Mudanças na remuneração do BNDES podem levá-lo à lona, por João Sicsú

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Foto: José Cruz/ Agência Brasil

Da Carta Capital

Adeus ao BNDES
 
As mudanças anunciadas pelo governo na remuneração do banco podem levá-lo à lona
 
por João Sicsú

Na sexta-feira 31, em uma entrevista coletiva de seu presidente, Ilan Goldfajn, o Banco Central anunciou que o governo vai promover a “modernização da remuneração do BNDES”. Em verdade, foi anunciado uma despedida, um claro e direto aceno: “Adeus ao BNDES”.

A atual taxa dos empréstimos do BNDES, a chamada taxa de juros de longo prazo (TJLP), desaparecerá. Será mantida apenas para os contratos que estão em vigor. Novos contratos, a partir de janeiro de 2018, terão uma nova taxa chamada apenas de TLP. A partir de janeiro do ano que vem a TLP cresceria até se igualar à taxa de juros das NTN-B (de cinco anos), um título da dívida pública. O prazo de transição para igualar a TLP à taxa das NTN-B será de cinco anos.

A taxa de juros das NTN-B (cinco anos) é composta pela inflação medida pelo IPCA mais uma taxa que reflete as circunstâncias do momento, principalmente riscos. Nos últimos dez anos, ela foi mais alta que TJLP e sempre sofreu pressão de alta por parte de rentistas. É uma taxa definida em leilões sob a tensão da demanda e da oferta e, assim, portanto, será definida a TLP.

Durante a coletiva, quando perguntado se tal medida não anularia a potência das políticas anticíclicas já que em momentos de dificuldades econômicas o BNDES pode reduzir a TJLP, o presidente do Banco Central deu uma resposta inusitada. Disse que as políticas anticíclicas seriam, pelo contrário, potencializadas.

O presidente do Banco Central esqueceu, contudo, de dizer que durante o ano de 2002, a taxa de juros das NTN-B alcançou 37,8% ao ano. Esqueceu de dizer, ainda, que durante o período mais crítico da crise de 2009, saltou de 7,5% para algo em torno 11% ao ano. E esses seriam os valores da TLP se essa taxa já existisse naquela época.

Cabe observar que políticas anticíclicas, por definição, não podem ser decididas pelo mercado. O mercado é sempre pró-cíclico. E, portanto, a TLP nunca será uma taxa anticíclica porque será uma taxa definida sob a pressão do mercado financeiro em leilões de títulos do tipo NTN-B (de cinco anos). Em sentido oposto, políticas anticíclicas são, de forma obrigatória, resultantes de movimentos discricionários, autônomos.

Quando perguntado por um jornalista qual seria a taxa dos empréstimos do BNDES hoje se essas medidas já estivessem em vigor, o presidente do Banco Central deu uma resposta vaga para uma pergunta objetiva. Nada respondeu. A resposta objetiva seria a seguinte: hoje, a TJLP está em 7% ao ano, mas se a TLP já estivesse vigorando em sua plenitude, ela seria de 11,8%.

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As consequências dessa medida de “modernização” serão gravíssimas. Haverá a redução da atratividade dos financiamentos do BNDES, devido à taxa bem mais elevada da TLP em relação ao que tem sido a TJLP. O BNDES terá, portanto, folga de recursos, o que dará condições para a instituição acelerar seus pagamentos ao Tesouro (decorrentes de recursos que recebeu do governo para aumentar a oferta de crédito nos últimos anos). Tal descapitalização levará o BNDES à lona.

E para a economia brasileira haverá um enorme risco. Primeiro, ficará sem o seu principal instrumento de financiamento do investimento da indústria e da infraestrutura e, em segundo lugar, estimulará os empresários a tomar empréstimos no exterior, em dólar. Com receitas em reais e despesas contratadas em dólar, empresários estarão expostos a crises cambiais. Esse cenário, que parecia ser algo do passado, está de volta com aquilo que o governo chama de “modernização”.

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Redação

10 Comentários

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  1. O objetivo é tirar clientela


    O objetivo é tirar clientela do BNDES e transferí-la aos bancos, entre os quais inclui-se o Itaú, de onde veio o Sr. Ilan. E o país que se dane…

    1. Para cada FRIBOI, ODEBRECHT e

      Para cada FRIBOI, ODEBRECHT e OI que sair das asas do BNDES, vai aparecer dezenas de milhares de empresas pequenas e médias, que vão deixar de ser clientes do ITAÚ e que para eles é um sonho pagar como juro, as taxas das NTNB do Banco Central.

