No reino da chantagem, por Alberto Dines

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Por Alberto Dines

Do Observatório da Imprensa

Concêntricas, simultâneas, articuladas — neste instante estamos engrenados a um sistema de extorsões, incrível, hilariante mesmo, não fosse ele o responsável por estarmos abobalhados à beira do abismo.

Como na inspirada “Quadrilha” de Carlos Drummond de Andrade – “João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém…” – um grupo de deputados chantageia Eduardo que chantageia Dilma que chantageia Eduardo que chantageia Janot que não brinca em serviço e só cuida de punir os corruptos.

Encurralado pelas investigações na Petrobrás, o arrogante presidente da Câmara, Eduardo Cunha, baixou a crista e agora parece disposto a afrouxar a pressão pela impugnação da presidente da República. Desde que o governo e seus aliados convençam o Procurador Geral da República a abrandar o ritmo das inquirições que colocam o seu mandato a perigo.

Diante desta portentosa indecência, verdadeira orgia, pergunta-se: porque razão a oposição (sobretudo o PSDB e os independentes do PMDB) não abandona a abominável ambiguidade e entra para valer na cruzada pelo saneamento do comando da Casa do Povo? Se o fizerem, a chantagem de Eduardo sobre Dilma não terá efeito algum e desmonta-se o castelo de areia das extorsões.

Aferrados à obsessão de derrubar imediatamente a presidente da República, os tucanos (ou grande parte deles, principalmente os seguidores do seu presidente, Aécio Neves) não se importaram em transgredir seus postulados e comprometer seu passado desde que, com isso, a permanência de Dilma Rousseff se tornasse insustentável.

Infantilizados, fantasiaram um day after impeachment festivo, numa boa, sem trancos ou turbulências. Não perceberam os riscos de um tiro no escuro, não avaliaram o imponderável, nem os resultados da soma das indignações do lulismo com o desespero dos desgraçados pelo desemprego e pela carestia.

Quem provavelmente acordou Aécio Neves para a realidade foi o comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, através do surpreendente pronunciamento proferido para os novos oficiais da reserva na sexta, 9/10 e divulgado no dia 12/12,pela Folha de São Paulo. O militar lembrou o “risco da crise social com efeitos negativos sobre nossa estabilidade” e que “isso diz respeito às Forças Armadas”. (Veja partes do pronunciamento do general Villas Boas no vídeo abaixo extraído da internet)

Não é preciso um grande esforço especulativo para entender texto, subtexto e hipertexto da mensagem dirigida aos novos tenentes da reserva. O general não foi advertido pelo recém-empossado ministro da Defesa, Aldo Rebelo, por ter falado em nome de toda corporação militar.

O presidente do PSDB finalmente conseguiu perceber os perigos de manter na Presidência da Câmara um parlamentar cercado por tantas suspeições e descrédito apenas para obter possíveis facilidades para a tramitação de um eventual impeachment da presidente da República.

A presença de Eduardo Cunha na presidência de uma das casas do Congresso e na contramão do esforço para tirar o país da bancarrota, assusta mais do que o quadro de fragilidades e desorientação exibido diariamente pelo governo.

A mídia cometeu lamentável erro de avaliação ao preferir dar sustos maiores em Dilma Roussef do que em Cunha. Na edição de 3 de Fevereiro deste ano  apenas 24 horas depois do triunfo de Cunha sobre o desastrado rolo compressor do governo que não queria vê-lo na presidência da Câmara, a “Folha” saiu-se com um texto produzido pelo escritório do jurista Ives Gandra Martins admitindo a legitimidade de um impeachment presidencial.

Incapaz de avaliar os inúmeros informes sobre a vida pregressa e o perfil do deputado fluminense — que logo se converteria num dos políticos mais poderosos do país — o jornalão paulistano investiu numa especulação pseudo-jurídica, verdadeira provocação política que certamente produziria mais barulho e mais repercussão do que uma advertência sobre um quase-desconhecido parlamentar fluminense.

Oito meses depois, Aécio Neves admite publicamente um recuo no tácito apoio que oferecia ao presidente da Câmara. Com menos afobação e mais grandeza não teria alimentado um desajuste fiscal com as estripulias irresponsáveis do caudilho provinciano.

Vacilações, corrigem-se, Tiranetes, máfias e chantagens evaporam, não resistem a um dia de entendimento e sensatez

***

Alberto Dines é jornalista, escritor e fundador do Observatório da Imprensa

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

7 Comentários

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  1. Rabo preso

    “porque razão a oposição (sobretudo o PSDB e os independentes do PMDB) não abandona a abominável ambiguidade e entra para valer na cruzada pelo saneamento do comando da Casa do Povo?”

    Porque eles tem o rabo preso também

  2. “um grupo de deputados

    “um grupo de deputados chantageia Eduardo que chantageia Dilma que chantageia Eduardo que chantageia Janot que não brinca em serviço e só cuida de punir os corruptos.”

    Até parece que Janot e seus janotas só cuidam de punir corruptos. A lista de furnas continua enfurnada, as contas na Suiça da família do Aécio continua efurnada. Enfim, o Psdb continua impune. 

  3. “Diante desta portentosa

    “Diante desta portentosa indecência, verdadeira orgia, pergunta-se: porque razão a oposição (sobretudo o PSDB e os independentes do PMDB) não abandona a abominável ambiguidade e entra para valer na cruzada pelo saneamento do comando da Casa do Povo? Se o fizerem, a chantagem de Eduardo sobre Dilma não terá efeito algum e desmonta-se o castelo de areia das extorsões.”

    Simples, porque eles, a oposição, estão cortejando o Cunha, numa “elegante” extorsão: 
    Cunha, estamos com você até o fim. Vamos derrubar essa mulher daí.

    Evidente, que Cunha, inteligente como é, sabe o que significaria uma negativa, ainda que essa nunca tenha passado por sua cabeça, afinal, nunca houve necessidade de denúncias para ele vender dificuldades ao governo para ver se colhia facilidades.

    Discordo do artigo, porque, assim como o meu, trabalha apenas com suposições, com os boatos da mídia, contribui mais ainda para esse clima sombrio que ronda a política brasileira.

     

  4. O ultrapassado e reacionáro Dines que não se aposenta!…

    Escreveu tanto só para dizer, disfarçadamente, que Cunha e Dilma são a mesma coisa. Não são.

    Dines deveria se aposentar de vez e ir engraxar os sapatos do Fernando Henrique para agradecer o ingresso gratuito às audições da OSESP…

  5. Risível essa insistência em

    Risível essa insistência em jogar no colo da oposição o que é de responsabilidade do governo. Tivesse a presidente legitimidade (que não tem), não iria ficar esperando que uma oposição que detém 20./. dos votos da casa a salvem das chantagens de Eduardo Coisa Ruim Cunha. Ele não teria voz e a oposição seria sumariamente ignorada. O que acontece é que o episódio expõe a fragilidade de um governo acéfalo. A oposição simplesmente está fazendo seu serviço: tornar clara a fragilidade do governo. Como em qualquer democracia digna deste nome.

  6. A piada do ano

    Achei que tinha entendido mal, mas lendo os comentários parece que não.

    De onde ele tirou que o PSDB e parte do PMDB podem sanar a “Casa do Povo”.

    Gostei da piada para mim é a melhor de um ano cheio de piadas.

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