Há um pessimismo excessivo na economia?

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Os índices de confiança dos agentes na economia, que vinham se recuperando após desabar em meados de 2013 com a onda de manifestações que se espalhou pelo país, inverteram o movimento e passaram a cair fortemente desde o início do ano. Não é fácil, todavia, justificar essa queda com base apenas na situação econômica real.

Isso porque, se nos últimos meses nenhuma das variáveis centrais que afetam a lucratividade das empresas e a renda das famílias melhorou de forma expressiva, a maioria tampouco se deteriorou significativamente. De fato, embora a um ritmo inferior ao do passado recente, as vendas no comércio, o volume de crédito e os salários continuaram crescendo. As taxas de desemprego se mantêm em níveis historicamente baixos. Os custos tributários em vários setores caíram e as taxas de juro, mesmo aumentando no último ano, são baixas em relação ao histórico do país.

A inflação, apesar de flutuar acima do centro da meta para ela fixada, se situa em níveis semelhantes aos que vigoraram nos últimos anos. A taxa de câmbio, mesmo em patamar sobrevalorizado para muitos setores, permanece estável. A economia internacional, não obstante persistam agudas incertezas e alguns segmentos tenham sido especialmente afetados pela desaceleração argentina, vem se recuperando lentamente. Uma deterioração moderada dos índices de confiança não seria, assim, surpreendente, mas seu desabamento chama a atenção. Estariam os agentes excessivamente pessimistas?

Para responder, devemos notar que a queda forte e abrupta dos índices gerais de confiança que caracteriza esse pessimismo não se verificou, na mesma magnitude, naqueles índices ligados à experiência particular e concreta de cada agente. Isso pode ser visto, por exemplo, ao comparar o Índice de confiança do empresário industrial – ICEI/CNI em relação a sua própria empresa com o índice que busca captar a confiança desse mesmo empresário sobre a economia brasileira.

Se até o início de 2013 ambos os índices pareciam relativamente estáveis e flutuavam, como esperado, próximos um do outro, passaram desde então, e mais ainda em 2014, a se afastar, com o índice geral recuando significativamente mais que aquele que reflete as perspectivas das empresas e melhor espelha a real situação da economia.

A mesma situação se verifica ao comparar a evolução do Índice nacional de expectativa do consumidor – INEC/CNI com a de um de seus componentes, o da expectativa de compras de bens de maior valor. Ambos evoluíam, também como previsto, de forma semelhante até meados de 2013. Desde então, contudo, enquanto o índice de expectativa de compras, que tende a melhor refletir a percepção do consumidor sobre sua condição objetiva, se manteve estável, o índice geral de confiança na economia, que traduz essa condição de forma muito mais imperfeita, caiu consideravelmente.

Estes exemplos revelam o afastamento entre, por um lado, os níveis de confiança captados pelos índices baseados em percepções e expectativas formadas com forte influência da experiência concreta dos próprios agentes e, pelo outro, a confiança capturada pelos índices agregados, que não possuem essa base e se apóiam em percepções e expectativas moldadas com a contribuição decisiva das análises e informações fornecidas pelos grandes meios de comunicação. Estes, especialmente nos últimos meses, têm projetado sobre o país um cenário de crise econômica aguda, como mostra o levantamento das manchetes sobre assuntos econômicos publicadas em 2014 até meados de agosto.

Tal cenário é amplamente difundido em um contexto que, se não é tão sombrio como o por ele projetado, tampouco é particularmente favorável, e, além disso, permanece carregado de incertezas, aguçadas ainda pela proximidade do processo eleitoral. Logo, não surpreende que mesmo com a maioria dos indicadores da situação econômica objetiva em níveis historicamente favoráveis, embora relativamente estagnados, os índices de confiança agregados desmoronem, traduzindo um pessimismo generalizado.

Em sua origem, tamanho pessimismo não possui bases reais sólidas e, por isso, é de fato exagerado. Todavia, sua permanência por um período prolongado é capaz, ao adiar as decisões de investimento e de consumo, de criar essas bases, justificando-o ex-post. O desafio da política, para evitar que isso ocorra, é o de apontar essa fragilidade, ao mesmo tempo em que busca solucionar os problemas reais que o alimentam.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

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  1. ao mesmo tempo em que busca

    ao mesmo tempo em que busca solucionar os problemas reais que o alimentam.

