Janot ou Moro: quem faz a Lava Jato mais midiática?

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – Em reportagem especial publicada no dia 27.06.2016, com base em levantamento feito sobre todas as capas da Folha de S. Paulo no último um ano e meio, o GGN mostrou que a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, de onde despacha o juiz federal Sergio Moro, nunca ocupou tanto o noticiário quanto em março de 2016, às vésperas do impeachment de Dilma Rousseff (PT). 

Naquele mês, de 31 edições da Folha, 10 foram dedicadas à Lava Jato, sendo que oito delas dizem respeito a processos que correm na primeira instância. O volume é um verdadeiro recorde desde que a operação decidiu avançar sobre as maiores empreiteiras do País sem poupar a classe política.

A condução coercitiva de Lula, a delação do ex-senador Delcídio do Amaral, o vazamento de uma conversa da presidente eleita com seu antecessor e o inquérito contra o marqueteiro das campanhas presidenciais petistas ajudaram a criar o clima para a votação do processo de afastamento, que se deu em meados de abril.  

A título de comparação, a primeira vez em que a Lava Jato sob Moro bombou em manchetes da Folha foi em julho de 2015, quando empresários foram presos e outros condenados pelo juiz de Curitiba. Só isso rendeu sete capas naquele mês – que registrou, também, a primeira menção a Eduardo Cunha (PMDB) na Lava Jato, numa delação do executivo Julio Camargo.

Olhando os números, é difícil negar o timing político da força-tarefa de Curitiba, que não esconde quem são seus alvos preferenciais, segundo o que sai na mídia: Lula, Dilma, PT e aliados, além de, claro, as empresas que desviaram dinheiro público e pagaram propina a políticos e seus operadores, num período que atinge apenas gestões petistas. São estes os principais afetados em todas as capas produzidas por Folha.

Se março de 2016 foi o mês mais midiático para o núcleo de primeira instância, o mesmo pode-se dizer da Procuradoria-Geral da República em maio e junho deste ano, quando Michel Temer (PMDB) assumiu a presidência da República interinamente.

Em maio, especificamente, a Lava Jato disputou espaço com os desdobramentos do impeachment, mas ainda assim emplacou cinco capas, sendo quatro relativas a processos que correm na PGR de Rodrigo Janot. O destaque foi o vazamento da delação de Sergio Machado, com potencial suficiente para derrubar três ministros de Temer. Com isso, o número de capas em junho (o levantamento foi feito até o dia 25) saltou para oito capas sobre Lava Jato, sendo seis delas sob Janot.

Com toda a exposição, Janot demonstrou ser muito mais suscetível às cobranças por isenção do que a turma de Curitiba. Ao longo dos meses, apresentou denúncia contra políticos de todas os campos, mas seu trabalho parece ter causado estrago maior na cúpula do PMDB.

Além da tentativa de mostrar imparcialidade, a diferença entre as turmas sob Janot e Moro é que este último se esforça muito mais para aparecer na mídia de maneira perene, colaborando com grande volume de vazamentos de delações, prisões preventivas, sentenças e operações da Polícia Federal bem casadas com equipes de televisão.

Pela tabela abaixo é possível visualizar que a Lava Jato em primeira instância ocupou manchetes da Folha com periodicidade regular durante todo o ano de 2015. Com exceção de janeiro, que não teve nenhuma capa sobre a operação, o núcleo em Curitiba só ficou fora das manchetes em outubro, justamente quando a PGR estoura com as contas de Eduardo Cunha (PMDB) na Suíça.

Este, aliás, foi um dos três momentos de destaque da Lava Jato contra autoridades com foro privilegiado. A tabela de 2015, que mostra que o aparecimento de bombas que saem desse núcleo é espaçado, também destaca outros dois momentos: em março, com cinco capas que envolvem a chamada “lista de Janot” – apresentação de denúncia contra políticos delatados principalmente por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, e em novembro/dezembro, quando a PGR levou o caso Cunha ao Supremo Tribunal Federal e pediu seu afastamento da presidência da Câmara. Também foi em novembro que o ex-senador Delcídio do Amaral foi preso, com impacto sobre ministros de Dilma e seu governo.

 

* Em outubro, há três capas sobre Lula: duas relacionadas à investigação do filho do petista na Operação Zelotes, e uma sobre a queda no número de palestras após investidas da Lava Jato.
** Em novembro há, ao todo, 11 capas sobre a Lava Jato e seus desdobramentos, mas não são necessariamente sobre novos fatos creditados à PGR ou força-tarefa em Curitiba. 

Análise sobre 2015 aponta alvos políticos e periodicidade

O ano de 2016 tem revelado uma Lava Jato sob a PGR um pouco mais midiática, se comparada ao ano anterior. Mas com o saldo de 2015 já fechado, o que dá para dizer é que, até aqui, a Lava Jato sob Moro tem se esforçado muito mais ocupar as páginas de jornais. Ao longo de 2015, o volume de manchetes produzidas pelas ações de Curitiba supera a das ações em Brasília. O placar de capas na Folha foi 25 a 18.

Só em janeiro não houve capas sobre Lava Jato.

Fevereiro

Em fevereiro, a operação ocupou quatro capas, todas elas relacionadas a delações de executivos e operadores do núcleo financeiro da Lava Jato contra o PT.

