JK & Lula: A história se repete, a primeira vez como tragédia…, por Marcelo Auler

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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JK Correio da Manhã 24.06.1964 editada

JK & Lula: A história se repete, a primeira vez como tragédia…

A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa“. (Karl Marx)

por Marcelo Auler

Nem é preciso muito texto, basta comparar fatos idênticos que se repetem separados por cinco décadas (52 anos). A grande diferença é que da primeira vez, a tragédia ocorreu em plena ditadura militar. Agora, a farsa ocorre teoricamente em um período de democracia plena, em que deveria vigorar o Estado de Direito.

Neste meio século o que mudou foram as expressões. Em 1964, conforme se lê no noticiário da época – que os jornais deixam de consultar quando não lhes interessa – “as autoridades (entenda-se militares e seus asseclas) que investigavam a origem dos bens do sr, Juscelino Kubitschek estão convencidas” (grifei). Cinquenta anos depois, os procuradores da República do Paraná preferiram usar a palavra convicção.

Pode-se até alegar que nenhum procurador falou a frase “não temos provas, mas convicção”. Mas, ao longo da entrevista/show midiático promovido na quarta-feira (14/09) o sentido foi exatamente este. Basta ver os trechos das falas de Deltan Dallagnol e de seu colega  Roberson Pozzobon:

Dallagnol: “Provas são pedaços da realidade, que geram convicção sobre um determinado fato ou hipótese…

 (…) a nossa convicção, com base em tudo que nós expusemos, é que Lula continuou tendo proeminência nesse esquema, continuou sendo líder nesse esquema mesmo depois dele ter saído do governo…”

Pozzobon: “Precisamos dizer desde já que, em se tratando da lavagem de dinheiro, ou seja, em se tratando de uma tentativa de manter as aparências de licitude, não teremos aqui provas cabais de que Lula é o efetivo proprietário no papel do apartamento, pois justamente o fato de ele não figurar como proprietário do tríplex, da cobertura em Guarujá, é uma forma de ocultação, dissimulação da verdadeira propriedade”.

Se “provas são pedaços da realidade que geram convicção sobre um determinado fato ou hipótese” e, ao mesmo tempo confessam que “não teremos aqui provas cabais de que Lula é o efetivo proprietário no papel do apartamento”, como chegar à convicção de que “Lula continuou tendo proeminência  nesse esquema”? Pode-se deduzir que chegaram à convicção sem as provas?

jk O Globo 24.06.1964 editadaTese (convicção?) em busca de provas– Há outra coincidência sobre as investigações dos militares contra JK e a fúria com que a Força Tarefa da Lava Jato se volta contra Lula. Ambos passaram a ser alvo por contarem com respaldo popular e ameaçarem aqueles que, em 1964 ou em 2016, se sentem donos do poder. Os militares tinham medo de Juscelino nas eleições de 1966, que acabaram não acontecendo. Hoje, a chamada “elite”, a mesma que deu o golpe derrubando Dilma Rousseff e seus 54 milhões de votos, teme Lula nas próximas eleições.

A respeito de JK, recorro a dois grandes jornalistas. Mário Magalhães, em 15 de março, escreveu em seu blog Tratado como ladrão, JK foi acusado de ser dono de imóvel em nome de amigo. Transcrevo trecho, a íntegra pode ser acessada pelo link acima:

“(…) Em junho de 1964, a ditadura recém-instalada cassou o mandato de senador de Juscelino e suspendeu seus direitos políticos por dez anos.

O ex-presidente teve a vida devassada, investigado em inquéritos policiais militares. As autoridades o acusaram de um sem-número de falcatruas, como se fosse um ladrão voraz.

A acusação de maior apelo entre os opositores do ex-governante era a de que, na verdade, o apartamento da Vieira Souto era de Juscelino. Sem renda para justificar tamanha ostentação, o ex-presidente ”corrupto” teria preferido ocultar o patrimônio.

Portanto, Sebastião Pais de Almeida seria um laranja. Atípico, tal a sua fortuna, mas laranja. Certa imprensa fez um Carnaval, chancelando as acusações da ditadura, como se vê em títulos de jornal reproduzidos neste post.

Na Justiça comum, nem julgamento houve“.

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Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. Falta criatividade. O negócio

    Falta criatividade. O negócio então é fazer remake, de música, de novela, de filme ou de golpe. Dá menos trabalho e a chance de dar certo é muito grande. 

  2. Com a comunicação cada vez ao

    Com a comunicação cada vez ao alcance, as “forças ocultas”, estão ficando cada vez menos ocultas, e os democratas de ocasião, vão perdendo suas habilidades camaleônicas.

  3. E repetem e repetem.

    Em março eu publiquei um post aqui

    https://jornalggn.com.br/blog/frederico-firmo/agnus-sei-a-adaga-oculta

     

    E nele criticava uma das peças juridicas produzidas por Moro . Incrivelmente a peça juridica é quase identica ao PowerPoint, O que mostra que os mesmos sem criatividade plagiam a história e a si próprios. E se em março já falavam a mesma coisa, significa que após tantos meses continuam sem produzir provas.  Os investigadores nada produzem, apenas esperam o convencimento “sutil” de um delator

  4. Faz mais ou menos 50 anos o

    Faz mais ou menos 50 anos o Brasil vive sob um golpe midiático. Recentemente sofreu um golpe parlamentar. Caminha impávidamente para um golpe policial-judiciário, que diga-se de passagem, é pior que golpe militar porque tem a aparência de se estar em democracia. O que ninguém grita é que as tais adoradas instituições democráticas, jurídico, parlamento, representação, estão falidas, não funcionam. De forma que o naufrágio num buraco negro sem tamanho para nós brasileiros é questão de tempo. O povo grita fora Temer sem necessidade porque as mesmas forças que depuseram Dilma, vão depor Temer, logo, logo. O povo grita diretas já, pensando em eleger Lula presidente, quando se sabe que Lula será preso incomunicável ou assassinado, e mesmo que se elegesse, decididamente não governaria. Acaba se criando a ilusão que manifestações políticas ordeiras, mesmo debaixo de repressão faz alguma coisa, quando neste momento, senão em tantos outros da nossa história, nada fez ou faz. Coisas mais sérias como a guerrilha no golpe de 64 foi esmagada pela repressão. Então, que fazer!? Na minha humilde opinião a primeira coisa é reconhecer que as tais instituições democráticas estão falidas, e tentar organizações de pensamento ação para re- inventar formas de convivência e governança sem exploração e com justiça social

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