Indústria e desenvolvimento, por Rodrigo Medeiros

por Rodrigo Medeiros

Na edição de número 749, a Carta do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) traz informações relevantes da Organização de Desenvolvimento Industrial das Nações Unidas (Unido). Esses números colocam em evidência a perigosa desindustrialização que vem ocorrendo no Brasil.

Segundo ponderou o Iedi, “mesmo diante de tantos reveses e de efeitos tão adversos de políticas executadas nas últimas décadas, a exemplo da política cambial, o fato é que o Brasil ainda tem presença no mapa industrial mundial, figurando entre as maiores indústrias do planeta” [1]. Para 2015, os países desenvolvidos representavam 56,4% do valor adicionado global e as economias emergentes 39,1%, sendo que a China resonde por 23,8% no grupo. Os dados citados mostram que houve desindustrialização relativa nos países desenvolvidos. 

Quando se avalia o valor adicionado da indústria de transformação per capita, nota-se que foi aprofundado o processo brasileiro de desindustrialização prematura. Em relação à parcela do valor adicionado da indústria de transformação no PIB, no Brasil ela continua sendo inferior à do mundo e à dos países de renda média alta. Enquanto o crescimento do valor adicionado industrial global foi de 2,8% em 2015, 4,5% de avanço entre os emergentes industriais, o Brasil enfrentou uma queda de 9% por conta da grave recessão doméstica.

Entre 2006 e 2010 e de 2011 a 2015, o valor adicionado da indústria de transformação mundial cresceu 3,5% e 2,9%, respectivamente. Esses crescimentos foram superiores à evolução do PIB, de 2,6% nos respectivos períodos citados. Para o Iedi, “isso mostra que a indústria ainda constitui um motor de crescimento econômico. Cabe notar que a desaceleração das manufaturas deveu-se principalmente ao menor ritmo de evolução da produção chinesa”. Como vem apontando o economista Paulo Gala (EESP-FGV), “são ricos e desenvolvidos aqueles países capazes de produzir e vender no mercado mundial bens complexos. São pobres aqueles apenas capazes de produzir e vender coisas simples e rudimentares” [2]. A regressão da complexidade econômica na pauta exportadora brasileira aponta para o fato de que caminhamos na contramão do desenvolvimento nos últimos dez anos.

Desde o final de 2014, estava bem claro que a desindustrialização prematura dificultaria uma rápida recuperação brasileira em um contexto no qual o Fundo Monetário Internacional (FMI) chamaria, em 2015, de “um novo medíocre” em termos de expectativas de crescimento global. O efeito de histerese derivado da desindustrialização prematura já apontava para uma saída lenta, difícil e dolorosa da crise [3]. O crescimento do emprego e da participação relativa no PIB do setor de serviços não se processou em consonância com o amumento de produtividade da economia brasileira.

Um debate qualificado sobre a produtividade precisa considerar as dimensões dos problemas de competitividade da indústria de transformação no Brasil, pois sem investimentos em setores industriais de maior intensidade tecnológica, dificilmente nos tornaremos desenvolvidos algum dia. Será difícil convencer os empresários a voltarem a investir no setor de bens transacionáveis não commodities enquanto o nosso regime macroeconômico cristalizar a sobrevalorização cambial crônica do real e não é sensato jogar todo o peso dos “ajustes” sobre os trabalhadores.

Notas

[1] http://www.iedi.org.br/cartas/carta_iedi_n_749.html

[2] http://www.paulogala.com.br/setores-menos-produtivos-ganham-espaco-no-pib-brasileiro/

[3] http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/Desindustrializacao-histerese-e-o-complexo-debate-das-contas-publicas/7/35442

 

Rodrigo Medeiros

3 Comentários

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  1. Muito bom o artigo.
    Só queria

    Muito bom o artigo.

    Só queria entender qual a razão de tamanha queda na economia a partir de 2013, se desgarrando totalmente da tendência mundial?

     

    1. muito bom…

      30 anos de redemocratização governados pela imbecilidade da centro esquerda que aniquilou a indústria brasileira. Politica equina de anti capitalismo. Agora querem fazer o mesmo com o agronegócio. Transformar propriedade e território nacional em propriedade internacional. ( e as favelas estão por todo o lado, para quem quer enxergar)

  2. O gráfico mostra que o Brasil

    O gráfico mostra que o Brasil despencou a partir de 2013. Provavelmente a partir de junho de 2013, quando a mídia golpista manipulou as notícias sobre os protestos contra o aumento das tarifas de transporte público em SP, levando os brasileiros a crerem que eram contra o governo federal. Isso fez com que os apelos pessimistas e antigovernistas da mídia finalmente obtivessem êxito junto a uma grande parte da população. Os gráficos de popularidade de Dilma desabaram a partir daquele mês e, mesmo após parcial recuperação que a levou à reeleição em 2014, nunca mais foram os mesmos, pois até junho de 2013 ela tinha altos índices de popularidade e economia do Brasil estava resistindo bem à crise mundial, o nível de emprego era altíssimo, embora a mídia já estivesse fazendo o jornalismo de guerra desde 2012, após o governo tentar pressionar os bancos a reduzirem os juros abusivos.

    Quanto ao chamado processo de desindustrialização, o que se verifica claramente no gráfico é que, no período analisado, ele não ocorreu apenas no Brasil, mas em todo o mundo, exceto a partir de 2013, quando foi maior no Brasil, devido à crise causada pela sabotagem dos golpistas contra o governo e o país. O principal fator de desindustrialização nos últimos anos foi o grande crescimento do setor de serviços, e isso ocorreu em todo o mundo. A indústria mundial não estã produzindo menos a cada ano, muito pelo contrário, nunca se produziu tantos bens, e tão descartáveis. Mas proporcionalmente, o setor de serviços passou a ter maior peso nas economias. Portanto, a crítica recorrente que se faz no Brasil quanto à desindustrialização nos últimos anos, não parece muito correta. O problema de fato da indústria brasileira é mais relacionado ao tipo de produtos exportados, sem beneficiamentos e tecnologia suficientes para competir com outros países. Problemas mais de qualidade que de quantidade.

     

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