       

       

  2. O que acontece no Brasil,

    O que acontece no Brasil, desde o golpe de estado de 2016, não tem paralelo na história mundial. A plutocracia se apoderou do Estado brasileiro, simultaneamente destrói os direitos sociais e a infra-estrutura do país. Só está faltando o Banco Itau transferir a Casa da Moeda para a sua sede.  

  3. Porque o presidente do BANCO

    Porque o presidente do BANCO CENTRAL dá entrevista sobre os juros do BNDES?

    Não é da area dele, não é da competencis dele, ele manda no BNDES? É melhor fechar o banco.

    1. Araujo, o objetivo não é o BNDES mas as empresas…

      Está cristalina a intensão do governo de privatizar o BNDES para que alguma instituição estrangeira possa tomar a posição do banco nas empresas, inclusive estatais por ele financiadas e eventualmente tomar o controle acionario dessas companhias.

      Como não se pode comprar diretamente essas empresas sem causar alarde compra-se o banco que as financia, depois é só aguardar o sinal verde das privatizações e bingo uma tomada agressiva do controle acionário  e muito champagne para comemorar. 

      Mas para especular sobre a sua pergunta basta verificar quais as instituições financeiras internacionais estão nas relações do presidente do Banco Central e sabera quem vai comprar o BNDES.

       

    2. ANDRÉ, NÃO PODEMOS CAIR NA

      ANDRÉ, NÃO PODEMOS CAIR NA TENTAÇÃO DE FICAR CRITICANDO SÓ PELA VONTADE CRITICAR.

      Sei que você não é disso.

      Então vamos lá.

      De onde vem o dinheiro do BNDES? Oras, de aportes do governo Brasileiro.

      Assim, no passado o governo pega o dinheiro do mercado a taxas selic, e o reempresta aos grandes tomadores de recursos,  tipo OGX, Friboi, Oderbrecht, Camargo Correia, Queiroz Galvão, etc a taxas inferiores ao captado e isso significa DOAÇÃO DE DINHEIRO PÚBLICO NA VEIA para grandes empresas.

      Pior, muito pior.

      Dinheiro do BNDES sendo usado para financiar obras públicas em outros países. DOAÇÃO DE DINHEIRO PÚBLICO NA VEIA PARA OUTROS PAÍSES.

      Não existe mais espaço para o governo brasileiro continuar nesse esquema de doação de dinheiro público para grandes empresas e nações estrangeiras.

      O orçamento federal está com um déficit violento, seja pelo lado dos juros, seja pelo lado das despesas, e seja pelo lado da arrecadação.

      O que se fez foi viabilizar a captação de recurso via NTNB sem pressionar as despesas, e sem subsídio do governo brasileiro.

      Sobre as taxas, garanto que 99% das empresas do Brasil adorariam pagar essa taxa “exorbitante” da NTNB, e não as linhas de financiamento oferecidas pelo sistema financeiro nacional.

      E sobre se financiar com recursos pegos no exterior, se alerta sobre o risco cambial.

      Mas veja, o risco cambial, hoje, é nulo.

      O risco, o maior risco, hoje no Brasil é o risco interno do governo quebrar e ter de imprimir dinheiro e gerar inflação para diminuir a dívida pública.

      O governo briga para o real não se apreciar mais, e não o contrário, quando a Dilma torrou 200 bilhões de dólares para segurar o dólar quando este ultrapassou os 4 reais.

      Onde estava você quando o BNDES financiava a juros subsidiados a FRIBOI, a criação da OI, os emprestimos do BNDES ao Eike Batista, ou a financiar hidroelétricas, estradas e portos no exterior? Tudo a com o governo pegando dinheiro a 13% da Selic e emprestando a 7% da TJLP?

  4. Privatização do BNDES e compra agressiva de seus ativos

    Aparentemente a intenção do governo é privatizar o BNDES e facilitar aos bancos privados a compra agressiva de seus ativos. Naturalmente o banco que arrematar o BNDES tera condiçoes de assumir a posição da instituição como socio de empresas inclusive estatais de alto valor agregado sem dar satisfação a ninguem. Isso explica a rapida descapitalização do banco e a retirada da TJLP dos contratos futuros. Na visao utopica deste governo o crescimento se dára puramente com capital externo e com a implementação da PEC 55 não havera mais espaço indução de desenvolvimento via financiamento publico, o BNDES perde completamente sua função e certamente sera vendido para algum banco estrangeiro.

     

    https://jornalggn.com.br/noticia/governo-temer-quer-estimular-vinda-de-bancos-estrangeiros

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