Jornalismo Clandestino: Ração para midiotas, por Luciano Martins Costa

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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do Observatório da Imprensa

Jornalismo Clandestino: Ração para midiotas

Por Luciano Martins Costa

Folha de S. Paulo, que revelou o caso, é o único dos três jornais de circulação nacional que retoma a denúncia de que o governo de São Paulo paga R$ 70 mil, mensalmente, para um blogueiro cuja única função é postar na internet e nas redes sociais mensagens contra o governo federal, seus aliados e, principalmente, o Partido dos Trabalhadores. Na edição de quarta-feira (22/4), o diário paulista complementa a história, levando o leitor a entender a relação entre a política, a mídia tradicional e ativistas do mundo digital.

O roteiro é simples: o advogado Fernando Gouveia criou em janeiro de 2013 a Appendix Consultoria, como uma nova persona jurídica para atividades que já desempenhava no site Implicante.org – colocando oficialmente sua militância a serviço do governo paulista. Com essa estrutura, passou a ser remunerado com dinheiro público.

Diz a Folha de S. Paulo: “O site difunde notícias, artigos, memes, vídeos e montagens contra petistas”. Ou seja, o objeto do contrato que é pago pelo governo do estado é uma fraude.

No sábado (18/4), a Folha havia denunciado essa relação, demonstrando que a Appendix não fazia o que registrava o contrato, ou seja, serviços de “revisão, desenvolvimento e atualização das estruturas digitais”. Em resposta ao pedido de explicações do jornal, a subsecretaria de Comunicação do Palácio dos Bandeirantes saiu-se com uma tática que se pode qualificar como a mais básica “picaretagem”: disponibilizou 88 caixas, cada uma com centenas de papéis sobre propaganda oficial, sem indicar a localização das informações solicitadas.

Provocados, os jornalistas da Folha de S. Paulo foram adiante, e agora revelam que havia muito mais do que um contrato para a produção de intrigas políticas disfarçado de serviço público: a ex-chefe de Comunicação da Secretaria da Cultura, Cristina Ikonomidis, que colocou a Appendix no governo de São Paulo em junho de 2013, se tornou oficialmente sócia da empresa. Seu marido, que até janeiro deste ano ocupava o cargo de coordenador de Imprensa da Subsecretaria de Comunicação, era um dos responsáveis por liberar pagamentos para a “consultoria”.

O mapa da picaretagem

Após a primeira reportagem sobre o caso, o Estado de S. Paulo reproduziu informações publicadas pela Folha, e nada mais se disse, conforme registrou este observador (ver aqui).

A insistência da Folha revela algo mais, e leva o caso para cima, na hierarquia do governo paulista: uma vez que o subsecretário Marcio Aith respondeu com a molecagem de despejar as 88 caixas de papéis sobre os repórteres, cabe ao secretário da Casa Civil, Edson Aparecido, a quem responde o subsecretário de Comunicação, explicar como fica a anunciada política de transparência da administração pública.

O fato de a Appendix ser contratada por uma agência de propaganda que presta serviços ao estado não diminui a responsabilidade do secretário, principalmente ao se revelar que seu ingresso no núcleo de comunicação do governo se deu pela mão de uma ex-funcionária graduada, que se beneficia do dinheiro público, na condição de sócia, com o agravante dos pagamentos autorizados por seu marido.

O caso é proporcionalmente mais instigante do que aquele relatório sobre uso de aplicativos na divulgação de informações e opiniões de interesse do governo federal, que custou o cargo ao ex-ministro da Comunicação Thomas Traumann no mês de março e gerou muitas páginas de notícias e opiniões.

A conexão direta entre alguns dos principais assessores do governador Geraldo Alckmin e um ativista que se dedica a espalhar veneno na internet, incluindo o pagamento de seu trabalho sujo com dinheiro público, ainda que terceirizado, não pode ser ignorada pela imprensa.

A observação do noticiário demonstra que os diários de circulação nacional mantêm o governador de São Paulo blindado contra críticas, seja no caso da crise hídrica, seja na epidemia da dengue, seja na sequência de chacinas sem investigação, seja na perpetuação do poder do crime organizado ou na greve de professores. Portanto, é de se esperar uma ação dos jornais para circunscrever as responsabilidades na linha hierárquica abaixo do subsecretário de Comunicação, porque há pontos de interesse comum entre as duas partes.

Na linha de comentários da página do Implicante.org no Facebook, leitores reagem à revelação feita pela Folha: alguns repudiam os responsáveis, pedindo também uma “boquinha” no governo paulista, outros apoiam ferozmente os ataques ao governo federal.

O conjunto é um pote de ração para midiotas.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

10 Comentários

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  1. Ração para midiotas

    A Grande Mídia continuará em concubinato com o Governo do Alckmin por pura venalidade. A questão é se a primeira suportará encobrir tantos desmandos até o fim do mandato do notório pinóquio

  2. Uma música para os midiotas.

    Uma música para os midiotas. Longe de seus olhos, está a dor de um Brasil distante, de sofrimento e miséria de séculos. Preferem ficar errantes, midiotas alheios à realidade e às chagas do povo brasileiro. Aliás, a próxima novela da Globo se chama “I love Paraisópolis”, que condiciona a favela a algo natural entre os brasileiros. O negócio é condicionar o povo para a aceitação da grana que flui para a elite.

     [video:https://www.youtube.com/watch?v=PZnAmfjzq68%5D

  3. implicante

    Gostaria de saber porque o autor desse post não disse que o furo, sobre o pagamento do blogue implicante pelo governador alckmin, foi do blog Diário do Centro do Mundo? 

  4. nunca vi um estado tão “bem” aparelhado…

    prova de que o “sucesso” dos tucanos sempre dependeu disso, aparelhamento

    deve ser por isso que são péssimos em qualquer outra coisa e mesmo assim são eleitos,

    pois assim como há os que odeiam petistas, também há os que ignoram o que acontece em seu próprio estado

    aparelhamento mais funcional que já existiu, sem dúvida alguma

  5. Racionamento…

    Vamos aumentar a “ração” pois informação nunca é demais. Parece que este tal observatório também não tem um espelho retrovisor muito claro.

    Pesquisem um pouco: alguém ainda se lembra da pendenga entre o tal Gravata e o dono do pedaço? Um criando caso com a narrativa do outro. Se bem me lembro, além de ter rolado um processo, teve até uma patrulhinha ridícula feita por um tal Borbulhinho que queria invadir a casa da mãe do “blogueiro que fala mal da oposição”. No mais, parece que a FSP só está reagindo às freqüentes ridicularizações que os sites mencionados fazem com seus (da FSP) jornalistas.

    Defesa? Longe disso: apenas um pouco mais de luz nesta história ridícula.

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