Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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Ninguém cuida da política econômica, por André Araújo

Por André Araújo

A tradição brasileira é de colocar sob o guarda chuva do Ministério da Fazenda a política econômica do País. A sua liderança se subordina ao Banco Central, o Banco do Brasil e todos os bancos públicos. A política monetária, cambial e de comércio exterior estão sob essa guarda chuva.

Mas não é o que acontece agora. Não há um gestor de política econômica, não há uma liderança que comande as ações coerentes entre as várias peças da política econômica. Descobre-se que o Ministro Levy é um administrador apenas da política fiscal, impostos e pagamentos. Não se vê por parte dele nenhuma narrativa sobre política econômica como um todo, emprego, crescimento, desenvolvimento. O Ministro é apenas um caixa.

O Banco Central se apresenta como ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE e o Ministro Levy parece que gosta assim.

Os demais Ministros da área econômica não têm política ou pelo menos não demonstram ter.

Assim fica a política econômica que dá o RUMO ao País órfã de pai e mãe, ninguém sabe qual é e para onde o País caminha. Ter como meta tantos bilhões de economia não é uma política econômica, mesmo porque essa economia e comida pelo aumento do gasto de juros provocado pelo Banco Central, que ao que tudo indica tem seu mundo próprio inteiramente desligado do que poderia ser uma política econômica de Pais, com começo, meio e fim.

A PRIMEIRA condição de uma política econômica é ser EXPLICITADA, conhecida por todos, clara, é um mapa do caminho, com preocupação social e política, com uma visão de mundo e do País nesse mundo, cuida da economia pública e privada, do macro e do micro.  Delfim e Roberto Campos davam COMPLETA DIREÇÃO à política econômica, todos sabiam para onde ia, para onde a economia caminhava. Hoje é uma COMPLETA INCOGNITA, não há direção alguma, não sabemos qual a porta de saída para o crescimento e para as reformas estruturais necessárias.

É preciso cortar despesas de 80 bilhões e os juros vão continuar a subir porque é preciso chegar ao centro da meta de 4,5% em 2016. Isso não é uma política econômica nem aqui e nem em um lugar nenhum. O Governo procurava um Ministro da Economia e achou um mero tesoureiro.

Quando se inicia um programa de  ajuste fiscal, antes de começar, o Ministro precisa dizer aonde quer chegar em termos de desenvolvimento, emprego e construção de Pais. Uma política econômica não é feita em cima de cortes de despesas para manter o grau de investimento, isso é meio, não é fim.  É tudo muito pouco, falta vibração e liderança.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

16 Comentários

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  1. Perfeito o comentário.
    Esse

    Perfeito o comentário.

    Esse tem sido o Brasil dos últimos anos e temos perdido muitas oportunidades de desenvolvimento por não termos quem dê direção ou mostre a que porto devemos chegar.

  2. Segue o estado da Carta aos “brasileiros”.

    A Dilma não assinou, mas o PT assinou e ela radicaliza: botou um “brasileiro” do bradesco no comando e finge que governa. O estado mínimo neoliberal funciona, limita-se a função única de pagar juros, dane-se a sociedade, aliás, para neoliberais esta não existe, o que existe são indivíduos, que na compreensão deles, nem criaturas gregárias são, quanto mais o animal social. A obrigação é salvar a banca, a isto se reduziu o governo petista.

  3. Economistas da ditadura

    “Delfim e Roberto Campos davam COMPLETA DIREÇÃO à política econômica”; realmente Roberto Campos arrochou os salários e acabou com a estabilidade no emprego quando foi ministro na DITADURA militar; quanto ao Delfim, que era vivo na época do general Figueredo sabe qual foi a direção da politica econômica: o fundo do poço, o mesmo lugar para onde estamos indo.

  4. Obrigado Nassif

    Embora não seja do metier, gosto muito de ler o André ( e o Diogo que sempre contesta, dentre outros) pois é uma oportunidade única de ler – de forma +- inteligível para um leigo- análises que seria incapaz, confesso, de fazer. Meus agradecimentos a todos.

    Em tempo, sempre que julgo interessante compartilho.

     

  5. Questão essencial essa

    Quem cuida da poltica econômica?

    Se alguma dúvida ainda restava que a politica econômica brasileira não faz parte do lote do poder sujeita a controles democráticos, a bizarra inauguração do segunda mandato Dilma tratou de por uma pedra no assunto, jogando no lixo a rejeição popular às politicas de austeridade manifestada nas urnas.

