deteriorar as contas públicas.
 
O governo Temer vai na mesma direção. Agora tenta também atrair mais capital estrangeiro, facilitando a venda de terras e limitando as exigências de conteúdo local na exploração do pré-sal. Mesmo que haja interesse, o resultado final pode não ser tão favorável para a economia.
 
No pacote agora anunciado, as únicas ações que vão no sentido –correto– de estimular componentes autônomos da demanda apenas reforçam o velho caráter concentrador de renda do Estado brasileiro.
 
É o caso dos estímulos ao investimento residencial, via aumento na faixa máxima do programa Minha Casa, Minha Vida para R$ 9.000 e autorização do uso do FGTS para compra de imóveis de até R$ 1,5 milhão.
 
As projeções indicam que vamos parar de cavar o fundo do poço em 2017. Isso não quer dizer, ao contrário do que sugere o discurso otimista proferido por Henrique Meirelles, que sairemos dele no ritmo sonhado pelos 12 milhões de desempregados que sofrem país afora.
 
Para isso, além de medidas mais imediatas com impacto na demanda, como é o caso do acesso às contas inativas do FGTS, seriam necessários autênticos pilares, como investimentos públicos em infraestrutura física e social, reforma tributária progressiva e política industrial estratégica. 
 
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Redação

3 Comentários

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  1. Escrevi aqui mais de 30

    Escrevi aqui mais de 30 artigos nessa linha da criação de demanda pelo investimento publico, desde o primeiro “ajuste” de Joaquim Levy. Ajuste e a fabtasia de investimento privado JAMAIS vão tirar o Pais da recessão, o ivestidor privado precisa ter mercado criado pela demanda que só existe com renda nas mãos do consumidor e essa só o Estado pode criar.

    A ilusão das concessões, se todos as prvistas derem certo, NÃO geram volume de dinheiro novo para sair da crise,

    o Brasil precisa de trilhões em infra estrutura e não de bilhões de duvidosos investimentos em concessões.

    A professora Laura Carvalho é uma das poucas vozes que enxerga que o Rei está nu, não há como sair da recessão puxando os proprios cabelos, o discurso de Meirelles é mera retorica em cima do nada.

  2. Ao aumentar a faixa de renda

    Ao aumentar a faixa de renda para o programa “Minha Casa, Minha Vida”, Temer está beneficiando MENOS pessoas e não MAIS, como pode parecer ao senso comum.

    O dinheiro disponível para financiamento é finito. Ao disponibilizá-lo para faixas maiores de renda, vai sobrar menos para as famílias de renda mais baixa. Ao financiar um imóvel de maior valor, deixa-se de financiar dois imóveis mais baratos e, portanto, beneficiamos a metade das famílias, excluindo as que mais precisam do programa.

    Quanto ao FGTS das contas inativas, é só fazer uma pesquisa entre a população. Entre os beneficiados pela medida, a maioria (eu chuto acima de 80%) vão pagar dívidas, ou seja, o dinheiro vai parar nas mãos dos bancos.

    E, como é o FGTS que financia os programas de habitação, como o “Minha Casa, Minha Vida”, esse é mais um golpe na população pobre, retirando dinheiro que poderia financiar a habitação e transferindo para os bancos privados através da quitação de dívidas de cheque especial e cartão de crédito.

    Isso vai estimular o consumo e ativar a economia? Claro que vai…

     

  3. Quais projeções que indicam que paramos de cavar o fundo….

    Quais projeções que indicam que paramos de cavar o fundo do poço?

    No melhor do cenários ficaremos exatamente a onde estamos, porém todos sabem que não HÁ NENHUMA SIMULAÇÃO OBJETIVA BASEADO EM MODELOS MACRO-ECONÔMICOS que garantam isto.

     

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