“Ninguém pode ficar nas mãos de um chantagista”, diz Cláudio Couto

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Para o cientista político e professor da FGV, apesar do cenário de crise, o momento é mais favorável à presidente Dilma Rousseff do que ao pedido de impeachment aceito pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha

da Agência Pública

“Ninguém pode ficar nas mãos de um chantagista”, diz Cláudio Couto

por Tatiana Farah

Para o cientista político e professor da FGV, apesar do cenário de crise, o momento é mais favorável à presidente Dilma Rousseff do que ao pedido de impeachment aceito pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha.

Em entrevista exclusiva à Agência Pública, Couto avalia que, se a tramitação do pedido fosse iniciada hoje, seria improvável a saída da presidente. Ele afirma que a decisão de partir para o confronto com o deputado, tomada por Dilma e pelo PT, foi uma estratégia acertada para mostrar que o governo não se submeteu a uma chantagem.

Como o sr. vê a proposta de impeachment encaminhada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ)?

Há vários aspectos a serem considerados. O primeiro é o questionamento da legitimidade do aceite desse processo tendo em vista que Cunha se utiliza do cargo em benefício próprio para se proteger e retaliar seus desafetos. O segundo tipo de questionamento é formal, jurídico também.

Hoje, aqui, eu faria uma aposta de 80 a 20: 80% para não ter o impeachment 

Diz respeito ao seguinte: o tipo de transgressão que a presidente Dilma Rousseff porventura tenha cometido neste ano, dos decretos relativos à meta fiscal, pode ser passível de algum tipo de punição mas necessariamente não é enquadrado como crime de responsabilidade. Uma coisa é a presidente se tornar inelegível; outra coisa é ela ser considerada autora de crime de responsabilidade de modo a justificar o seu impeachment. E mais: a aprovação da nova meta fiscal agora de uma maneira corrige o problema dos decretos. O terceiro ponto é que o pedido tem de passar pela comissão e, se o governo obtiver maioria para derrubar o parecer já na comissão, o caso morre aí. Se ele passa na comissão e vai a plenário, eu acho que hoje, apesar de todas as dificuldades do governo, acho improvável que o governo não tenha pelo menos um terço dos deputados para se manter.

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O sr. considera o impeachment, então, improvável?

Acho que, apesar de todos os problemas, impeachment ainda é um desfecho improvável. Hoje, aqui, eu faria uma aposta de 80 a 20: 80% para não ter o impeachment. Claro que o cenário pode mudar, novos elementos podem aparecer; mas, pelo que se tem até agora, acho difícil que esse processo prospere.

A presidente Dilma e todo o PT querem que aconteça imediatamente. Isso pode ser um tiro no pé ou é a melhor saída para o governo. A argumentação de Dilma e do PT é que se o processo se estender o país vai se arruinar.

Acho um argumento correto, de que você não pode prolongar um processo desse tipo por muito tempo. Fica uma indefinição, ninguém sabe se o governo vai, se fica, e isso prejudica tudo, investimentos, negociações políticas. É claro que o governo tem de apostar em uma aceleração do processo. A questão é o que o governo vai fazer para isso. A presidente pode eventualmente convocar o Congresso no recesso para deliberar sobre isso. Seria um ato bastante ousado da presidente, em que ela mostra que quer encarar o problema, o que pode ser um elemento de fortalecimento. O outro lado da moeda é que pode azedar as relações com o Congresso mais ainda. Se ela convocar, não pode fazer isso unilateralmente: tem que primeiro conversar com os parlamentares, negociando essa convocação.

Para o sr. está claro que a aceitação do pedido de impeachment foi um ato de retaliação de Cunha contra o governo?

Não tenho dúvida sobre isso. Para mim, é tão claro quanto que o sol nasce todos os dias.

A presidente Dilma, ao falar do impeachment, disse que não era ela que tinha conta na Suíça, se referindo ao Eduardo Cunha. O sr. acha que há uma questão moral que pode afetar o processo tanto no Congresso quanto na opinião pública?

Evidentemente, se ter o Cunha como inimigo é ruim, pelo fato de que é um político terrível, agressivo, vingativo, chantagista e não tem escrúpulo para fazer o que for necessário para não só se proteger ou para prejudicar o adversário e é poderoso, com muito apoio na Câmara, por outro lado, ninguém consegue, impunemente, dizer que é aliado de Cunha. Fora o Paulinho da Força (SD-SP), que não teme esse desgaste, é difícil alguém entrar nessa. Então, se apresentar como inimigo do Cunha é um trunfo. O governo mostra que “se ele está contra mim, alguma coisa de boa eu devo ter”.