    Mas isso não quer dizer que não exista ninguem cuidando dela. 

    Seus objetivos não são explicitos, mas ela segue uma direção clara, mas que dá essa direção? Se não é a sociedade brasileira através dos mecanismos clássicos de participação democrática, quem então está no comando? 

    BC, comandando a politica monetaria e agencias de risco comandando a politica fiscal, formam a face visível da verdadeira estrutura de comando, mas sabemos que ambos fazem parte de uma estrutura mais ampla e globalizada sobre a qual pouco ou nada conhecemos e muito menos ainda influenciamos.

    Os paises que estão enfrentando essa estrutura mantendo a politica economica ainda submetida a controles democraticos estão pagando um alto preço pela sua ousadia, vide Argentina e Venezuela.

    A questão é: estariamos dispostos a pagar esse mesmo preço? 

     

  6. Nossa esperança

    ainda pequena, era que o Nelson Barbosa atuasse como um contra-ponto a toda esta insanidade do programa do Levy. Mas parece que ele não tem força para desempenhar este papel É o rolo compressor do rentismo detonando tudo.

  7. Pois é, e o pior é que o

    Pois é, e o pior é que o “aprendiz” do Levy, que foi seu secretário-adjunto na Sefaz do RJ, está fazendo o mesmo em SP. Um grande contador, só pensa para cortar despesa e tentar de alguma forma aumentar receita, SÒ.

    O secretário de Planejamento, Marcos Monteiro, assumiu o cargo de “palestrante” oficial da área economica do Governo Paulista. Ótimo em eventos, mas não dá pitaco nenhum na prática,

    E ainda tem o tal de Saulo de Castro, da Secretaria de Governo, que é o maior mico do Alckmin, pois entupiu o Palácio dos Bandeirantes de aspones comissionados, e estes estão lá igual a abajur de motel, para fazer figuração.

    Por fim temos  o Sr. Edson Aparecido, na Casa Civil, responsável pelos “arranjos” com a “turmitcha” que a base de sustentação a Alckimin.

    Enquanto isso a água vai acabando, professores vão mantendo a greve na rede pública estadual, o metrô vai postergando inauguração de estão de metro.

    O sistema político brasileiro está entrando em colapso …

     

  8. Pois é, e o pior é que o

    Pois é, e o pior é que o “aprendiz” do Levy, que foi seu secretário-adjunto na Sefaz do RJ, está fazendo o mesmo em SP. Um grande contador, só pensa para cortar despesa e tentar de alguma forma aumentar receita, SÒ.

    O secretário de Planejamento, Marcos Monteiro, assumiu o cargo de “palestrante” oficial da área economica do Governo Paulista. Ótimo em eventos, mas não dá pitaco nenhum na prática,

    E ainda tem o tal de Saulo de Castro, da Secretaria de Governo, que é o maior mico do Alckmin, pois entupiu o Palácio dos Bandeirantes de aspones comissionados, e estes estão lá igual a abajur de motel, para fazer figuração.

    Por fim temos  o Sr. Edson Aparecido, na Casa Civil, responsável pelos “arranjos” com a “turmitcha” que a base de sustentação a Alckimin.

    Enquanto isso a água vai acabando, professores vão mantendo a greve na rede pública estadual, o metrô vai postergando inauguração de estão de metro.

    O sistema político brasileiro está entrando em colapso …

     

  9. Plano estratégico

     Segundo Nelson Barbosa, ministro do Planejamento, o governo tem um plano estratégico para que o Brasil volte a crescer.

    https://jornalggn.com.br/noticia/governo-tem-plano-para-retomar-avanco-diz-barbosa

    O plano estratégico se resume no seguinte:

    1)      Implementar o ajuste fiscal, conforme definido pelo governo

    2)      Realinhamento da taxa de câmbio

    Tomando essas medidas, o investimento e o crescimento voltam a aparecer na metade de 2016. Mas há muita gente que não concorda com essa visão do Barbosa.

    Em recente manifesto vários economistas se posicionaram contra o arrocho fiscal, nos termos propostos pelo governo. Segundo o manifesto “ Essa proposta de ajuste fiscal não combina com os novos desafios. Combina apenas com o passado”.