    Lei de Médios? Esquece. A melhor coisa a fazer é levar a dúvida para a cabeça do povo em relação ao noticiário. Esse sim será o verdadeiro controle da calhordice

  2. Economia do “ouço falar”

    Há ações premeditadas e um excesso de pessimismo nas notícias divulgadas pelo PIG.

    Na maior parte dos brasileiros (ainda bem) isso não cola.

     

     

  3. Agora virou modismo o termo

    Agora virou modismo o termo recessão técnica. Ora, estamos praticamente em pleno emprego, os níveis de investimentos dos grandes grupos empresariais nacionais e das multinacionais são elevados , principalmente do setor automobilístico , onde algumas plantas industriais foram inauguradas recentemente e outras estão por inaugurar,os lucros da grande maioria das  empresas de capital aberto  listadas na Bolsa  são elevados inclusive algumas com o maior lucro da história, alguns indicadores que medem a performance da economia são extremamente favoráveis como a da elevação continua do consumo de sacos de cimento. Acredito que o governo tem que encontrar um mecanismo para repassar estas informações para a sociedade , lembrando que quedas  leves  do crescimento podem ser sazonais , podendo ser revetidas no curto prazo . 

  4. É O RESULTADO DA CAMPANHA DO PESSIMISMO

    Tudo isto é resultante da campanha incessante e massacrante do pessimismo. E é uma atitude de nossa imprensa, eminentemente eleitoreira, diante de dificuldades que todo o mundo hoje está passando. Temos um crise global, e nela estamos inserido. O mercado interno está se esgotando. Há que se formular novos meios de vencer a crise de manufaturados, com o desenvolvimento interno caminhando para a infra-estrutura. Podemos fazer isto. O povo precisa acreditar em nosso País.

    Estamos, é verdade, enfrentando problemas cambiais, com o aumento dos juros para manter o real não desvalorizado e evitar a quebra de empresas e bancos do setor privado, que devem – dívida ativa externa do setor privado –  em dólares e muito: ambos juntos acima de duzentos bilhões de dólares ( v. BC).

    Nunca o aumento dos juros foi necessário para combater a inflação, esta que é inflada, inclusive pelo preço acrescido dos juros. Inflação se combate com produção e não com as medidas clássicas conservadoras que nos levaram à falência por várias vezes.

    Agora, Lara Rezende – aquele do plano collor e que comandará a nossa economia em caso de vitória de Marina – diz que vai deixar o câmbio livre. O real vai se desvalorizar abruptamente e toda a dídiva em dólares no exterior deverá ser paga, com o reais convertidos nesta moeda. Imaginem transformar reais desvalorizados e pagar sua dívida em dólares?

    Os banco darão um jeito: cobraram juros mais extorsivos e taxas bancárias mais caras em cima de nosso lombo. O povo irá pagar seus débitos e seu consumo com preços totalmente inflados por juros endiabrados. Consequentemente, o empresariado, todo o setor privado, irá amargurar seríssimas dificuldades, pois não terá recursos para adimplir seus compromissos em reais. Teremos muita mais recessão e a população em geral sofrerá bastante com este arranjo para as grandes elites, pois quem suportará todo a operação é o povo. A corda arrebenta sempre do lado mais fraco.

    O quadro até que a casa se arrume passará por graves crises, como desemprego, arrocho salarial, custo de vida totalmente exacerbada, eventuais falência, concordatas, enfim um desastre que irá nos desfilar em nosso futuro – mas será tudo isto debito como culpa da Dilma pela imprensa, é claro.

    O atual governo vem fazendo o real desvalorizar devagar. Lembro que há uns dez meses o dólar valia dois reais e agora está no patamar de 2.20 aproximadamente. Deverá continuar desvalorizando em caso de Dilma vencer, mas devagar, para evitar o caos em nossa economia, com sofrimento, máxime, das classes menos favorecidas.

    Estamos vivenciando a crise, ainda, dos manufaturados. Um dos problemas é que a nova classe média e a aquela e a elite de sempre gostam de comprar no exterior. Adoram fazer isto, ignorando, a grande maioria, que estão decretando a crise em nosso País. Precisamos comprar produtos produzidos no Brasil, mesmo que possamos entender que estamos deixando de “lucrar” com isto, pois estamos gerando emprego e aumentando o PIB do exterior e, ao contrário, provocando crises por aqui, pois estão compromentendo o desempenho de nossas indústrias e evitando a manutenção dos bons índices históricos de desemprego que conquistamos.