Março

Em março, a força-tarefa de Curitiba seguiu ajudando a imprensa com delações que atingem o PP, PMDB e PT, principalmente. José Dirceu voltou à cena com “Pagamentos a Dirceu eram propina, dizem empreiteiras”.

Já a Procuradoria cumpriu a promessa de divulgar a chamada “lista de Janot” sem poupar caciques do PMDB e PSDB. Renan Calheiros, Eduardo Cunha e até Aécio Neves são citados. Das 31 capas do mês, sete são relativas a revelações da Lava Jato, sendo que cinco delas têm as ações da PGR e seus desdobramentos no centro.

Abril

Em abril, quatro capas sobre Lava Jato, todas com processos que correm na primeira instância. O mês foi marcado por entrega da articulação política do governo Dilma a Temer, por pesquisa de opinião sobre apoio ao impeachment (63% disseram sim), e as prisões de Vaccari (PT) e dos ex-deputados Luiz Argolo e André Vargas.

Maio

Capa única: Ricardo Pessoa (UTC) diz ter doado a Dilma por retaliação. Foi o início da ofensiva da Lava Jato contra a reeleição de Dilma, dando ao PSDB munição para pedir ao Tribunal Superior Eleitoral a cassação da chapa reeleita em 2014.

Junho

Presidentes da Odebrecht e Andrade Gutierrez são presos, e Ricardo Pessoa lista doações feitas a políticos que teriam ameaçado com rompimento de contratos. 

Julho

Oito matérias de capa sobre Lava Jato, sendo que sete delas dizem respeito a inquéritos que correm em primeira instância. Em um desses casos, o delator Julio Camargo citou Eduardo Cunha como receptor de propina de cinco milhões de dólares. Cunha reagiu rompendo com o governo Dilma. Outra matéria que diz respeito à Janot é uma operação de busca e apreensão contra congressistas autorizada pelo STF.

Agosto

Janot aparece mais uma vez, com ameaça de pedido de inquérito ao Supremo contra políticios citados na Lava Jato. Cunha é o alvo central da capa. Já em primeira instância, Lava Jato abordava acordo para devolução de dinheiro desviado com a Camargo Corrêa e a prisão de José Dirceu na Lava Jato.

Setembro

Capa única, sobre ações de Moro na Lava Jato.

Outubro

Janot volta à cena, com quatro matérias estritamente relativas a Lava Jato que revelam as contas na Suíça de Eduardo Cunha. Neste mês, não há capas sobre Lava Jato na instância controlada por Moro. Mas há três capas citando Lula: uma sobre a queda de suas palestras após o impacto da Lava Jato, e duas sobre investigação da PF contra empresas de seu filho, na Zelotes.

Novembro

A Lava Jato e seus desdobramentos políticos rederam 11 capas em novembro, mas seis podem ser creditadas à força-tarefa em Curitiba e à PGR. Quando Bumlai é preso, a Lava Jato passa a investir com mais força contra Lula.

Dezembro

Três capas estão estritamente ligadas a Lava Jato, sendo duas delas de responsabilidade da PGR: uma sobre uma operação da PF em casa de Cunha, atingindo também a cúpula do PMDB e Sergio Machado. Outra sobre o pedido de afastamento de Cunha da Câmara, por tentativa de obstruir investigações. Na primeira instância, Moro denuncia Bumlai. Vale lembrar que, na edição do dia 3, há a notícia: “Cunha retalia PT e acata impeachment de Dilma” 

Leia mais sobre a Lava Jato em 2016 aqui.

 

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

4 Comentários

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  1. Quem faz a mídia da lava-jato é o PIG

    O Moro e o Janot podem fazer o que quiserem, pois a F de SP irá divulgar o que ela entender melhor, e com o destaque proporcional aos seus próprios interesses, quais são os interesses dos seus poucos leitores e os patrocinadores principais. Janot ou Moro serão divulgados desde que a “noticia” tenha maior ou menor interesse da mídia.

    O que este post demonstra, mediante um extenso trabalho, é que a Folha é contra Dilma e o PT, e não há novidade nisso.

  2. Folhetim : gloria, poder e dinheiro

    O deslumbramento de Sérgio Moro nas fotos em eventos onde é notoriedade é tão evidente que constrange, sendo ele um juiz,  deveria primar pela discrição e equilibrio. A mulher dele também aparece nessas fotos sempre numa postura altiva e de desafio, sem sentido.

    Ja Rodrigo Janot parece menos deslumbrado com o momento (ainda que!), porém mais preocupado com seu futuro profissional e quem sabe em deixar uma marca indelével no MPF.

    Os dois casos são ruins para os respectivos orgãos em que trabalham.

  3. Parabéns Cíntia

    Parabéns Cíntia Alves,informação técnica muito relevante para o nosso momento,isso

    ajudará em algumas reflexões sobre o nosso Brasil,sil,sil,sillll !! (desculpem esse final do texto!)

  4. A simples análise descritiva revela a ORCRIM da LJ.

    Prezados,

     

    Essa reportagem é estritamente factual, mostrando um resumo de como os principais diários brasileiros trataram a Farsa a Jato, nos anos de 2015 e 2016. Embora seja uma reportagem descritiva e quantitativa, sem emissão de opinião, ela revela o caráter político-partidário dessa operação midiático-policial-judicial, que JAMAIS teve ou tem o propósito de efetivo combate à corrupção, maso ao PT e à Esquerda, levando ao aniquilamento de ambos.

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