Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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O grande equívoco do Plano Real, por André Araújo

Por André Araújo

Cantado em prosa e verso como realização histórica, o Plano Real foi na verdade uma fantasia. A instabilidade monetária que vinha desde 1942 tinha causas muito mais profundas do que a inflação inercial, esta era uma reação à desequilíbrios no sistema econômico que para sua correção exigiriam reformas concretas que não foram feitas. O PLANO REAL foi uma pintura muito bem feita em cima de madeira podre, a parede ficou bonita mas embaixo a madeira continuava podre e uma hora fendas iriam aparecer.
 
O Plano Real não consertou desajustes sérios nos sistemas de tributação, de burocracia excessiva, do pacto interno de divisão de tarefas entre União, Estados e municípios, na enorme carência em infraestrutura, na completa ineficiência dos sistemas de saúde pública e educação elementar, na falta de saneamento para metade da população.
 
A MOEDA é apenas um termômetro, um símbolo, mas não é por si só a medida do sistema macroeconômico.
 
O PLANO REAL trocou o termômetro velho por um novo, mas não curou a infecção. A economia continuou com desajustes profundos em logística.  Transporttar cargas a granel que no mundo inteiro viajam por ferrovia,  aqui por caminhão a um custo oito a dez vezes maior,  a nova moeda não tinha o poder de consertar essas anomalias.
 
Nenhuma reforma importante foi feita antes ou depois do Plano Real, temos disfunções gigantescas no sistema de administração do Estado com excesso de atividades meio e escassez de atividades fins, não temos enfermeiros, médicos públicos, mas temos super excesso de advogados caros em corporações jurídicas do Estado ganhando bem mais que seus colegas europeus ou americanos, enquanto policiais e professores de ensino fundamental ganham pouquíssimo e não tem quadros de carreira.
 
Mais ainda, a partir do PLANO REAL toda a economia passou a ser administrada por economistas sem vinculação com a economia produtiva, ligados visceralmente à moeda e não à economia física.  Por causa do PLANO REAL ,se instalou no País a delegação exclusiva ao Banco Central para tratar do câmbio e da taxa de juros, sendo o Governo sujeito passivo daquilo que o BC decide nessas duas variáveis centrais da economia. É um risco enorme de erros.
 
A lembrar que o Banco Central, no segundo mandato do Governo FHC, o governo do PLANO REAL, cometeu um mega erro na dosagem da taxa de câmbio, na insistência em manter uma paridade irreal, criando um desastre na economia e legando um desarranjo que só foi consertado com  a macro ajudada do FMI e suas condicionalidades.
 
Terceirizar as duas grandes variáveis da economia a um grupo de oito iluminados do BC é loucura.
 
Nos EUA a Casa Branca não confia cegamente nem no FED e nem no Tesouro, tem um super conselho independente de economistas para assessorar o Presidente, o COUNCIL OF ECONOMIC ADVISORS e mostrar caminhos e desvios.
 
O Banco Central é capaz de cometer mega erros e trazer danos incalculáveis à economia, a atual recessão é basicamente causada pela absurda política de juros e câmbio do Banco Central, o desequilíbrio fiscal é mais consequência do que causa da atual recessão e continuam errando ao querer consertar o efeito antes da causa.
Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

7 Comentários

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  1. Erros

    A condução de todos os negócios públicos é função POLÍTICA, com letras maiúsculas.  Técnicos devem assessorar o condutor político, a quem cabem as decisões.  É preciso que seja assim, até porque, se ouvirmos dez técnicos, teremos dez opiniões diferentes. Qual delas é a correta? O que acontece nos USA é exatamente isso: as decisões finais cabem ao Presidente, que as toma depois de ouvir os conselheiros técnicos.

  2. na Europa..

    O que o sempre arguto AA apresenta do plano Real é em parte evidente no dilema da criação da moeda única europeia o Euro.

    O Euro deveria ser o primeiro tijolo na integração de conceitos de gerenciamento controle transparência não apenas dos bancos e suas atividades, mas também da administração dos Estados integrantes da comunidade.

  3. A Maria da Conceição Tavares

    A Maria da Conceição Tavares se esgoelava – “o cambio!” – e nada. Até o Edmar Bacha, que nunca passou nem perto de ser “esquerdista” falava. Mas a máquina de propaganda não deu nem bola.

    Não há espaço pra ciênlcia diante desse conluiio entre a dominação financeira e donos da comunicação. Nem pra tertúlias e colóquiios esses palermas do mundo acadêmico servem, pois ficam ignorando sobranceiramente o papel da mkáquina de propaganda e a centralidade que eles deveriam ocupar em qualquer modelo de análise responsável.

    Pois é isso: já virou uma irresponsabilidade a teimosia da “comunidade acadêmica” diante do rebaixamenmto do debate público que é promovido em todas, todas as áreas.

    1. o grande equivoco….

      Transformamos a manipulação dos financiamentos internacionais dos governos dos anos de 1970/80, revertidos através de emissão de moeda, que tornava-se em inflação, pela manipulação do mesmo financiamento transformado em dividas de empresas privadas. Foi a troca desta forma de financiamento pelas privatizações de propriedades e recursos nacionais, que criou o Real.  A manipulação politica da inflação pela manipulação politica das privatizações. Um país administrado através da Bolsa de Valores de NY e pelo dólar.Trocaram os financiamentos diretos pela aquisição de fontes de recursos naturais.  E um país do tamanho do Brasil entrou nesta. Jogou o jogo viciado comandado pelas potências do pós-guerra como se fosse um pequeno país da América Latina ou África. Nunca conseguiu se enxergar. Nunca viu que sozinho é maior que o mercado que representa a América Latina inteira. Se sujeitou como um “nanico diplomático” ou seria um “nanico em tudo”, principalmente dos seus pensadoes,  elite administrativa e cadeias de comando? Manteve sua industrialização atrelada a velhos parasitas dos interesses da Guerra Fria, não diversificou, não buscou parceiros no novo mundo asiaático que protagonizava o novo milênio, não influenciou trocas de mercado por tecnologi avançada, não barganhou um dos quatro maiores mercados mundiais pela transferência de tecnologias. Mantivemos o cabresto do pultimo século como se nanicos fossemos. É difícil encontrar outra sociedade tão limitada como a brasileira. Limitado é o adjetivo que melhor lhe explica.

  4. Isso aí Mota Araujo, perfeita

    Isso aí Mota Araujo, perfeita a primeira metade do seu texto para explicar essa taxa de juros absurda.. tenho certeza caro Mota, de que se vc se esforcçar, vai aprender um pouco de economia.. a propósito, os criadores do Real, nenhum deles, disse que o problema estava resolvido, e que reformas deveriam ser feitas, caso contrário, juros e câmbio fariam o papel sujo, o que antes era feito pela inflação.

  5. Não sou economista nem médico

    Mas, como observador e leigo nas duas ciências, me parece que tratar um doente com antibióticos (ou juros na lua) por prazos excesivamente prolongados, significa que desistimos de curar o doente e estamos apenas preocupados em manter a sua febre baixa.

     

  6. Vamos traduzir:

    O Brasil vive sobre um sistema colonialista.

    Quem for numa coletiva com o Ministro da Fazenda ou Banco Central, faça a pergunta:

    Qual regime econômico o Brasil vive?

    1- Colonialismo;

    2- Pseudo capitalismo/colonialismo;

    Porque nem capitalista o brasileiro é!!!

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