    Não tenho grandes esperanças em uma recuperação breve do quadro eonomico que estamos hoje assistindo, mas está estável, como o próprio texto ressalta. Porém, a situação – daqui para frente – após a corrida presidencial terminar – tende a melhorar, com o declínio dos juros, estes que estão causando hoje crescimento do PIB, legando-nos um crédito caro, um dos mais custosos de todo o planeta. No entanto, ainda não temos desemprego, não houve arrocho salarial,  não há nada de sinistro acontecendo.

    A Marina é a dúvida personificada. Ninguém sabe, ao certo, como será seu governo. Para que lado irá. Se fizer o que propõe os banqueiros, liderados, aí por Lara Rezende, teremos, certamente um grande prejuízo no lombo dos trabalhadores. E se quiser abalar o setor energético do pais, fechando, v. gratia, as termoelétricas – causam poluição? Precisamos pensar e muito nas dúvidas infinindas e que a candidatura de Marina representa para nosso país.

    Por outro lado, Dilma é a certeza de não mudarmos significativamente as rédeas econômicas do País. Todos sabemos o que fará. Entrará em novo ciclo de desenvolvimento, que está prometendo. O mercado está aguardando, é verdade, a definição da sucessão. Se Dilma vencer, certamente toda as ameaças que a onda de pessimismo que a imprensa, a mando do poder econômico,  serão revertidas com mensagens de esperanças. E continuaremos caminhando em paz.

    Chega de pessimismo eleitoreiro.  

     

    1. Nada a ver. Os agentes

      Nada a ver. Os agentes economicos não são idiotas que se deixam levar pela midia. O CONSENSO que leva ao pressimismo é resultado de milharees de percepeções inviduaiis, que QUALQUER UM VÊ no balcão de sua joja, na venda de apartamentos em um estande, não tem debiloides no empresariado que tem sua cabeça feita por pirgs.

      A percepção d otimismo ou pessimismo se dá no dia a dia, no varejo, nas fabricas, nas feiras de automoveis, na chegada dos pedidos nas empresas, nas transações imobiliarias, nas vendas de passagens, nos restaurantes.

      Um dos maiores erros dos nucleos do PT é dar um peso conspirativo absurdo à mdia, que é sempre a mesma e existe em todos os paises, a midia TRANSMITE o que ocorre, a midia não PRODUZ FATOS, ela os reporta.

      Na Venezuela, depois da compra do Grupo Capriles (jornais e TV) pelo banqueiro chapa branca do chavismo Victor Vargas Irausquin por 130 mihões de dolares, NÃO HÁ MAIS MIDIA DE OPOSIÇÃO NA VENEZUELA,e tudp chapa branca e nem porisso a situaçã economica da Venezuela melhorou e nem vai melhorar, não é uma questão de midia, é a realidade economica péssima, não adianta a midia chapa branca dizer que está tudo bem.

  5. Não sinto esse pessimismo nas

    Não sinto esse pessimismo nas pessoas com quem me relaciono, mas também somos uns meldas sem acesso ou compreensão de dados relevantes.

    Assim, só posso sugerir que se leve a indagação, p. ex., ao sr Abilio Diniz, que externou recentemente insatisfações, ou talvez ao insuspeito min. Lewandovski que alegou estarmos vivendo uma  “ëspiral inflacionária ” para justificar aumento de salário para si e seus pares.

    Nós aqui na planície aguardamos as luzes.

  6. Diz o texto :
    …..”Em sua

    Diz o texto :

    …..”Em sua origem, tamanho pessimismo não possui bases reais sólidas e, por isso, é de fato exagerado….”….

     

    Ernesto :

    voce não percebeu a mudança  que ocorreu   nas expectativas provocadas por diversas  intervenções do atual governo na economia :

    – setor eletrico

    -tratamento dos seus pares

    – tabelamento do retorno das  concessões

    – mensaleiros de punho fechado

    – aparelhamenato dos orgaos federais

    – democracia direta

    – etc

     

    Esses  eventos  foram assimilados por toda a sociedade, sem haver contestação.

    A maquina de manipulaçao da sociedade manipulada pelo PT não foi precisa para perceber isso.

    A maquina de manipulação do PT decodificou que a sociedade estava aprovando esses  eventos.

