O discreto charme da burguesia e o indiscreto miserê do povão, por Lungaretti

por Lungaretti

A majestosa mansão no Morumbi do antigo dono do Banco Santos. “E o corvo disse: nunca mais!

Poucos ainda se lembram de que Ary Toledo, hoje com 78 anos, se projetou como um talentoso compositor e intérprete da voga da chamada Moderna Música Popular Brasileira, inclusive emplacando um grande sucesso: “Pau de arara”, de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes. 

 

Depois, descobriu um filão mais rentável e a ele, melancolicamente, se limitou: o das músicas pornográficas e escatológicas, que passou a gravar e também a interpretar no teatro (entremeadas com piadas obscenas, de extrema vulgaridade, apropriadas para meninos de 12 anos e adultos com cérebro equivalente).

 

Pasmem: um dia ele foi artista de verdade!

Uma das pérolas de quando Ary Toledo ainda era um artista de verdade: “O anúncio”, de César Roldão Vieira, que ele chegou a cantar, há cerca de meio século,  no saudoso Fino da Bossa.

 

A canção contrastava dois universos. O do camponês paupérrimo era apresentado nos trechos cantados, tendo versos como estes:

No sertão a vida é triste,

minha gente sofre muito,

o que mais se tem no mundo é morte,

o que mais se tem na vida é morte,

mas, meu Deus do céu, sou homem,

não vou sair do meu Norte… 

Quando eu era menino, tinha um cachorro
e uma beleza de canarinho.
Tudo passou, daqui a pouco eu morro
e é só tristeza no meu caminho… 

Eu só queria um boi, uma vaca magra
e um casebre para morar,
batendo a foice, facão, enxada,
ganhar da terra o que a terra dá!”

Ferreira ficou sem adega. Tadinho!

Já o dos ricaços do bairro paulistano onde morava a chamada elite quatrocentona, era retratado num anúncio de jornal, apenas lido no meio da canção: 

“Compra-se casa, mansão ou palacete no Jardim América, com um mínimo de 17 quartos para criadagem e sala de estar, de jogar, de dançar, de fumar, de brilhar, salões de chá, café e chocolate, piscina, jardim de inverno e de outono, quintal onde se possa praticar esportes caseiros como hipismo, golfe, tênis e bola-ao-cesto, além de acomodações dignas para cães, gatos e onças de pequeno porte (de preferência com aquecimento interno). É desejável a existência de um pequeno pequeno aeroporto de dimensões internacionais…”.

A versão atualizada dessa música, meio século depois, é a notícia publicada na edição dominical da Folha de S. Paulo, segundo a qual existem na capital paulista 1.840 mansões com mais de 700 metros quadrados, cuja área total, equivalente a mais de dois parques Ibirapuera, seria suficiente para construir prédios populares capazes de abrigar 107,2 mil famílias, eliminando, de uma tacada só, quase um terço do déficit habitacional do município.

 

A segunda maior da lista, com 8.182 m² de área, pertence a Edemar Cid Ferreira, ex-controlador do Banco Santos, que sofreu intervenção do Banco Central em 2004 e teve sua falência decretada no ano seguinte. 

A mansão do Faustão está na lista

 

Ele foi condenado a 21 anos de prisão, por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e gestão fraudulenta, tendo também respondido a processo na vara de Falências. Já esteve preso, mas o Supremo Tribunal Federal o colocou na rua e, no ano passado, a Justiça Federal decidiu anular toda a fase de interrogatório e a sentença do seu processo, que voltou à estaca zero

 

A Justiça de São Paulo determinou, em fevereiro de 2015, que sua mansão no Morumbi fosse levada a leilão pelo valor mínimo de R$ 116,5 milhões. Segundo o despacho, a mansão, cujo projeto arquitetônico foi assinado por Ruy Ohtake e conta com paisagismo de Burle Marx, tinha automação gerenciada por sistema eletrônico, incluindo controle remoto da sonorização, sistemas de vídeo, sistemas de iluminação e de segurança. Além disso, todos os ambientes eram climatizados por sistemas centrais de ar-condicionado.

 

Investidores perderam cerca de US$ 1 bilhão que aplicaram em bancos controlados por Ferreira ou ligados a ele.

 

Fausto Silva, o Faustão, também possui seu elefante branco, com 4.635 m², avaliado em R$ 22 milhões.

Clique aqui e ouça o áudio de O anúncio

 

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Redação

6 Comentários

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  1. Moinhos

    “Dom Quixote de la Mancha

    fidalgo de lança em riste

    de grande ossatura foste

    e valente demais.

    montado em seu Rocinante

    e com Sancho com escudeiro

    puseste empenho feroz

    para terminar com os abusos.

    Nobbre foi teu coração

    e doída tua moleira

    pondo-se na mente a ideia

    das coisas tortas endireitar.”

  2. A casa do Edemar  merece

    A casa do Edemar  merece figurar no ranking global do MAU GOSTO ARQUITETONICO, uma das casas mais feias do planeta, horrenda, de mau gosto, má proporção, parece tudo menos casa, é casa de BBB, de novo rico vulgar e exibicionista.

    fico imaginando o Duque de Westminster, Gerald Grosvernor, o homem dais rico da Inglaterra, posando na frente de uma adega, jamais se verá tamanha breguice,  Edemar era o simbolo acabado do novo rico de novela.

     

  3. de fato a casa do banqueiro é

    de fato a casa do banqueiro é horrivel. eu compraria para demolir. prefiro uma apê de 40 m² na praia…

  4. A mansão

    segundo noticiário de ontem tem valor venal para efeitos de IPTU de R$62 milhões.  Há mais de 12 anos a imprensa publicou que  o Dr. Edemar gastou R$ 140 milhões na aquisição dos terrenos e construção da casa.  O que explica tamanha desvalorização? Admitamos que para compra dos terrenos ele tenha pago acima dos preços de mercado à época, mas o valor venal parece muito subestimado.

    1. O valor venal é baseado no

      O valor venal é baseado no valor real do imovel para venda a vista e não naquilo que alguem gastou, pode ter gasto muito mal pela pessima qualidade arquitetonica e por pagar preços inflados de terrenos. Isso não é valor venal.

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