    Combinar com os novos desafios seria dar continuidade aos progressos sociais feitos nos últimos 12 anos, fazendo as necessárias correções. Combinar com o passado seria manter as antigas práticas que favorecem o capital, em detrimento de políticas sociais e melhor distribuição de renda.

    Não é provável que os defensores do arrocho fiscal desconheçam  que o ajuste fiscal, feito nos moldes propostos, agrava a crise e aumenta a relação dívida/PIB. A pergunta então é: por que motivos insistem no arrocho?

    Por dois motivos, segundo o economista Fernando Rugitsky , no interessante artigo “Do Ensaio Desenvolvimentista à austeridade: uma leitura Kaleckiana” – Cartamaior (80/05/2015).

     “O primeiro, mais evidente, é colocar um freio no aumento dos salários, aumentando o desemprego. Dessa forma, seria possível interromper e eventualmente reverter o aumento do percentual dos salários na renda, que foi observado nos últimos anos, e recuperar a margem de lucro das empresas”.

    O segundo motivo: “…bloquear o avanço das demandas por redução das desigualdades”. “Conforme tem sugerido Samuel Pessôa, desde 1999 as despesas públicas aumentam em uma velocidade superior à da elevação do produto, principalmente por pressões distributivas. Quase metade do aumento do gasto público do período deveu-se à elevação dos gastos sociais e do custeio da saúde e da educação. Assim, na ausência de uma crise fiscal, real ou imaginária, que force a mudança nas regras de concessão dos benefícios sociais e que contenha a expansão dos gastos com os serviços públicos, a tendência é uma carga tributária crescente e uma pressão contínua para que, dada a desigualdade de renda e riqueza, as parcelas mais ricas da população assumam uma parte cada vez maior desse total”.

    Seria difícil considerar a crise atual como imaginária, em vista do déficit primário e deterioração da relação dívida/PIB, bem como do déficit nas contas externas. Mesmo assim fica difícil entender a virada de 180° da política econômica do governo.

    “Assim, para evitar aumentos do desemprego e retrações econômicas que poderiam pôr em questão sua legitimidade política, os governos são forçados a ceder às pressões capitalistas e a moldar suas políticas de acordo com seus interesses. A referência constante ao “estado de confiança dos empresários” é a forma de manifestação dessa chantagem, pela qual os capitalistas ameaçam realizar uma “greve de investimentos” (na expressão de Streeck) em reação às políticas que os desagradam”.

    http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Economia/Do-Ensaio-Desenvolvimentista-a-austeridade-uma-leitura-Kaleckiana/7/33448

  10. Acredito que saibamos apenas

    Acredito que saibamos apenas uns vinte por cento das intenções políticas e econômicas da Dilma.

    Não há a menor chance de abrir o jogo até que esteja tudo muito bem preparado e urgente.

    Se Dilma minimamente acenar um caminho, suas intenções serão abatidas em início de vôo.

    Do que aparece, nós analisamos, colocamos nossos conhecimentos e chegamos a conclusões parecidas com a da Ministra Rosa Weber – Moro: Não sei o necessário, mas sei o que vai acontecer.

    Não sabemos.

    O terrorismo midático sabe, embora se equilibrando em uma  montanha de previsões natimortas.

    Os artistas que desenham o horizonte de nossa sociedade tem ares de Berlim de 37 do século recém passado, são sombrios

    Alguns apresentadores inauguraram a tv com cheiro. Exalam odores de mortos-muito-vivos, exauridos de alma. Se alimentam dos que ja foram convencidos e regurgitam com bílis o alimento auto – sustentável â la Campos de Trigo.

    Mefisto cobra o prêço.

  11. Além de ser um Tesoureiro burro…

    Tá no outro post. Governo anuncia contingenciamento…

    Inicialmente, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, tinha previsto uma arrecadação extra com a elevação de tributos próxima de R$ 20,6 bilhões.

    Ou o Ministro é burro ou está com más intenções para ter uma previsão de orçamento desta.

    O cara acha que o povo brasileiro é burro, vai aumentar o tributo e a população vai continuar consumindo a mesma coisa.

    Tá na hora de alguém dar um soco nele pra ver se acorda.

    1. Não entendo absolutamente

      Não entendo absolutamente nada de economia, portanto não posso comentar esse texto de André Araujo.

      Mas achei muito divertida a classificação que o autor dá ao ministro Joaquim Levy, dizendo que ele não passa de “um tesoureiro”.

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