    O PT se achando o maximo..não percebeu a mudança surda e muda.

    Agora, aparece Marina para expressar  esse sentimento.

     

    E o PT volta  ser oposição, com possibilidades de se fragmentar e desaparecer.

    Por favor, não diga que os sinais estavam encobertos ou manipulados pela oposição.

     

     

     

  7. Prezado Nassif,
    Venho

    Prezado Nassif,

    Venho respeitosamente e humildemente tecer meu ponto de vista sobre esse pessimismo:

    1) Quem ecoa o pessimismo é o próprio governo: infelizmente a figura de nossa Presidente não é amigável como a do Lula, a cada pronunciamento dela isso fica mais evidente a mim;

    2) Por ser uma líder “Densa” qualquer medida por ela anunciada e por extensão sua equipe parece uma imposição e não uma direção, um norte;

    3) As medidas que o governo tenta estimular contradizem o que o próprio governo executa internamente, a taxa de investimento público caiu, qdo comparado ao governo Lula; os juros voltaram a aumentar;

    4) A casa civil comprou uma briga enorme com setores que sempre apoiaram uma maior presença do Estado: Universidades, Orgão Públicos, Empresas Públicas. Fez o jogo da grande mídia: travou uma briga com o funcionalismo público e por consequência o Estado parou…Não há por parte de sua equipe econômica e da casa cívil um diálogo amplo e somente a taxação de que funcionalismo público representa só custo/despesa. Como atrair profissionais capacitados para os orgão públicos, se os salários e gratificações pagos na iniciativa privada superam e muito os oferecidos no ambiente público, Comparem o que ganha um executivo no BNDES e um executivo com a mesma qualificação num banco privado; um engenheiro na Petrobras e um engenheiro na Odebrecht; um Analista de Sistemas numa grande empresa e um Analista de Sistemas no SERPRO, um Advogado de renome e um ministro do STF. É o jogo que a grande mídia a fez comprar e ela comprou e agora pagará um preço por isso. Em junho/2013 a sociedade cobrou por melhores serviços, mas como melhorar o serviço público se não atrair as grandes cabeças???

    5) A briga com os docentes das Universidades Públicas acabou com o contraditório que existia, explico: os docentes passaram a nutrir um ódio tremendo a figura do governo, justamente pela falta de diálago, e esse sentimento foi repassado ao corpo discente. Por outro lado as Universidades Privadas, em sua grande maioria de formação reacionária, arrebanhavam cada vez mais alunos com senso crítico baixo e incutiram na cabeça desses jovens que eles conquistaram o direito de ali estar por méritos próprios e não pela “ajuda do governo”; E  a massa desse jovens reproduz exatamente o que a “Elite Branca” ecoou nos Estadios durante a Copa; ou seja formaram um exercito de reacionários a custas de programas como o ProUni;

    6) A inércia do governo também é algo que espanta! Existem concursos que foram homologados há exatos 14 meses e os primeiros colocados tampouco foram chamados… Como se sentem esses futuros servidores que optaram pela vida pública, alguns pediram demissão de seus empregos, e estão aguardando sem a mínima justificativa o chamamento (o concurso do SERPRO 2013 é um exemplo claro). Enquanto isso funcionários com cargos comissionados continuam atuando em “prol” do governo nessas instituições…

    7) O partido do atual governo não consegue fazer uma autocrítica e repudia qualquer pensamento contrário ao que eles imaginam que sejao melhor para o PAÍS, mesmo depois do Junho/2013. Até figuras do próprio governo quando percebem e expoe isso são obrigadas a se calarem (Gilberto Crvalho, por exemplo).

    8) Quem ganhava muito dinheiro continua ganhando e reclamando sem motivo (o número de viajantes para o exterior aumentou, investidores que compram imóveis para especular financiados pela nossa poupança aumentou, o lucro das empresas aumentou, os bancos continuam a nadar de braçadas, etc…);

    É por isso que o caminho está livre e que venha o próximo Collor, INFELIZMENTE!!

     

  8. Acerca do PIB, não vi nada

    Acerca do PIB, não vi nada acerca da participação do Estado de São Paulo. A participação do PIB pelo Estado de São Paulo é bastante significativa. Uma das contribuições do PIB pequeno foi a seca, que antes era somente no nordeste. A água é importante para o PIB como a energia. A água de São Paulo foi bem gerenciada? Qual foi sua influência no PIB?

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