Mas essa estratégia do PT e do governo de confronto com Cunha é correta neste momento ou é uma estratégia de risco?

Neste momento é o correto. O errado foi no começo do ano, na eleição da Câmara. Ali era hora de se compor com Cunha. Mas agora é hora de bater. Ninguém pode ficar na mão de um chantagista. Portanto, recusar a chantagem e pagar para ver é algo que o governo tem de fazer nessa hora. Se não, ele fica vendido o tempo todo.

Recusar a chantagem e pagar para ver é algo que o governo tem de fazer nessa hora. Se não, ele fica vendido o tempo todo

Como fica o PSDB endossando uma proposta do Cunha?

O PSDB tem de fazer um discurso de que o fato de Cunha ter dado o encaminhamento ao impeachment, por ser o presidente da Casa, não deslegitima o processo em si. Do ponto de vista procedimental, é um argumento correto. Agora, para que não pareça que o partido está do mesmo lado de um facínora como o Cunha, o PSDB tem de pedir junto, e com muita ênfase também, a cabeça do Cunha para mostrar que, na realidade, “pau que bate em Chico bate em Francisco”. Não é por que o PSDB é contra o governo que ele não vai ser contra o Cunha. Ao fazer isso, ele ganha legitimidade.

O sr. acredita que as manifestações contra o governo, do começo do ano, vão se repetir e se ampliar?

Olha, elas têm agora um motivo que não tinham antes, que é o andamento do processo. Se elas têm fôlego, é uma outra história. Eu entendo que houve uma certa perda de fôlego das manifestações. É claro que essa mobilização pode voltar a se constituir, dependendo das denúncias que aparecerem, se for algo que chegue mais perto da presidente ou algo como “ela sabia de algum tipo de transgressão”. Porque elas já foram perdendo força e as redes sociais, é claro, vão mostrar fotos do Kim Kataguiri (líder do Movimento Brasil Livre, que impulsionou os protestos anti-Dilma) ao lado do Cunha…

Essa aproximação com o Cunha, assim como a de movimentos de extrema direita, fez com que as manifestações dessem uma arrefecida?

Acho que ajudou. São os black blocs da direita. Os black blocs da esquerda atrapalharam muito as manifestações de junho de 2013. Esses caras que agora pedem o golpe militar ou coisas assim atrapalham o atual movimento. São aliados incômodos.

O PSDB tem de pedir junto, e com muita ênfase também, a cabeça do Cunha

E os movimentos sociais? O sr. acredita que eles vão para a rua mesmo desiludidos com com Dilma, com o que ela prometeu e não cumpriu?

Acredito, mas pode ser também não tão forte como se precisa. O momento é mais favorável a Dilma, neste momento, do que à oposição. De alguma forma o enfraquecimento de Cunha lhe favoreceu. E o Alckmin (governador de São Paulo, do PSDB) deu uma forcinha também. Ele conseguiu de alguma maneira acender o rastilho dos movimentos à esquerda do PSDB.

Com o protesto dos estudantes contra o fechamento de escolas?

Exatamente. O protesto dos estudantes desloca um pouco o eixo das manifestações para a esquerda. Não quer dizer que seja um movimento de esquerda, mas é um movimento à esquerda do que vinha sendo o movimento anti-Dilma, o que equilibra um pouco o jogo. O Alckmin, sem trocadilho maldoso, fez chover na horta dos movimentos de esquerda.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

5 Comentários

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  1. O que parecia escondido veio

    O que parecia escondido veio às claras. Com a saída de Eliseu Padilha, somada ao silêncio dos últimos tempos de Michel Temer – em especial após ele deixar as articulações com o Governo magoado com petistas. 

    O PMDB, como é de se esperar de um partido parasitário, que vive à sombra dos governos, agora delineou seu rumo: de chegar à Presidência, nem que seja na marra. Sai Dilma, e entra o Vice. E para os tucanos e toda a massa oposicionista, qualquer coisa serve, desde que o PT saia do poder o quanto antes. Devem estar dizendo: “Depois a gente ver o que tem de melhor a ser feito”.

  2. Mais dois erros monumentais da oposição PSDB.

    Os primeiros momentos após o presidente da câmara dos deputados ter aceitado pedido de impeachment demonstraram dois erros monumentais da oposição PSDB.

    O primeiro e mais evidente, é ter estimulado e deixado o atual presidente da câmara dos deputados ter aceitado o pedido de impeachment, mesmo depois das revelações da contas na Suíça e dos carros de luxo em nome da Jesus.com.

    Faltou visão e sensibilidade das prováveis repercussões. Como estamos vendo as principais instituições do país estão se posicionando contra a ação de Eduardo Cunha, e em defesa da instituição da Presidência da República, que atualmente é ocupada pela Presidenta Dilma Rousseff.

    Tudo indica que  haverá um amplo arco de apoio social e político em torno da Presidenta Dilma Rousseff, algo impossível  de imaginar até a semana passada.

    O mínimo que o PSDB teria que ter feito era esperar a saída de Eduardo Cunha da Presidência da Câmara do deputados, para tentar instalar o processo de impeachment.

    O segundo erro da oposição é não ter nada preparado para o momento em que o processo de impeachment fosse instalado,  nenhuma ação organizada até agora, até o pedido de cancelamento do recesso parlamentar já estão mudando de ideia, demonstrando que não sabem o que fazer, se vai ou se fica, pelo visto estão totalmente perdidos e desarticulados.

    E não venham dizer que foram pegos de surpresa, já que a posição vem pedindo o impeachment  desde do dia seguinte  das eleições de 2014, mais de um ano, e  pelo visto os caras não sabem o que fazer agora.

    Os primeiros movimentos do PT e do Governo da Presidente Dilma, que foi o pedido de cancelamento do recesso parlamentar, já colocou os governistas na ofensiva e a oposição PSDB na defensiva, vamos aguar os próximos movimentos.

     

  3. MENSAGEM DE UM LIDER RELIGIOSO PARA DILMA ROUSSEFF

    A TODOS OS CATÓLICOS, PROTESTANTES, E DEMAIS HOMENS DE BEM DO BRASIL

    CARTA PÚBLICA QUE DOM ORVANDIL BARBOSA ESCREVEU PARA A PRESIDENTA DILMA ( De utilidade para todos os brasileiros de bem)

    “Senhora Presidenta Dilma Roussef,

    A senhora é a pessoa que mais tem poder de mobilização. Ao libertar-se de uma presidência burocrática e tímida a senhora encontrará na unidade de nosso povo as forças para romper e esfarinhar o golpe sujo.
    A senhora tem o poder de convocar cadeias de rádio e televisão para chamar o povo. Ninguém tem essa privilegiada prerrogativa. Use-a a nosso favor, querida Presidenta Dilma.
    Ao vir para a planice a senhora encontrará riscos de segurança com insanos que a querem matar. Mas também não há ninguém que conte com tanto aparato de segurança de uma pessoa quanto a senhora.
    Lembre-se de que nenhum de nós conta com qualquer esquema de segurança que proteja a vida quanta a senhora. Aqui no vale nacional somos assaltados e mortos todos os dias, principalmente os pobres, mulheres e negros.
    Ao vir para cá, prezada Presidenta, construirá a mais gigantesca e histórica respeitabilidade como a mulher que veio às ruas para, a partir daí, defender nosso povo e a Pátria dos golpes dos insanos que derrubam CPMF para depois, nas campanhas eleitorais, mentirem que o sistema de saúde é ruim por causa de Lula e de Dilma; que derrubam os direitos para depois acusarem-na de nada fazer pelo povo que a elegeu.
    Ao nosso lado a senhora ajudará a nos defender do cinismo e da hipocrisia que viram alienação e ódio entre irmãos.
    Ao nosso lado a senhora ajudará muito mais a defender a democracia do que nas articulações palacianas.
    Lembre-se Presidenta de que o povo escolhe para presidir e liderar o seu País o melhor dentre os seus filhos e filhas.
    A senhora e não Michel Temer foi a escolhida para ser nossa Presidenta porque o povo a vê como a mais capaz entre o seus filhos.
    A senhora é a melhor filha deste povo. A senhora é nossa melhor irmã.”

    Dom Orvandil Moreira Barbosa é formado em Teologia pelo Instituto João Wesley de Porto Alegre, Licenciado em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo, Estado do Rio Grande do Sul, Mestre em Filosofia e Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Doutorando em Filosofia e Teologia. É professor universitário, entusiasta dos Direitos Humanos, Presidente da Ibrapaz e no aprofundamento do estudo bíblico na perspectiva das lutas sociais do amor ao próximo.

    O Bispo profere palestras na área das Ciências Humanas e Sociais, Filosofia e Teologia. O seu Lema episcopal é “Proclamar libertação”.

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